terça-feira, 30 de abril de 2013

DICA



Não vejo nenhum problema em alguém querer ser querido. E muito. Não vejo nenhum problema em alguém querer saber se é querido. E quanto. Não vejo nenhum problema em alguém perguntar se é querido. E quantas vezes sentir necessidade.

Vejo só problema em toda hora ficar falando nisso, como se não houvesse nenhum outro assunto que pudesse interessar.

Do tipo: alguns dos recentes atentados à sociedade.

Ø  Assassinato de uma menina que, abraçada com a irmã, tentava proteger o pai vítima de ataque do dono de uma pizzaria com quem ele havia tido uma discussão banal.

Ø  Prisão de Cachoeira por se negar ao teste de bafômetro. Solto após pagar fiança de R$22.000,00 (vinte e dois mil reais). Rotina.

Ø  Prisão de milionário pai de menino de nove anos a quem deu as chaves de sua Ferrari vermelha para o guri passear com o irmão de seis anos. Solto após pagar fiança de R$180,00 (cento e oitenta reais). Acinte.

Ø  Assassinato da dentista queimada viva porque só tinha R$30,00 reais no banco. Um dos assaltantes usou um Audi de propriedade da mãe que o denunciou. Barbárie.

Ou comentar o filme Linha de Frente, italiano, documentário romanceado sobre depoimento de jovem terrorista, extremista político, com remorsos pelos crimes cometidos quando na luta armada. Olhar na perspectiva daquele que, pela via do desespero, perde a dimensão dos meios para atingir determinados fins justificáveis. Os fatos verdadeiros ocorridos em fins da década de setenta, início da década de oitenta, culminaram com a prisão dele e de todos os seus companheiros de frente. Julgado à prisão perpétua, teve sua pena comutada e em 2004 após 22 anos de cadeia tornou-se junto com sua esposa, também militante da guerrilha, voluntários em programas sociais.

Ou ainda, para drenar os espíritos, editar outro vídeo de Noninha, repetindo peraltices do papai e da mamãe.


Não é tanto pelo número de posts (hoje 399) e nem pelo tempo de permanência do blog, dois anos no próximo 08 de maio. É que se lidos, com paciência e cuidado, a maioria deles merece atenção. Tem aí uma proposta de reflexão, um enunciado, uma tese quase conclusa: tudo soa como esgotamento.

Não vejo nenhum problema em alguém querer saber se entendido.


Até breve.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

CANTADA



Juro que o meu coração bate agora mais forte quando começo este post. Tenho levado tão a sério esta atividade que próximo de completar o segundo ano do blog e seus quase quatrocentos textos confesso: não há prazer maior do que inscrever-se.

Embora não tenha de todo abandonado a minha atividade consultiva, o que me melhora o tempo vivido é isto que estou fazendo aqui e agora. Diariamente, quando saio para minha caminhada matinal vou me dando os tratos às bolas.

Penso.

As preliminares são deliciosas, porque me remetem ao mistério do que será o todo do ato e por que trilhas percorrerei o corpo do texto objeto de meu desejo. Avanço quase sempre sobre o conhecido, mas sempre inacabado e inexplicável gozo. Quando afinal me debruço e assumo a ação e supostamente dou à ela um até breve, em itálicos negritos, sinto-me integralmente bem.

Assim me coloco no inscrever-me. É pura sexualidade. Meu tesão se aflora e de tal sorte que meus dedos percorrem teclas do computador como entidades fálicas que procuram letras que juntadas levem, quando lidas, a estímulos para extasiarem no prazer do ato.

A escrita é, em si, uma amante inesgotável, exigente e, ao mesmo tempo, hipersedutora. Padeço de uma incorrigível paixão.

Fico sempre com uma questão que me acomete: jamais gostaria que fosse um autoprazer, para ser mais explícito, uma masturbação, embora não tenha nada contra de vez em quando ficar comigo mesmo e me bastar. Há textos tão intensos que somente eu saberei tirar deles todo o prazer. Eles se mostram em entrelinhas que somente eu, com os meus mistérios, sei percorrer.

No entanto, queria mesmo e muito é trocar com você que me acessa e leva de mim meus dizeres para fazer com eles a sua bastança. Queria muito é descobrir os meandros daquilo que você espera que eu faça neste troca-a-troca de músculos que governam nossos cérebros e nossos corações.

Verifico todos os dias as estatísticas de acesso ao blog. Mesmo que me deem uma dimensão reduzida à quantidade, ainda assim gosto de saber que fui procurado. Pretinha me disse que de vez em quando eu volto com esta questão, de querer ser sabido e como. Lé me indica caminhos outros para ser mais acessado. Uma cunhada diz que estou nostálgico.

Ontem revi no Canal Brasil ao documentário sobre o III Festival de Música Popular Brasileira que aconteceu em 1967, quando Edu Lobo, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Nara Leão e todos os outros estavam com seus verdes 22 ou 24 anos de idade. O que me impressiona neste filme não são só os artistas que nasciam, mas o público.

Quanto engajamento havia naquela época. Vaiar era, inclusive, um ato político.

Até breve.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

JUBILO



No post anterior só dez por cento é mentira, o resto é invenção, como diria Manoel de Barros. No fundo o que eu queria mesmo era convidá-los, por consideração a mim, a dizer algo sobre os meus posts.

