quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

REI

   


Final dos anos 70. Comprei a revista Playboy. A desculpa que dei em casa era que me interessava pela entrevista contemplada naquela edição.

Folheei as primeiras páginas, cheguei à entrevista.

Antes de iniciar a leitura lembrei-me de um filme que havia visto sobre o entrevistado. Na primeira cena há o encontro da mãe com uma cartomante, poucos dias depois dele nascer. A vidente declara: “Este menino nasceu pra ser rei.”

Aquele sujeito estava predestinado.

Foi com este espírito que li a entrevista de Pelé, que estava despedindo-se da carreira. A leitura foi uma experiência marcante e, por diversas vezes, usei dela para ilustrar minhas aulas para executivos em escolas de negócios.

Pelé foi barbaramente caçado pelos defensores do time de Portugal na Copa de 1966, sempre da linha da cintura para baixo. Dondinho, ex-jogador de futebol, pai de Pelé, reiteradamente pedia ao filho que tomasse muito cuidado para ele não quebrar as pernas.

Pelé deixou a partida, carregado em maca, seriamente contundido e ali começamos a perder a chance de sermos tri.

Na entrevista ele relata que, para Copa de 1970, depois dos coletivos com bola, ia sozinho para a pista de atletismo. Trocava as chuteiras por sapatilhas de corredores de saltos em obstáculos e ele próprio montava-os e, por inúmeras vezes, fazia todo o percurso da pista.

Lendo a entrevista lembrei-me de filmes do Canal 100, documentários que, à época, antecediam os filmes nos cinemas. As câmeras registravam as cenas de jogos na base do gramado. Assisti, em algumas delas, Pelé saltando as foiçadas que recebia dos adversários.

Quando dos preparativos para a Copa de 1970, alguns jornalistas esportivos questionavam a convocação dele sobre a alegação de que o seu estilo estava ultrapassado. Era muito clássico e o futebol moderno era de velocidade.

Na entrevista, Pelé relata que depois dos saltos de obstáculos ele trocava a sapatilha pela específica para fundistas de cem metros rasos. E fazia inúmeros “tiros” na pista, sem plateia.

Assisti a um jogo no Mineirão da Seleção Brasileira. E vi Pelé ultrapassar seus adversários feito um bólido que me fez fazer um comentário com meu pai: “Pai, ele vai subir as arquibancadas?”

Ao final da entrevista, Pelé foi perguntado o que faria depois de abandonar o futebol. Pelé responde: “Vou aprender judô.” Surpreso, o jornalista indaga: “Você pretende ser campeão de judô?” Pelé, singelo, arremata: “Não, eu quero aprender a cair.”

Eleito o melhor atleta do século de todas as modalidades do esporte por centenas de jornalistas especializados do mundo inteiro, ali naquela entrevista, ele me fez refletir.

Nasce-se ou tornar-se?

Rei.  


sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

CABOTINAGEM


Nada mais cabotino do que “eu avisei”.

Pois então, em textos aí pra trás disse que ia ficar tudo do mesmo jeito, só que mais caro.

Edital do Estadão de hoje:

Se quisesse, Lula da Silva poderia ter recorrido a duas decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) para abandonar práticas que se tornaram praxe no governo Bolsonaro e na Câmara sob o comando de Arthur Lira (PP-AL). Além de o STF ter declarado a inconstitucionalidade das emendas de relator, o ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar permitindo a edição de crédito extraordinário para o pagamento das despesas do Bolsa Família, o que permitiria “incluir os pobres no Orçamento” de uma forma bem menos custosa.

Ao desperdiçar essa janela de oportunidade, o governo eleito mostrou que a PEC da Transição sempre foi a única opção e deixou claro que alternativas para assegurar a verba do programa social não passavam de blefe. Os deputados souberam cobrar seu preço e, ao final, Lula da Silva dependeu da boa vontade regimental de Lira para evitar a aprovação de um destaque do Novo, dono de uma das menores bancadas da Casa.

Assim, o presidente eleito, malgrado ter chamado o orçamento secreto de “excrescência” durante a campanha eleitoral, na prática cedeu o acesso dos parlamentares a nada menos que R$ 21 bilhões em emendas individuais no ano que vem, recursos que não podem ser bloqueados pelo Executivo e que serão divididos igualmente entre os parlamentares. Serão R$ 32,1 milhões por deputado e R$ 59 milhões por senador, a serem destinados a seus redutos eleitorais, com finalidades muitas vezes controversas e sem qualquer conexão com políticas públicas estruturadas.

