sábado, 31 de dezembro de 2011

GRACIAS

Estou recolhido, tomado pelas minhas reflexões derradeiras, minhas muitas querências para o novo que se avizinha, minhas escolhas, meus equívocos, meus dares e receberes. Meus agradecimentos e reconhecimentos, aos meus mais íntimos, aos meus mais chegados, e também aos meus desconhecidos que me batem à porta, ainda que eu não os saiba. Aos anônimos, aos que se expõem e se manifestam.
Recorro a alguém que dê conta do meu último post nesse limiar de um tempo novo. Victor Hugo, em Desejo, sempre me ocorre.
     Desejo primeiro que você ame,
     E que amando, também seja amado.
     E que se não for, seja breve em esquecer.
     E que esquecendo, não guarde mágoa.
     Desejo, pois, que não seja assim,
     Mas se for, saiba ser sem desesperar.

     Desejo também que tenha amigos,
     Que mesmo maus e inconseqüentes,
     Sejam corajosos e fiéis,
     E que pelo menos num deles
     Você possa confiar sem duvidar.
     E porque a vida é assim.
 
     Desejo ainda que você tenha inimigos.
     Nem muitos, nem poucos,
     Mas na medida exata para que, algumas vezes,
     Você se interpele a respeito
     De suas próprias certezas.
     E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
     Para que você não se sinta demasiado seguro.

     Desejo depois que você seja útil,
     Mas não insubstituível.
     E que nos maus momentos,
     Quando não restar mais nada,
     Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

     Desejo ainda que você seja tolerante,
     Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
     Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
     E que fazendo bom uso dessa tolerância,
     Você sirva de exemplo aos outros.

     Desejo que você, sendo jovem,
     Não amadureça depressa demais,
     E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
     E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
     Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
     É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
      Desejo por sinal que você seja triste,
     Não o ano todo, mas apenas um dia.
     Mas que nesse dia descubra
     Que o riso diário é bom,
     O riso habitual é insosso e o riso constante
é insano.

     Desejo que você descubra,
     Com o máximo de urgência,
     Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
     Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta
.

     Desejo ainda que você afague um gato,
     Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
     Erguer triunfante o seu canto matinal
     Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
     Desejo também que você plante uma semente,
     Por mais minúscula que seja,
     E acompanhe o seu crescimento,
     Para que você saiba de quantas
     Muitas vidas é feita uma árvore.
     Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
     Porque é preciso ser prático.
     E que pelo menos uma vez por ano
     Coloque um pouco dele
     Na sua frente e diga "Isso é meu”,
     Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

     Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
     Por ele e por você,
     Mas que se morrer, você possa chorar
     Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

     Desejo por fim que você sendo homem,
     Tenha uma boa mulher,
     E que sendo mulher,
     Tenha um bom homem
     E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
     E quando estiverem exaustos e sorridentes,
     Ainda haja amor para recomeçar.
     E se tudo isso acontecer,
     Não tenho mais nada a desejar.

Muito obrigado a todos aqueles que dedicaram parte de seu precioso tempo a se ocuparem comigo e minhas ruminescências, meus inquietares, meus inscritos. Muito obrigado pelas inúmeras palavras de carinho e incentivo. À todos um tempo novo, repleto de projetos e realizações.
Que a vida reserve o que for de melhor.

Até breve.

SIETECOLORES

Para Luiza, atendente do Hotel:
Azul oscuro
Azul intermédio
Azul claro
Verde oscuro
Verde aquamarina  Azul y verde
Verde claro
Cristal > aqua clara  o  transparente

Para Cláudio:

Para saber qual é
O azul do mar
Depende do olhar.
Ver-de-perto?
Ver-de-longe?
Olhar esperto ou
Olhar de monge?
Olhar sem ver
Ver sem molhar
É estar perto
Sem aproveitar.

Para Jak Harb, dono do Hotel:

            Azul em vários tons.

