quinta-feira, 29 de outubro de 2015

MOLDURA



  1. ARMAS


Para o diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques, o projeto que irá à votação no plenário da Câmara “transfigura” a política atual de controle de armas ao “flexibilizar o acesso” a esse tipo de equipamento. “A facilidade para ter armas de fogo passa a ser muito grande. Apesar de se intitular ‘Estatuto do Controle de Armas’, o projeto nada mais é que a flexibilização generalizada, é um liberar geral. Nada mais é que o descontrole de armas.” 

“Numa ferida aberta que é a questão dos homicídios e da violência, o estatuto foi a única medida que o Estado teve para conter esse sangramento. É evidente que ele não pode ser a única medida, não é o remédio para todos os males da violência, mas incontestavelmente foi a única que conseguiu segurar a onda de homicídios”, disse.

Para o especialista em segurança pública coronel José Vicente da Silva Filho, o projeto passa a falsa sensação de segurança para parte da população. “Se o projeto com o conceito de que devemos armar a população para combater o crime for adiante, seria uma verdadeira tragédia. Vamos só piorar o quadro de violência atual. Não é verdadeira a ideia de que o bandido fica intimidado com a população armada. Isso só traz resultados mais trágicos”, disse.

   2. VILANIA

Quatrocentos milhões de reais “próprios” para construção de Parlashopping.

Deputado gasta pelo menos R$ 100 mil de verba da Câmara com pareceres jurídicos copiados da internet, revela novo número da Revista Congresso em Foco.

O relator Manoel Junior (PMDB-PB), um dos principais aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reinseriu no projeto de lei 2960 um parágrafo polêmico que exime de punibilidade criminal quem tem conta no exterior não declarada à Justiça brasileira – é o caso de Cunha, dos investigados na Lava Jato e de muitos brasileiros listados no Swissleaks (há contas legalizadas no HSBC do país europeu). Em suma, o parágrafo 5º do PL 2960 livra todos os que têm conta secreta não declarada no exterior de supostos crimes como evasão de divisas e ocultação de bens.
...

    3. PODER

Há duas semanas, a Folha de São Paulo divulgou que, em videoconferência para oficiais temporários da reserva, o comandante do Exército, General Eduardo Villas Bôas, afirmou que há risco de a atual crise política e econômica se tornar uma crise social que afetaria a estabilidade no país. Segundo ele, nesse caso, a crise passaria a dizer respeito diretamente ao Exército.

    4.  POESIA (*)

Nos dias de hoje é bom que se proteja
Ofereça a face pra quem quer que seja
Nos dias de hoje esteja tranqüilo
Haja o que houver pense nos seus filhos

Não ande nos bares, esqueça os amigos
Não pare nas praças, não corra perigo
Não fale do medo que temos da vida
Não ponha o dedo na nossa ferida

Nos dias de hoje não lhes dê motivo
Porque na verdade eu te quero vivo
Tenha paciência, Deus está contigo
Deus está conosco até o pescoço

Já está escrito, já está previsto
Por todas as videntes, pelas cartomantes
Tá tudo nas cartas, em todas as estrelas
No jogo dos búzios e nas profecias

Cai o rei de Espadas
Cai o rei de Ouros
Cai o rei de Paus
Cai, não fica nada.


Até breve.

(*) CARTOMANTE de Ivan Lins e Vitor Martins.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

GÊNERO



"Ninguém nasce mulher, torna-se mulher." 

Prá mim Simone especificou aquilo que  o seu namorado pensou: "O Ser primeiro é, depois se descobre".

Estou mais com João Paulo, portanto. A existência precede a essência. Aliás, que chance teríamos não fosse assim. 

A violência, então, não está orientada à figura, até então ornada em Mulher. A violência está orientada àquilo que nos tornamos, em essência. O inimigo investe naquilo que nos constitui na diferença insuportável.

Especificar a violência é lhe dar contornos mais cruéis, suponho. É torná-la de tal maneira explícita que faz com que perdure e se localize. 

Penso que basta dizer não à violência, independente do seu foco.