Findas as novelas da PEC e do Orçamento, Lula da Silva terá de montar uma sólida base parlamentar para aprovar a nova âncora. Espera-se que ela de fato seja “boa, consistente e viável”, como disse o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, até porque a PEC da Transição custou muito caro e, já de saída, elevou o nível de gastos públicos, inclusive os obrigatórios.

 

Essa imprensa marronzista que não perde a chance de tirar a alienação da gente.

 


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

RECONQUISTA

 


Restando dez dias para finalizarmos o ano e o ciclo de uma administração, devemos nos dedicar, enquanto país, à reflexão para que possamos adentrar um novo ano com ânimo e esperança.

Afinal, voltaremos à normalidade depois de um sanatório geral e ausência absoluta de comando.

Cordiais que somos, deixamos para nosso país-irmão querido e adiamos para daqui quatro anos a realização de um de nossos maiores sonhos.

Afinal eles estão em situação lastimável, enquanto nós, ao contrário, entramos o ano em festa democrática. Nós temos muito alegria para gastar, podemos abrir mão de hexas.

Temos caixa para promovermos o reajuste dos salários de nossos administradores e servidores de todas as instâncias.

O STF, em sua altivez como guardião da constituição, legisla magnanimamente em matéria de natureza econômica, permitindo que seja possível lançarmos aos miseráveis migalhas mantendo-os dóceis e dependentes. Ao final da próxima administração vamos poder comemorar o atingimento do dobro da renda dos nossos desafortunados. Um filho por ano, vezes quatro, resulta no valor que cada família receberá no início do próximo ano. Uma alegria sem tamanho.

Todos os nossos criminosos na cadeia, João e José da Silva, devidamente sem defesa constituída com processos que já determinaram sua soltura, mas que lá permanecerão para cumprirem seus crimes hediondos: são quase sempre pretos, pobres e sem instrução.

Enquanto isto, na posse do novo governo democrático, comparecerão como protagonistas, coadjuvantes ou assistirão em suas mansões de luxo, todos os nossos mais brilhantes e queridos administradores, legisladores, promotores e juízes do passado recente.

De Collor a Sérgio Cabral, de Carlinhos Cachoeira a Cunha, todos julgados em várias estâncias e soltos por falhas processuais cometidas por promotores e juízes, alguns deles que ocuparão senado e câmaras.

Há uma euforia no ar, alguns alucinados na porta de quartéis de comandantes ausentes, e outros, apaixonados, aguardando para irem para a praça dos Três Poderes comemorarem a posse que coroa a volta da democracia.

Teremos 37 ministérios em que nada será secreto. Tudo será às claras para que ninguém tenha dúvida.

Uma maravilha.

Não vejo a hora de voltarmos à normalidade.

Ufa!


quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

SANDICES

 



E se o ocupante do imóvel não quiser entregá-lo, descendo a rampa?

E se receber apoio solidário em lares, praças, ruas, estabelecimentos, de mais de 58 milhões que o colocaram lá?

E se, ainda que não sejam 58 milhões dispostos às últimas consequências? Que sejam 5,8 milhões, ou 580 mil, ou 5,8 mil ou 580 ou 58, quem sabe 5 ou 6?

E se for ele sozinho e suas granadas?

Publiquei posts às vésperas das eleições de 2018 em que manifestava minha preocupação. A primeira frase dizia assim: “Não gosto do que nos avizinha ao Palácio da Alvorada.”

Três horas da madrugada. Acordei com este sobressalto.

Tomara que, daqui alguns dias, não seja um pesadelo real.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

REAL

 



Há uma disputa milenar no âmbito das organizações, entre as chamadas “áreas-meio” e áreas-fim”, por quem tem mais relevância. Observa-se que são contundentes os impactos nos resultados quanto mais insano e intenso ocorre esse imbróglio.

Décadas como executivo, consultor e conselheiro tenho me defrontado com todo tipo de “modus vivendi” dos atores da trama. Eu deveria escrever livros a respeito.

Vou limitar-me a este post. Eu não saberia lidar sendo um best seller, ou um influencer.

Guardadas as devidas proporções e minimizada parte da sandice do autor, é o que ocorre também com a Brasil S.A.

Sou mais conhecido como Agulhô, esse sobrenome catalão. Carrego duplo sentido da agulha: espeta e costura.

Vou usar isto aqui.