Estou perto de completar meus 400 textos, este é o 397. No dia oito próximo comemoro dois anos de edição do dasletra. Já é passada a hora de eu ser aclamado, você aí não acha?

Ninguém produz tantos textos que não mereça uma palavra de quem os leu a todos, a alguns ou a um que seja. Puxa, mesmo que seja anônimo eu queria muito receber um incentivo.

Algo como:

- Agulhô, pare! Acho melhor você tentar ir cantar com seus primo...

- Cara, nunca vi tanta tinta virtual desperdiçada...

- Vai tomar na pílula, Agulhô!

- Poxa, Agulhô, você podia já ter feito um post para mim e até hoje nada...

- Eu sempre achei que quando alguém aposenta pelo INSS fica pancada. Você é a prova viva disto! Procure um trabalho, Agulhô.

- Eu li alguns posts, mas nunca entendi do que você estava falando...

- Você é crítico demais, Agulhô, a vida é muito pior do que você pinta.

- Sua neta é de verdade mesmo ou é produto dos seus delírios?

- Gosto para caramba de seus escritos. Tanto que vou denunciá-lo aos peritos criminais que veem examinando as porcarias que circulam na web para interditá-las.

- Tem uma coisa que sempre quis te dizer, mas não consigo. Eu não aproveito nada do que você escreve.

- Me desculpe, Agulhô, mas por favor se quiser continuar contando com minha amizade nunca mais cite meu nome em seus posts.

- Vovô, num se incomode não...  Vem brincar comigo, vem.

- Mozinho, larga isso aí e vem consertar a pia que tá vazando...

- Pai, nunca te disse, mas como já se vão dois anos acho importante você saber: morro de vergonha quando alguém me pergunta se você tem mesmo um blog.

- Pai, eu me arrependi de pouca coisa na vida, uma foi a de ter te sugerido criar um blog.

- Pai, shuf!

- Lhôzinho, já é hora de parar, você não acha meu filho. Escute a sua mãe que está no céu, pelo menos...

- Que merda é essa que você anda fazendo, meu filho? Vê lá se não desonra meu nome, hein?

Um comentário que seja. Prometo que não respondo. Ou como quando completei 100 posts uma palavra que gostaria lavrada PORTA. Qualquer coisa, até um oi, um tim que seja, mas por favor, não me deixe sem sua palavra.

Só volto depois de vinte, melhor dez, tá bom vá lá: um comentário.

Se bem que pedi à Pretinha que consultasse Noninha se eu deveria ou não seguir com meu blog. A resposta foi gravada em vídeo.



Brigado e até breve.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

TOQUE



Recebi crítica verbal a respeito de meus posts.


Quem criticou disse que nunca sabe quando estou falando sério ou não. Isto me fez pensar sobre um telefonema que recebi esta semana de meu irmão, dois anos mais velho do que eu, me perguntando: "Que história é esta de ciúme?" GUERRA

Outro me pediu que fosse mais polido nos textos, argumentando que eu tenho "elementos linguísticos" para tal.

Outro, ainda, sugeriu que eu editasse apenas um post por semana, mais denso e trazendo observações de um período maior, portanto não repetindo temas.

Já outro pediu que eu não escrevesse nada e me limitasse a postar fotos de Noninha, amiguinhos e seguranças dela.

Um outro me pediu que eu falasse só do meu tempo de infância. Os textos agora, que versam sobre a atualidade, estão de amargar.

Uma única pessoa aplaudiu sem reservas meus posts. Ela nunca os leu, mas disse que todos nós devemos fazer o que gostamos, independentemente se os outros gostem ou não.

Agora a crítica que eu curti mais foi de uma pessoa com quem me encontrei hoje no aeroporto. Ela foi minha aluna em curso de Pós e disse que, quando soube do dasletra, ela correu para acessá-lo.
No entanto, para a sua surpresa parecia que o autor era outra pessoa e não aquela com quem ela teria convivido em salas de aula.

- Você está muito amargurado, Agulhô! - me disse, com um olhar de compaixão.

- Não é para estar?

- Você me parecia um cara sempre prá cima...

- De quem?

- Ora, não brinca. Você sabe do que estou falando...

- Eu sei, mas repete que eu vou gostar.

- Você passou prá todos nós uma puta vontade de ir prá frente, de se preparar melhor, de acreditar no nosso taco, de enfrentar com tudo o que vier...

- Foi mesmo?

- Claro!

- Era eu mesmo?

- Agulhô, larga de ser bobo!

Toda vez que ouço essa palavra gosto. Desde pequeno fiz opção pela alegria. Sempre achei que falar sério era para o desencanto, para a desesperança ou para o embuste. Os adultos falam sério. Quero olhar com os olhos do menino ainda que me assuste, que me indigne, que me rebele.

Quero olhar com os olhos de menino. Atento, interessado, engajado, comprometido, energizado. 



E deixar para os adultos as críticas.



Até breve.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

SAÍDA



Para que servem os verdadeiros amigos? Para nos aliviarem nas horas mais amargas e estarem conosco nas mais doces. Lidynha é uma dessas amigas que percebendo, suponho, minha crise depois de ler alguns de meus posts, enviou-me um vídeo editado no YouTube. Veja em PÍLULA

Vou começar meu tratamento semana que vem. É que eu tenho algumas reuniões até a próxima sexta-feira e tenho receios de iniciar logo o tratamento e ficar muito mais erudito que os meus colegas. Não convém.