Nós já temos motivos de sobra para repudiar a universalidade da violência dos tempos presentes. Dos pequenos aos grandes crimes hediondos, sem necessidade de especificar a que “grupo” de sujeitos ela se endereça.

Deveríamos empunhar a bandeira de “NÃO VIOLÊNCIA”. Deveríamos esgotar todos os nossos esforços na procura de entender e agir naqueles seres que se tornaram essencialmente violentos, independentemente de seu objeto de ataque.

Como fazê-lo sem nos tornarmos mais violentos do que os próprios? "Se queres a paz, prepara-te para a guerra”, é um enunciado vil e revoltante. Mas é aquele que orienta as casernas.

O convite à mais de sete milhões de jovens para refletirem sobre a questão da violência contra as mulheres, na minha opinião, acirra pela especificidade o drama (que é real, sem dúvida). O politiza, que é outro equívoco, o criminaliza, que é um equívoco maior ainda.

A Mulher não tem o privilégio da Violência.

A Violência é o martírio protagonizado pela besta que nos tornamos. E é, indiscriminadamente e onde ele se colocar, que devemos nos antepor, indo às causas e não propagandeando os seus efeitos.

Ninguém nasce violento, torna-se violento. Precisamos investigar ainda mais fundo por quê. Trancafiar a besta, ou condená-la à forca, a História já mostrou que não é a melhor saída.


Até breve.

sábado, 24 de outubro de 2015

GRILOS




A Poesia não serve para nada.

É absolutamente inútil.

Especialmente aquela produzida na via do hermetismo pascoal. E somem-se todos de ferro que lastreiam pedras no meio do caminho. Tem sempre pedras no meio do caminho.

No meio que caminho, pedras.

“Açaí guardiã, som de besouro imã, branca é a tez da manhã...”

Desesperado o poeta, entrevistado pelo Gavin dos Titãs, tenta se defender da crítica, que o considera um “nonsense".

Ora, faz sentido sim, ele argumenta. Todo mundo que vive no norte/nordeste sabe quanto a fruta é importante, guardiã da saúde. Qualquer som nos convida a procura-lo, nos imanta. Quem, ao acordar em manhãs, que não se maravilhou com densa névoa?

Amanheci cinza. Deveria ter gravado os sons de cigarras alucinadas e roucas clamando pelas torrentes. Pássaros que vem junto com o astro rei insistindo na alegria. Amanhã, se se repetir, juro que faço.

A natureza não serve para nada. Sapos, grilos, pássaros, torrentes, verdes e matizes outros são inúteis. A solidão, então, nem me fale. Especialmente aquela que versa. No contrário dos entendimentos claros, sobretudo.

O que edifica são as pedras, umas sobre as outras.

O mundo vai ficando assim, explícito demais, desmisterioso, desnuante.

Ninguém quer sofrer de procuras, pede de imediato, nada que leve enfrentamentos com vazios de ocos.

Inclusive aqui, quê que esse cara tá aprontando?

Vá ao post anterior...

Aposto que não foi. É assim, temos tanto para fazer, tanto para ler, tanto para - que não sobra tempo para.

Pára.

Eu parei no poema de Liria Porto, que tem livro finalista no Jabuti de 2015.

GARIMPO

esta procura tem um nome insanidade
passei da idade de tentar fazer sonetos
eu só consigo descrever cinzas e pretos
acho que o verso não alcança claridade
pelas gavetas prateleiras escondidos
ainda agarro pelo rabo alguns cometas
quero as estrelas não encontro suas tetas
sinto as fissuras dos pequenos desvalidos
a minha escrita sempre foi penosa esgrima
desde menina que não tenho paradeiro
eu caço sapo com bodoque o dia inteiro
nesta esperança de catar melhores rimas
vasculho as glebas
os grotões e quem diria
bateio o sol chego a pensar
que a noite é dia



Até breve.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

MERDA



A crise não está, especialmente, naqueles que encenam a política tragicômica no palco da realidade brasileira. Nós sabemos, “de cor e salteado”, o enredo já que, como as telenovelas, repetem a cada ciclo de horrores, mesmo que em alguns momentos se assemelhe à uma zorra total.

