quarta-feira, 31 de agosto de 2022

PAR

 




A notícia ontem da morte de Gorbachev fez-me lembrar não exatamente da importância de um dos maiores líderes do século passado, mas de sua esposa, falecida em 1999.

Até a chegada de Gorbachev ao poder, os líderes soviéticos não eram acompanhados pelas esposas nos eventos políticos, e pouco se sabe ou se lembra a respeito das primeiras-damas que antecederam Gorbachev.

Raisa Maksimóvna Gorbachev, não só comparecia aos eventos, mas contrariando a mais ferrenha cultura soviética de época que "impedia" qualquer mulher de opinar nas questões políticas, debatia com o marido as suas estratégias para lograr seus propósitos de TRANSPARÊNCIA e REESTRUTURAÇÃO.

Ele não seria quem foi sem ela.



FOTO: Por RIA Novosti archive - Yuryi Abramochkin, Wikimedia


segunda-feira, 29 de agosto de 2022

PARALELOS

 



ENVOLVER

 

Me diga como vamos fazer

Se você me deseja e eu também te desejo

Faz um tempo que quero te devorar

Diga o que vai fazer

 

Então me dê uma batida, que esse não tem respeito

E eu tenho a combinação completa para você

Eu não duro muito solteira

Me aproveite

 

E eu não vou te envolver

Eu sei o que fazemos isso e você vai voltar

Uma dança contra a parede

Eu sou um caso a ser resolvido

Mas eu não vou te envolver

Eu sei o que fazemos e você vai voltar

Uma dança sedutora

Colados na parede

 

Bebendo e fumando

Com você em uma cápsula

Porque sempre que eu te vejo, você quer me pegar

E eu quero te despedaçar

Leve isso na piada

E em cinco minutos você vai gozar

Você se derrete para mim

Só Deus sabe o que você fez comigo

Leve isso na piada

E em cinco minutos você vai gozar

Você se derrete para mim

Só Deus sabe o que você fez comigo

 

Sexo e álcool

O que acontecer, não sai daqui

Eu sei que você não vai me esquecer

Se eu fizer amor com você, se eu fizer amor com você

Sexo e álcool

O que acontecer, não sai daqui

Eu sei que você não vai me esquecer

Se eu fizer amor com você, se eu fizer amor com você.

 

Esta é a letra da música que ganhou na categoria de melhor música latina do Video Music Awards (VMA) 2022, da revista norte-americana Billboard, interpretada pela cantora brasileira Anitta.


Acho que dá para entender boa parte das análises publicadas na imprensa e posts na redes sociais que pude ler hoje sobre o debate de ontem entre os candidatos à Presidência da República.

 




domingo, 28 de agosto de 2022

AMÁLGAMA

 



Estamos desde a quinta-feira em Porto Seguro-BA.

Comemoramos aqui a passagem do aniversário de uma amiga-irmã com a qual convivemos há quase quarenta anos.

Além dela, seu marido e mais dois casais com quem, da mesma forma e pelo mesmo período, temos o privilégio de conviver.

No jantar de ontem, no belíssimo restaurante do Hotel Kyuara, nos perguntávamos o que determinou a longevidade de nossa amizade.

Foi Lydinha que, em minha opinião, trouxe o amálgama mais provável da química que nos entrelaça há quase quatro décadas: zelo.

Na saída do restaurante Lydinha me perguntou se eu conhecia o poema GUARDAR, do Antônio Cícero. Já em casa, de um dos casais do grupo, onde estamos hospedados, ela o colocou no celular na voz do próprio poeta que nos emudeceu a todos.

 

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.

Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso, melhor se guarda o voo de um pássaro

Do que de um pássaro sem voos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:

Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

Guarde o que quer que guarda um poema:

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar.

 

Talvez seja isto que estamos todos necessitados para reduzir tantas rupturas. Rij, a querida aniversariante, há muitos anos, sempre que nos encontramos repete: “Cada dia que passa eu gosto mais das mesmas pessoas.”.

Eu também.



sábado, 27 de agosto de 2022

FÊMEA

 



Simone Tebet foi a última entrevistada no JN na abertura oficial da propaganda dos candidatos à Presidência da República.

