segunda-feira, 31 de março de 2014

AMOR



Pretinha experimenta certo descompasso.

Caiu sobre Noninha uma imensa surpresa. Ela não mora mais sozinha no coração da mamãe e do papai. Valentin veio com seus atrativos e chega tomando-lhes tempo e desdobrares.

Pretinha sofre a dor daqueles que amam e não pouco.

Noninha é muito novinha para supor-se ímpar, sendo agora par. Conversei com tantos que me disseram que é assim mesmo. O ciúme. Hoje na pracinha ela não quis dividir com ninguém seus baldinhos, peixinhos, pazinhas.

- “É meu!”

Seus olhos, como jaboticabas, soam abatidos. Como se as frutas estivessem um pouco passadas, como se murchassem. Às vezes se esquece da dor e elas revigoram-se e junto ao sorriso de dentinhos à mostra ressurgem desenhando a singela e bela Noninha de sempre.

Pretinha administra seu caos materno. Que coração imenso a mulher descobre quando lhe advém os rebentos, especialmente no caso, que foram tão desejados.

O que posso dizer em situação como esta? “Filhinha, eles serão muito amigos”.

Foi o muito que consegui e, ainda assim, via WhatsApp.




Até breve.

domingo, 30 de março de 2014

WHO



Retirei do cabeçalho do blog RUMO À OSLO construído pela verve chapliniana. Não se brinca com um sonho, mesmo que seja zinho. Não se trata-lhe sério, mesmo que Nobel.

Ontem entrou mais uma peça no meu cabeça quebrada. Teatro de representação da qual me permito a minha.

O texto do premiado dramaturgo líbano-canadense Wajdi Mouawad, traduzido por Ângela Leite Lopes, conta a saga da árabe Nawal: exilada no Ocidente em decorrência de décadas de guerra civil. Ao morrer ela deixa para os filhos a missão de encontrar o pai e o outro irmão no Oriente.

INCÊNDIOS.

Marieta Severo, extraordinária, declarou em entrevista: “Incêndios tem uma carga de poesia e de drama, revela maneiras de permanecer humano num contexto desumano...”.

Minha interpretação desloca-se da trama, busca outra perspectiva embora aquela explicitada pelo texto já seja suficientemente cruel. A questão para a qual me remeto quer apontar a tragédia humana, da natureza humana.

À Espécie Humana foi natural e intrínseca, indissociável e eterna dada a concepção umbilicalmente gêmea, a alma do mal e a alma do bem. A natureza humana pariu gêmeos, por um estrupo eterno. Terrível Criador.

Não há ato desumano, como quer Marieta, é do humano a crueldade, parida na origem. Não é correta a idéia de tudo o que deriva do mal seja des humano. O humano é gêmeo.

O Pai do Humano perdido em sua infinita eternidade, em sua universal e cósmica solidão, desespero impregnado na consciência de seus “filhos” frutos gemenianamente concebidos pelo trágico desígno.

“Agora estamos juntos, melhor”. A faca na garganta da infância.

Viver sem a utopia em acreditar possível a erradicação do mal, nos torna mais cruéis. Ou não? Gêmeos eternos, indissociáveis, determinantes porque só há paz porque se conhece e se faz a guerra, só se experimenta o amor porque é ele o outro gozo do ódio, só se faz o bem para se encontrar “melhor” em relação ao mal.

Ontem li em um jornal, enquanto aguardava no aeroporto de Vitória o embarque para o retorno à Belo Horizonte, matéria que dava conta de um assassinato ocorrido na noite da última sexta-feira. Dois miseráveis moradores de rua da cidade entraram em luta corporal porque um deles não queria que o outro espancasse um cão.

- “Mas o cachorro era meu, eu podia fazer dele o que eu quisesse!” Afirmou o assassino na delegacia.

- “Meti a faca nele porque um homem não encosta noutro homem... Eu sô homem!”.

Who I am?

INCÊNDIO.




Até breve.

sexta-feira, 28 de março de 2014

HIPOTESES



Considero duas razões como as mais prováveis para a queda no número de acessos ao blog. Toda vez que toco nesse tema é também uma delas, já que ninguém está mais aguentando a minha demanda por carinho.

Por outro lado fui instruído por uma amiga que entende muito de mercado que meu livro a ser publicado não poderia ser uma colcha-de-retalhos de temas pinçados aleatoriamente do rol de seiscentos textos.

“Melhor, Agulhô”, ela me disse, “que você vá à editora de ‘fulana’ que é especialista na edição de livros infantis e publique os diálogos com Noninha e Valentin. Eles lá vão colocar ilustrações e vai fazer um sucesso, você vai ver”.

Interessante, eu gostaria de ganhar o Nobel sem fazer sucesso, mas estou achando que não será possível.