Domingo no início da tarde, após o almoço, vou tomar minha primeira pílula. Depois vou me sentar à frente da TV e zapear canais: Programa da Eliana, do Silvio Santos, do Faustão e depois me instruir no Fantástico show da vida. Estou lamentando de não ter o Big Brother, aí meu tratamento receberia um up grade.

Se bem que aí me lembrei de COMO.

Obs.: Se você já é cliente da pílula indicada no vídeo é importante que você saiba que sempre que nos meus posts uma palavra estiver escrita na cor azul e em negritos, você deverá passar o cursor com o mouse (ratinho) sobre a palavra e dar um clique no botão direito. E não se assuste se aparecer um outro texto/vídeo/imagem. 

Até breve.

terça-feira, 23 de abril de 2013

VIVERE



Foi sim e tanto que até agora eu estou embriagado. Deixar o capital e ir ao interior, neste final de semana, está sendo muito mais do que dilapidar as horas. Tem um gosto de sentido, de descoberta, de prazer exalando das veias.

Meus primos religaram-me com minhas melhores lembranças, aquelas da infância distante passada em Santa Teresa, ou na casa de meu avô na Rua Monte Carmelo na Floresta ou, ainda, na casa de uma prima Vina (pintora de grosso calibre) onde nos encontrávamos todos para criançar.

A casa dessa prima ficava na Rua Silva Jardim, também na Floresta, para onde depois que me buscavam no Grupo Escolar Barão de Macaúbas, minhas irmãs me levavam todo cagado, com tudo escorrendo pelas pernas. Num sei, só sei que foi assim, como diria o Xicó.

As inúmeras manhãs e tardes com uma pancada de primos e primas fazendo nossos cantares e dizeres, brincadeiras de toda época, confidências de descobertas, travessuras e artes de um tanto.

Agora em Azurita, a convivência estreita com um dos ícones da minha adolescência, Márcio Greyck bonito de dar dó na época, agora sessentão quanto eu, então só mais experiente com seus olhos de mares do Caribe, ou seus cabelos esbranquiçados dormindo sobre seus costais. A madrugada fria foi testemunha dele, já sem toda a sua voz, deixar conosco a sua inédita canção SOLIDÃO, acompanhada pela divindade de Ju na flauta e a soberba de Flávio no violão.

Ou o papo, próximo da despedida, com Celso Adolfo, um cabeça que disse que a canção não acabou como quer Chico Buarque, que tudo só melhorou de nossa época para cá. Mais do que otimismo poesia em tudo o que ele traz. Diz que, criança, bebeu música de rádio quando à noite seu pai ligava o aparelho que servia para testar termômetro, e ele ouvia, extasiado, a abertura de Carlos Gomes no programa A Hora do Brasil.

Teve ainda o domingo pela manhã quando retornamos à fazenda de Marcelo e ali li sobre lágrimas minhas e de mais tantos o post que iria editar no início da noite. Chiquinho, logo que terminei a leitura, me arrancou das mãos as folhas de papel rascunhadas e disse que as confiscaria para sempre.

Prosa, prosa, prosa e poesia. Lembranças de um tempo completamente diferente do que se passa. Histórias de parentes próximos e distantes. Promessas inúmeras de retomar nossa convivência. Márcio me convida para assistir com ele e Chiquinho as finais da Champions. Maurinho me convida para estar na Vila Paquita, onde ele mora depois que se aposentou. Paquita, sua mãe era irmã de meu pai, nasceu também na Argentina e agora quando me recordo dela minha garganta se fecha. Maria Lúcia me convida para as tardes das quartas-feiras em sua casa, quando, eu suponho, ela reedita Vina.

Boa parte de tudo gravei no IPhone. Todo o show, todos os melhores instantes da madrugada na fazenda de Marcelo, inclusive Márcio Greyck em sua Solidão. Pensava em editar alguns trechos no post que publicaria na tarde de domingo (INTERIORE).

Quando me preparava para transferir os filmes para o IPad me enganei e acabei perdendo todos os registros, tanto no IPad quanto no IPhone. Doeu só na hora.

Vou morrer com tudo na veia.


Até breve.

domingo, 21 de abril de 2013

INTERIORE



Num é não. Como se fosse só assim. Num é mês. Desse jeito que eu pus aí prá trás. Fosse só assim era de um ruim de todo. E num é não. Num é mês.

Aquele primo pros lado de pai, que me levou ao encontro de Torrellano  BAJO, foi quem, de novo, me mostrou ôtros porém.

Eu conto: ele é médico de vista. Dia desse Lé, meu filho mais véio, me ligô dizendo que tava com uns vermeio nos óio e pidiu prá mode eu levar ele no primo. O primo, na hora, foi dizendo: “Trás aqui que eu óio agora”. Lá no cunsultório ele me cunvidô prá mode de tá nuns trem que ele ajeita prá mais de uma penca de anos. Ele e outro primo, irmão dele.

Aí eu topei na hora. Siguinte: esse meu primo sempre teve um sonho. Vivê de música, mais aí ele fala que o pai foi quem num deixô e ele acabô virando dotô. E dos bão, mais ficô pôco e ele bandeou pro sonho com uns tanto de amigo do tempo de minino junto com o irmão, tumbém cantadô.

