terça-feira, 27 de setembro de 2016

POIS É




Muito bem, vamolá.

Toda vez que me deparo com o cursor do meu lap piscando me dá paura. Medo bravo de dizer asneiras que, se encontrarem algum sentido, só será nos posmente. Nunca de estalo, ao final do ponto, quando me ocorre o bordão Até breve.

Sobrou um tempo na lida e eu me debrucei sobre teclado. No final de semana me abordaram perguntando: “E o blog?”. Para uns respondi - pois é - e para outros, que tá minguando.

Acho que por estar próximo de atingir mil posts, como se fosse um a cada toda semana durante dezoito anos e meio ininterruptos. Pensa que é mole? Haja verbohorror.

Principalmente agora que brochei para a puslítica. E da Política surge pouco onde investigo. A intelectualidade brasileira está em frangalhos, não tenho tido acesso a nenhuma produção que mereça respeito.

Pronto, falei!

Quando posso tô curtindo House of Cards. Dá para viajar grande na extraordinária composição dos personagens centrais e tirar reflexões agudas sobre o caráter da figura humana no mundo contemporâneo.

Deixa eu avançar um pouco mais na sequência da série que eu volto nesse assunto.

Cinema, o último foi Aquarius. Coitado do filme, conseguem destruir o belíssimo trabalho com vinculações menores tipo aqueles cartazetes em Cannes. O próprio diretor acaba contribuindo um pouco para denegrir a importância e oportunidade da obra.

Aquarius é um filme obrigatório para todo brasileiro que tem hoje mais de quarenta anos de idade. Se fizer uma funda avaliação de posicionamento geracional compreenderá o fosso em que nos lançamos.

Netos, bom, aí mexeu comigo.

Tin tá eu escrito, pisciano igual ao avô, puta humor e de uma escolha pela solidão visível. Ele prefere a sua própria companhia. É só ver ele no pula-pula. Embolou, ele pula fora. Vai se arriscar para quê?

Antônio, por força da educação que vem recebendo, é um lorde moleque. Divide tudo com todos, obedece, compreende de primeira, autonomia pura e em tudo.

Liz, eu quero e eu não quero. Ponto. Mesmo que tenha que ir às últimas consequências. Pretinha, vai acabar tendo que capitular de vez. Noninha, leonina da gema, vai dar um trabalho enorme. Quero pagar a língua: minha primeira netinha vai ser feliz, à maneira dela. Sem concessões. Eu quero e eu não quero. Ponto.

Helena, lindíssima. Apenas. Sexta-feira agora ela completa cinco meses aí tem almoço especial na casa do Vlad. Beth, a sogra, vai. O serviço é bem melhor.

Cê vê que para chegar a mil posts tá valendo qualquer lorota.

Melhor ler os jornais, pelo menos eles têm fotos.



Até breve.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

LETRAS




Acabo de receber notícia via e-mail que terei um conto meu publicado.

Anexos ao e-mail vieram documentos, declarações e autorização para divulgação e, para minha imensa surpresa a informação de que receberei uma quantia por ter contribuído com o veículo.

A publicação deverá estar sendo distribuída nos primeiros meses de 2017, o que faz pensar que, se for em fevereiro, celebrará os meus sessenta e cinco anos.

Deverá coincidir também com o atingimento de 1000 (isto mesmo, mil) posts editados aqui no dasletra, que receberão milhares de acessos.

Já não morrerei sem ser publicado. Para quem passou a vida até aqui desejando escrever-se é um bálsamo.

Muito bem, que interesse pode ter você aí que chegou até este ponto? Nenhum, claro.

Só que, me deixe lhe dizer o seguinte. Paulo Freire escreveu certa vez que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.

Eu, de sempre, ruminei e ainda muito rumino, sobre as acontecências, manoeldebarros falando. Nada passou por mim sem que eu quisesse ter compartido e levado à palavra.

Sei não se para compreender. Ou não, porque no fundo, a palavra não dá conta.