Para Ronaldo, paulista, também hóspede, mergulhador e surfista:

            Sete milhões de cores...

Para mim:

            Uma pergunta.

SAN ANDRÈS ISLA



Até breve.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PORIR

Estou a exatos dois meses da entrada na idade dos privilégios. Não enfrentarei filas de nenhuma ordem e circunstância. Terei preferência junto a inválidos e gestantes. Viajarei de graça nos coletivos urbanos. Jovens e maduros se levantarão de seus assentos para cedê-los para mim e eu, solenemente, agradecerei a gentileza.
Serei tratado por senhor.
O corpo seguirá sua rota gradual e contínua de decadência. Carne, líquidos, músculos e ossos sucumbirão, por mais que eu me proponha cuidados. A bisnaga de carne será esterco. Não é dela que faço agora questão, porque será como será. A sua data de validade está guardada a sete mil chaves pelo senhor dos mistérios.
Ocuparei, e cada vez mais, do espírito, aqui entendido como a minha proposta do que me resta ser. Proponho-me a alegria como ideologia e prática. O caminho pela velhice será trilhado com o vigor e interesse de infância.
Assim, aos meus, peço que quando tornar-me um fardo, porque o serei, internem-me em um orfanato, jamais em um asilo. Vou ao encontro de vínculos com crianças, não necessariamente daquelas de até dez anos de idade, mas daquelas cujo compromisso é o brincar até a exaustão e com irreverência.
Tranquilizem-se, familiares, credores e clientes, pois ainda saberei comportar-me formalmente como adulto responsável. Só digo que não abrirei mão da alegria e da irreverência.
Não farei nenhuma concessão à tristeza. Olharei com absoluto desdém tudo o que iniba o meu desejo de estar bem comigo e meu único compromisso será o de aprender a tirar o melhor e a maior graça da vida.
Pagarei em espécie e no preço que for o direito de essencialmente sentir-me agraciado. Vladimir Maiakowiski, o poeta russo, disse em um dos seus poemas: “Há no mundo um homem feliz. Acho que no Brasil.”
A mim não interessará nenhum estímulo e de qualquer natureza que não me enderece à alegria. Saberei entender as perdas, inclusive as irreparáveis. Seria desnatural se assim não o fosse.
A nenhuma lei imposta, por mecanismos que forem, inclusive os da sedução perversa, submeterei. Dez anos mais e eu serei considerado inimputável, embora esteja presente que o caminho da alegria jamais compactua com o do crime.
Pagarei minhas contas, andarei com vestimentas apropriadas, dirigirei na mão de direção, reduzirei a velocidade quando próximo às barreiras eletrônicas, continuarei usando garfos e facas. Farei minha higiene pessoal e tomarei banho todos os dias.
Aos setenta anos escreverei e publicarei o meu livro de trezentos e setenta e sete páginas. O título?        . Aguarde. Não tenha pressa. Você receberá um exemplar especial.
Aos oitenta quero estar louco. Absolutamente louco. Cantinflas e Chaplin serão minhas referências para manifestação cultural e política. Talvez eu já esteja pronto para um segundo livro. Este de quatrocentos e quinze páginas.
Aos noventa, meus netos já serão adultos. Próximo dali estarei pronto. Investi meus melhores anos em décadas de alegria.
Quanto me for, dirão: ele era um sujeito engraçado.

Por enquanto, até breve.