A primeira razão para a vertiginosa queda de acessos ao blog, então, voltando ao início do post, trata-se de eu ter deixado de comentar um ou outro filme, um ou outro acontecimento de interesse geral ou de lançar um olhar sobre a desgraça palaciana.

Se bem que, pasmem, eu também anteriormente já achei que a queda de acessos foi exatamente por isto, eu me meter a besta a fazer comentários sobre assuntos que não encontram eco em ninguém.

Ainda bem que o blog não é patrocinado e eu não devo nenhuma explicação às oscilações estatísticas. Aí eu estaria sismeráltico de vez.

Muito bem, apenas para espantar eventuais novos entrantes nestas malversadas páginas eu me obrigo a falar quatro palavrinhas sobre a questão Petrobras:

“PUTA QUE O PARIU!!!”

Pois é, e com elas entro na segunda razão para a queda de acessos no blog. Palavrões. De uns posts prá cá minha boca tá um lixo. Se bem que eu já destramelei geral em PERSEGUIDA, “mas de uns dias prá cá, pai, nossa você perdeu o senso de medida”, me disse Pretinha.

Ela mesma é uma das baixas do blog. Só lê quando eu peço.

O fato é que eu entrei em uma fria com essa história de pedir para me ajudarem a ganhar o Prêmio Nobel. Uma ideia simples, fundada na minha mais cândida humildade, mas de tanta dificuldade para os meus rarefeitos leitores.

Acho que vou até tirar do cabeçalho esse negócio de RUMO À OSLO, que mais parece um cumiltórico espasmatético. Quem concordar comigo levante a mão... Ops, eu não estou na palestra. A última do ciclo de treze faço hoje em São Gabriel da Palha.

Quanto ao palavrão trazido em BIQUINHO compreendo melhor a partir da leitura do meu horoscopo previsto para hoje:

“Relacionamentos de poder são intrinsecamente complexos, pois envolvem interesses que, na prática, são mais importantes do que as pessoas que os estabelecem. Elas não conseguem enxergar isso, mas essa é a realidade”.

Ainda bem que não mandei ninguém praquele lugar.

Ficamos assim do jeito que sempre ficamos. Eu escrevo e a vida segue como Deus quer e Virgem Maria manda. Lá nos Belô, em um apartamento do Bairro Santo Antônio, a alegria de quem verdadeiramente interessa segue a mil.




Até breve.

quinta-feira, 27 de março de 2014

BIQUINHO


Mediava ontem, via celular, um conflito societário com seis protagonistas em que cada lado fazia juízo de que eu estava sendo partidário a favor do outro lado do imbróglio. Quem é negociador sabe como isto funciona.

Para completar eu estava viajando de automóvel de uma cidade para outra do interior capixaba em estrada que nem sempre o aparelho recebia sinal e em condições extremamente precárias, com inúmeros pare-e-siga. Completo esta semana aquele ciclo de treze palestras que venho fazendo no santo espírito.

Cada um dos protagonistas encontrava-se em uma cidade diferente linkados por teleconferência que alternava entradas e saídas na conversa de forma abrupta. Bruta salseiro, que comendo vírgulas e mas e poréns embolava cada vez mais a peleja.

Trago isto aqui prá quem acha que minha vida é só divertimento. Nunca, é muito mais do que isto, é entretenimento na veia. Cansado dos entra-e-sai do sinal do celular pedi ao motorista do Corolla no qual viajávamos que parasse o carro em um arremedo de acostamento com um matagal próximo. Ali a marca da antena do aparelho dava recepção completa.

O transporte de carga de blocos de pedras de mármore, granito e quetais por estas estradas é intenso.  Eu estava com minha paciência no limite do “vai-tomar-no-cú” para mandar um dos adevogados chamados à lide quando um coice de ar expelido de uma mega carreta que transportava um bloco de granito ao som de uma buzina estridente deslocou o Corolla arremessando-nos as uns metro e meio dois metros para dentro do matagal.

Na hora do bequestreu ouvi de um dos litigantes que eu deveria entender a parte dele.

Fiz que a ligação caísse e pedi ao motorista que nos colocasse novamente no rumo da viagem e completasse o nosso trajeto que durou, ao todo, sete horas.

Inúmeras vezes ao longo de toda a viagem falei com um ou, simultaneamente, com dois ou três envolvidos escorados por seus adevogados. Com o maior carinho, afeto, discrição e ouvidos a toda prova para acatar as suas demandas e fazer a outra parte entender que eles que tinham razão na disputa. Nunca senti tanta vontade de mandar alguém tomar no cú, daqueles assim que você enche os pulmões e pausada e gozozamente grita: “VAI TOMAR NO CÚ!!!”.

Entenderam porque não trago nada do Lado B da minha vidinha. Num me vale a pena. É que ontem depois do coice tive que me destremulhar um pouco. E o faço aqui, nessa catarse.