Simone é a melhor parte desta jornada cívica por inúmeras e justificadas razões.

Simone é Ulysses Guimarães repaginado. Forjada nas fileiras do mesmo partido que respondeu aos grilhões da ditadura militar, ela como ele, sabe tourear os monstros das estepes.

E não são poucos e pouco vorazes estes monstros, especialmente aqueles que tramam no âmbito do próprio partido e fora dele para que ela não alcance seus propósitos.

Assim como Ulysses, Simone há muito, luta por uma utopia distante.

Simone é uma mulher madura e se impõe não só pela sensualidade e beleza nada vulgar, mas, e sobretudo, pela trajetória extraordinária enquanto administradora pública e parlamentar.

Ela mostra-se preparada para construir saídas aos verdadeiros problemas que se apresentam e cercou-se de inquestionáveis e brilhantes pensadores das diferentes e complexas áreas que integram a coisa pública.

Simone é a parte boa do filme.

Votar nela não é votar contra alguém, mas a favor de um novo tempo. Assim como Ulysses que não lutou contra a ditadura, Simone luta a favor de um país pautado por uma constituição cidadã.

O foco dela não é a política, mas o propósito. Ela se dirige às mães e nesse lugar ela materna a esperança. Com dignidade, com altivez, com imensa competência reconhecida até pelos mais fervorosos adversários, a mulher Simone diz a que veio.

Perguntada no Roda Viva quem ela apoiará no segundo turno ela respondeu com humildade: “Não me tornaria candidata se não acreditasse ser possível chegar à Presidência.”

Simone é a via real da perspectiva daqueles que, de fato, desejam algo verdadeiramente novo e grandioso para nosso país.

Simone carrega o nome de uma das mulheres mais expressivas do século passado que conviveu com um dos maiores pensadores da história da filosofia, da política, da dramaturgia e da literatura.

Beauvoir disse a Sartre: “Vocês construíram todas as ferramentas”.

Tebet vem para dizer: “Vamos pensar juntos, homens e mulheres, outras ferramentas que nos pacifiquem e que nos enderecem a tempos melhores.”.

Simone é a melhor parte do filme.


sexta-feira, 26 de agosto de 2022

ECO

 


Ontem foi a vez, no JN, do líder nas pesquisas de intenções de voto à Presidência da República.

O candidato, depois de cinco anos massacrado, pode falar abertamente ao povo brasileiro.

Com a palavra, o candidato:

“Foi no meu governo que foi criado o Portal da Transparência, a CGU foi colocada para fiscalizar, foi criada a Lei de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção, a Lei contra o crime organizado, a Lei contra lavagem de dinheiro, O COAF e o CADE para combater os carteis, além de o MP atuar de maneira independente e a PF receber a maior liberdade para atuar do que em qualquer outro momento da história.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“A corrupção só aparece quando se governa de forma republicana e permite que ela seja investigada. Se alguém comete um equívoco se investiga, apura, julga e condena ou absolve e tá resolvido o problema.”

“O que você não pode dizer é que não ouve corrupção se a pessoas confessaram e ficaram ricas porque confessaram. Falava-se o que o MP queria e ficava com a metade que você roubou. O roubo foi institucionalizado pelo MP.”

“Recuperou-se R$6bi e o MP queria criar um fundinho pra eles.”

“Por conta da lava jato tivemos 4,4 milhões de desempregados, R$270 bi que deixaram de ser investidos e deixamos de arrecadar R$58 bi.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

“Eu permiti que as coisas acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer.”

 

Post Scriptum:

A mim faltava somente esta frase. Está dita e ecoando aos ventos...


quarta-feira, 24 de agosto de 2022

IDEIAS

 


Esteve ontem no JN o terceiro colocado nas pesquisas de intenções de voto para a Presidência da República apresentando as suas ideias/propostas para o que nomeou de “o dever da esperança”.

O projeto, que almeja em 15 anos fazer da escola pública a melhor do país e em 30 anos tornar o Brasil desenvolvido social e economicamente como Portugal de hoje, encontra um paradoxo na medida em que o candidato se compromete a não se aplicar à reeleição.