A Brasil S.A. tem “áreas-meio”, resumindo-as, para ficar menos dramático, que são o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e outras correlatas que produzem zero de riqueza objetiva, na medida que seu escopo deveria ser suporte como um CSC-Centro de Serviços Compartilhados da vida.

A Brasil S.A tem “áreas-fim” que são as empresas e seus trabalhadores, ops, perdoem-me, colaboradores. E aqui são todos os tipos delas, independente de porte, segmento, reconhecidas ou não pelas “áreas-meio”. Poderíamos também, como fazem alguns, ofendê-las, nomeando-as como MERCADO.

Toda riqueza real e em reais é produzida pelas “áreas-fim” que, doravante, assumirei como MERCADO. Parte significativa do desempenho delas remunera o CSC, que existe para disciplinar e potencializá-las.

Só que não, na Brasil S.A.

O CSC se vê como um fim-em-si-mesmo e tem sido capaz, há décadas, de consumir recursos gigantescos da riqueza real produzida pelo Mercado. Alguns, e não são poucos, das “áreas-meio”, fazem um esforço tremendo para eliminá-lo ou dificultar ao extremo a sua excelência.

Agora de forma institucional. Antes os acertos entre as áreas-meio para se locupletarem em coalisões eram conluios de corredores, agora nas assembleias gerais tornando peças normativas. Emendas em tecido roto.

A PEC DA TRANSIÇÃO objetiva mudar tudo para ficar do mesmo jeito. Só que pior. Aumentou o preço da barganha. Façam os cálculos do que é secreto versus o que é conhecível.

Que ninguém tenha dúvida de quem pagará a conta: o Mercado, este usurpador.


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

GOL

 

“Siga seu luar interno; não esconda a loucura. Noticie o que você noticia”. 

(Allen Ginsberg)

 

Não estou bem certo, acho que me disseram que foi nos idos dos anos 70, um político mineiro quem disse: “O que importa não são os fatos, mas a versão que damos a eles.”.

A modernidade digital exponenciou os efeitos dessa assertiva. Especialmente em tempos globais de distanciamento, recolhimento, solidão compulsória.

Versão não é fake nem trolls, embora dependa de quem as produza e suas intenções. Assim como os fatos.

Factoide não é versão, embora dependa de quem o produza. Assim como as versões. O que vale dizer que o que é, depende.

A Rede Globo, no Brasil, assim como a RAI, na Itália, e tantas outras redes criaram uma versão de país. A rede digital cria uma versão do mundo. Não há nada que passe sem um like. 

Parece claro que a linguagem explicita o individual e o coletivo, tanto consciente quanto inconsciente. O que vale dizer que estamos todos em uma rede de versão dos fatos (sem trocadilho). Se é que eles, de fato, acontecem.

Coloque uma pitada de influencers, que proliferam aos milhares fixando marcos de referência para construir versões tácitas.

Dizer que, portanto, tudo é uma mentira cabeluda, não é de todo uma verdade. É apenas uma versão.

Ou então, uma aversão a tudo que está aí.

Se me perguntarem aí é onde, juro que crio um verso. O único lugar em que se encontra toda a verdade.

Um poema, como o gol do menino.

A beleza salvará o mundo.




sexta-feira, 11 de novembro de 2022

CONTAS

 

“Acabaram-se as festas, acabaram-se os fogos. Agora vem as contas.”

Ouvi esta frase, dita pelo então candidato Jânio da Silva Quadros, em um comício aqui em BH. Minha mãe foi cabo eleitoral da figura folclórica do esporte brasileiro mais sem graça: a Política.

Sem graça porque os perdedores sempre são os mesmos e tomam de balaiada dos vencedores, os mesmos de sempre com suas táticas e estratégias de jogo sujo, árbitros de interesses duvidosos, VAR com curtos-circuitos na hora do corte de linha.

O que o brasileiro tem de sobra é resiliência para seguir apesar dos pesares, apesar do jogo bruto.

Entra governo e sai governo, há décadas, e a gente sabe que vamos bancar o campeonato, a festa democrática, a transição, os cem dias e aí, entramos em campanha novamente para a próxima temporada.

Agora até com mortes, uma novidade importante, fora das quatro linhas, além dos inúmeros rompimentos em diferentes laços de afeto, amizade e coleguismo. Uma lástima, dos novos tempos.

Além de mortes a profusão de desinformação com interesses perversos que produzem uma avalanche nociva de interpretações amplificando a gravidade do momento.

Assim, em tempos de verdades de absolutos, ache tempo para desimportanças, ignoranças e trens inservíveis.