“Mas você não teme que o cliente leia este post?” Me perguntaria um aflito leitor. Que isto, estes caras, tem muito com que se amargar na vida. E se lessem e viessem me consultar se fui eu que expus eu diria, aí sim: “VAI TOMAR NO CÚ!!!.” Pausada e gozozomente.

Chegando ao destino eu pude, sem a tensão da estrada, concluir as conversas e, pasmem, com êxito. Agendamos para a terça que vem a assinatura dos documentos que encerram o vosmelérico e vamos dar sequência aos negócios.

Um dos sócios pediu que eu falasse com seu filhinho que ficou chateadinho comiguinho porque eu fui muito bruto para com ele em um dos momentos da conversa. Fiquei pensando se eu tivesse gravado a cena do coice eu mandaria para o filhinho para que ele visse quanto chateadinho eu também poderia estar.

No início da noite viajei mais setenta quilômetros debaixo de um chuvaréu (prá ninguém esquecer de Nossa Virgem Maria) para fazer a penúltima palestra a um público de em torno de seiscentas pessoas.

Depois da palestra uma senhora de oitenta e cinco anos veio ao meu encontro e me agradeceu eufórica pelas minhas palavras.

Voltei para o hotel, onde me instalei, viajando os setenta quilômetros e quando adormecia pensei: não fosse o Lado A, minha Vida não teria compensações.



Até breve.

terça-feira, 25 de março de 2014

TRINTAECINCA



Meu coração prá isso fica meio zeresquético. Às pampas. Toda vez que vou dizer algo dela fico assim. E vem num crescendo à medida que o tempo passa. De veras que eu num tinha nada que ficar de nuvens abertas falando disso.

No fundo, de boa, num há nada de tanto especial assim. É uma pessoinha como outra qualquer. Tem lá suas duas ou três qualidades e uns defeitozinhos celuliticos. Então porque trazê-la com frequência à post e menos à Bê, por exemplo.

Tem a passagem que todos conhecem de quando ela era menina e eu a colocava prá dormir e contava-lhe histórias. Quando ela já se via tomada pelo sono eu perguntava: “Você é feliz, filhinha?”. Ela nunca respondeu que não.

Levei essa história para o seu casamento e todo mundo que estava lá sabe o que eu disse. Pra quem não estava deixei claro para o Homem que a levava o que isto significa para mim.

Pretinha é um dos vínculos que me ligam aos meus melhores significados. A distinção que faço em relação ao Vlad e ao Bê é que os vejo como a mim mesmo, com nossas imensas faltas.

Pretinha, pelo fato de ser minha filha, mulher, exige de mim um olhar completamente distinto daquele que lanço aos meus filhos e, agora, acreditem, ao próprio Valentin. E é também por isto que Noninha, chega especial. E todas as outras, que advirão ainda. A Vida me proporcionará isto.

O feminino me liga ao que há de melhor em mim, essa poética e intensa emoção que Pretinha experimenta agora, quando se vê dividida entre atenções aos seus dois filhos. Quase desespero, se está entregando na exata medida à Noninha o que sempre propôs antes da chegada de Valentin.

Na solidão do quarto semi-iluminado em que sentada na poltrona amamenta, pensa profunda e quase dolorosamente: “Serei capaz?”.

Filhinha, você já deu mostras de suas entranhas espirituais, emocionais, feminilidade pura, seus partos não lhe negarão jamais. Você optou pela dor para trazer Liz e Valentin, para que ambos ganhassem, pelos desígnios da Natureza , o Mundo.

Sofra e muito essa dor que ela será perene.

“Todo o amor que houver nessa Vida”, Pretinha.

Data querida, muitas felicidades, muitos, muitos, muitos anos de Vida.



Até breve. 

segunda-feira, 24 de março de 2014

CEM



Fosse vivo teria completado 100 anos ontem. José Lopes Agulhô, meu pai. Inúmeras vezes trouxe aqui o figura e quase sempre me referindo a ele como um ignorante. Porque era e não era pouco.

Além de receber o nome recebi dele a mais próxima aparência, é o que dizem meus irmãos e amigos mais chegados ao meu pai. Estatura mais baixa, tórax menos robusto, o jeito de falar e o humor repetem em mim.

Devo agora explicar, se é que explico alguma coisa, porque nomeio meu pai como ignorante. Meu pai nunca leu um livro sequer, jornais lia a parte de crimes e esportes, futebol apenas. Filmes só de bang bang e de amor (como ele se referia). Toda vez que dizia a ele para que assistisse a um filme, ele indagava: “Tem luta? Tem moça?”.