A tarefa é reconciliar o Brasil, apaziguando o clima de polarização, eliminando a maior ameaça à democracia que é o fracasso dela para o povo. Referindo-se a 2018 e apoiando-se em Einstein afirma que a ciência da insanidade é repetir as mesmas coisas esperando resultados diferentes.

Mudar o modelo de governança política. Desde a redemocratização que o “presidencialismo de coalizão” tornou o presidente um esconderijo para o pacto institucionalizado da corrupção e do fisiologismo. Dois presidentes foram caçados, um preso e o atual desmoralizado.

O caminho é pelo plebiscito programático, que é a discussão ampla de ideias para celebrar uma cumplicidade com o povo. Além disso, negociar com governadores e prefeitos um pacto que resolverá a falência dos estados e municípios, que devem à união R$600 bi.

Mudar o modelo econômico. Criar o programa de renda mínima como ferramenta da previdência social permanente com status constitucional e não mais como moeda eleitoreira.  A química para isso será a junção do BPC- Benefício de Pagamento Continuado, a Aposentadoria Rural, o Seguro Desemprego e todos os demais programas de transferência (Bolsa Família/Auxílio Brasil).

Para financiar o programa de renda mínima fixação de tributo sobre fortunas acima de R$20 milhões que alcança 58 mil brasileiros, na ordem de R$0,50 para cada R$100,00 de riqueza. Cada super rico vai pagar a vida digna para 821 brasileiros.

Resolver o martírio das queimadas criminosas corrigindo o equívoco histórico de gerações que migraram para a Amazônia e permaneceriam na terra somente com uma certidão que estavam desmatando. Zoneamento econômico ecológico para determinar onde pode e onde não pode desmatar. Treinamento e diversificação da atividade produtiva. Conscientização de que a mata vale mais em pé do que derrubada.

Agir contra o crime organizado. Implantar o que está legislado que é o Sistema Único e a Federalização da Segurança, com Inteligência, Tecnologia e Aparato nas seguintes figuras penais: facções criminosas, milícias, narcotráfico, contrabando de armas, lavagem de dinheiro e crimes do colarinho branco, responsabilizando o Governo Federal na investigação, prisão, representação ao MP, julgamento e aprisionamento.

Resolver o martírio das enchentes anuais. Mapear todas as áreas de risco e “subir o morro” com urbanização, drenagem, contenção de encostas e reformas de moradias. Existem 14 mil obras paradas que gerarão 5 milhões de empregos boa parte destas neste particular.

No discurso o candidato disse que nos últimos 11 anos o PIB cresceu 0,26% e nasceram no país mais 27 milhões de pessoas e que, em 15 anos, entrarão para a previdência social 50 milhões de aposentados sem garantias de recebimento do benefício.

Disse ainda que vai governar com quem o povo eleger (legislativo e executivo) negociando todas as medidas.

 

 

POST SCRIPTUM:

A última frase é que conta.

A ideia do imposto sobre grandes fortunas assemelha-se ao prêmio Nobel de Economia de 1981, James Tobin: 0,1% sobre as transações financeiras internacionais como forma de reduzir a especulação nos mercados financeiros. Propunha que as receitas desse imposto fossem utilizadas para financiar as Nações Unidas ou para ajudar o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo. Este imposto, que nunca chegou a ser criado, ficou conhecido como Tobin Tax. 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

NÁUSEA

 


O Presidente da República, ontem no JN, teve a oportunidade de reafirmar a sua ilibada conduta, lisura e competência com que tem conduzido o seu governo.

Em que pese as artimanhas e intenções inescrupulosas de seus entrevistadores, que diuturnamente o agridem com inverdades de toda sorte, o presidente soube manter-se sereno e respondeu de forma clara e concisa a todas as perguntas durante os quarenta minutos do programa.

Reafirmou seu espírito democrático na luta por eleições limpas e livres, quando respondeu às afrontas que ele recebeu do âncora do JN, dizendo que o presidente vem “xingando” membros do STF. Responsável que é, tem trabalhado sem descanso para que a democracia seja respeitada.

Soube responder de forma brilhante às teatrais manifestações da âncora que, por ser mulher, tentou com sentimentalismos rasteiros, constranger o presidente com relação a administração da crise pandêmica.

