sábado, 30 de junho de 2012

PROGRAMA



- Anda Liz. Entra logo no carro. Vamos pai.

- Vovô vai comigo aqui atrás... Vem vovô.

- Deixa o vovô vir na frente comigo, filhinha...

- Não, mamãe. Vovô, vem, entra logo. Mamãe vai de nossa motorista.

- É, Liz. Mamãe é nossa motorista.

- Põe o cinto vovô... Deixa eu pô prá você. É assim ó, viu?

- Brigado, Liz.

- Mamãe agora você já pode ir. Nós já estamos de cinto.

- Aonde eu vou parar com vocês dois, meu Deus?

- Não é no supermercado que nós vamos, mamãe?

- E, por favor, Pretinha, pare nos sinais...

- Vermelho, né vovô?

- Você já sabe, Liz?

- Claro, né vovô?

- E o amarelo?

- É para olhar..
.
- Olhar o quê?

- Se eu estou quietinha aqui atrás.

- E o verde?

- É que pode ir.

- Pretinha...

- Oi, pai.

- A lista é grande?

- Nem me fale, pai...

- Putz, eu podia ter ficado livre dessa...

- Êh, vovô reclamão. Eu adoro ir no supermercado.

- Eu já não gosto.

- Pois eu adoro. Papai não veio com a gente hoje, mas quando ele vem ele me põe no carrinho e aí a gente vai fazendo a maior bagunça.

- Num brinca?

- Verdade, vovô.

- O seu pai brinca com você no carrinho?

- Parece que eu tenho duas crianças, pai. Essa aí e o Cláudio.

- Pois eu não vou colocar ninguém no carrinho.

- Ô vovô, por que não?

- Porque sou eu que vou dentro do carrinho.

- Nó, vovô, sabe que eu num tinha pensado nisso? Vai ser mó legal!

- De jeito nenhum, minha filha.

- Num tem perigo, mamãe. Eu vou empurrar devagarinho...

- E eu seguro na grade do carrinho, né Liz?

- É vovô. Num vejo a hora de chegar a hora...

- Nem eu, Liz.



Até breve.

quarta-feira, 27 de junho de 2012




- Vovô...

- Oi, Liz.

- Por quê que a gente morre?

- A gente morre, Liz?

- Sim. A Luciana, minha colega da escola, não foi à aula hoje. Aí eles falaram que foi porque a vovó dela tinha morrido.

- Você conhecia a vovó dela?

- Ela já foi muitas vezes na nossa festinha... Brincava comigo...

- Ela era muito legal então, Liz...

- Sim, muito legal.

- Sei.

- E então, vovô? Por que a gente morre?

- A vovó da Luciana estava doente?

- Não sei.

- A gente morre quando fica doente...

- Outro dia, você lembra vovô? Eu fiquei doente.

- Gripada, né?

- É. E por que eu não morri?

- Porque a gripe não é uma doença grave...

- Grave?

- É. Uma doença grave é quando ela deixa a gente tão fraquinho que aí a gente não agüenta...

- E morre? E aí?

- Aí o quê, Liz?

- O que acontece com a gente?

- A gente nunca mais vê a pessoa e...

- Ela vai prá onde?

- Ô Liz... Meu celular. Deixa eu atender...

- Pai...

- Oi, Pretinha.

- É a mamãe, vovô? Deixa eu falar com ela.

- Pode falar, toma...

- Oi, mamãe...

- Oi, querida! Tá tudo bem aí?

- Eu estou conversando com o vovô.

- Ele está te contando histórias?

- Não.

- Vocês estão conversando sobre o quê?

- Sobre morte.

- Deixa eu falar com o vovô, minha filha.

- Beijo, mamãe.

- Pai, que história é essa?

- Ela que perguntou.

- Desconversa pai... Como você vai sair dessa?

- Espero que só daqui alguns anos. Eu quero viver muito ainda.

- Êh, pai, tô falando da pergunta da Liz.

- Eu sei lá!

- Pai, faz o seguinte: despiste ela, chama ela prá ver um filminho, leva ela lá prá baixo. Vê se faz ela esquecer desse assunto...

- A avó da coleguinha dela morreu.

- Qual coleguinha?

- A Luciana.

- Nossa, a dona Clara morreu? Que pena, meu Deus!

- Você a conhecia, minha filha?

- Sim, estive com ela na semana passada.

- Pois é.

- Vou ligar prá escola prá saber o que aconteceu.

- Faça isto minha filha.

- Puxa, que dó, né pai?

- É, minha filha.

- Beijo, pai. Tchau!

- Vamos ver um filminho, Liz?

- Agora não.