PS> O título foi por sugestão do meu genro, pai do meu neto que está porvir.
IRREVERÊNCIA

ALEGRIA

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

RES

Completamos o quarto dia em Bogotá, Colômbia. Em ritmo mais cadenciado que em outras viagens por força de estar conosco nossa filha que, todos sabem, está em estado interessante ou embarazada.
Corri os dias com absoluta irresponsabilidade, sem programas, levado por aqueles que acompanho, com o espírito leve e disponível a qualquer tipo de experiência. Nem o compromisso de estar aqui no dasletra me assolou, até porque nunca o entendi como tal.
Assim, sem muito cuidado, registro algumas experiências que prefiro nomeá-las como Cláudio sugeriu: sensações.
Na sexta-feira, fomos almoçar no restaurante Casa Vieja, sensacional. À noite, fomos a um restaurante-boate-dancing chamado Salto Del Angel. Ficamos em uma das varandas da casa com aquecedores daqueles que descobrem a temperatura que seu corpo demanda. Até jantamos pratos divinos regados a um bom vinho. Dançamos um pouco. Estávamos sendo recepcionados por Bogotá de forma calorosa, intensa e prazerosa.
No sábado, chovia fino, fomos à Praça Simon Bolívar, centro cívico onde estão instalados o Palácio da Justiça, a Prefeitura, o Congresso e a Catedral. Em uma rua paralela a Catedral, fomos a um restaurante (?), de dezesseis metros quadrados de piso (incluídos a cozinha e o caixa), e um mezanino de dois metros de largura por quatro de comprimento. Porta Falsa o nome da birosca. Perguntei ao tataraneto do fundador (em 1816) o porquê do nome. Ele respondeu, com atenção em outro cliente que lhe demandava um pedido: “verdadeira, só a da Catedral”. Lanchamos ali algo como um composto quase centenário, apesar de não ter nem uma hora que havíamos acabado de tomar o café da manhã. Apenas pela sensação de estarmos sentados em um banco voltado para a parede e os pratos e xícaras sobre uma peça de madeira de uns trinta centímetros de largura. Must!
Almoçamos no Sanalejo. Perguntei a um dos garçons porque do nome. Ele explicou que Sanalejo é um tipo cômodo de despejo onde colocamos coisas que não nos servem mais. Aí entendi a decoração da casa.
Ceia de navidad no hotel onde nos instalamos. Que nenhum colombiano nos ouça, mas nada mais brega. Tudo, literalmente tudo. Jantar um horror e Cláudio escolheu a dedo o vinho, espanhol da pior qualidade, apenas para compor. Saímos felizes à beça, rindo à toa. Santa diversidade.
O domingo foi o dia, até aqui, o de melhores sensações. Fomos visitar a maior maravilha da Colômbia: a Catedral de Sal, em Zipaquirá, a uns trinta e poucos quilômetros de Bogotá.