Homão, que nem meu irmão dois ano mais véio que eu, bruto mais com um coração que escorre toda hora pelos óio. Prá mais de vinte ano ele ajuda no tudo uma cumunidade lá pras banda de Mateus Leme, Azurita. É lá que ele é gente e chama um mundaréu prá ser com ele.

Foi aí que eu fui, eu mais Ela, onte despois do armoço.

Prá juntá dinheiro para dar de ajudá os ôtro da cuminidade ele levantou tudo quanto é parede caída, teiado furado tampô, deu de pintá e até ficá uma belezura só a Associação que é donde as coisa cuntece.

Lá eles arruma um professô de música e põe um monte de criançada para fazer arte de pura. E num só música não. Tem cômudo de livro e tumbém esses negócio de representá uns trem tumbém. Ano passado eles teatraram Os Saltibancos e, ainda, O Mágico de Ós. Quem viu deve ter oiado esse meu primo, sentado nas primeira cadeira do teatro da Associação, se acabando de tanto chorá desde que começô até quando acabô a coisa.

Só que esse tudo dá um trabaião e prucisa de dinheiro prá ficá botando nessas coisa toda. Aí ele vendeu ingresso prá quem comprasse fosse num trem que ele ajeita todo ano. Ontem foi o quinto.

Uma belezura de num pô tamanho. Eu fiquei fora de mim. Trem de doido. Cantoria de mais de duas hora no teatro da Associação. Meus dois primo e os amigos de minino: Márcio Greyck, Celso Adolfo e Lula Ribeiro. Tudo de espontâneo e doação pura.

Junto com eles teve um ôme, Flávio, tocadô de viola que cumpanhou Cartola pelo Brasil afora e ôtros de mesmo quilate e uma moça de nome Jú, flautista que mais parece anjo.
Teve ainda ôtra moça vinda dos cafundés da Sérvia que junto com o marido, ela com viulino e ele com viola de oito corda, deixô com as mais de duzentas pessoa que bobeavam de tanto, umas música e, entre elas, La Cumparsita. Se meu pai tivesse lá, murria de novo. 
Teve ainda uma muié com a parentada no palco cantando tumbém uma música que ganhô num festival aí num sei donde.

Num é não. Como se fosse só desse jeito que eu pus aí acima. Fosse assim era de um bão tão grande que a alma já tava cristalina. Só que foi mais.

Fomos um mundareu, uns cinquenta, depois do chô para a fazenda do primo. Já era prá mais do meia-noite e tanto. Frio bom de quentá com vim, cerveja, branquinha e visk. Tudo dos bão, com mesa cheia de tudo, salgado e doce. Tudo sobre tuáia de renda mostrando que meu primo tem com ele aprumada de Lili, sua dona e das minina, fias dês, Marcela e Ana.

E lá a coisa cuntinuô e eu mais Ela alumiamo até quase quatro da madruga, como se não fosse pôco. Aí me lembrei do tempo de minino, quando a gente tava sempre junto nos final de sumana. Juntava um monte de parente, tudo dos lado da famía do meu pai, e cada um fazia sua arte. Uma beleza!

Marcelo, Chiquinho, Maurinho, Márcio e Mária Lúcia, meus primos. Maria Lúcia, Chiquinho e Maurinho há trinta anos não nos víamos. Ontem, quando nos encontramos foi do mesmo jeito que há cinquenta anos atrás ou mais.

Na saída da fazenda, na madrugada fria e escura, Maria Lúcia despediu-se de mim, com um longo, afetuoso e forte abraço e disse:

- Lozinho, eu te amo muito... Muito... Muito...

O sangue sempre estará nas veias. Marcelo e Chiquinho ontem me encheram de orgulho e me fizeram esquecer o feio.



Até breve.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

GOL ?



Concluo com PENALTE, COBRANÇA e com este post uma trilogia. Um fragmento instantâneo de nossa era. Vamos dormir mais tranquilos esta noite. Um dos responsáveis pelo atentado foi morto em confronto com a polícia e o outro está preso.

O que circula é que ambos deixaram um rastro na web sugerindo que eles eram muçulmanos devotos, orgulhosos de sua herança chechena e defensores da busca da região por independência de Moscou.

Atentado, caçada, fecho. Assim, breve.

O jovem que matou em dois dias seis taxistas está preso e o menor que matou outro jovem para lhe roubar o celular também.

Atentado, caçada, fecho. Assim, breve.

Na semana que vem vou estar aqui provavelmente comentando outra “partida” que integra o campeonato. Explicita-se o fato que rapidamente se torna efêmero, provavelmente se repetirá por outras razões, tornando-se banal. E hediondo.

No mínimo não é de todo verdade o que meu filho mais velho me diz: “Pai, quando você está angustiado você escreve melhor”.

Fosse assim, hoje eu deveria estar escrevendo um dos meus mais expressivos posts.


Até breve.

COBRANÇA



Ontem não fiz minha caminhada matinal e, portanto, minhas pernas não me levaram à post. Na verdade não foi só por isto, meus afazeres entre eles pajear Noninha e visitar parentes me impediu de registrar minhas conjecturas do dia.