- Vamos dar uma volta?

- Onde?

- Lá embaixo.

- Quero agora não, vovô.

- Então o que você quer fazer?

- Continuar conversando.

- Então tá.

- Fala, vovô.

- Sabe que hoje eu fiz um exercício legal lá no pilates?

- Como foi?

- A gente fica pendurado em duas barras... Assim ó, sabe?

- É perigoso, vovô?

- Não, perigoso não é não.

- Se você cair você morre?

- Não... Posso só machucar um pouquinho.

- Quando a gente morre a gente vai prá onde, vovô?

- Liz, o vovô não sabe.

- Mamãe sabe?

- Não.

- O papai sabe, num sabe?

- Também não.

- As vovós? Vovó Tucha é professora, ela sabe. O vovô Cláudio...

- Acho que não.

- Quem sabe, então, vovô?



Até breve.
PS.> Estou acatando sugestões. 

terça-feira, 26 de junho de 2012

CONTROLE




- Oi vovô, onde você estava?

- Arrumando uns negócios...

- Você sumiu. Tem muito tempo que você não vem me ver...

- Desculpe, querida.

- Sabe que foi até bom.

- Bom? Por que, Liz?

- Porque aí eu fiquei com mais saudade...

- De quê?

- De conversar com você, vovô.

- Você gosta de conversar comigo?

- Às vezes.

- Por que às vezes?

- Porque às vezes você não me entende...

- Eu não te entendo, Liz?

- É.

- Que dia que você falou alguma coisa e eu não entendi?

- Outro dia.

- Que dia Liz?

- Ah, vovô, você sabe.

- Qual? Juro que não sei.

- Deixa prá lá.

- Não. Agora eu quero saber.

- Sabe aquele dia que eu tava lá na sua casa brincando no parquinho e você não deixou eu descer sozinha no escorregador?

- Lembro.

- Que eu falei que eu já sabia, aí você mesmo assim não deixou eu descer?

- É muito perigoso.

- Eu já sou grande, vovô!

- O escorregador de lá é muito alto... É muito difícil...

- Mas eu sei descer.

- Vamos combinar uma coisa, Liz. Amanhã quando você for lá em casa eu deixo você descer então.

- Por quê?

- Por que sim... Eu vou estar lá.

- Tá vendo como você não me entende, vovô?

- Ora, você não quer descer no escorregador?

- Mas você acabou de dizer que é perigoso, não disse?

- Não tem problema, eu fico perto.

- Melhor não.

- Por quê?

- Vai que eu caio...

- Não cai não. Eu te seguro.

- Uma hora você diz que pode, outra diz que não...

- Eu pensei melhor, aí eu fico perto e você pode descer.

- Vovô?

- O que, Liz?

- Você não acha que eu devia descer sozinha e cair lá de cima?

- De jeito nenhum, Liz!

- Para eu aprender que não pode... Que eu não consigo...

- Não Liz. Não precisa aprender caindo...

- E o dia que você não tiver perto?

- Você não desce, ora.

- E se eu quiser muito, muito, muito...

- Você não desce.

- Mas se eu quiser muito, muito, muito, muito, muito...

- Você me liga no celular... Aí você me espera chegar e aí eu vejo você descer.

- E se você estiver longe. Não puder vim...

- Você vê se a vovó pode te acompanhar ou outra pessoa adulta...

- Vovô, sabe de uma coisa? Por isso que eu falei que você não me entende...

- Agora não entendi mesmo.

- Eu acho você muito bobo, que nem a mamãe fala.

- Por quê?

- Porque você fica todo esquisito quando eu falo que vou fazer uma coisa que não pode.

- Esquisito?

- É, com uma cara assim...

- Eu fico mesmo preocupado.

- E você não vê que eu fico te fazendo de bobo, vovô?

- Me fazendo de bobo?

- É vovô. Eu fico é rindo de você, com medo que eu machuque.

- Eu não quero mesmo que você se machuque, Liz.

- Eu vou descer sozinha no escorregador.

- Num vai não.

- Vou... E de noite, quando todo mundo tiver dormindo...

- Num vai não, você é doida?

- Eu vou e vou descer de cabeça primeiro...

- NUM VAI NÃO!

- E com...

- Liz, num faz assim comigo não...

- Vovô, eu adoro você... Você é muito bobo.


Até breve. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

DOMINGO



Pretinha e Claudinho insistiram conosco para que víssemos um filme que eles assistiram na última sexta-feira e que nitidamente os impressionou. Propuseram, ontem, nos emprestar o DVD pego em locadora para que no final do dia pudéssemos assisti-lo. Ela queria gastar o final da tarde e início da noite dando continuidade nos bordados prá netinha e eu por em dia meus papéis. Assim, não aceitamos o empréstimo.