Mecânico industrial de máquinas pesadas, tipo marombas, betoneiras, tornos e quetais era habilidoso, engenhoso e capaz das mais impensáveis gambiarras para fazer funcionar e bem geringonças imensas.

Nossa casa ficava, e ainda esta lá, com algumas reformas empreendidas pelo atual morador, atrás do galpão da oficina. De lá ouvíamos ao assobio solitário ou às suas canções carlosgardelnianas, chorosas e repetidas inúmeras vezes ao longo do dia de trabalho.

De lá só saia para almoçar e quando terminava o seu expediente. Foi o trajeto de vida do meu pai. Da oficina para dentro de nossa casa. De dentro de casa para a oficina. Tá bom que houve um período em que ele ia ao cinema à noite até que bangbangs e filmes de moça foram rareando e ele desinteressou-se pela telona.

Foi para as novelas, assistia as das nove, porque não gostava das da seis e achava as da sete idiotas. Ficava possesso com os dos mal e chorava em lágrimas pelo o que passavam os do bem e sempre que terminava uma novela ele dizia que não assistiria à próxima porque ela não prestava. Era, me parece, a forma dele fazer o luto pelas emoções vividas.

Depois apaixonou-se por carros e minha mãe, acho que com razão, sentia que ele gostava mais dos carros do que da família. Entre pão e virabrequim ou mesmo uma mangueira para a saída de gasolina do tanque, ele optava pelos componentes de seus belairs.

Alguém pode ter achado na época que teria sido mais ou menos por isto que eu deixei o acendedor de cigarros ligado num Sinca Chambord que ele havia acabado de trocar. Novinho, rabo de peixe quase foi às chamas gerais por força de minha traquinagem. Não tivesse eu lá pelos oito ou sete anos, os cascudos seriam mais doloridos.

Juro que não era por ostentação e qualquer razão semelhante: era algo com o qual ela se relacionava no campo emotivo, automóvel era como um ser para o diálogo, para a interação, para o prazer, o único que a ele se permitia.

E dane-se o resto, inclusive os filhos, mulher e os cambal.

O tempo passou e a fera foi amansando. A vida deixou marcas profundas pelas agruras e revertérios e ele foi abrandando seus horrores. A casa foi ficando vazia, netos, bisnetos e até tataranetos foram chegando.

Só que junto, Leny, a sua moça, deu de ir para a igreja. À paróquia acabara de receber um vigário tão charmoso como o Pepe. O velho ficou possesso como com alguns das novelas e partiu para cima com um ciúme tão espesso quanto daqueles cantados nas letras carlosgardenianas.

- “Já vai né, ficar olhando na primeira fila, para aquele padre safado. Um dia vou acabar com essa pouca vergonha. Quebro os ossos todos daquele sujeito que não vai sobrar nem um milímetro dos panos da batina, cê vai ver, Leny?”

Que nada. Ele acabou foi tendo que acompanha-la inúmeras vezes aos sábados, domingos e dias santos à igreja e eu fui testemunha que ele fechava os pulsos com vigor quando o padreco se aproximava.

Meus irmãos pediram que fosse rezada missa ontem pela passagem dos seus cem anos. Era o lugar que menos meu pai tinha interesse de ir. Agradeci a eles por terem tido a iniciativa de fazê-lo. Os velhos devem estar bem, mesmo que meu pai tenha conseguido o seu intento de deixar batinas em frangalhos.

A ignorância de meu pai era na exata medida de seu afeto.




Até breve.  

quinta-feira, 20 de março de 2014

LUX



No segundo semestre do ano passado recebi um convite de instituição controladora de cooperativas de crédito com sedes no interior norte e sul do estado do Espírito Santo para realizar treze palestras por ocasião das assembleias de prestação de contas pelos administradores aos associados.

De princípio relutei, pois seria uma maratona de viagens de carro cobrindo treze cidades do norte ao sul do estado. E, principalmente, por acontecer todas ao longo da segunda quinzena do mês de março de 2014.

Eu teria que, portanto, sacrificar minhas atividades cativas como avô já que Valentin estava previsto, como aconteceu, para o início deste mês.

Muito bem, o fato é que acabei aceitando e acertamos o contrato. As palestras seriam realizadas à noite em cronograma a ser definido posteriormente. Toda a logística de viagens seria responsabilidade da contratante.

Já falei a beça por este Brasil a fora, dezenas de milhares de pessoas passaram a constituir meu patrimônio pessoal. Estive em eventos do glamour e porte da HSM (no Anhembi-SP), quando falei junto com consultores internacionais sobre Alianças Estratégicas, empurrado na época pela experiência que adquiri por ocasião da coordenação de alianças entre 23 hospitais de alta complexidade de Belo Horizonte, 21 de Salvador e 20 do estado do Paraná no início dos anos 2000. A minha indicação foi feita pelo Hospital Sírio Libanês onde eu contribuía, na época, com o Planejamento Estratégico de um dos maiores hospitais da América Latina.