O Presidente do Congresso dar 45 dias para que o governo responda ao relatório do TCU, quando a AGU já negociava a forma de pagamento da extorsão é mais do que risível, é trágico.

Só que agora o que me parece mais incômodo é de como estamos a bater palmas ou nos regozijamos pelo que se passa nessa ópera bufa.

Intelectuais, articulistas, jornalistas, artistas, escritores, poetas, plateia de alto repertório que o coloca a serviço da crítica pela crítica, sem nenhum facho de ação efetiva que possa contribuir para a transformação do caos.

A plateia ilustre é omissa, autocentrada, para não dizer, idiota.

Via blogs como este, e todos os extraordinários recursos de informação atuais, nosso “troca-a-troca” é de quem faz a melhor leitura e escreve a melhor visão do que se passa. Curtimos, comentamos, compartilhamos todas as notícias do dia-a-dia do palco, em diferentes abordagens e formas.

Chega de ler o Brasil.

Precisamos admitir que o que está no palco traduz a nossa tragédia social, especialmente dos literatos que, por força de seu privilégio, deveriam ou teriam que intervir de forma revolucionária. Foi assim no tempo de trevas, menos torpes e expostas do que aquela sobre a qual sobrevivemos hoje.

Urge uma providência que converta opiniões em atitudes, palpites em práticas, pensamentos em ações. A crise é fecunda pela nossa letargia, pela nossa paralisia social, pela nossa inércia covarde.

Não virão surpresas do texto encenado no palco, já que quem assiste é quem paga a bilheteria. E os pagantes podem mudar, pela via até do boicote coletivo, o texto encenado.

Chega de curtir, comentar e compartilhar o Brasil. Mesmo que o façamos com brilhantismo, profundidade e agudeza com a esperança de que possamos iluminar outros espíritos.

“A lição sabemos de cor, só nos resta aprender.”

E aprender significa “ser” o aprendido, atuar, comprometer-se com aquilo que se assimilou. É hora de encontrarmos uma mobilização possível com a qual iremos de fato exercer influência. Sairmos da posição de personagens à procura de um autor, como queria o famoso dramaturgo.

É passada a hora de tomarmos de assalto o palco e refazer o roteiro do drama. É hora de construirmos o nosso texto. É hora de escolher que sentido dar ao título deste post: se de sorte na nossa estreia ou continuarmos onde sempre estivemos.



Até breve.

sábado, 17 de outubro de 2015

BOX



Amanheci acometido por uma questão intrigante:

O que nos resta a fazer com o que temos? ou

O que temos a fazer com o que nos resta?

Lembrei-me dos idos de 1974, quando eu perambulava pelos corredores da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, jovem de vinte e dois anos a cata da consciência revolucionária que nos libertaria da tirania que subjugava os povos.

Toda informação, especialmente as clandestinas, era vinda e acolhida aos sobressaltos.

Tínhamos medo, era um tempo de trevas.

Circulávamos com o jornalzinho do DA, ou com poemas ou escritos (impressos em mimeógrafos), escondidos sob a camisa, para distribuir aos colegas. Alguns, muitas vezes, nos hostilizavam e temíamos que ali estivesse um “dedo-duro” ou um infiltrado.

No turbilhão de tantas lembranças e medos revividos, ocorreu-me hoje a de um poema do espanhol Fernando Arrabal e do filme Malatesta – proibido - que assistimos (quase mudo) a portas fechadas em uma madrugada qualquer no DA, rodado em um projetor chinfrim surrupiado às escondidas do Cine Clube da Faculdade.

Esses, entre tantos e tão poucos se comparados à hoje, tiraram o meu sono de inúmeras noites. Eu nunca tive coragem de ler todo o poema de Arrabal, embora eu o tenha até hoje, guardado no box de despejo da garage do meu apartamento.

E por quê?