E parece ser essa a encrenca. Viver é, em última instância, inscrever-se. E se faz pela via da linguagem. Para ser é preciso que se fale a respeito.

Quem tivesse saco e fosse debruçar sobre a boa maioria dos meus posts aqui no blog seguramente saberia mais de mim do que eu mesmo, poderia até construir um outro-de-mim, mais do que eu, ou quem sabe, um eu-de-mim que lhe valha à pena.

E parece ser esse o intento. Quem escreve espera a universalidade em que caiba o mundo, todo ele, em cada frase, cada ponto, vírgula e...

Olhe para você ver, novamente em Paulo Freire: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”.

Ou: “Não há o que não aja.”, em Guimarães Rosa.

O mundo não seria se não fosse. A palavra, que falta. Daí a vastidão.

Dói muito em mim a perda, na modernidade, da palavra. No midiático tudo tende à imagem com o corolário de que qualquer imagem vale muito mais do que mil palavras, mesmo tendo presente que sobre qualquer imagem se produzirá milhares de palavras.

Em tempos líquidos elas vazam, transbordam, se perdem. Como se fossem desnecessárias, obsoletas, incapazes, tortas, vazias.

Como se não fossem nossas, como se não fossemos nós mesmos.


Até breve.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CLAREZ



Aquarius é surpreendente. Pela narrativa, pela direção, pela fotografia, pela trilha sonora, por Sônia, por tudo.

Aquarius explica e ilustra. Ocorreu uma ruptura pós-década de 80. Abriu-se um fosso mergulhando a todos em um vazio descomunal.

Entre caráter, projetos e valores.

A mim o filme reforça uma pergunta de há muito formulada: o que resultou daqueles tempos? Do ocaso da Guerra Fria, da Redentora de 64, de Betânia, Caetano, Chico, Gil e de tantos como, do jornalismo, da cultura.

Clara, a personagem ícone vivida por Sônia Braga (exuberante), vai à sua estante de discos pega um exemplar e pontua: “Eu tenho um vinil aqui de John Lennon lançado uma semana antes de ele ter sido assassinado em dezembro de 1980. Comprei num sebo em Porto Alegre. Dentro da capa veio um recorte de artigo de um jornal de Los Angeles. Isso é uma marca concreta da História, quanto vale esta peça?”.

Ela estava sendo entrevistada por uma repórter que a perguntara se gostava ou não de música digital.

Clara é a última proprietária e moradora de um prédio de apartamentos. Todas as demais unidades haviam sido compradas por uma construtora que tinha a intenção de demolir o prédio e construir outro. Moderno.

Sua resistência à venda do imóvel sugere ser o fio condutor do filme magistral de Kleber Mendonça Filho, de Som ao Redor.

A decoração do apartamento, os móveis, os discos, os seus pertences dizem da história de Clara. Em cena, que vale muito mais que inúmeras aulas de antropologia, ela é interpelada por um de seus filhos que insistem para que ela venda o apartamento e se mude “até por questões de segurança” para outro prédio em melhores condições:

- “Mas, por que, se eu criei vocês três aqui, construí toda a minha vida neste lugar”...

Meu coração fala através de Clara que sobreviveu a um câncer de mama. Puta marca simbólica do roteiro.

Ceifada ela resiste em seus valores eternos contrapondo-se aos valores modernos. “Mostre Betânia a ela”, recomenda a um sobrinho que receberia uma amiga vinda do Rio de Janeiro. (O filme se passa em Recife).

Clara vive o seu tempo em sua integridade. Cultua suas tradições, mostra as fotos de uma vida em inúmeros álbuns, relembra de pessoas perdidas. Tem uma vida a contar.

A História não se perdeu, para ela.

Aquarius, no entanto, explicita na trajetória do roteiro os caminhos da modernidade e nos joga na cara o que fizemos com a nossa.

A estrutura da trama contempla três capítulos: o último, “O Câncer de Clara”, é demolidor, culminando na cena final, acachapante e de uma clareza dilacerante.