Só que fiquei matutando em PENALTE. Quem sofreu a penalidade e quem vai cobrá-la? Somos nós, que dentro da área, deixamos de cumprir com inúmeros deveres cívicos e produzimos um lance de alto risco para o adversário? Ou foi o adversário que, de forma violenta, quer tirar de nós a alegria de comemorarmos o dia do Patriotismo?

Vamos cobrar a falta máxima de forma exemplar identificando e punindo perpetuamente nosso adversário? Ou será ele que cobra literalmente que façamos algo que lhe impeça de ser o que lhe restava que fosse?

O campeonato cada dia fica mais violento.

Temo apenas que os infratores não sejam americanos e que suas causas não sejam domésticas (como suas bombas). Temo apenas que não sejam jovens que não foram bem no teste de matemática, ou que brigaram com namoradas, ou que estavam querendo chamar atenção para si próprios porque estão numa fase de autoafirmação diante de seus coleguinhas de turma.

Temo que não sejam americanos natos. Temo que não sejam banais, os seus motivos.

Temo que vistam outra camisa que não seja aquela que represente as cores da América do Norte. Temo que as razões sejam justificáveis, olhando pelo prisma do adversário.

Caso não sejam americanos temo como seremos tratados por eles se forem brasileiros os infratores. E se forem brasileiros e quiserem trazer como motivo o que se passa nos porões de seu país estrelado. Temo por isto e por mais.

E se forem sírios ou colombianos ou mexicanos ou italianos ou franceses ou outros quaisquer de outras camisas que queiram direta e barbaramente chamar atenção não só do Estado, mas e, sobretudo, da própria Sociedade cobrando a falta pela via do inocentídio (a palavra não existe, criei face aos acontecimentos: assassinatos sumários de inocentes).

O campeonato ficará ainda mais violento.

Creio apenas que não foi para este espetáculo que fomos concebidos, ou então, é falsa nossa naturalidade. É passada a hora de termos coragem de rever nossos conceitos, nossas crenças, nossos valores. Não creio que isto se dará coletivamente, creio sim que seja possível em cada um, começando comigo próprio e contigo se assim o quiser.

No fundo, por tudo isto, temo especialmente por Noninha, que já começa a aprender e a repetir gestos trazidos pelos adultos. 


Até breve.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

PENALTE



Não me parece que Boston deva ser debitado à fanáticos religiosos ou à ideólogos terroristas. Arriscando-me a emitir opinião sem estar suficientemente aparelhado para tal, o que me parece é que as evidências colhidas nas primeiras horas não dão este glamour macabro ao atentado.

De qualquer modo abordo o tema acreditando que, pelas características dos artefatos usados, não devam ter sido preparados por profissionais internacionais do Terror de Estado e/ou de Seitas extremadas.

Esferas, pregos e outros elementos foram usados na fabricação das bombas, quase caseiras, que explodiram muito próximo uma da outra, inclusive no tempo, 15 segundos.

Suponho ser ação individual ou de indivíduos, sequer de um grupo estruturado e que mereça maior destaque pelas causas que o(s) levou (aram) ao ato. Reside aqui, entretanto, o nosso maior perigo.

A moda pegue para os americanos. Tudo lá ocorre pelo signo da repetição, daí o receio com as próximas maratonas. O problema pode ser que nem sejam os mesmos autores de Boston e nem pelas mesmas causas, mas que os atos se repitam como há vários anos se sucedem assassinatos insanos em escolas, quando um único atirador ceifou a vida de dezenas de pessoas, especialmente crianças.

O que, guardadas as devidas proporções e circunstâncias, também ocorre aqui, cada dia mais próximo a cada um de nós. Apenas para citar dois últimos atentados à sociedade: um rapaz de 21 anos assassinou friamente em um único dia, com tiros na nuca, na cidade de Livramento a três taxistas e, no dia seguinte em Porto Alegre, a outros três taxistas auferindo R$870,00 como produto dos latrocínios. Motivo: ele tinha certeza que não seria pego pela polícia e precisava pagar o aluguel de R$1.250,00 que estava atrasado. O outro episódio o de um rapaz menor, a um dia de completar a maioridade, que assassinou friamente um jovem estudante para lhe roubar um celular.

Este último caso do cotidiano urbano nacional levou ao Governador de São Paulo a usar os holofotes e ir à Brasília levando petição formal para reduzir de dezoito para dezesseis anos a idade penal.

Quero somar com o Governador em sua tese. Devemos sim reduzir a idade penal para que possamos ficar imunes a crimes semelhantes. Discordo apenas que a redução da pena se limite a dezesseis anos de idade do infrator.

Proponho que toda criança que nasça sobre condições adversas ao desenvolvimento de uma vida livre, saudável e segura deva, logo que receber sua Certidão de Nascimento, ser condenada à prisão perpetua. Não devemos correr o risco do aleatório.

Vamos sentenciar a todas as crianças que nasçam sob condições que, fatalmente, as levarão como alternativa ao crime. Assim, condenadas à prisão perpetua estarão sob os encargos da Sociedade e do Estado.

Portanto, à Sociedade e ao Estado se imputará a responsabilidade por prover aos condenados: creches, alimentação, pedagogia, convívio social, entretenimento, lazer, cultura, arte, educação e perspectiva para que, quem sabe na idade adulta, possam ser comutadas as suas penas a uma prisão mais tênue, aquela que lhes darão a noção objetiva e clara dos direitos e deveres enquanto cidadãos.

