quarta-feira, 6 de junho de 2012

LÓGICA I



- Vovô?

- E aí, Liz?

- Eu e mamãe catamos um monte de pulgas...

- Quantas?

- Mamãe falou que foram doze na Laka e treze na Zuca.

- Cadê elas?

- Eu coloquei dentro de uma caixinha de fósforos.

- Vivas?

- Não, né vovô?

- É que a vovó Eulália me pagava quinze centavos por cada uma viva.

- E você me fala isso só agora?

- Com a vovó também foi assim. A primeira vez que eu catei eu levei prá ela um monte...

- Tudo esmagado...

- Pois é.

- E depois?

- Depois eu mostrava prá ela as pulgas vivas dentro de um vidrinho de plástico. Ela contava, me pagava e...

- E depois?

- Depois eu voltava com as pulgas vivas tudo para o casaco de novo.

- Mentira?!!! Você não fazia isso, vovô.

- Não, claro, Liz. Eu estou brincando.

- Isso é maldade, vovô.

- É sim, você tem razão.

- Então você não pode brincar com isso, né vovô?

- Verdade. Desculpa, Liz.

- Vê lá... Encher a Zuca e a Laka de pulgas de novo...

- Pois é.

- Só prá eu ganhar mais dinheiro...

- É num pode mesmo não.

- Vovô, sabe de uma coisa?

- O quê?

- Vamos numa farmácia comprar remédio para passar na Zuca e na Laka.

- Você quer assim?

- O dinheiro que você ia me dar eu quero que você compre o remédio...

- Você passa o remédio?

- Criança num pode, vovô.

- Ah, é verdade. Quem te falou que não pode?

- Papai.

- Quando?

- Ele não tava muito de acordo com essa história de eu e a mamãe catar pulgas...

- Porque ele não tava ganhando nada?

- Quê isso, vovô? Claro que não! É que ele acha que nós devíamos mesmo é passar remédio prá acabar com as pulgas.

- Seu pai é jóia.

- Eu devia ter escutado o papai...

- Ele queria comprar o remédio?

- Comprar não, mas ele falou que mamãe que devia de passar porque eu sou pequenininha... Eu não posso.

- Ah, entendi.

- Vovô?

- O que é, Liz?

- Tadinha das pulgas, né?

- Vovô também num gosta de ter que matar as pulgas...

- Mas dá doença, né vovô? Aí a gente tem de acabar com elas, né?

- Pois é.

- Vamos, então, vovô?

- Onde, Liz?

- Comprar o remédio para você passar na Zuca e na Laka para acabar com esse negócio de pulgas.

- Liz?

- O que é, vovô?

- A gente aproveita passa na sorveteria e toma aquele sorvete, o que você acha?

- Mas você não vai pagar o sorvete com o dinheiro do remédio das pulgas, né?

- Não, Liz.

- Aí tá bom.

- De qual sorvete você quer?

- Lá eu escolho, vovô.


Até breve.

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