Para completar, como se não bastassem imagens, Taiguara considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar brasileira, um dos compositores mais censurados na historia da MPB (68 canções censuradas), irrompe tímpanos adentro:

Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero, a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo...

Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Cores, viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos...

Aquarius parece ser um filme político, mas é. Também.


Até breve.


domingo, 11 de setembro de 2016

MIÚDO




Décadas atrás convivi, em uma instituição acadêmica da qual participava, com uma colega que dizia: “As pessoas não prestam”.

E não era de pilhéria, gozação, deboche. Séria e determinada, minha colega havia desenvolvido um rol de teses que fundamentavam a sua assertiva.  Inclusive você? Indaguei-lhe certa vez.

- Óbvio!

De quando em vez me lembro dela, buscando lembrar-me também dos fundamentos que ela utilizava, estando eu diante de circunstâncias que me levam à assertiva da colega.

Terminei de assistir à Segunda Temporada da série NARCOS (NETFLIX) que aborda a trajetória de Pablo Escobar. Estou assistindo também à série HOUSE OF CARDS.

Na abertura das séries, como de praxe, há a informação de que a produção baseia-se em fatos reais e contempla situações, fatos e personagens extraídos da ficção.

Por mais que tente a arte jamais conseguirá retratar com fidelidade o Real. Por mais brutal ou vil que seja o protagonista jamais dará a exata expressão daquele que busca retratar.

O tráfico de drogas e a Política talvez sejam sim os territórios mais propícios para as teses de minha colega encontrar eco. Ali são mesmo mais evidentes, já que o que impera é a vilania em toda a sua agudez.

Não há mocinhos nas séries citadas. Em NARCOS, os personagens agentes do DEA (Depto de Narcórticos dos USA) se perguntam: “Quem são os mocinhos? Nós?”.

Tanto em uma como em outra, ninguém presta. Nem a mãe de Escobar, em NARCOS. Nem o reverendo, em HOUSE.

Corta para o real.

Seja na vidinha chinfrim de cada unzinho de nós, seja na grande dos glamorosos terráqueos, olhando no cotidiano, começo a ter que aceitar que minha colega tinha e tem razão.

As pessoas não prestam.

Se me perguntarem: inclusive você?

Já sabem a resposta.



Até breve.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

BELEZA



Sumi. De novo, como de outras vezes, daqui.

Andei pelaí, às tantas, tramando projetos. Encontrando pessoas outras, retomada com instituição da qual contribuí década-e-meia atrás, além de participar de reunião em Sampa com ONG ambiental and others busines games.

Estou também envolto com três amigos formando algo que tende a se chamar QUATRO ou FOUR ou 4 ou nada disso. No ramo, esse que me escondo de minha clandestinidade. Querem, meus parceiros, entender como CO(M)FUSORIA, corruptela de consultoria. Para tranquilidade dos clientes, na conclusão dos projetos deve ocorrer alguma FUSÃO ou não, amplificar a confusão.

Na segunda, estávamos em reunião e nos preparávamos para ir juntos almoçar quando um dos parceiros:

- Posso levar uma convidada? É que eu almoço com ela toda segunda.

Jeitinho doce, pequena, mignhozinha, elegante, delicada, alvíssima, cabelos curtíssimos à maquina e olhos estalando de azuis. A filha.

Maria em seus dezenove aninhos.

O pai não por que já desfrute, nós outros, os três, caímos de 4.

Sabe quando alguém toma conta de tudo em volta? Foi assim. Maria é dessas pessoas sui generis, ímpar, de outra esfera, em outro tempo, dizendo coisas que se me perguntarem o que almocei, onde, quanto deu a conta, quem mais estava junto, eu não saberia dizer.

Lá só estava Maria.

Versando sobre cinema, comportamento, cultura, com uma desenvoltura, articulação, propriedade, profundidade e repertório de me emudecer.

Como pode existir alguém assim?

Hoje, o pai, meu parceiro, mandou em e-mail anexando um texto de Maria.


Quem não quiser ler, azar. Jamais saberá quem é Maria.



Até breve.