“Há várias maneiras de não se dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.”

Assista na Netflix ao documentário sobre Manoel de Barros, que nasceu com uma anomalia incurável. Nasceu poeta, um inútil.

Não vai adiantar nada, mas talvez encontre.





quarta-feira, 2 de novembro de 2022

FINADOS 2

 


Todo ato humano é, em essência, um ato político.

Mesmo aqueles desesperados, desassistidos, miseráveis, marginalizados, excluídos, têm por sua existência e natureza um espaço na cena da polis.

Mesmo inconscientes, descerebrados, ignorantes, párias, selvagens são membros da polis e, portanto, atores políticos.

O que se faz é fundir Política com Poder. Políticos com Instituições. Isto serve a destruir, na origem, a liberdade do sujeito de ser protagonista na constituição da polis.

Chega-se ao ponto de, dada à perversão semântica, constituir-se ofensa moral quando se nomeia alguém como “político”.

A tragédia social é intencionalmente segregatícia. Separam-se os quem têm poder daqueles que escolhem e se sujeitam ao poder. Política e Povo, como se fossem “entidades” separadas.

Penso que aqui reside o maior “mal” da cena: o discurso.

O discurso é intencionalmente sectário e ditatorial. Alguém exercerá sobre outrem o Poder discricionário. Mesmo aqueles que têm como papel o estabelecimento das leis, mesmo aqueles que têm como papel, fazê-las cumprir.

O homem é uma besta, portanto, precisa ser domado. Premissa civilizatória que sustenta a prática do “bem”, mesmo que leve à fogueira, milhões de atores refratários. Anexo: Inquisições, Holocausto, ditaduras de todos os matizes, e assemelhados.

Civilizar passa a significar lobotomizar o sujeito e coloca-lo à mercê dos ditames daqueles que, independentemente dos meios, alçam o Poder ainda que supostamente legal.

Estamos no ápice do declínio da civilização. Mesmo sem lupa, uma olhadela em torno, estampa a barbárie consentida. A História sempre nos apontou o equívoco.

A Inteligência não tem sido capaz de construir o Humano no Homem. O discurso configurado como ideário de propósito (ideologias) nasce fragmentado, partido.

Rompe toda a possibilidade de harmonização de direitos e deveres, produção e distribuição de riquezas implicando em subvida e vida indigna.

A lógica de todo discurso, mesmo o libertário, é perversa porque assim como o conservador, mantém na essência, o libelo da dominação.

O que quer este meu discurso? Absolutamente nada, apenas referendar os mortos.

O único lugar que nos lembra de sermos iguais.



NOTA: POST publicado aqui em 02 de novembro de 2018.

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

HABEMOS CAPO

 

CLASSIFICAÇÃO

  TOTAL DE VOTOS

%

 

 

 

LULA

60.345.999

38,57%

BOLSONARO

58.206.354

37,20%

ABSTENÇÕES

32.200.558

20,58%

NULOS

3.930.765

2,51%

BRANCOS

1.769.678

1,13%

 

 

 

TOTAL

156.453.354

100,00%



Os números nos fazem refletir sobre as eleições que se encerraram ontem.

De pronto devo dizer que estou entre aqueles que torcem para que tudo caminhe para que o Brasil consiga enfrentar os imensos desafios que estão colocados, especialmente no que tange à justiça social.

Ocorre que as opções de escolha resultaram em qualidade duvidosa, sendo o vencedor do pleito o ex-presidente ou mesmo, ao contrário, se fosse o atual.

1.     Ninguém saberá se os 24,23% (abstenções, nulos e brancos) dos eleitores comparecessem às urnas manifestando a sua escolha, qual seria o resultado.

 2.     Dos que votaram, todos sabemos que há uma parcela expressiva de eleitores que optaram por um para não votar no outro. Deixo com o leitor a estimativa de pessoas que votaram por rejeição mais do que por escolha. Lembro apenas que o índice de rejeição tanto a um quanto ao outro, medido em pesquisas de intenção de voto, ultrapassaram a 40%.

3.     Usando este percentual de rejeição, seja qual for o candidato, ele seria eleito por, aproximadamente 20 a 23% dos votos “por convicção”.

 4.     Esta análise, ainda que passível de questionamentos vários, nos leva a refletir que de 70 a 80% dos brasileiros, votaram sem convicção no candidato confirmado nas urnas eletrônicas. E o pior, mesmo que fosse o outro candidato, vale a mesma assertiva.