Meu medo essencial, na época, era de que, uma vez tomado consciência, o que eu teria que fazer? Sim, porque a consciência implicava em ação revolucionária. A consciência era a seiva verdejante da liberdade.

- “LIBERDADE!!! LIBERDADE!!! ABRA AS ASAS SOBRE NÓS!!!

Passados quarenta e um anos o medo dissipou-se. Tudo está sob a luz do sol, a 37,4º C de temperatura ambiente, e é veiculado em inúmeros expedientes e de todas as formas de acesso, portabilidade e instantaneidade.

Tenho milhares de “amigos” que curtem, comentam e compartilham todas e quaisquer informações revestidas de diferentes abordagens e convicções.

Há de cartas-abertas à Presidenta para que ela não se isole no Palácio e acredite que não está sozinha na luta pelos interesses do povo, a documentos completos de petições para que ela tenha o mandato suspenso.

Todos os textos, todas as denúncias, todos os poemas, análises, filmes e filmetes, charges, pilhérias, tudo exposto para quem se interessar possa. Em contraponto, veio a minha memória agora, como eu temia passar pelos corredores da faculdade, muitas vezes ermos, escuros, por onde eu vagava com a fonte da consciência impressa em poucas dezenas de panfletos.

Hoje, nunca fomos tão democráticos e aí reside a nossa tirania.

A consciência transborda pela via dos fatos, não importa sob a égide de que convicções. Todos nós estamos com nossas verdades fraturadas e expostas e com elas nos abordamos na rede virtual e nas mesas de bares.

Consciência, temos todos. E ação? Poderíamos tomar de assalto os palácios e prender, em nome do povo, todos os corruptos e instituir novo Estado de Direito e Cidadania, mesmo que nos restassem suor, lágrimas e até sangue.

Muitos sucumbiriam em batalha histórica orientados por suas convicções advindas da consciência. Porém, nossa “índole” é refratária à violência revolucionária. Foi um membro da corte que nos “libertou” do nosso primeiro colonizador.

Não, não faremos o que precisa ser feito.

Exceto se eu for ao box da garage do meu apartamento, resgatar o poema de Fernando Arrabal e compartilhá-lo na minha página do Face.

O filme MALATESTA deve estar catalogado no You Tube e poderá ser assistido em alto e bom som.

Puxa, como foi difícil passar por este corredor.

Daqui alguns anos, quando um de meus netos me perguntar:

- “Vô, com tudo aquilo, ninguém fez nada, Vô?”.

É isto que nos torna vis.



Até breve. 

sábado, 10 de outubro de 2015

DDV



Perdoem-me, eu sou mesmo uma puta, mas juro, um dia eu largo essa vida.

É que volto à perversidade de um olhar profano, recorrente, repetitivo.

Um sujeito (médico) mata a esposa com sete tiros e, por força de suas condições financeiras, faz rolar o julgamento por quinze anos. Julgado, definitivamente, é apenado em quinze anos de cadeia, mas segue em liberdade.

O advogado de defesa impetra recurso sob a tese de que a vítima tinha elementos para reagir à ação do criminoso.

Estou para cunhar uma sigla: DDV. Ditadura Democrática da Vilania.

Sob o engodo manto da liberdade e do direito institucional o que de fato nos controla é a Vilania.

Quem hoje ocupa as últimas instâncias da estrutura democrática, em todos os seus níveis, está subjudice. A Presidência da República, do Congresso Nacional, da Câmara Federal, membros do TCU, da Prefeitura, do governo de Estado, da CBF, do BNDES, da Petrobrás, do clube, da escola, do DCE, do Sindicato, da Associação, da... do...

Sob o signo da vulnerabilidade o poder se dá por uma complexa teia de barganhas que é financiada por recursos expropriados da população de diferentes formas e embustes.

Impostos e tachas (assim mesmo, com ch).

Sangria dilacerante de todos os sonhos de futuro de milhões de pessoas que constroem, pela via do trabalho, riquezas reais e sobre elas pagam para terem como contrapartida serviços. Entre os essenciais: saúde, educação e segurança.