Estive ainda em dezenas de eventos com altos executivos de empresas transnacionais de diferentes segmentos da economia, porte, portfólio e mercados. Coordenei inúmeros debates com CEOs e Presidente de Conselhos em grupos restritos de 12 executivos/acionistas sobre tendências sociais, econômicas e políticas nacionais e internacionais.

Dei aulas em dezenas de programas de MBAs e no âmbito interno das empresas, quando estive vinculado a instituições de renome no mundo corporativo.

Enfim, rodei bolsinha pacas.


Agora me vejo aqui enfrentando vai-daqui-prá-acolá em estradas nem sempre seguras falando para públicos de 350 a 2200 pessoas, cada. Estou me sentindo como Gonzagão: “Minha vida é andar por este país...”.

E, confesso: estou profundamente satisfeito apesar de morrendo de saudades de Noninha e sem saber da exata medida com que cresce e se mostra Valentin.

Estou maravilhado com as paisagens do norte capixaba com suas monumentais configurações rochosas, seu verde monumental e suas produções extraordinárias de café, mamão, cana, granitos, mármores e quetais. A natureza aqui é mesmo exuberante.

O que mais tem me agradado, ainda, é o contato com as pessoas que participam das assembleias. Os associados levam seus familiares, inclusive crianças e têm o maior respeito com a solenidade. Estou falando para grupos heterogêneos de diferentes idades, cultura e formação escolar convencional. Estou falando à crianças, idosos, autoridades locais, empresários, lavradores, produtores rurais, comerciantes.

Depois da palestra é servido um jantar de confraternização e a turma se acha. Chiquice para pessoas que moram em rincões, perdidos no nada tocando suas lavouras, suas pedreiras, seus cafés e mamões de exportação. 

Juntos, perto de 50 mil destes associados, construíram em 2013 mais de R$1,0 bi em operações financeiras.

Hoje à noite realizo a sétima do ciclo de treze palestras. Durante o jantar que é servido procuro me aproximar das pessoas e me emociono com suas histórias, suas heranças, sua labuta.

Histórias como a de um lavrador de 87 anos que ao lhe perguntar porque estava ali ele me respondeu: “Gosto muito de prestar contas.” E alguém veio ao meu ouvido confidenciar que eu estava na presença de um dos homens mais ricos do estado. Suas mãos escalavradas pelo trabalho agrário me tocavam enquanto ele falava no seu linguajar maravilhosamente matuto.

- Dia desse tive que comprar duas dessas camionete e fui com meu filho, aquele ali óia lá, vem aqui cumprimentar o moço da falatória, menino... Aí nós fomo em Vitória, o senhor conhece lá? Cidade grande...

- Morei lá um ano.

- Pois é... Aí quando eu cheguei na loja dos carro, eu só ando desse jeito aqui ó, com minha sandalinha de dedo e a única pessoa que me cumprimentô foi a mocinha que fazia a limpeza da loja. Quando cheguei perto do sujeito da venda ele me tratô esquisito e aí eu pedi prá falar com o dono, ele falou que o dono num ia lá e que eu podia falar com o gerente. Cheguei pro cara e disse: eu quero levar duas daquelas ali agora e eu pago à vista, só que num quero que você fique com a comissão. Eu só saio daqui com as duas camionete raiolux se o senhor aceitar de pagar a comissão prá aquela mocinha ali.

Ainda há gente que acha que quem está verdadeiramente  produzindo o PIB vai ao Anhembi.

Eu não relutarei se as outras 541 cooperativas de crédito existentes no país me convidarem para as suas assembleias.




Até breve. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

FLAGRANTES



Hoje:

A Rússia e a Crimeia assinaram nesta terça-feira, 18, um tratado de anexação da península ucraniana à Federação Russa. Em discurso no Parlamento, o presidente Vladimir Putin afirmou que a região sempre foi e sempre será parte de seu país. Ele disse não temer as sanções ocidentais a Moscou e prometeu defender os interesses da Rússia na região.

No discurso, Putin afirmou que o referendo de domingo estava de acordo com as leis internacionais e respalda o direito de autodeterminação do povo da Crimeia e lembrou do caso do Kosovo, cuja separação da Sérvia foi apoiada por países ocidentais. Segundo o presidente russo, uma vez anexada à Rússia, a Crimeia respeitará os direitos das três etnias que vivem na região: tártaros, ucranianos e russos.

"Na Crimeia estão tumbas de soldados russos. A cidade de Sebastopol é a pátria da nossa frota do Mar Negro", disse em meio a aplausos. "Falam de intervenção, mas não me lembro de ao longo da história um só caso de intervenção sem um único disparo e sem vítimas."