À noite, quando liguei a TV e zapeei a procura do que ver me deparei, por acaso, com a programação do filme para as 22:00 horas.

- Bem, olha... Vai passar o filme que Pretinha queria que víssemos...
- Vamos ver então.

A gente tem uma certa reserva a filmes americanos. Esse não foge a regra em alguns clichês, mas atinge para reflexão. Annie é uma adolescente que vive, naturalmente, seu processo de afirmação pessoal e social. Compõe junto com dois irmãos, o mais velho que ingressa na faculdade, uma irmã mais nova e com os pais uma família feliz e harmoniosa.

No dia de seu aniversário ganha do pai um macbook. Na rede encontra Charlie com quem passa a se relacionar virtualmente. Ele a aconselha para que ela possa ingressar para o time de vôlei da escola, escuta-a com atenção, é carinhoso e, aos poucos a leva a acreditar em ser linda e sensual, embora, até então ela se achasse desengonçada e desinteressante.

Charlie apresenta-se como estudante do colegial e com 16 anos de idade, depois diz que tem 20 e está na faculdade e mais à frente diz que tem 25 anos e já é formado. Ela já está irremediavelmente apaixonada. Marcam um encontro em um shopping e Annie se desespera ao conhecer Charlie pessoalmente, um homem de 35 anos de idade.

Ele a tranqüiliza, diz que o fato dele ter a idade mais avançada do que a dela não muda nada. Lancham no shopping e ele a leva para o carro onde pede que ela abra o presente que ele havia lhe dado. Ela abre o pacote e encontra lingerie vermelha.  Charlie leva a jovem para um motel.

Dias depois Annie procura insistentemente falar com Charlie via web ou pelo celular. Ele desaparece. Annie confidencia com uma colega que informa à conselheira da escola, que imediatamente chama a polícia e a leva ao hospital para coletar provas do estupro.

Daí em diante abre-se o drama familiar. Os pais se perguntam onde erraram. Annie colide frontalmente especialmente com o pai a quem diz, em cena marcante, que ela não foi estuprada. Annie mantém sua posição acreditando que Charlie e ela estavam vivendo uma paixão. Até que o agente do FBI colocado para investigar o caso apresenta a Annie e aos pais outras possíveis vítimas de Charlie. Uma com dezesseis, outra com quatorze e outra com doze anos de idade. Annie sai em disparada de bicicleta à procura de sua terapeuta. No consultório, aos prantos, conclui que ela havia sido sim estuprada.

No fundo, incomoda.

Para além do enredo permito-me refletir. Penso que tem sido assim. Lenta, gradual e sistematicamente somos levados ao consumo apaixonado e recusamos a idéia de que não, isso diz de nosso desejo mais autêntico. Charlie, essa mídia velhaca e sedutora nos acena com lingeries vermelhas e caímos de cabeça acreditando que somos distintos, sujeitos da modernidade e célebres. Nossa individualidade, nossa pessoalidade, nossa inserção só se torna possível na trupe pelo portfólio.

Há uma cena importante ainda a relatar. Numa manhã de inverno, Annie encontra o pai no jardim, envolto em cobertores escornado em uma cadeira. Ele diz à filha que quando ela era pequena ele a levava para piscina e ficava impressionado como ela era destemida e segura, diferente do irmão mais velho que chorava receoso de pular. O pai, numa convulsão, declara que se sente responsável por não ter sido capaz de protegê-la.

No fundo, incomoda.

A lei não basta. O código de princípios, de valores, de conduta já não dá conta e nem instrui ou governa. Estamos todos a mercê da barbárie. E o que é mais impactante: não há violência. Desde muito cedo os indivíduos são inoculados pela desenfreada necessidade do ter para ser, e vão lentamente se perdendo, como na cena em que Charlie despe Annie de suas mais caras certezas.

No fim, após o filme ter terminado, quando estão sendo informados os créditos da película há ainda uma cena. Charlie é pai de família, brinca em um parque com seu filhinho em companhia de sua esposa e uma criança vem ao seu encontro para apresentar aos seus pais o seu querido professor de Física.

Posso entender porque Pretinha e Claudinho se impressionaram tanto.

O estupro do moderno não se faz sob violência. Nesse filme, e americano, não há herói.


Até breve.

CONFIAR > Filme de drama norte-americano de 2010 dirigido por David Schwimmer e  estrelado por Liana Liberato, que atua ao lado de Clive Owen e Catherine Keener.

domingo, 24 de junho de 2012

SABADO



Ontem fomos ao casamento de jovens amigos de Pretinha e Claudinho.