A Vilania é a regra do jogo manipulada por verdades secretas. Ditadura inoculante e cancerígena que ultrapassa décadas. O inimigo não é só um sujeito físico, ele é agente da manifestação objetiva da Democracia compartilhada com aqueles que com ela se identificam.

Sangue impuro. Somente uma transfusão integral, quem sabe, salve o endêmico.

Uma subversão que unisse as pessoas de Bem. E onde elas se encontram? Gritam, esbravejam, indignam-se, denunciam, reagem, recorrem, lutam em diferentes instâncias, mas, desgraçadamente desorganizados, são anticorpos risíveis e miseravelmente fragilizados no seu intuito soberano de recuperar o tecido social.

Amanhã recebo os meus netos em nossa casa de Santa Luzia. Vêm também outras crianças da família e de amigos.

A ideia utópica é investir na Esperança.



Até breve.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

SUB



Parece que não, mas subliteratura tem dor.

Blog do cotidiano, trens que pintam cabeça adentro, insights deliveres trazidos de referências outras daqui e dali, acontecimentos ao pé do ouvido, essas coisas inspiram para desassossegar.

Ali fora de mim tem trocentos temas pululando para serem trazidos a paginas (telas). Diferentes captadores mergulham, alguns mais fundos que outros, a cata de tesouros. E, quando achados – lapidados - tornam-se clássicos e virais.

Em qualquer campo rola curtição.

O foda é o mergulho, sem equipamentos. Tem horas de perder fôlegos, mesmo que se escreva autocentrado, não pensando para quem. Pura mentira: todo mundo que padece da loucura da escrita tá visando o Outro.

Não há fala sem ouvidos.

Eu mesmo daqui fico caçando alvos de manobra, ou seja, abordagem, tema, forma e um porrilhão de outros condicionantes. Quase sempre sai no grito, só depois que eu leio.

Dos oitocentos e sessenta e cinco posts aqui editados acho que entendi uns trinta por cento e, cada vez de assalto que os releio, fico em dúvida às vezes se teria sido eu mesmo que os produzi.

Hoje para mim fica mais claro que o território não será através do meio físico livro, mesmo que seja ele que literata. Desencanei. O futuro nos leva para as nuvens e lá é que devem e estarão expressos os dizeres.

E breves, porque muitos.

Prá hoje, por exemplo, dois filmes que assisti essa semana: A pele de Vênus e Trash – A esperança vem do lixo.

Em A Pele de Vênus, o diretor Roman Polanski trata das relações de poder, sexo e castigo de forma franca e frontal, num jogo metalinguístico que expõe a própria figura do artista por conta dos problemas do cineasta polonês com a Justiça americana.

O livro de 1870 do austríaco Leopold von Sacher-Masoch  que deu origem à história, sobre um homem que por paixão e fetiche se torna escravo de uma mulher, com direito a chicote e roupas de couro, já é notoriamente autobiográfico. Reproduziu em Venus im Pelz as relações de dominação que mantinha em sua vida íntima, e sua figura se tornou indissociável do elemento central da novela, o masoquismo (termo cunhado a partir do sobrenome do escritor).

No filme,Vanda, atriz aspirante, aparece numa noite chuvosa no teatro onde o diretor Thomas passou o dia fazendo testes com atrizes para sua montagem. Na trilha sonora, que no começo do filme sugere uma premissa de terror (acompanhada dos devidos efeitos de relâmpagos na tempestade), e na câmera de Polanski, que desliza do lado de fora do teatro como um fantasma, a figura de Vanda imediatamente pode ser confundida com uma projeção: vinda dos sonhos ela invadiria o espaço de Thomas como materialização dos desejos e das fraquezas do dramaturgo.

Porém, no jogo que faz até o fim num vaivém de representações - o filme é basicamente composto de réplicas entre Vanda e Thomas, que através da leitura do texto da peça transformam o teste da atriz em uma disputa de poder entre o artista e a musa - Polanski vai intercalando o onírico (como o passado e a memória ganham vida no palco) com o mundano (as gírias e a descompostura de Vanda, o toque insistente do celular), para nos relembrar de que Vanda é, antes de mais nada, sua presença física, sua carnalidade, e jamais poderia ser somente um espectro de fantasias e frustrações.