A Catedral de Sal foi construída no interior das minas de sal de Zipaquirá. Santuário católico de quatorze esculturas nas rochas salineiras que representam a via crucis de Jesus Cristo. A iluminação que alterna as cores das esculturas é um dos pontos altos, dando ao lugar uma beleza extraordinária. No final da visita fomos brindados com um show eletrônico de luzes em uns dos salões da mina, a cento e oitenta metros de profundidade. Procure saber mais a respeito e, podendo, vá visitar. A Capela do Sal é mesmo uma das maiores maravilhas do mundo.
Saindo de lá, fomos almoçar no restaurante Andrés Carne de Res. Vocês não podem imaginar o que é o lugar e ninguém será capaz de descrevê-lo. Só experienciando-o. Entramos as 14:19 horas e saímos às 16:40 horas. Nessas quase três horas fomos recebidos por jovens maravilhosos, de uma simpatia e belezas ímpares, com um carinho e um atendimento primorosos. A decoração é indescritível, a comida inenarrável, a música visceral. Certa altura apareceu o proprietário cumprimentando os clientes e tomou de um microfone para iniciar uma gincana: quem descascasse o maior número de batatas, não pagaria a conta. A rua lateral do restaurante, sem tráfego de automóveis, ficou repleta de pessoas que, sobre uma grande mesa descascavam batatas e as lançavam dentro de baldes. Tudo sendo transmitido em aparelhos de TV espalhados pelos inúmeros salões do restaurante. Ao final levaram para fora um pernil assado e o serviram aos competidores. Uma alegria coletiva contagiante. Cláudio com a máquina aberta para filmar me perguntou: “Então Agulhô, qual é a sensação?” Meu espírito manteve-me calado. Prazer não encontra palavras.
Fomos a museus no sábado e hoje. O Museu do Ouro, ímpar no mundo, cujas portas internas dos salões são como cofres de bancos, dado ao valor artístico, histórico, cultural e da matéria prima das peças expostas. Ao Museu Botero do artista colombiano, ao Museu da República onde estão expostas peças de artistas maiores como Picasso, Dali, Miró e outros desse quilate. Visitamos ainda o Museu da Moeda, interessantíssimo também.
No paladar ainda fica a sensação trazida pela beleza de Stefânia, uma das jovenzinhas que nos atendeu no restaurante Andrés. Fica ainda a doce música de Babel, irmão de Andrés, de quem trouxe um CD. Na parte interna do estojo que contém o CD lê-se:
“Canciones intimas e artesanales son aquellas que lejos de luminárias escénicas, virtuosismos alucinantes y maravillas electroacústicas, se cantan com voz baja y recogimiento de alma, em la soledad de la habitacion o em la soledad del bosque o de la playa. O em las afueras de la ciudad, al  término de la fiesta, cuando todos se han ido ya, excepto uma pareja que vestida de blanco y ouvidada del mundo baila descalza, sobre las boldosas de la pista abierta ao cielo del restaurante Andrés y su media naranja.”
Amanhã vamos de avião para San Andrés. O oceano de sete cores nos aguarda.
Acha coração...

