terça-feira, 20 de setembro de 2016

LETRAS




Acabo de receber notícia via e-mail que terei um conto meu publicado.

Anexos ao e-mail vieram documentos, declarações e autorização para divulgação e, para minha imensa surpresa a informação de que receberei uma quantia por ter contribuído com o veículo.

A publicação deverá estar sendo distribuída nos primeiros meses de 2017, o que faz pensar que, se for em fevereiro, celebrará os meus sessenta e cinco anos.

Deverá coincidir também com o atingimento de 1000 (isto mesmo, mil) posts editados aqui no dasletra, que receberão milhares de acessos.

Já não morrerei sem ser publicado. Para quem passou a vida até aqui desejando escrever-se é um bálsamo.

Muito bem, que interesse pode ter você aí que chegou até este ponto? Nenhum, claro.

Só que, me deixe lhe dizer o seguinte. Paulo Freire escreveu certa vez que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.

Eu, de sempre, ruminei e ainda muito rumino, sobre as acontecências, manoeldebarros falando. Nada passou por mim sem que eu quisesse ter compartido e levado à palavra.

Sei não se para compreender. Ou não, porque no fundo, a palavra não dá conta.

E parece ser essa a encrenca. Viver é, em última instância, inscrever-se. E se faz pela via da linguagem. Para ser é preciso que se fale a respeito.

Quem tivesse saco e fosse debruçar sobre a boa maioria dos meus posts aqui no blog seguramente saberia mais de mim do que eu mesmo, poderia até construir um outro-de-mim, mais do que eu, ou quem sabe, um eu-de-mim que lhe valha à pena.

E parece ser esse o intento. Quem escreve espera a universalidade em que caiba o mundo, todo ele, em cada frase, cada ponto, vírgula e...

Olhe para você ver, novamente em Paulo Freire: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”.

Ou: “Não há o que não aja.”, em Guimarães Rosa.

O mundo não seria se não fosse. A palavra, que falta. Daí a vastidão.

Dói muito em mim a perda, na modernidade, da palavra. No midiático tudo tende à imagem com o corolário de que qualquer imagem vale muito mais do que mil palavras, mesmo tendo presente que sobre qualquer imagem se produzirá milhares de palavras.

Em tempos líquidos elas vazam, transbordam, se perdem. Como se fossem desnecessárias, obsoletas, incapazes, tortas, vazias.

Como se não fossem nossas, como se não fossemos nós mesmos.


Até breve.

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