Observando a ressonância do resultado, parece que há um misto de alívio e esperança no novo presidente, o que é ótimo face ao desgaste pelo que todos passamos há meses.

Outro ponto a considerar é que o Congresso será constituído com parcela expressiva de “opositores” no Senado e Câmara o que pode, por um lado, dificultar sobremaneira a governabilidade ou, por outro, legitimar as decisões empreendidas pelo novo presidente.

Neste particular, mantido o modelo de governo de coalisão, como tem sido historicamente, coloca o risco de barganhas o que, face ao peso da oposição, de “preço” alto na mesa de negociações.

Certo estamos todos de que o Brasil boia, mas não afunda.

Pelo menos até aqui.


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

SILÊNCIO

 

Brasileiros, praticamente todos nós, estamos centrados em escolha que alterará pouco, essencial e objetivamente, DE FATO, as nossas vidas.

Talvez parte dela, é claro, já que não vivemos isolados, fora da dinâmica econômica e social restrita a este lugar no mundo.

Nossa Vida quem governa ou desgoverna somos nós. Cada um, na estreiteza de seu reino.

E aqui reside a singela reafirmação do óbvio que escandaliza. Na escolha que fizermos no domingo não colocaremos aquilo que poderá alterar as nossas exterioridades, pois não temos nenhum domínio de que quem escolhermos seguirá aquilo pelo qual escolhemos.

Poucos de nós têm um projeto de futuro, mesmo que para si, imagine para as exterioridades.

Domingo confirmamos o que somos ou escolhemos por vir a ser.

Facilita tudo quando eu me descubro só, eu e minhas circunstâncias, na realização dos meus mais caros propósitos.

Qualquer que vier a ser a dinâmica das exterioridades, eu ainda me verei sujeito ou assujeitado a estas circunstâncias. Jamais ficarei livre, absolutamente.

A Democracia, que me envolve ao outro, não me liberta de meus grilhões.

Nem o Totalitarismo, tão pouco.

Sou o Sujeito de mim, ainda que silenciado.


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

CHANCE

 

Intoleráveis os tempos a que nos trouxeram estas duas lideranças.

Um fracasso retumbante as inúmeras atitudes, de ambos, mais do que repudiáveis e reprováveis, além da ação ou omissão criminosa em diferentes oportunidades em que era fundamental a conduta ilibada do principal governante do país.

A liderança pelo exemplo tece a malha moral e política dos liderados.

Tanto o ex quanto o atual faltaram e não é por outra razão que os índices de rejeição à um e ao outro são por demais expressivos, a ponto de pelo juízo de valor de cada eleitor, escolher um por ser “menos pior” do que o outro.

A grande maioria de nós sabemos quanto temos que nos esconder em argumentos frágeis para suportar a nossa posição política. E quanto perdemos lucidez e por força disto, colocamos em risco relacionamentos de toda sorte em frangalhos.

Os italianos amargaram uma experiência trágica após a operação “Mãos limpas” liderado pelo juiz Aldo Moro (assassinado tempos depois), que teve como resultante os anos dramáticos de Berlusconi.

Nos assemelhamos tanto que deveríamos ter aprendido com eles.

Ainda há tempo e está em nossas mãos ditar o que desejamos de fato. Tenho pensado em ir às urnas e anular o meu voto. É tolo aquele que pensa que nessa atitude está um ato de omissão. Anular o que a história nos fez de abominável é uma atitude de coragem e sobretudo de lisura política. É dizer, essencialmente, isto NÃO.

Transigir, no entanto, é usar inteligência estratégica para que a decisão minore os fatores restritivos que ela contempla. Somados os votos nulos às abstenções podemos ter mais de 30% dos votos invalidados. Boa parte deles por concordarem que nem um nem outro candidato merece o posto a que, novamente, almeja.

Estou quase convencido de que há, no quadro que se apresenta, um risco maior de um desfecho absolutamente temerário. Refere-se à continuidade do atual presidente.

Ele foi eleito por uma avalanche democrática impulsionada pela imensa insatisfação de todos nós com o maior saque aos cofres públicos em 500 anos de má utilização dos mesmos. Nunca agentes públicos e privados desviaram tanto os suados recursos dos contribuintes. Uma calamidade impossível de ser escondida. Uma chaga que não se apaga.

É, para o ex-presidente, o maior e suficiente senão para não conferir a ele uma nova oportunidade. Ninguém pode negar, no entanto, que os seus oito anos de governo trouxeram avanços importantes em várias áreas da administração pública.

