quinta-feira, 16 de outubro de 2014

OUTRACARTA


Presidenta,

De público faço saber que registrei nas urnas dos últimos três pleitos o nome de seu mentor e o da senhora para a governança de nosso país. Depositei muitas esperanças de que a oportunidade tão procurada pudesse dar a vocês motivos para fazer profundas reformas institucionais e operacionais na gestão da coisa pública.

Sem dúvida foram lançados programas importantes, oportunos e necessários, como o bolsa-família que permitiu a milhões de brasileiros ingressarem no rol de pessoas com alguma condição de produzir renda. Milhões compraram tesoura para corte de cabelos e instrumentos para manicures, colher de pedreiro, nível, pá e enxada. Muitos adormeceram, é verdade, na medíocre benesse pública.

É verdade também que o incentivo ao consumo movimentou o mercado interno fazendo girar o ciclo nacional de produção, mesmo com entrantes externos com grande ímpeto competitivo.

Igualmente relevante o projeto Minha Casa/Minha Vida que permitiu a milhões de pessoas adquirirem a sua casa própria bem como seus básicos componentes. O programa sem dúvida incentivou a indústria da construção tomadora de contingente expressivo de mão de obra, insumos e materiais significativos para o giro da economia.

A Copa do Mundo, em que pese todas as mazelas e críticas, foi realizada a contento, sem deixar uma impressão negativa para o país exceto o ocorrido em campo, único ponto sobre o qual a senhora não teve responsabilidade direta.

Algumas tacanhas obras de infraestrutura incluídas no PAC foram concluídas, como estradas, aeroportos e projetos para melhoria da acessibilidade urbana. Projetos vitais como a duplicação da BR381, essa via assassina que vitima mais que uma Síria por ano.


Se somarmos todos os feitos, o balanço de doze anos é incomparavelmente mais modesto que outros países, alguns vizinhos nossos, experimentaram. Vocês perderam a oportunidade e, pior, deixaram um lastro de dúvida sobre a idoneidade e o caráter com que cuidaram do caixa.

Seu mentor e a senhora não podem supor que todos acreditem que o que se passava nos seus gabinetes não eram do conhecimento de ambos. Isto é nos fazer mais idiotas do que nos permitimos ser, mais impotentes do que nos apresentamos, mais cúmplices do que poderíamos ser.

O Casino que virou a administração pública sustentado por um aparato gigantesco montado pela estrutura de governo aliado ao covil de parlamentares, representantes nomeados compulsoriamente pelo povo além de mancomunados com executivos de empresas públicas e privadas é algo do qual nos farão envergonhar por muitos e muitos anos.

Não é menos verdade que governos anteriores sejam isentos da mesma gentalha e que aqueles com os quais a senhora disputa neste momento sejam dignos de alguma confiança.

Nosso problema reside aqui, Presidenta. A senhora e o seu mentor nos deixou um legado asqueroso de continuidade do que mais nos avilta e tira toda a nossa esperança em construirmos uma nação onde os dignos tenham alguma chance.

A questão, Presidenta, é que nossas lideranças nos tirou a possibilidade de escolha. Anular nosso voto, como alternativa política desesperada, é como se mutilássemos o que nos resta de nossa nanocidadania.  

Lamento que a história não tenha lhe instruído o suficiente para, com altivez e coragem, fazer face a esse antro.

Caso seja reeleita Presidenta, nos poupe pelo menos de sua desfaçatez de dizer que em seu governo e de seu mentor é que foram criados os mecanismos para investigar e punir os canalhas, como se os senhores fossem mesmo uma ilha cândida e pura deste lamaçal. Mesmo que não tenham embolsado nenhum níquel na partilha isto não os torna menos vis.

Poupe-nos, Presidenta. Estamos todos sem condições de sairmos às ruas não só porque não sabemos se voltaremos em segurança, mas, e sobretudo, por termos uma imensa vergonha de sermos brasileiros.

Tempo virá em que tudo isto será reservado ao nosso esquecimento, se é que seja possível nutrir ainda um resto de esperança.




Até breve.

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