Até breve.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

PROTAGONISTA

Nessa correria de final de ano proponho uma parada. Para balanço. No sentido de apropriação e registro do vivido e balanço também como algo que movimente, que chacoalhe. Peço-lhe que não continue lendo este post se você não tem tempo ou disposição para fazê-lo agora. Volte depois no momento em que você estiver disposto (a) a se ver ao espelho.
Decidido (a)? Então vamos lá.
Quanto você recebeu e pagou em dinheiro. O saldo é positivo? Acumulou para gastar no curto ou no longo prazo? Para pagar contas, especialmente as de janeiro, IPVAs, IPTUs, IPTosdiabos? Para investir, em quê? Para guardar para uma eventualidade, para dormir tranqüilo, para dizer que tem tanto, ou foi para...? O saldo é negativo? Quais são as alternativas? Banco, financeira, parentes, amigos ou rolagem? Cuidado: juros, especialmente os de cartão de crédito, são proibitivos.
Quantos amigos você fez, de quantos você se distanciou, quantos deixaram de ser? Escreva o nome e dê-se alguns minutos a cada um deles. Pense da sua importância e a que você se propõe para cultivá-lo. Depois ligue para todos eles e diga o que lhe vier à cabeça. Se quiser, uma dica: “você foi uma pessoa muito importante para mim em 2011 e eu espero poder continuar contando contigo daqui prá frente.”
Qual foi a principal contribuição a si mesmo para que você se tornasse melhor? Tenha coragem de refletir, também, sobre qual foi o ato, pensamento, palavra ou obra da qual você se arrepende, se envergonhe ou gostaria que não houvesse ocorrido? Não se auto-engane: vá fundo.
Dos 355 dias do ano vividos até hoje, qual deles você gostaria de manter registro? Por quê?
Quais livros você leu que lhe enriqueceram de fato o espírito? Qual a idéia central do texto que lhe tenha marcado e por quê?
Quais filmes, peças de teatro, shows ou outras atividades culturais que você assistiu e qual desses eventos mais lhe marcou? Por quê?
Quanto você avançou ou recuou no seu projeto profissional? Você esteve ao longo de 2011 na organização, na posição, na atividade que lhe dá orgulho e satisfação? O que fará para desenvolver, manter ou mudar esse quadro?
Quantas viagens você fez, inclusive em sonhos ou idealizadas. Onde você esteve real ou oniricamente? Qual desses lugares onde você se encontrou e sente que o ar lhe arrebata?
O quê e a quem você deu de si, intensa e desinteressadamente?
Procure juntar todos os elementos desse percurso feito até aqui e avalie refletindo sobre a questão que mais lhe ocupou. Coloque-se a pensar sobre ela e escolha uma palavra, uma única palavra, e faça dessa palavra um roteiro.
Você tem 2012 razões para fazê-lo.