Não vou à Brasília porque sei que não encontrarei ninguém. Nem clamo à Sociedade, porque estamos todos muito ocupados com nossos mais caros e imediatos problemas. À Sociedade não interessa a causa e o Estado não tem recursos disponíveis para reconstruir moral e civicamente o país.

Nós todos sabemos dos pormenores disto tudo, somente esperamos que as bombas não estejam na nossa reta de chegada.

À minha tese sobre as características que constituem a nova era além de explícita, efêmera e banal, incluirei hedionda.


Até breve.

terça-feira, 16 de abril de 2013

GUERRA



É de Bibi Ferreira, hoje com noventa anos de idade e setenta e dois de profissão, a frase (dita por ela alguns anos atrás): “O inferno existe: é a velhice!” Pois ela deve estar agora no céu depois da sua prestigiadíssima e extraordinária performance no Alice Tully Hall do Lincoln Center de Nova Iorque no último domingo. Cantou em inglês, francês, italiano, espanhol e, naturalmente, em português.

Ao final do espetáculo chamou da plateia ninguém menos do que Liza Minelli para cantar em dueto os últimos versos de New York, New York. Arrancou gargalhadas do público, quando fez uso de um lenço para aplacar um espirro: “É que eu tenho alergia a teatro”.

Barbosa Lima Sobrinho, então com cento e um anos de idade, ao receber um repórter que fora lhe entrevistar, teria dito logo na recepção ao jornalista: “Vamos logo, meu filho, que eu tenho mais o que fazer”.

Michelangelo aos oitenta e quatro era arquiteto da reforma da Basílica de São Pedro e é, também dessa época, o magnífico projeto da cúpula.

Inúmeras são as histórias de longevidade. Inclusive de anônimos, meu avô paterno se foi com noventa e cinco, todos os meus tios com mais de oitenta ou noventa, meu pai com noventa e quatro ainda que portador do mal do alemão.

Se não entenderam é isso mesmo que estão pensando. Vai ser pedreira encarar mais trinta. Quarenta eu já informo a quem decide que é a mais pura covardia. Ou então não, posso sim encarar com entusiasmo os meus próximos vinte ou até trinta anos. Realizar uma obra, tipo dessas aí de cima prá mim fica de bom tamanho. Vou pensar a respeito.

Entre os meus dilemas pessoais, ainda estou com o horóscopo de ontem na cabeça, não superei um drama que me avassala há mais de cinquenta anos. Mesmo que ninguém se interesse pela minha confissão vá lá.

Eu nutro um ciúme doentio de meu irmão dois anos mais velho do que eu. Minha mãe sempre teve um olhar especial para com ele. Certa vez ela comprou uma tela de setenta por oitenta centímetros e disse ao meu irmão que era para que ele pintasse um quadro para presenteá-la no dia das mães.

Esse meu irmão, sorrateira e ardilosamente, foi à surdina idealizando o quadro e depois de algumas pinceladas a cada dia o escondia de todos, inclusive de minha mãe. Em certo segundo domingo do mês de maio ele trancou-se em seu quarto e, em que pese as reprimendas de nossa mãe, batendo na porta e pedindo que ele abrisse, só saiu de lá quando tinha terminado sua obra.

Nosso quarto era contíguo à cozinha onde minha mãe ao cuidar dos afazeres culinários de cada dia cantarolava suas canções. Entre elas havia uma que meu irmão adorava: a letra dava conta de uma velha senhora que todas as tardes esperava sob a sombra de uma mangueira, rezando um terço, a volta de seu filho querido que havia partido para a guerra.

Sexta-feira passada estive com esse meu irmão e senti reacender o meu dilema. Ele tinha nove anos de idade quando pintou sua obra.  


Até breve.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

OPERÁRIO



Perdoem-me, mas é que o enunciado de hoje para os nativos em meu signo contempla: "Confessar os dilemas não é garantia de ter um pouco mais de compreensão ao seu respeito. As pessoas conhecem a realidade, sabem que a vida interior é cheia de dilemas, porém, não querem receber esse tipo de confissão".

Assim, tivesse eu juízo para não contrariar os astros, considerando que ninguém está disposto a ouvir os meus dilemas nem a compreendê-los, eu deveria ficar mudo.

Só que ontem assisti no canal GNT ao documentário Fabricando Tom Zé. O programa foi gravado em 2005 por ocasião de uma turnê feita pelo artista nordestino por algumas cidades da Europa.

Em uma das partes, Tom Zé junto com seus músicos, faz a passagem do som e encontra dificuldades com os técnicos da mesa. Esbraveja, agride um dos engenheiros de som, gesticula, grita palavrões e denuncia:

- Só porque vocês são louros, de olhos azuis, bonitões, ricos ficam desqualificando nós os latinos, fudidos, feios, pele ruim, os cambau. Se não arrumar a porra desse som eu não faço o show à noite.

Em outra cena ele fala, no apartamento do hotel onde está hospedado, que nós temos mesmo é que denunciar quando somos humilhados e taxados de subdesenvolvidos pelos "caras-de-merda".

- Muitos vêm aqui e não conseguem minimamente condições técnicas de mostrar sua arte. Comigo não, eu boto prá fudê!