Em que pese o perfil caudilhesco e ultrapassado que vitimou o seu próprio partido de construção de sucessores, o ex-presidente é reconhecido em diferentes estancias nacionais e internacionais como uma hábil negociador.

O ex-presidente, dadas as circunstâncias presentes, parece ser mesmo a nossa opção, mas no meu caso, há uma determinante.

As próximas 250 horas serão decisivas. A avalanche anticorrupção vai novamente colocá-lo à prova e é indispensável que assim seja. Ele terá que demonstrar com argumentos objetivos e insofismáveis que ele volta a cena, mas não mais para cometer os crimes hediondos que por sua ação ou omissão foram praticados no tempo que ocupou a Presidência da República.


terça-feira, 18 de outubro de 2022

SEMSENSO II

 

Não gosto do que se nos avizinha ao Alvorada.

Não gosto do que a realidade nos impõe neste momento naquilo que se refere ao processo eleitoral para o Palácio da esperança permanente. Há aqui, também, uma inversão profunda de valores.

O processo, embora legal, é cruelmente ilegítimo. A maioria está sendo desconsiderada o que, sob qualquer prisma, confere-se em um golpe mortal ao conceito essencial de democracia.

A maioria não quer quem está por ser eleito. Não quer nem o candidato A e nem o candidato B. A maioria está gritando: “Eles Não!” As pesquisas dão conta índices de rejeição acima de 45% tanto para um quanto para o outro candidato.

Se somados aos votos brancos e nulos (e parte das abstenções) àqueles dos eleitores que estão escolhendo o candidato A para que o candidato B não vença mais os votos dos eleitores que estão escolhendo o candidato B para que o candidato A não vença, a apuração conferirá um resultado avassalador.

A minoria está escolhendo quem presidirá o país. Nada mais trágico e ilegítimo.

São numericamente inferiores os eleitores de convicção tanto no candidato A quanto no candidato B. Por diferentes razões, mas seja pela qual for, não há convicção, sem temor ou sem ressalvas.

Até mesmo nestes, relativamente ao universo completo de eleitores, numericamente inferiores, não há uma escolha irrestrita.

Busco compreender e confesso tenho sérias dificuldades. O que verdadeiramente nos trouxe a este quadro de equívocos? Por que optamos pela não manifestação pura de nossa vontade? Por que nos omitimos diante de questões tão graves para o presente e para o futuro?

Por que traímos aos nossos mais profundos desejos? Por que escolhemos aquilo que nos exporá à nossa própria verdade? Por que seguimos aos outros que também não querem aquilo que, no fundo, nós também não queremos?

Por que não somos capitães de nossa própria alma?

Rogo para que os ilustres legisladores tenham a eleição de 2018 e 2022 como algo a ser considerado. Que revisem a estrutura dos marcos regulatórios da matéria. Considerar inválida a maioria é, essencialmente, um equívoco determinante para o desconcerto da sociedade.

Talvez o futuro aponte que o equívoco seja meu.

Melhor.


sábado, 15 de outubro de 2022

TRAGÉDIA

 


O espaço é por demais reduzido para expor o que já é sabido, institucionalmente documentado e disponível a qualquer cidadão que se interessar possa.

Trago aqui fragmentos do relatório do Ministro Edson Fachin que julgou procedente o pedido de Habeas Corpus aos processos contra o ex-presidente. Atentem para o fato de que o Habeas Corpus não foi para o réu, mas para o processo judicial.

“A decisão por meio da qual foi concedida a ordem de habeas corpus para declarar a incompetência do Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba ao processo e julgamento determinando-se a remessa dos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal.”

“Na estrutura delituosa delimitada pelo Ministério Público Federal, ao paciente são atribuídas condutas condizentes com a figura central do grupo criminoso organizado, com ampla atuação nos diversos órgãos pelos quais se espalharam a prática de ilicitudes, sendo a Petrobras S/A apenas um deles, conforme já demonstrado em excerto colacionado da exordial acusatória.”

“Considerados os precedentes sobre o tema e as razões expostas, afigura-se impositivo, ante o que se formou como direção majoritária no Tribunal, o reconhecimento da procedência dos argumentos declinados pelos impetrantes para reconhecer a incompetência do Juízo da 13ª Vara Federal as Subseção Judiciária de Curitiba ao processo e julgamento da Ação Penal.”