Até breve.
PS> Estamos embarcando hoje para Colômbia (Bogotá, Cartagena e San Andrés) e voltamos dia 06/janeiro. Se ocorrer algo que julgue interessante em compartilhar trarei. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

FALTA

No dicionário: Significado de Falta
s.f. Deficiência, privação: falta de dinheiro.
Ausência: sentimos sua falta.
Erro, imperfeição: seu trabalho apresenta faltas sanáveis.
Não-comparecimento às aulas etc.: suas faltas foram justificadas.
Fazer falta, deixar sentir a carência.
Sem falta, infalivelmente

No futebol, cada vez que um jogador golpeie ou tenta golpear outro jogador, o empurre, o retenha para obter vantagem, cuspa-no ou toque a bola com seus membros superiores (exceto o goleiro), o árbitro marcará um tiro livre direto a favor da equipe que recebeu a infração, que se realizará desde o local da infração. Se ocorrer dentro de uma das áreas, independentemente da posição da bola, e se esta estava em jogo, é marcado um pênalti contra a equipe infratora.
A falta de ar, designada na medicina como dispnéia, é uma sensação de dificuldade para respirar. É a impressão de que a quantidade de ar que entra nos pulmões é insuficiente. Pode-se manifestar também como uma dificuldade para expulsar o ar já respirado.
A falta de apetite pode ter inúmeras causas, desde físicas a psicológicas. Como na generalidade das doenças, o tratamento fitotrópico oferece uma solução perfeitamente natural e saudável, sem o recurso a medicamentos químicos.Existem bastantes plantas medicinais que estimulam o apetite através de variados processos, como por exemplo a activação dos processos digestivos, o facilitar da digestão ou tonificação de todo o aparelho.
A legislação brasileira prevê algumas hipóteses em que o trabalhador pode deixar de comparecer ao serviço sem que a falta seja descontada do salário. São as faltas justificadas ou admissíveis. As faltas não justificadas por lei não dão direito a salários e demais conseqüências legais, e podem resultar em falta leve ou grave, conforme as circunstâncias ou repetição; mas podem ter justificativa imperiosa que, se seriamente considerada, vedará a punição. É o caso de doença grave em pessoa da família, amigo íntimo, ou outra hipótese de força maior.
Os seres humanos por serem desejantes, seres de linguagem são condenados a sentir, primeiro mal-estar e angústia, depois por serem impulsionados para algo que se supõe trazer a felicidade, um estado de completude de não falta. O próprio Freud teria dito que a psicanálise até pode resolver os problemas da miséria neurótica, mas ela nada pode fazer contra as misérias da vida como ela é. Somos seres simbólicos, marcados pela desnaturalização empreendida pela cultura. Somos movidos sempre por ‘outra coisa’. Se fôssemos somente instinto e necessidade, seríamos como os animais, que parecem felizes quando cumprem com seu ciclo biológico de fome e sexo. O animal satisfeito deve ser feliz. Mas, o mesmo não acontece com os seres humanos. Podemos ter ‘tudo’ e ao mesmo tempo sentir vazio existencial; podemos sentir prazer e ao mesmo tempo colher desprazer em nossos atos demasiadamente humanos. Se estivéssemos presos ao instinto, ainda teríamos cio, faríamos sexo somente em determinada época do ano apenas para procriar; comeríamos apenas para matar a fome e não para degustar para comida de um famoso restaurante e beber um vinho de uma safra ‘x’, servido em um copo especial, etc. Entretanto, a condição humana de ser desnaturalizado, desejante, cultural, complica a sua conquista para ser feliz, embora possamos eventualmente experimentar alguns momentos de felicidade, como o gozo sexual, o recebimento de uma promoção no trabalho, ganhar um prêmio, ver nascer um filho, etc.
Como formula Lacan, "O desejo é sempre o desejo de um outro desejo”. O desejo humano é algo sempre adiado, é intervalar. O desejo vive de sua insatisfação, resguarda esta estranha função: a função de insatisfação.
O desejo jamais é satisfeito porque tem origem e sustentação da falta essencial que habita o ser humano, daquilo que jamais será preenchido e, por isso mesmo o faz sofrer, mas também o impulsiona para buscar realização – ou satisfação parcial – no mundo objetivo ou na sua própria subjetividade (sonhos, artes, projetos utópicos, fé no absoluto, etc.).
É preciso reconhecer que é na dimensão onírica que o desejo se realiza, por meio do disfarce. Só assim ele pode ser feliz. Porque, na dimensão concreta da realidade, jamais o sujeito poderá conquistar a felicidade. A realidade do mundo, dos acontecimentos e dos fatos, sempre frustra nossa capacidade desejante de preenchimento ou a sensação de ser feliz.
“Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade. Não, eu não sou pessimista, não enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz – ao menos não mais infeliz que os outros”. Freud
Nos parágrafos anteriores falta o meu estilo, já que foram pinçados na rede para trazer diferentes âmbitos dafalta. Se falta a fonte de pesquisa falta caráter, ou até vergonha, ou falta de criatividade, ou de paciência para falar sobre.
No fundo, do tema só nos resta o recurso da linguagem, porque de mais que queira saber, falta.
Até de quem me demanda a palavra, me falta nome.
Sabe-se lá o que me falta ainda...