Na cerimônia religiosa o padre disse, após consulta aos noivos, que para ela o noivo é um COMPANHEIRO. Ele, por sua vez, teria dito ao padre que sua noiva é uma pessoa HUMILDE.

Depois de muitos anos tendo freqüentado inúmeras cerimônias matrimoniais essa, em especial, me deixou a sensação de que ambos foram feitos um para o outro. Assim, piegas mesmo. Observei-os durante toda a cerimônia e eles se bastavam, banhados pela alegria contagiante e intensa cumplicidade.

Em dado momento o padre pediu que fossem apagadas todas as luzes da igreja e disse aos noivos que aquele era o momento para ser guardado para sempre na memória.

Na recepção para cumprimento aos noivos, logo na chegada, nos deparamos com um contratempo. Fomos nos sentar à mesa onde já estava um casal, pais de outros amigos de minha filha e de meu genro.

A mulher veio logo perguntar de Pretinha: se ela, que não havia chegado ainda à recepção, estava passando bem e para quando era o neném. Dadas as respostas essa mulher e esse marido desaguaram sobre nós notícias, curiosidades, peraltices, frases e outras gracinhas protagonizadas pela netinha deles que acabou de fazer dois anos de idade. E que, como se já não bastasse, está por vir (da mesma filha) outro netinho previsto para outubro.

Não sei por que tanta alegria e necessidade do casal em falar e falar e falar sobre os netos. Eu acho tão normal, corriqueiro mesmo o fato de Liz estar vindo, que eu nem comentei nada. Pensei em falar sobre a viagem de balão, pulgas e achei melhor esperar uns meses e mostrar a esse casal babão que nós também estamos podendo.

Aí vamos trucar à altura passagens como a da netinha deles que foi ao pediatra e o médico, brincando, disse que ela estava barriguda.

- É que eu estou grávida...
- Como?!!!
- É. Eu e mamãe estamos grávidas.

Hoje, depois desse casamento, o mundo amanheceu um pouco melhor.


Não me dei conta de ter ultrapassado a marca de duzentos textos. Hoje estou completando duzentos e onze posts publicados aqui no dasletra. Analisadas as estatísticas de acesso constatei um fato inquietante, quase paralisador: o post mais visitado foi ( ), publicado no último dia 23 de maio.

Conjunto vazio, parênteses, falta de assunto e/ou de criatividade. Eu deveria mesmo se mancar (como dizem os paulistas), recolher-me a minha insignificância e deixar de gastar espaços na infovia.

Num vou não.

Pelo menos até agosto de 2014, quando Liz estará fazendo dois anos de idade.


Até breve.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

EU+20



Próximo ao prédio de apartamentos onde moro estão construindo, há seis meses, duas torres de hotéis. Uma com dezoito e outra com vinte andares.

A obra implicou na demolição de quatro casas, um pequeno prédio antigo de cinco andares (dez apartamentos) além da ocupação da área de um grande pátio de estacionamento para veículos.

Ocorre que, por força de contrato de aluguel, resiste ilhada no meio do terreno destinado à construção, uma casa onde há vários anos funciona uma escola de música.

Antes da obra eu ouvia com freqüência alguns acordes repetidos inúmeras vezes a guisa de aprendizado e, não raras vezes, tentativas de vozes à procura da afinação. Agora isto não se faz mais possível uma vez que sobressaem estrondos de bate-estacas, caminhões de concreto, esmerilhadeiras, martelos e marteletes. Salvo aos domingos que, por força da suspensão da obra, ainda ouço sons de aprendizes como uivos agonizantes vindos da escola que resiste.


Ontem assistimos na Mostra Internacional do Cinema da TV Cultura ao filme TULPAN. O filme premiado em diferentes festivais mundo afora do diretor casaquistão Sergey Dvortsevoy conta com um elenco em que apenas uma das atrizes é profissional. Para todos os demais personagens Sergey contou com pessoas sem experiência cinematográfica.

O filme trata da volta para casa de um jovem ex-marinheiro que, para manter-se, precisa cuidar de um rebanho de ovelhas. Vivendo com a família de uma irmã, o cunhado e três sobrinhos em uma estepe agreste a quinhentos quilômetros da cidade mais próxima. Para se manter deve receber um rebanho para cuidar e, para que isto ocorra, precisa se casar.

A única jovem disponível é Tulpan que o rejeita alegando que ele tem as orelhas grandes demais. Ela nunca se apresenta a ele, ficando ao longo de todo o filme dentro de uma barraca ou em um curral coberto e com as portas trancadas. Não aparece em nenhum momento do filme.