Apenas revelou que as vacinas começaram a ser disponibilizadas pelos fabricantes em dezembro de 2020 e que já em janeiro de 2021 o Brasil iniciou o maior programa de vacinação no mundo e ele comprou mais de 500 milhões de doses.

Refutou de forma contundente as questões trazidas quanto à economia, esclarecendo que durante um dos períodos mais críticos da história brasileira ele soube restabelecer empregos e acudir as classes menos favorecidas que, embora quisessem e precisassem trabalhar, foram impedidas pela crença absurda e incompetente daqueles que defenderam o “lockdown”.

Perplexo pela afirmação do entrevistador de que ele governa com os membros do congresso, o presidente teve a oportunidade de mostrar a todos os brasileiros, que ele vem, especialmente com aqueles que compõem um grupo de mais de trezentos deputados, construindo de forma transparente as medidas no exclusivo interesse do povo.

Criticado de forma acintosa pelos entrevistadores quanto à escolha de ministros o presidente lembrou a todos os telespectadores de que ele montou seu ministério sem nenhuma influência política e com o maior rigor na seleção de profissionais de reconhecida competência técnica.

Ressaltou que, infelizmente, as pessoas nem sempre são aquilo que se imagina delas e que, alguns ministros, especialmente na pasta da Educação, não se mostraram capazes de conduzirem os desafios que se apresentaram e foram substituídos prontamente.

Pode de uma vez por todas situar a questão do desmatamento na Amazônia, deixando claro que nosso país, diferente de outros países da Europa, desmatou muito menos para dar lugar à produção de alimentos que abastecem o Brasil e boa parte do mundo.

Por fim, agradeceu amistosamente pelo convite, disse que está às ordens para outras oportunidades e lamentou que o tempo da entrevista tenha sido tão curto pois ele teria muitas outras informações relevantes a prestar aos telespectadores. 


Post scriptum:

Pois é, Náusea.

Foi um jeito de lidar com a dor estomacal amargada na madrugada pós entrevista.

Como que a linguagem pode alcançar tamanha deturpação de sentido e gerar absolutamente o oposto daquilo que se faz presente relatar.

A Ciência Política não está capaz de explicar o dano que causa a corações e mentes o discurso às massas das lideranças espúrias deste combalido país.

Não há maior covardia, vilania e crueldade com a grande maioria dos cidadãos impossibilitados de acompanhar a cena política e incapazes de elaborarem questões complexas que envolvem a decisão que estão prestes a tomar: o voto.

É um verdadeiro estupro de vulneráveis.

E a Nação parirá desta violência descomunal seres empobrecidos, desassistidos, órfãos morais, miseráveis econômicos e culturais, desesperançados.

Uma tristeza dilacerante.


quinta-feira, 18 de agosto de 2022

ESPERANÇA II

 


Parecem óbvias as razões pelas quais os candidatos A e B, líderes das pesquisas, sinalizam que não comparecerão aos debates programados pela mídia e canais da Internet.

E não são necessariamente os demais candidatos que os preocupam. Há algo de novo, trazido pela tecnologia, com o qual eles não poderão se furtar de debater: os Institutos e Agências de Verificação de Fatos e Dados, que subsidiarão os coordenadores dos debates.

O candidato A não conseguirá negar que esteve como Presidente da República no período de 2003 a 2011, período em que o país viveu a explicitação deplorável do que se sabia há quinhentos anos: o crime hediondo do desvio dos recursos públicos para interesses de toda ordem menos aqueles para os quais foram destinados.

O pagamento de propina a deputados e senadores para votaram a favor de medidas suicidas como a da desoneração fiscal monstruosa que transferiu para matrizes de organizações internacionais somas vultosas do nosso Tesouro.

A extorsão assustadora de empresas estatais via contratos de prestação de serviços de toda ordem.

Os mecanismos de verificação do discurso do candidato A apenas confirmarão que sim, ele era o Presidente da República no período em que estes fatos ocorreram e sim, ele era DIRETA ou INDIRETAMENTE responsável pelos mesmos e suas consequências amargadas até hoje como “auxílios” vexatórios às classes menos favorecidas.