Até breve.
PS> Falta escrever ainda sobre: PAI, RENASCER, CRIANÇA, SESSENTENÁRIO das palavras a mim legadas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

AMIGOS

Das expressões do Ser, a inveja acomete-me. De todas as invejas aquela que mais me corroi todos os cantos do espírito é de alguém que escreve algo que eu deveria já ter escrito. Fico indignado quando alguém rouba das minhas entranhas algo de meu. Principalmente quando é um escritorzinho qualquer.
Outra é a pretensão. Estou quase certo que a mensagem de Natal que Lydinha mandou foi só para mim porque ela sabe que Oscar Wilde (1854-1900) inspirou-se em mim para escrever: “AMIGOS”.
Outra ainda é o plágio. Peço licença à Lydinha para fazer um Desejo e Reparação. Vou compartilhar nas nuvens com todos que batem à minha porta.
AMIGOS
Oscar Wilde

Escolho os meus amigos não pela pele
nem outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito ou os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e  angústias
e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só ombro ou colo.
Quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que  fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e a outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto
e velhos para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos,
bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de mim.
Que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril.”

Num é?

Até breve.

domingo, 18 de dezembro de 2011

SONHO

É louca.
Completamente louca.
Pelas filhas.
Pela mãe, pelo pai.
Totalmente louca.
Por Sandra, Marina, Cláudia.
Pelos netos.
Absolutamente louca.
Ontem fomos jantar na casa da enlouquecida. A primeira louquinha que nos recebeu  em baita surto foi Sandra. Pô, é de arrepiar. Num pode ter sido conosco aquilo, ela já estava com doses a mais e nos confundiu com alguém muito querido. Ninguém pode nos querer tanto quanto demonstrado. A louquinha estava de porre!
Depois foi a própria ensandecida, louca varrida, encerada e lustrada. Na sequência a Marina. Aí num teve jeito. Entramos prá dentro com tudo que recebemos. Duas taças do melhor tinto depois a gente passou a acreditar que nós éramos queridos mesmo. Estávamos fazendo parte de uma distinção, de um privilégio, de uma especialíssima atenção, de um grupo seleto escolhido, um por um, até fazer trinta.
Sandra gritou várias vezes, no meu ouvido. Marina gritou no meu ouvido. A louca gritou no meu ouvido. “VOCÊS SÃO ESPECIAIS!!!”
Noite adentro, folia a rodo, gourmet especialíssimo e simplérrimo e um cantor deslumbrante. Os amigos da louca presentes, esses acho que não tinham dúvida, estavam lá porque são mesmo distintos, gente bonita, bonita, bonita...
Certo momento, aí fui pro espaço. Quando acordei hoje caí na real. Eram exatas 09:22 horas. “Caramba, perdi o Barcelona!” Deu prá ver o segundo tempo. Um espetáculo como sempre.
Hoje, quando voltávamos para BH eu fazia um esforço para lembrar onde havíamos estado ontem à noite. Até agora não consigo lembrar, por mais que eu me esforce. Acho que foi por causa do sonho que me embriagou ao longo da noite e madrugada adentro. Nós estávamos num jantar, convidados especiais e com pessoas que na vida real não existem, especialmente a dona da casa.
Acho que de ontem prá hoje fiquei mais louco.
Loucura pega?

Até breve.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

IMPORTANTE

Tenho prá mim que nada, desse tipo, pode ou deve ser escrito em tópicos, pelas seguintes razões:
·         O primeiro nunca introduz integralmente a idéia e
·         Os outros, porque não fazem o menor sentido.
Então é melhor ir discorrendo assim sem mais ou menos até porque sobre o que se quer falar, ou porque foi pedido que se falasse, deve de haver.
Tem umas “coisas”, quando a gente não sabe nomear serve “coisas” ( Octávio Paz diz que  palavras e coisas sagram da mesma ferida), que têm diferença essencial sobre outras, entendendo essência como aquilo que está contido pelas circunstâncias.
Explico melhor. Tem “coisas” que você pode viver sem elas, apesar delas. Tem “coisas” que você pode deixar de fazer, relegar, negligenciar, postergar, transferir, esquecer e até perder, de repente...
Outras não.
São essas “coisas”, que me parecem poucas na idade adulta, a gente deveria ter de muito critério, paixão e cuidado em identificá-las, tratá-las.
Cuidar delas, enfim.
Quais são?
Por exemplo: isso que você pensou aí agora. Isso talvez seja mesmo. Se não, vai mais fundo. Deve ter algo que lhe ocorra agora e que se aplica. Uma vez surgida a “coisa” eu não perguntaria porque e nem tentaria muito de explicar. Apenas ficaria com essa “coisa” assim. Posta. Se for mais de uma também.
Põe ela ou elas sobre a mesa.
Olhe à elas intensamente e sem pressa. Se não for um bom momento, não faça agora. Deixe para um depois. Não acredito que do que se trata possa deixar pra depois. Pois se não é, não é. Então se é, tem de ser agora e aí onde você está debruçado sobre a “coisa”.
Entendeu?
Vou me fazer de exemplo. Prá mim agora não há mais nada de maior do que o meu neto que se gesta. Não esse que vem de minha filha, porque esse é dela e dele. Mas um de meu, querido, desejado, sonhado, com todo o respeito e distanciamento. Mas em mim há um e por enquanto um neto sobre o qual me debruço. Isso prá mim é uma “coisa”.
Que é.
Entendeu?
Se não, não será. Porque não é.

Até breve.

PS> Ao anônimo que me legou a palavra, muito obrigado.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CUTUCADA

Achei que deveria trazer no corpo do texto um comentário recebido no post CUME do último dia 06. Entendi, também, que deveria aceitar o desafio do leitor anônimo.