Antes do filme havíamos assistido a uma entrevista com o escritor João Ubaldo Ribeiro. Ele diz que a memória é um recurso que se torna desnecessário a passos largos. “Não nos lembramos mais do número do nosso celular.” No passado (antes da imprensa) a memória era elemento indispensável à transmissão de cultura.

Noutra entrevista um conceituado e respeitado cientista comentava sobre a inútil preocupação da sociedade não esclarecida com o aquecimento global decorrente do progresso descontrolado e insustentável. Para ele é uma tremenda bobagem já que nós, humanos, somos uma insignificante partícula no macrocosmo e, embora possam parecer desastrosas as nossas ações não afetarão nem no curto e nem no longo prazo o clima do planeta.

Tudo isto me fez pensar.

Sei não. Tudo bem que a gente possa até a não explodir o planeta. Mas e a música, o silêncio, as condições de sobrevivência, a memória?

Liz, vinda da faculdade ontem à tarde, me pediu que a ajudasse a desenvolver uma monografia cujo tema é Tendências.

Não consegui.


Até breve.

terça-feira, 19 de junho de 2012

ÚLTIMAS I



Enquanto isto, nos arredores da vida real...

CENA 1

Recebi como presente de um cliente, um livro de Francisco Daudt da Veiga: O aprendiz de Liberdade, no qual o autor enuncia:
“Não existe regime mais antinatural que uma democracia, já que inibe a vigarice e o levar-vantagem, e para isso institui três poderes autônomos, cuja função é um desconfiar da vigarice e do levar-vantagem do outro, tendências que, mesmo naturais, são indesejáveis para uma vida que aposte na ajuda recíproca.” (pag.21)(*)

Notícias de hoje dão conta de que, por força de festas juninas, férias e RIO +20, os trabalhos para estancar a mais recente Cachoeira de lama que assola o país serão adiados sine die. (Adoro expressões em latim. Dão um ar de erudição ao post).

Por outro lado o juiz que indiciou e mandou prender o chefe (?) da quadrilha (não a de festas juninas) pediu afastamento do processo. O magistrado alegou estar sendo ameaçado de morte. Pediu licença prêmio por três meses e quando retornar não quer mais reassumir em uma vara criminal.

Como as trapaças estão em volumes de milhares de páginas, o juiz substituto levará um tempo (sine die) para poder examinar, aquecer seu espírito magistral, afiar seus motores e aí poder parecer.


CENA 2

Ocorreram, no final de semana, eleições presidenciais no Egito. O candidato derrotado reclamou que os 52% de votos que deram a vitória ao adversário na verdade deveriam ser computados para ele.

Lá, por força de decreto, os militares têm que ser consultados antes de qualquer ato administrativo ou político do governo civil.

O povo reage.


CENA 3

Recebi, em júbilo, na última sexta-feira, um ato magnânimo do Estado: a minha restituição do Imposto de Renda. Benesse pelo fato de eu ter atingido o status de idoso. Jovens que esperem mais ou que caiam na malha, inclusive Ela.


CENA 4

Estive ao longo de todo o final de semana em um evento no Guarujá-SP onde compareceram perto de 250 executivos do board (em inglês agrega mais valor) de empresas de grosso calibre no mercado global.

Moderei alguns dos debates com renomados cenaristas e especialistas em política e economia internacionais. Europa (especialmente Grécia, Espanha, Portugal e Itália) China e USA foram os principais focos de análise para perscrutar os efeitos sobre o nosso país.

Sempre que estou vivendo estas oportunidades me deparo com evidências da minha dupla-personalidade. Já me disseram que quem escreve as histórias com a Liz não sou eu. Estes mal sabem que quem não sou eu é aquele que esteve no Guarujá no final da última semana. Ou serei? Digo tudo isto porque sei que esse comentário ficará somente entre nós.

O último painel do evento contou com a participação de um dos sobreviventes do acidente aéreo nos Andes ocorrido na década de 70 e de um herói olímpico do vôlei nacional. Tema: SUPERAÇÃO. Ouvi com atenção a ambos e depois tive o privilégio de fazer o encerramento do evento, quando trouxe a história da busca de meu pai a Vicente Pelizzia. (Leia em  MARCA)


CENA 5 ( ou será fora de cena?)

Ontem, à noite, o celular tocou e vi no visor o nome e a foto de Pretinha. Quem estava do outro lado da linha era Liz.

- Vovô, o que você faz na vida?


Até breve.

(*) O aprendiz de liberdade / Francisco Daust da Veiga. – São Paulo: Companhia das Letras, 2000.