O candidato B não conseguirá negar que era o Presidente da República nos anos de 2020 e 2021 e que, neste período, o país viu ceifadas o correspondente a 11% (onze por cento) de todas as mortes registradas no mundo como consequência da pandemia, enquanto o Brasil detém apenas 3% (três por cento) da população global.

A conduta, a insensibilidade e sobretudo, a incompetência para a gestão de uma crise do porte da nação brasileira explicitaram a figura nefasta do candidato B que nunca tomou posse em nenhum cargo para o qual foi eleito.

Os mecanismos de verificação do discurso do candidato B apenas confirmarão que sim, ele era o Presidente da República no período em que estes fatos ocorreram e sim, ele era DIRETA ou INDIRETAMENTE responsável pelos mesmos e suas consequências.

A e B são indispensáveis um ao outro, um não existe sem o outro, um perderá as eleições se não houver o outro na disputa.

Há algo que talvez os institutos de verificação não explicitem. As profundas mazelas que a conduta destas pessoas produziram e ainda produzem nos corações e mentes do povo brasileiro.

Perco a seriedade do texto, mas vou dizer: estes sujeitos fazem o maior esforço para protagonizarem a História como bestas previstas no Apocalipse.


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

ESPERANÇA

 

 

Penso que os aplausos maciços e de pé recebidos pelo presidente que discursava em sua posse ontem no TSE dão uma demonstração inequívoca de quão a instituição se vê chancelada pela quase totalidade das expressões democráticas do país e de observadores internacionais.

Não quero ter dúvidas de que teremos uma das maiores oportunidades para reacendermos a esperança em nosso mais do que combalido país, na medida em que estamos diante da chance histórica de colocar a nossa consciência e idoneidade a seu serviço.

Os candidatos serão acompanhados com rigor e determinação pelos ministros do TSE, especialmente de seu presidente, conhecido e reconhecido pela sua competência, lisura e específica experiência no campo penal.

Torço para que os marcos constitucionais sejam balizas para nortear a conduta dos candidatos e que fique explicitado o compromisso de todos com o respeito à democracia e confiabilidade de seus programas e intenções caso sejam eleitos.

Espero que a nenhum candidato seja facultada a possibilidade de não comparecimento aos debates programados pela mídia ou pela internet, até porque seria uma clara demonstração de receio a exposição aos seus adversários e, especialmente, aos institutos de verificação (como Google Trends) da veracidade e/ou consistência de suas afirmações.

Desejo que todos estejamos solidários e livres para escolhermos o que ditar a nossa compreensão e consciência.

Que o melhor de nós sobrevenha.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

PEDRA

 


Entre minhas ocupações mais insanas está pensar sobre o declínio do Humano. E onde ele mais me inquieta diz da perda, inclusive em pessoas supostamente esclarecidas, da capacidade de simbolizar.

O prazer reduzido ao objeto.

Seguir assim é “evoluir”, como já apontei aqui, para a impossibilidade da Arte, toda ela, essencialmente, simbólica.

Quando um general se aproxima de Picasso e lhe pergunta apontando para Guernica: “Foi o senhor que fez isto?” e o pintor responde: “Não, foi o senhor”, a Arte grita em benefício das consciências.

Aqui, o Humano.

Há dias venho escrevendo “a partir” de meus netos e não “sobre” eles. Fui alertado recentemente pelo risco de expor os seus corpos, podendo fazê-los vítimas da barbárie que grassa.

Dor maior do que este risco real se fazer presente é o de não conseguir extrair daqueles que me acolhem a carga simbólica que busco atingir.

Talvez esta seja a dor do poeta, quando as letras que utiliza não são capazes de implicar em sentido para além delas.

“Debaixo dos caracóis de seus cabelos” é um verso que perde muito quando não se tem presente que o poeta ousou, provavelmente, dizer do que se passava na cabeça de Caetano de “uma história para contar de um mundo tão distante”.

Roberto compôs para Caetano quando o baiano vivia exilado em Londres.

Onde vamos parar se uma pedra for somente uma pedra, nada mais que uma pedra?