A Ucrânia respondeu imediatamente e seu Ministério das Relações Exteriores declarou que não reconhece a anexação da Crimeia à Federação Russa. A UE também disse que "não reconhece nem reconhecerá" a anexação. "A UE não reconhece nem reconhecerá a anexação da Crimeia à Federação Russa", afirmaram em um comunicado conjunto os presidentes da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy.

A mobilização da Rússia aumenta a pressão sobre os EUA para convencer os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de que não vão ficar de braços cruzados. Em reuniões na capital polonesa e, posteriormente, na capital da Lituânia, Vilnius, Biden (Vice-Presidente dos EUA) discutirá a crise com os líderes da Estônia, Lituânia e Letônia - três nações bálticas que estão profundamente preocupadas com o que a intervenção militar russa na Crimeia pode significar para a região. Os três países fazem fronteira com a Rússia, além da Polônia.

O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, disse que Putin "escolheu o caminho do isolamento" ao anunciar a anexação da Crimeia. Em pronunciamento na Câmara dos Comuns, Hague reiterou que o referendo realizado domingo é "claramente ilegal" sob a Constituição ucraniana.

O ministro acrescentou que a consulta foi "uma farsa" e "uma zombaria da prática democrática" e anunciou que a Grã-Bretanha suspenderá a colaboração militar e suas licenças de exportação à Rússia de equipamentos que possam ser utilizados para aumentar o conflito na Ucrânia.

"Eu condeno essa decisão", afirmou o Presidente da França François Hollande, em comunicado divulgado hoje. "A França não reconhece os resultados do referendo realizado na Crimeia ou a anexação dessa região ucraniana à Rússia.”


Hoje:

Enquanto os cães ladram a minha vida passa. A mim importa o primeiro sorriso de meu netinho. Importa-me que caminhos seguirão estes pés. O que fará com estas mãos. Espero que os canalhas que conduzem a macropolítica nos permitam seguir com a nossa paz e a nossa esperança em tempos melhores.






Até breve.

Obs.: Escrevi ontem este post. Infelizmente não consegui posta-lo por razões técnicas. Estou no interior do Espírito Santo em um local que a web é à carvão.

terça-feira, 18 de março de 2014

TRONO



O umbigo do Valentin caiu, ou foi o que sobrou do cordão que o ligava ao útero? Noninha perguntaria:

- Como que o umbigo do Valentin caiu se o meu está aqui até hoje? Olha o seu aí mamãe... Olha papai... Olha vovô, olha vovó. Todo mundo tem seu umbigo.

São por estas e por outras que os adultos não merecem crédito. Quer ver outra coisa que os adultos dizem:

- Não vai doer nada.

- Come só mais esta colherzinha.

- Mamãe vai ali e já volta.

- Olha o aviãozinho...

- Não sobe aí que você cai.

- Coma a última colherada do papá que o papai te leva no parque.

- Quando você for grande vai poder fazer isto também...

- Não ponha o dedo no nariz que é feio.

- Agora não, depois.

- Não cuspa.

- Foi você que soltou um pum.

- Cachorro não morde.

- Jabuti não morde.

- Galinha não morde.

- Não tenha medo.

- Você adorou esta roupinha, não foi?

- Tá te apertando, filhinho?

Já estou pensando como será daqui alguns meses. Noninha já dá demonstrações objetivas de que não cederá nenhum milímetro do trono, no limite baixa enfermaria. Vale todo tipo de chantagem.

Eu, de minha parte estou tranquilo. Vou explicitar com todos os meus desesperos e a minha mais absoluta incapacidade de lidar com a ciumeira dos guris. De tão trágico vai parecer a eles cômico.

- Faz de novo, vovô, aquelas doideiras que você faz.

Prefiro a exacerbação de afeto do que pedagogia.




Até breve.

segunda-feira, 17 de março de 2014

RELAÇÕES



Puxa vida, dessas coisas a gente acaba se arrependendo. Só porque fui ter um sonhozinho e pedir a modesta contribuição de, antes supostos amigos, e recebi uma enxurrada de reclames.

Por que você não resolve suas coisas sozinho? E eu tenho que lá ler ou lembrar de 100 em 600 textos? Mandar por email para você começar achar e me cobrar como cúmplice? Mandar a relação dizendo que eu já até comprei os paramentos para a festa da entrega do Prêmio (vai que na época os preços de vestuário estejam nas grimpas)? Você acha que eu sou como você que não tem mais nada a fazer na vida?

Enfim, fosse hoje, eu não teria tido a idéia. Agora tenho que conviver com isto. E o pior, terei que publicar o livro mesmo, se não vai ser um vexame. Se bem que, publicando, também.

Por outro lado, pode ser oportuno e, se receber mesmo o rol de posts escolhidos, eu saberei onde estou conseguindo chegar aos meus leitores.