No mesmo documentário ele fala de sua esposa, a pessoa que o coloca nos eixos. Escritora, Neusa, abandonou a carreira para dedicar-se exclusivamente a acompanhar o marido. Há imagens dela, passando as mãos no rosto, em sinal de desânimo, quando em um dos shows Tom Zé sendo vaiado por parte do público segue impassível cantando, em péssimo francês, lendo a letra da  música em um papel todo amassado. Um acinte geral.

Mais tarde assistimos no Maxprime ao filme POLISSIA.  Pesado às pampas. Filme francês, baseado em fatos reais colhidos do dia-a-dia dos agentes que integram o Departamento de Proteção à Infância da Polícia de Paris. Para quem se interessar o filme deverá ir ao ar novamente amanhã terça-feira às 21h00min.

O quê tem a ver Tom Zé com Polissia? Os caras-de-merda dos europeus, especialmente os franceses, olhos azuis, louros, bonitões e ricos não têm vivido momentos dignos de países de primeiro mundo.

Lá como cá, os dilemas de todos nós tem nos levado a procurar pessoas que estejam sim dispostas a ouvir nossa confissão. Mesmo que estejam do outro lado de uma tela e nos escutem passivos e igualmente impotentes.

Danem-se os astros. Eu também tenho em casa alguém que me recoloca nos eixos.


Até breve.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

TASTEVIN



Batizei de VALOR o post que editei quando comemorei meus sessenta anos de vida. Nele fiz constar apenas fotos de familiares e amigos. Entendo que nossa maior fortuna é aquela que se conquista no território das relações mais íntimas.

Sou grato por ter poucos, mas amigos de alto valor.

Há quase três décadas nos deparamos com um casal. Vimos sua filha nascer, crescer, formar-se em diversos estágios. Ela já foi personagem de um dos meus posts. Alice, filha de Roger e Lizete.

Assim também e por força desse convívio nos deparamos com Dona Ismênia, hoje vivendo o tempo dos sábios e da temperança. Outros amigos vieram desta extensão.

Ligia, filha de Dona Ismênia e irmã de Lizete, entrou para o rol desses amigos queridos. Casada com Sérgio, que pesa dois metros de altura por um de diâmetro, é outro que se misturou conosco.

Há ainda outra filha de Dona Ismênia, Leusa com quem, por força de circunstâncias não convivemos tanto, mas nutrimos a maior admiração. Ela já foi até entrevistada no Programa do Jô. É fera nas Letras.

Dona Ismênia, Ligia e Sérgio moram em Campinas. No final de março Ligia fez aniversário, completou pouco mais de vinte e pouco menos do que sessenta anos de idade. Veio com Sérgio para Belo Horizonte, trazendo Dona Ismênia.

Passaram a tarde em nosso apartamento, Dona Ismênia, Ligia e Lizete se deliciando com a prosa entre elas e a poesia que estava também presente: Noninha.

À noite fomos convidados por Ligia para comemorar seu aniversário em um restaurante. A fortuna reside aqui. Além dos já citados estávamos apenas eu, Ela e RIJ. A distinção comunica.

Ligia fez com que eu me sentasse ao lado de Dona Ismênia, dizendo: “Fique ao lado de sua paixão”. E foi assim.

Piadas apimentadíssimas de RIJ  fizeram quase corar Dona Ismênia. Política, religião, filhos, trabalho rolou de um tudo na noite. Um momento, porém, merece registro.

Ligia tomou conta da cena, abriu-se leve, lenta, intensa e profunda para nos trazer questões que a mim deram a sensação, mais do que prazerosa, de me sentir reconhecido como verdadeiro amigo. A ninguém se faz confidências daquela ordem: somente aos que merecem confiança.

Em email, que recebi ontem, Ligia me nomeia como irmão de alma: "Afinal o carinho com Dona Ismênia legitima-o no parentesco".

Pois é, é assim. Minha catarse, meu dizer, minha indignação, meu olhar e minha poesia têm musas. De um lado Noninha que me remete ao futuro, de outro, Dona Ismênia que me faz valorar o vivido com a resposta que me deu à pergunta: "Qual foi o dia mais feliz de sua vida"?"O dia em que me formei para professora".

Desde daquele dia, Dona Ismênia professa parte de minha alegria.

 


Até breve.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

ASTROS



Em EMBREAGEM lancei uma ideia original. Minhas ideias são tão originais quanto às novelas das oito que vão ao ar as nove e terminam quando depende do que vem aí.

Minha ideia, originalíssima, é a de que já não estamos vivendo em uma era de mudanças, mas em uma mudança de era. Escrevi no post citado que a nova era tem como ícones: explicitação, efemeridade, banalidade. Uma levando à outra. O explícito leva ao efêmero que, por sua vez, torna-se banal.

Ontem à noite eu assistia ao Jornal da Cultura e em todos os intervalos para comerciais estava incluída a publicidade gratuita (?) do Partido Progressista Brasileiro, ou será do Brasil? Não importa. O que me causou espécie foi que um dos protagonistas do filmete é um deputado paulista quase octogenário, conhecido desde a época da ditadura de exceção (ele era um dos que compunha a turma dos escolhidos). Um dos bordões, dito pelo citado, na peça publicitária (repetida inúmeras vezes) é: “Lugar de bandido é na cadeia”.