“Nunca me esquecerei deste acontecimento.”


terça-feira, 9 de agosto de 2022

IMAGINE

 





Em dez, quinze, vinte ou, na melhor das hipóteses, em vinte e cinco anos o mundo acabará. Sim, na melhor das hipóteses, porque meu pai acabou aos noventa e três.

Outro dia acabou Jô, ontem foi Olívia.

Entre tantos que acabaram e com eles parte (a melhor parte) do que me constitui estão aí na fila de término: Caetano, Gil, Milton, estas balizas todas despedindo-se.

Em entrevista Jô provocou a partir de pergunta do Marcelo Tas sobre o que é a Vida. Jô respondeu: “Sei lá, só sei que é pra ser vivida. Acho que o suicídio não tem nada a ver, porque é a ausência absoluta do humor. Um sujeito que se ajoelha com a intenção de meter a cabeça dentro de um forno, acaba dando gargalhadas e se levanta.”

Pois é.

Eu, por exemplo, passo meu tempo inteiro em estado de poesia, mesmo no pragmatismo racionalizante do meu ganha-pão, balizei-me desde sempre por uma utopia.

Foi John, que há muito acabou, melhor a traduziu.

Imagine que não exista paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno sob nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo o presente

Imagine que não há países
Não é difícil
Nada para matar ou razão para morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Você pode dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu espero que algum dia você se junte a nós
E o mundo será como um só

Imagine que não existam posses
Eu me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade dos homens
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo inteiro

Você pode dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu espero que algum dia você se junte a nós
E o mundo viverá como um só.

 

Estou certo que não sonho sozinho. A melhor parte de mim segue na estrada.


terça-feira, 2 de agosto de 2022

SUBLIMINARES

 



Não se trata de alienar-se da realidade cotidiana buscando consolo em fábulas infantis para encontrar, naqueles tempos, um resto de humanidade. É isto sim, mas é, também, mais do que isto.

No fundo, e alguém em comentário apontou, junto à toda esta alegria há uma angústia. E não é pequena, podem estar certos.

Nos boletins e relatórios de autopsia, os médicos usam verbo que a mim paralisa: evoluir. A expressão “o paciente evoluiu para óbito” dá conta que a evolução contempla a morte.

Nada mais exato. 

Ocorre que “em vida” isto me acomete quando penso Cultura. Desde os Clássicos, passando pelos Modernos e até pós-Modernos, evoluímos. Em tempos mais recentes o acervo do debate na cena de produção artística a mim entristece.

Do debate político, da produção literária, do cinema, do teatro e, especialmente, à música a evolução é um horror. Perdoem-me, há saudosismo aqui sim. Sou apaixonado por Shakespeare, por Platão, por Machado, por Galeano, por Neruda, Chico, Caetano, Roberto e por tantos e tantos outros não laicados no presente aos bilhões na infernet.

Como subproduto desta evolução desaguamos em tiquetoques, breves, idiotizantes, paralisantes. Dizem que o Instagran está evoluindo para a mesma arquitetura e que o Facebook vai mudar. Estará explícito que quem “escolhe” a trupe com quem vamos “amigar” será o tal de (algo)ritimo.

A Humanidade até então nunca esteve tão exposta a si mesma. O Humano até então nunca se mostrou tanto quanto no tempo presente. Vem por aí a Inteligência Artificial para colocar a pá de cal.

Evolução a zilhões de borabites, toneladabites, tiquitoquiando cérebros e corações.

Não incluo o Funk na minha playlist, mas ele me ajuda a entender tamanha evolução da espécie. As letras são contundentemente esclarecedoras na medida em que coloca a fêmea ciante e o macho membrante.

Adoro o florir de abacateiros. É provável que alguém aí me dirá, que a foto que ilustra este post não se trata de um abacateiro, mas de uma mangueira. E eu morrerei e até matarei se for preciso, embora sabendo ser uma mangueira, afirmando e reafirmando tratar-se de um abacateiro.

Sim, evoluímos para a bestialidade.


Até breve.    


NOTA: Todos os textos publicados na data de hoje foram editados em minha página no Facebook ao longos dos últimos dias. Foi o jeito que me permiti comemorar o nascimento há dez anos de minha primeira netinha. Este post quer responder àlguns amigos que me questionaram por estar distante da realidade.