COMENTÁRIO

“Mestre, alguém disse que o mundo – exterior e interior – é limitado pelas palavras que você sabe. Assim, confinamos sentimentos, sensações e idéias a vocábulos. O que você pensa sobre isso? Você se tornou um Palavrador para romper seus limites e ampliar nossa percepção de mundo? Fui muito longe ou tem algum fundamento?”


RETORNO
Há sim um incômodo que mobiliza.
Há sim um ocupar-se pelo outro com a pretensão de contribuir para a sua descoberta.
E há, sobretudo, uma dor.
A palavra escrita, inscreve. A palavra dita nem sempre vaza a couraça e fica.
Nunca se vai muito longe, pois o longe é um lugar que se chega e nem cabe se tem fundamento, porque uma vez escrito está posto e é suficiente para que se instaure.
Como no caso.
Brigado pela instigação. Volto a ela um dia.

Até breve.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

CUME

Esta é a primeira e será a única vez que a palavra proposta a ser lavrada fará parte do corpo do texto. Por razões óbvias, eu suponho.

Filhos são MEIOS para que o DESEJO maior se estabeleça.

Ontem, comemoramos trinta e seis anos de casados e recebemos a notícia, pela manhã. Até agora estou sobre o impacto.
Sobre Liz ou Valentin lavrarei depois. É preciso respeitar o tempo daquele que se gesta e sobrevém de nossas entranhas.
É preciso esperar a um ou a outro.
Mas já é possível antever o perfume, a manha, o gesto.
Mas já é possível ouvir todas as letras intensas, pausada e repetidamente: VOVÔ... VOVÓ...
Já é possível, ainda: “Vovó... mamãe... é verdade o que o vovô falou?”
Já é possível estar certo de que, no fundo, ela ou ele, acreditará.

Até breve.

PS.> Obrigado Claudinho, Obrigado Pretinha pela palavra.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

PERSEVERANÇA

Acho que existe, ainda, a cola Tenaz. Foi a primeira idéia que me ocorreu para lavrar a palavra deste post. Algo sinônimo: tenacidade. Algo que adere, prende, mantém, resiste. Firmeza ou constância num sentimento, numa resolução, num trabalho, apesar das dificuldades e dos incômodos.

“Quando eu dei por mim,
Nem tentei fugir
Do visgo que me prendeu
Dentro do seu olhar.

Quando eu  mergulhei
No azul do mar
Sabia que era amor
E vinha pra ficar.

Daria para pintar
Todo o azul do céu
Dava para encher o universo
Da vida que eu quis pra mim

Tudo que eu fiz
Foi me confessar
Escravo do seu amor
Livre para amar.”

Diz o letrista numa canção que embala.
Sinto que foi assim, no caso. Intenso, rápido e recíproco. Daí as construções depois, todo dia tem uma novidade, uma conquista, uma coisinha ou outra, mas carregada de sentido, carinho e gosto. Lembro da procura do piso, esse não, talvez esse, se pudesse ser esse com aquele outro, acho que vou ficar com aquele, ou será com o outro? Mas aqui, alí, acolá, até que tá lá, do jeito que enche o universo da vida que se quer.
Alí que eu vi tenaz. Não obstinação. Aos obstinados falta a flexibilidade, elemento de suma importância para a viabilização de propósitos. Um exemplo pode esclarecer isso. Desejamos ir, em linha reta, de A para B. No meio do caminho encontramos um muro. Os tenazes param, olham, contornam o muro e dão continidade à sua trajetória; os obstinados batem com a cabeça no muro, pois não tiveram a flexibilidade de mudar o caminho, contornar o problema, a dificuldade.
Agora uma busca de outra ordem, que implica em muita propositura, empenho e método. Num sei, mas parece que junto vem algo de aliança, de acordo, de ajuste, de projeto, de concessões recíprocas.
À mim, no fundo, o que vem mais  à frente é que interessa...
Até breve.

PS> Brigado, querida, pela palavra e incentivo.