Ocorre que um dos blocos de notícia do jornal tratou exatamente da ação judicial que envolve o confisco dos bens de uma das empresas do celebre ator, como ressarcimento de somas consideráveis desviadas dos cofres públicos, quando o estelar era prefeito da capital paulista. Pois bem, a empresa em foco naturalmente recorrerá à Justiça.

Em face disto tomei uma decisão e vou anunciá-la aqui. No próximo domingo, dia 14, eu vou fazer, completamente nu, minha caminhada matinal na Praça da Liberdade (com duplo sentido, por favor). Provavelmente serei preso por atentado ao pudor. Eu já sei que, no fundo, será por causa dos meus dotes fisionômicos que já não são mais aqueles quando eu fui finalista de um concurso de beleza infantil, ou então por ser considerada uma performance ridícula. Caso seja sentenciado eu vou recorrer.

Procurem outro programa para domingo que vem. Quando comentei a decisão com Noninha ela reagiu de forma nada original, idêntica a de outra vez.

- Num faz isso, vovô!

Assim como eu não vou sair nu, não acontecerá nada também com o ator do filme pornográfico explícito, deputado do Partido Progressista (ora, vejam) e ex-prefeito da maior cidade do país.

Hoje, pela manhã, como sempre faço, lí meu horóscopo. "A mescla de Netuno com Marte pode lhe conduzir a ser uma pessoa que batalha por causas sociais, ou que se arvora no papel de defensor dos fracos e oprimidos. De fato, Jose, as pessoas que de algum modo portam deficiências lhe atraem naturalmente, porque de algum modo interagem com aquela parte sua que também se sente, de algum modo, deficitária ou carente de algo. Cuidando dos outros, seja como terapeuta, seja como curador, seja como alguém que batalha por causas justas, você cuida de sua própria evolução natural e alcança um intenso estado de felicidade”.

Eu sempre me achei privilegiado, mas eu não merecia tanto. Nascer sob a égide de uma configuração de astros que me lançou a um mundo onde o que não faltam são causas para se alcançar intensa felicidade. Logo eu tão deficitário, carente e ávido por evolução.

Tem alguém sofrendo aí, ô?


Até breve.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

KWh



Qualé a minha? Eu já digo.

Hoje recebi a conta da companhia prestadora de serviço de energia do meu apartamento com vencimento em 04 de maio. Nela consta um valor correspondente à multa e juros de mora por pagamento em atraso da fatura referente ao mês de março.

Há dez anos esta conta está cadastrada em meu banco para débito automático e, no mês de março e de abril ocorreu, como sempre, na data de vencimento da mesma.

Liguei para a companhia, fui atendido por uma jovem para quem expus o problema. Ela disse que a fatura não existia. Coloquei o telefone sobre a mesa, levantei-me da cadeira olhei para fora da janela, me belisquei, e constatei, como eu já supunha, que eu não estava sonhando. Voltei a ela e disse:

- Filha, estou com a fatura na minha frente.

- Não pode ser, senhor. Hoje é data de leitura desta conta e não é possível que o senhor já esteja com a fatura em mãos.

Eu havia acabado de recolhê-la, junto a outras correspondências, na portaria do meu prédio minutos antes de ter ligado para a companhia. Verifiquei novamente o titular da conta. Era eu mesmo.

- O que devo fazer com esta fatura, filha?

- Não sei.

- Como não sabe?

- Acho que o senhor deve ir a uma agência mais próxima da companhia e verificar o que pode ter ocorrido.

- Filha, eu vou lhe dizer o que vou fazer: eu vou ao Procon e depois vou agir no sentido de acioná-los por extorsão e apropriação indébita...

- Um minuto que eu vou falar com meu supervisor, aguarde na linha, por favor... É o seguinte, verificamos melhor e o senhor pode desconsiderar esta fatura.

- Vocês enviarão outra então?

- Como assim?

- Uma sem a cobrança da multa e juros indevidos...

- Vamos verificar, senhor.

Claro que todos nós já passamos por situações idênticas, semelhantes e muito mais graves do que esta que é até singela, banal.

O que me revolta não é a questão em si, porque ela de uma forma ou de outra terá reparo. A conta foi debitada na data do vencimento e a correção do equívoco ocorrerá. O que me revolta é o discurso treinado das pobres atendentes, carregado de finesse e respeito o que torna mais nauseante o episódio.

Estes são os pequenos crimes hediondos repetidos à exaustão, cometidos por companhias de diferentes ramos de atividades, que gastam vultosas somas para vender uma imagem absolutamente distorcida da realidade de suas operações.

Hoje assisti, em vídeo, uma entrevista recente (a transcrição escrita está em ENTREVISTA) do ex-Ministro da Casa Civil, condenado por dez anos de cadeia em regime fechado no caso Mensalão. Ele denuncia que foi assediado moralmente por um Ministro do Supremo Tribunal Federal, anos antes do efetivo julgamento, dizendo que ele, o Juiz, teria dito que votaria pela absolvição do Ex-Ministro. Por quanto?

O total entre multa e juros cobrados indevidamente na minha conta de energia referente ao mês de março e devidamente paga através de débito automático foi de: R$1,35 (um real e trinta e cinco centavos).

Eu não pago.

Até breve.