TRINCHEIRA

 





Ocupei este espaço com meus diálogos hipotéticos com Liz que escrevi seis meses antes dela nascer há exatos dez anos. Foi um jeito, à época, para lidar com a imensa alegria do acontecimento.
Já publiquei por mais de uma vez ao longo destes anos todos que me inscrevo aqui.
Confesso que o faço reiteradamente por duas razões: uma das vaidades que mais cultuo em mim é que gosto de ser querido e, a segunda razão, é que inocência, candura, singeleza ficou tão fora de moda que resolvi fazer desta página meu espaço de resistência.
O mundo perde todo dia um naco de beleza.
Em que pese isto há que se buscar leveza.
Preferiria que os amigos não lessem os diálogos de forma rigorosa, se correspondem à verdade ou se são pura invencionice. Eu já disse: são hipotéticos, escritos antes de Liz nascer.
Eu não os escrevi para a minha netinha, mas a partir dela, fazendo-a metáfora viva para cantar esperança.
Liz, Valentin, Antônio e Helena, meus netinhos reais, são muito mais importantes a mim do que minha subliteratura.
No entanto, esta fuga poética me dá alento e me pacifica, fazendo com que eu não traga, aos amigos, horrores do cotidiano.
Entre o Mal e o Mau, optarei pela Utopia: o Feminino. Basta de Homens e de suas ferramentas para operarem o mundo, como disse Simone de Beauvoir à Sartre.
Agradeço a forma carinhosa e gentil com que receberam estes diálogos, esperando que esta modesta contribuição tenha os ajudado a ampliar o gosto pela Vida.
Grato a todos.

FEMINICE (3ª DE 3)

 




- Oi, vovô.
- Ei, querida. Uai, mas você já está pronta?!!!
- Já. Fiquei bonita?
- Linda.
- Mas você não falou que nós íamos escolher a roupa que você ia na festinha?
- Tia Fa me ajudou...
- Fabiana esteve aqui?
- Acabou de sair...
- Ela é legal né, Liz?
- Super!
- Tia Fa te arrumou muito chic...
- Aí eu liguei pra Dinda e perguntei pra ela se essa era a roupa que eu devia mesmo de ir na festinha...
- Liz, você ligou para sua madrinha pra saber se a roupa que a tia Fa escolheu era a que você deve ir na festinha?
- Vovô, você nem pensa em falar nada com a Tia Fá, hein?
- Tá bom. Eu não vou falar nada não, sô.
- Nem com a Dinda.
- Por quê?
- Elas morrem de ciúmes... Você comprou os presentes, vovô?
- Comprei.
- O quê?
- Umas lembrancinhas.
- Lembrancinhas, vovô?
- É... Umas bobagenzinhas...
- Bobagenzinhas, vovô?!!!
- É... Nada de especial...
- É assim que você trata os meus coleguinhas, vovô?
- Não, é que...
- São três de meninos e três de meninas. Você separou os presentes, vovô?
- A moça embrulhou de azul e rosa...
- Mais fácil pra você, né vovô?
- É, Liz.
- Vamos então, vovô... Eu não quero chegar atrasada.
- Vamos, Liz.
- Ah, só um minutinho, vovô...
- O que foi, Liz?
- É que eu não estou gostando deste sapato. Acho que eu vou de tênis.
- Mas e a tia Fa?
- O que tem a tia Fa?
- Ela não disse pra você ir com esse sapato?
- Disse.
- E a madrinha não disse que está bom assim?
- Disse.
- Então, Liz?
- Quando você tirar as fotos não mostra, tá vovô?
- Liz?
- O que é?
- Você não disse que não quer se atrasar...
- Só um minutinho.
- Que foi agora?
- Eu vou só passar um batonzinho.

FEMINICE (2ª DE 3)

 


- Ei, pai.