Ocorre que estive pensando em escrever algo a partir da relação. Tipo análise das demandas implícitas que o rol contemplará. Uma análise antropológica, tântrica, sânscrita  e cabalística para ler nas entrelinhas da relação (de posts escolhidos) qualé a da massa de meus leitores.

Acho que pode ser rica a tarefa e pela primeira vez, quem sabe, o dasletra possa ser considerado de utilidade pública e servir como referência para pesquisas de consumo?

Sim, porque hoje eu sou acessado em dezenas de países, então, por força de minha análise holística e sofisticada estas pesquisas levariam a compreender as nuanças das potenciais demandas dos consumers globais.

Veja você como este blog amplia as possibilidades de quem o acessa. Então, porque ficar aí reclamando de ter que ler de novo (aaafffff) e depois marcar aqueles escolhidos?

Aliás, isto  não me surpreende mesmo. Qualquer coisa que o tira do ramerrame ou da rotina neuroplastática, o ou a figura já está cheia de nhemhemhems.

Bora lá, gente, corações e mentes à obra. Mas, por favor, não corram porque podem tropeçar em um post importante que deveria contemplar na relação e você, afobado (a) passe ao largo.

Fiquem à vontade para mandar via email, na sessão comentário, via malote, telex, fax, fumaça criptografada, carta simples, registrada, ou mesmo através de um(a) amigo(a) que também não tenha nada mais para fazer.

Enfim, o assunto de hoje fica este. Afinal que merda que vocês tiveram o final de semana todo para fazer a droga de uma relaçãozinha e até agora eu não recebi nenhuma?

Eu vou avisando, hein? Se até o dia 35 de abril eu não receber nenhuma relação eu nunca mais vou à Missa e me tornarei um pecador confesso. Este é um dos prováveis desfechos pela minha decepção com os outros.

Brigado gente, eu sei que vocês vão fazer, não vão? Hein? Faz um vinte um aí faz, vem pro post você também vem, faz sua relação com o dedinho da mão direita e com graça e ousadia põe um pontinho final? Faz?

Beijinho.

(Libélula)



Até breve.


Obs: Post escrito em aeroporto dá nisso.

sábado, 15 de março de 2014

ESCORAS



Comenta-se que não fosse Pilar, Saramago jamais teria ido à Oslo buscar o seu Prêmio. Sim, porque é em Oslo e não em Estocolmo que é entregue o Nobel de literatura.

Estou em Nova Venécia-ES onde fiz uma palestra e recebi à zero hora e quinze minutos a seguinte mensagem em WhatsApp:

“Só para lhe colocar a par: um Norueguês, Nobel, foi quem instituiu o Prêmio, mas todos os agraciados recebem a honra em Estocolmo, Suécia. O único entregue em Oslo é o de Literatura em homenagem ao fundador e mantenedor dos Prêmios, nascido na capital da Noruega. Não é para eu ficar cada dia mais alerta?

O colaborador da revista Playboy dos EUA Stephen Rebello fez a seguinte pergunta a seu entrevistado, Samuel L. Jackson, que está na refilmagem do clássico Oldboy: “No ano passado, para traçar um perfil seu no The New York Times, o jornalista perguntou à sua esposa qual o segredo de um relacionamento de 40 anos. Ela respondeu: ´Amnésia`. Isso gerou discussões domésticas interessantes?”

Jackson responde:

“Ah, até hoje minha mulher se arrepende de ter dito aquilo. Estamos juntos há quarenta anos. Sei o que ela quer dizer quando fala as coisas. Ela quis dizer que para conseguir ficar junto, você precisa esquecer certas merdas que acontecem no percurso. Precisa agir como se aquelas coisas não tivessem acontecido. Todo mundo tem desculpas por não estar mais junto. É bem mais fácil deixar alguém do que ficar e lidar com o que aparece pela frente.”

Por que será que depois de 40 anos de relacionamento (dia 04 de abril eu completo 45 anos) a gente passa a chamar a parceira de ELA?

A minha Ela pergunta se não é para ficar cada dia mais alerta. De novo encontro na entrevista de Jackson, uma resposta. Perguntado por Rebello se Jackson já tuitou sobre Alzheimer, o astro norte-americano respondeu: “Na maioria das vezes, só escrevo futilidades no Twitter, quase sempre criticando algum evento esportivo. Mas meu avô teve Alzheimer, minhas avós materna e paterna também, minha mãe morreu com isto e a irmã dela também tem a doença. Pelo fato de o Alzheimer estar tão perto de mim desse jeito, fico mais ou menos esperando o dia em que vou entrar num quarto sem saber por que estou ali.”

Pretinha, por sua vez, também por WhatsApp considerou “pesado” o uso de cu em DINAMITE. Coisa de velho quase inimputável e descentravado, minha filha.