“Como corolário de tal conclusão, nos termos do art. 567 do Código de Processo Penal, devem ser declarados nulos todos os atos decisórios, inclusive o recebimento da denúncia, determinando-se a remessa dos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal, considerada a narrativa da prática delitiva no exercício do mandato de Presidente da República.”

“Ante o exposto, concedo a ordem de habeas corpus para declarar a incompetência da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba para o processo e julgamento das Ações Penais Triplex do Guarujá, Sítio de Atibaia, sede do Instituto Lula e doações ao Instituto Lula, determinando a remessa dos respectivos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal.”

Assisti ao julgamento do início ao fim e li, mais de uma vez, ao todo das 51 páginas do relatório do Ministro Fachin. Emocionei-me com o segundo voto, que deu provimento ao pedido de Habeas Corpus. A ministra Rosa Weber decidida a não conceder o HC para que o ex-presidente fosse mantido preso, exaltou a lisura e competência do colega Fachin e votou com a Constituição. “Todo réu tem direito ao juiz natural, isto é, aquele da cidade onde foram cometidos os delitos.”

Pois é.

Da mesma forma, e com o mesmo interesse e atenção, assisti a boa parte das mais de sessenta reuniões da CPI da Covid e li o relatório de 1180 páginas, que estão disponíveis a qualquer cidadão que se interessar possa.

Consta no relatório:

“As consequências dessa estratégia macabra foram mensuradas pela ciência. Se medidas não farmacológicas tivessem sido aplicadas de forma sistemática no País, poderiam ter reduzido os níveis de transmissão da covid-19 em cerca de 40%, o que significa que 120 mil vidas poderiam ter sido salvas até o final de março de 2021. A mais grave omissão do governo federal foi o atraso deliberado na compra de vacinas. Realizadas as oitivas de investigados e testemunhas que atuaram em cargos estratégicos do governo federal ou que colaboravam paralelamente com o presidente Bolsonaro, de representantes das desenvolvedoras de imunizantes, bem como de especialistas na área da saúde, foi possível concluir que a aquisição de imunizantes deveria ter figurado como a principal providência no processo de prevenção à disseminação do novo coronavírus e, consequentemente, de proteção à saúde das pessoas, mas infelizmente essa medida foi negligenciada.”

O Brasil, dramaticamente dividido, assiste aos dois meliantes colocarem em sua propaganda eleitoral cenas as mais escabrosas e aterrorizantes, como traficantes que disputam ponto de droga.

Sempre fui careta, estive longe de drogas de qualquer natureza. Curto outros baratos. Eles me são mais caros.


terça-feira, 11 de outubro de 2022

VEREDA

 


A gente poderia era ultrapassar de ser novela, ficção e cair na real.

A gente poderia era fazer a travessia.

Poderia era construir a vida melhor no futuro, vendo acima do muro de hipocrisia que insiste em nos rodear.

A gente poderia era abrir um novo começo de era, com habilidade pra dizer mais sim do que não, fazendo a vida mais clara e farta, repleta de satisfação.

A gente tem o direito do firmamento ao chão.

Com tantos apoios recebidos a gente podia era fazer essa liderança abdicar de egocentrismo e entender, com toda inteligência e sagacidade política que lhe é peculiar, que não se trata mais de algo de seu, isolado, partido, mas de todo um desejo coletivo que valha pra qualquer pessoa que quer realizar a força de uma paixão.

A paixão de ser feliz, afinal. E viver tudo o que há pra viver.

O Brasil reúne todas as condições para isto, a lição sabemos de cor, só nos resta aprender.

A gente poderia era levar aos debates, através dessa liderança, não um confronto menor, de defesa pessoal, mas um projeto de país que nos arrebate e que a gente se sinta autor.

A gente poderia era nos encontrarmos, ainda que por caminhos os mais tortuosos e diversos. A gente poderia era crer no amor numa boa de gente fina, elegante e sincera.

A gente poderia era nos reencontrarmos quando fomos amantes, família, tias e tios, amigos, colegas. Irmãos.

Até porque o tempo voa, escorre pelas mãos.

A gente até que poderia.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

LIBÉLULA

 


A QUEM SE INTERESSAR POSSA

É assim que abrimos uma Carta de Apresentação.

Quem me visita, virtual e corpoalmamente, já deve saber que sou peixes. Um pé na terra e outro nas nuvens, não necessariamente nesta ordem. E o pior, intensamente.

Cravo na terra meus pés para ter solidez naquilo que percebo no campo da razão, fincando raízes nas minhas convicções fundadas em dados coletados com o maior rigor e consistência. Minha carreira profissional exigiu-me e, sobretudo agora, na posição que ocupo, força-me apurar.