- Oi, Pretinha. Tudo beleza?
- Jóia... Vim aqui pra pegar uma saia da mamãe emprestada...
- Tudo bem...
- Você vai mesmo na festinha?
- Liz pediu, eu tenho que ir, né?
- Ela está empolgadíssima que você vai.
- Eu também. Tô até pensando com que roupa que eu vou...
- KKKK... Eu ia mesmo te pedir pra me ajudar escolher a saia...
- Ah não, minha filha... Eu gosto de todas as roupas de sua mãe... Fique à vontade.
- Pode deixar. Mamãe tá chegando aí ela me ajuda...
- Melhor.
- Pai, você tem que comprar umas coisinhas...
- Que coisinhas?
- Pra levar prá festinha.
- Eu?
- É pai. Umas lembrancinhas...
- Lembrancinhas?
- Para os aniversariantes da semana, ora...
- E sou eu que tenho que comprar?
- Você me faz esse favor?
- Eu compro o quê?
- Ah... vê lá, umas bobagenzinhas, pai.
- O quê?
- Pros meninos brinquedos, bolas de futebol, essas coisas...
- E para as meninas?... Espere um pouco minha filha... Eu acho que sua mãe é quem está abrindo a porta... Oi, mô... Pretinha taí.
- Ah, que bom... Oi, minha filha.
- Oi, mãe, eu já estou aqui vendo se escolho uma roupa...
- Você experimentou aquela saia verde?
- Uma godê?
- Não, filha, aquela que eu gosto, que eu usei no aniversário da...
- Pras meninas eu compro o quê, Pretinha?
- Mãe, fala pro papai o que ele deve comprar...
- Para quais meninas?... Experimenta essa aqui, minha filha, eu acho que vai ficar bem em você...
- Essa eu acho muito séria, mãe. O encontro é à tarde...
- Mô, eu compro o quê para as meninas?
- Que meninas, mozinho?
- Mãe, o papai vai na festinha da escolinha da Liz...
- Mozinho, se você vai tem que comprar umas coisinhas...
- Pois é mãe, eu já falei prá ele...
- Filha, por que você não vai de vestido?
- Você acha mesmo? É que eu queria usar uma blusa nova...
- Qual?
- Eu comprei sábado. Você não viu ainda...
- Como que ela é?
- O que eu compro prá festinha?
- Mozinho, você está com sessenta anos e até hoje não sabe o que comprar para uma criança?
- Ô mãe, num fala com ele assim não. Sabe que você tem razão... Eu acho melhor eu ir de vestido mesmo, né mãe?
- Você vai ficar mais a vontade...
- Já sei até qual... Posso levar aquele cinto?
- Pros meninos eu vou comprar Ben10?
- Mozinho, não compra essas bobagens, compra lembrancinha...
- Mãe, será que esse cinto fica bem com o vestido que eu fui lá na...
- Lembrancinha ou brinquedinho, Pretinha?
- Pai, vê lá... Nem precisa ser nada de especial não...
- Mô, você pode ir comigo?
- Onde?
- Comprar as lembrancinhas...
- Filha, esse cinto ficou lindo em você, deixe ele assim folgadinho na cintura...
- Eu acho que não vou mais à festinha com a Liz.
- Não pai, você tem que ir!
- Mozinho, nem pensar! Você já combinou com ela, agora tem que ir...
- Então, vocês querem, por favor, me dizer o que eu devo comprar para levar?
- Quantas crianças estão fazendo aniversário, pai?
- Você pergunta pra mim, minha filha?
- Liz não te falou?
- Não.
- Eu vou perguntar pra ela e te falo, então, pai.
- Sei.
- Ai você compra no número certo de meninas e meninos...
- O quê?
- Você vê lá.
- Filha, o Cláudio vai contigo?
- Não Mô, só eu que vou com a Liz.
- Não, mãe, o encontro é de trabalho. O Cláudio eu acho que vai ficar assistindo futebol...
- Ah, tá.
- Meu Deus eu tenho que ir, tchau!
- Pretina, você não vai me dar nem umas dicas do que comprar pros meninos?
- Ah, pai, vê com a mamãe que eu tô super com pressa... Beijão!
- Mô, o que eu compro prá festinha?
- Que festinha, mozinho?
- A dos meninos da escola da Liz, pombas!
- Mozinho, liga a televisão. Vê se tá passando um filme bom. Tô doida pra assistir um filme...