Lizete, por sua vez, já enviou via comentário o seu post preferido.

Fá whatsappou que já começou a pensar nos posts preferidos.

Vlad reclamou que a minha desmunhecada de libélula começou a onerá-lo.

É por estas e por outras que eu não tenho a menor dúvida de que a libélula se instalará em Oslo.

E olha que por volta das 23 horas de ontem via Face Time a minha Ela havia me dito que acabara de descobrir que não é uma boa parceira. Claro que não.

Ela é meu pilar.




ATÉ BREVE.

sexta-feira, 14 de março de 2014

DINAMITE



 “Se você tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido as verdades que eu insisto em dizer brincando. Falei muitas vezes como um palhaço, mas nunca desacreditei na seriedade da plateia que sorria.”

Esta fala de Charles Chaplin passou a ser, para mim, uma referência depois que a recebi impressa em um pequeno pedaço de papel (que mantenho afixado no meu laptop) das mãos de um jovem que havia acabado de ouvir uma de minhas palestras.

Minha vida sempre foi regida pela emoção peixiniana.

Lilás, a propósito, o horoscopo de hoje contempla:

“Quando as palavras ficarem curtas para explicar tudo que acontece com você, então terá chegado a hora de manifestar suas emoções sem pudor nem temor de perder a pose. Emoções costumam ser perturbadoras, mas libertadoras também.”

Resolvi sair do armário e me liberar geral. Sou doravante uma libélula esvoaçante, colorida, sensualizada e, sobretudo livre. Aviadei-me? Não e se tivesse sido, o cu é meu (pelo menos quando sóbrio, sem álcoois nas veias) e faço dele qualquer coisa além de expelir meus desnecessários.

Resolvi colocar meus anos, não anus, para além das telas frias de um computador. Depois de muito resistir resolvi publicar, afinal, em livro minhas produções. Começarei com os posts aqui editados, alguns deles, naturalmente.

Digo começar porque quero voltar a Estocolmo onde estive como turista, ilustre anônimo. Aos noventa anos de idade, quero voltar lá para receber o Prêmio Nobel de Literatura, a única categoria entregue naquela cidade. Vou de roupas as mais coloridas que forem possíveis. Pousada da libélula, intento de um sujeito que passou a vida sonhando inscrever-se.

Já que é prá sonhar e liberar-se, que sonhe-se Tudo. Como já disse, o cu é meu.

Vamos devagar, foi assim com Tom Jobin. Belo dia, jovem, ele estava compondo e errava sistematicamente alguns acordes no piano. Até que, contrariado, esbravejou: “Se eu continuar errando assim, como poderei um dia cantar com o Frank.” Ele se referia à Frank Sinatra, a voz do Século XX, com quem anos mais tarde Jobin fez no Carnie Hall de Nova York um dos mais lindos, comoventes e antológicos duetos da música internacional de todos os tempos passados, presente e futuros.

Meu sangue chega a doer nas veias.

No próximo dia 08 de maio comemorarei três anos de blog, provavelmente chegando a marca da publicação de 600 posts. Vou escolher, dentre eles, cem que mais me fizeram rir, chorar, indignar-me, fuçar-me e os publicarei em livro cujo título provisório será: POSTS À PROVA.

Só que não gostaria de escolher sozinho. Peço a você leitor que me ajude na tarefa. Pince aqueles que você julgar que mereceriam traduzir-me em livro e envie-me a relação dos títulos dos posts. Se conseguir lembrar-se de cem que lhe tocaram de alguma maneira seria ótimo. Se se lembrar de um pelo menos, ou dez, envie-me também, por favor, via e-mail agulhojr@gmail.com.

Vladimir, o meu filho mais velho, principal responsável por eu ter me tornado libélula, me disse hoje quando lhe comuniquei minha intenção de publicar os posts em livro, que estará tentando fazer algum sistema para facilitar ao leitor a tarefa da escolha. Enquanto ele não conclui o programa mande por e-mail mesmo.

Vladimir, aqui às vezes Lé (que foi batizado por Pretinha) ou Vlad, fará o Prefácio e o Posfácio ficará ao encargo de alguém que não posso ainda declinar o nome, mas é o meu único seguidor inscrito como tal no dasletra.

Espero ansioso a relação de vocês e prometo que os primeiros 100 leitores que enviarem sua escolha receberão, em casa, um exemplar do livro devidamente autografado com dedicatória exclusiva por aquele que daqui a vinte e oito anos tornar-se-á libélula em plena Estocolmo.

As despesas com a publicação do livro e da postagem aos agraciados correrão integralmente por conta do Lé, porque ninguém lhe mandou dar-me um empurrão.

Aguardo sua escolha e antecipadamente agradeço.



Até breve.