Com o mesmo tesão, ou até maior, construo voos alucinados permitindo-me desejos de toda natureza, de ser poeta, de ser amante, de ser utópico e transformador de minha própria insignificância.

Durante anos guardei-me contido nas gavetas, até que um dia, impulsionado pelo Vlad, meu filho mais velho, tomei a coragem de me desnudar em palavras. Subliterei-me e passei a ser-me inteiro e desnudado em blog e aqui nesta rede alucinante.

Putz, o que revelei de mim aqui... Caramba, fico imaginando se alguém acreditasse possível, quanto me consideraria desmesuradamente translúcido.

“Resolvi sair do armário e me liberar geral. Passei a ser uma libélula esvoaçante, colorida, sensualizada e, sobretudo livre. Aviadei-me? Não e se tivesse sido, o cu é meu (pelo menos quando sóbrio, sem álcoois nas veias) e faço dele qualquer coisa além de expelir meus desnecessários.

Resolvi colocar meus anos, não anus, para além das telas frias de um computador.”

Sim, diferente de Belchior “eu quero o que a cabeça pensa, mas e sobretudo, eu quero o que a alma deseja”.

Pretinha, minha filha, escreveu em relatório para a preparatória de Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise, instituição da qual é uma das coordenadoras na Seção Sul: “A psicanálise não coloca em questão os traumas como experiencias coletivas, mas ela quer saber como esses traumas incidiram nos corpos e na vida de cada sujeito.

Permito-me a minha psicanálise e quero assumir o meu corpo enquanto sujeito coletivo, não com a intenção de impor ao outro a minha razão, mas fazê-lo saber do meu desejo.

O meu desejo é de poder ser com as minhas idiossincrasias, minhas convicções, e minhas ilusões utópicas.

Não ficarei quetim no meu cantim, no próximo dia dois. Voarei às urnas, numa libélula azul.

 

 

 


domingo, 25 de setembro de 2022

EXPRESSO


A que espetáculo de cores verdejantes fomos expostos ontem à noite.

O meu Oscar não vai para os protagonistas. Nem para o bárbaro e nem para o anjo civilizatório (ausente do espetáculo), surgidos por geração espontânea no habitat lamaçal palaciano.

O meu Oscar não vai para os coadjuvantes em seus enredos desesperados.

O meu Oscar não recairá também, na categoria de efeitos especiais, para a figura grotesca surgida de sabe-se lá onde neste filme de horrores.

O meu Oscar vai para o enredo de O Expresso da Meia-Noite, de Oliver Stones e Billy Hayes, pela cena dirigida pelo Alan Parker do Brad Davis em que ele gira em direção contrária à de todos os detentos.

No dia 02 vou ficar bem quetim no meu cantim.

Ouvindo o som emanado dos pingos d’água que caem da jarra de Afrodite.

Gozando o direito de não mais ser obrigado a votar e da liberdade de ficar em paz com minha consciência.  

 


sábado, 24 de setembro de 2022

CERVEJA



Ah, essa imprensa marronzista e sensacionaleira golpista querendo atrapalhar as intenções daquele que já ganhou as eleições para que o dia nasça feliz.

Acertada a decisão do ex de não ir ao debate de hoje promovido por um conluio de instituições midiáticas golpistas que não fazem outra coisa se não faltar com a verdade dos fatos.

Para que passar pelo constrangimento de, pela enésima vez, ele ter que explicar que nunca houve corrupção nos dois mandatos em que foi presidente, que nunca neste país ocorreram tantas investigações e todas, absolutamente todas, acabaram demonstrando as intenções golpistas de um juizeco golpista de quarta categoria golpista a serviço dos interesses internacionais golpistas?

Para que passar pelo constrangimento de ter que responder questões trazidas por candidatos inexpressivos que deveriam na verdade estarem trabalhando pelo voto a favor da civilização contra a barbárie?

Ou ter que tolerar seu adversário preferido dizer que as mortes devem ser debitadas aos governadores e prefeitos que implantaram o uso de máscaras, vacinação e o isolamento social, enquanto ele, o atual, lutava diuturnamente pelo tratamento precoce.

O ex, na sua altivez democrática, oPTando pela ausência faz com que seus eleitores sejam poupados de tamanha esbórnia e, ao contrário de perderem tempo com o debate, oPTem por ir comer um churrasco com cerveja.

Taokay?