Embora este seja um filme naturalmente aberto às interpretações mais difusas (fala da vida, de arte, de gêneros, de autoconhecimento, de alteridade...) Polanski nunca perde de vista o rigor da encenação, nem a noção mais pura do teatro, que é tornar o verbo uma expressão corporal. 

Trash – A esperança vem do lixo, baseado no livro de Andy Mulligan, se passa em um país fictício,  tanto poderia ter sido filmado na Índia quanto nas Filipinas ou mesmo no Brasil (países indicados pelo próprio escritor inglês). A proximidade do diretor Stephen Daldry com o trabalho do cineasta Fernando Meirelles quis que o Brasil ganhasse essa disputa.

O filme conta a história de três garotos pobres que, a partir de uma carteira achada em um lixão, encontram um código que leva à fortuna de um político corrupto.

Trash imprime um sentimento dúbio de orgulho. Orgulho por mostrar, a partir da visão de um realizador internacional de renome, uma profissão de fé (a esperança do título está presente para quebrar certos paradigmas), a partir de um retrato tão fiel e atual das mazelas do nosso país. Dúbio porque a fotografia em questão é suja. Sem cartão postal, Trash não é um filme só para inglês ver.

Sobre os filmes, vejam, me baseei em insights deliveres trazidos de referências outras daqui e dali.

Recomendo.



Até breve.  

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

CORDIS



Meu texto azedou, passou do ponto, desandou. Perdeu liga, consistência, prumo. Sei lá no que me deu de entrar numa de partidarizar o craneamento, buscando lógica em versões de fatos.

Isso num divia.

Teve uma época aqui no dasletra que era mais de íntimo, quase doméstico. Nas vésperas de Noninha, nem se me fale.

Aí fui vindo e caí nessas estórias mordomentas do cotidiano da puslítica. Comparei com a mesa de um bilhar, sabendo que rolam bilhões, fiz bolacinco, bolaseis antevendo que no fim viria uma bolasete, fechando a partida.

Pinóia, eu pudia era de ter que tirar essas discrescências das telas, excluir dos arquivos estes inscritos. Fazer de conta que foi um espasmo, maroto.

Vô não, deixar eles aí é o que devo de sim.

De uns tempos prá cá, sei lá uns mês ou outro eu ando zancreando feicebuc.

Doideira geral a coisa, principalmente se se entra na veia de uns compulsivos, neurotizantes, virtualoucos de dar dó. Aí, geral. Quase que num tem outra coisa, senão tela.

Qualquer cara das ciências, inclusive ocultas, divia de tar pesquisando. A gente fala e ouve e vê um monte de gente que nunca viu na mais primeira de todas as vidas. Troca de um tudo, até sentimentos, põe figurinhas que dão conta dos semblantes. Relaciona.

Se deixar ficar ali fica como só se fosse.

A tecnologia é o prelúdio dos infernos reais. De que ninguém vai mesmo precisar de ninguém. Inté nos vamovê dos prazeres mais carnais, eu sei. Na solidão, bronha.

Num sei tá podendo de ser.

Lá mesmo eu soube que hoje é o dia que sai Nobel da Literatura.

E eu queria tanto que fosse o João, sô, mesmo que ainda tivesse virado carniça. Ele tá aí todo de um dia, nas entranhas de qualquer vivente rastejante nas terra. Ele saiu do complexo pro simples que só mesmo um gênio dos diabo pudia de consegui.

O Guimarães deixou veredas.

Num acho que tem tanta importância o Oslo, o prêmio, a coisa. Mas a gente merecia que ele fosse, como o Saramago, o Neruda, uns outro mais.

Eu de mim, juro, queria muito que ele fosse um trem.

Um Rosa.




Até breve.

sábado, 3 de outubro de 2015

DEMONÍACO



Tenho uma compulsão doentia por pornografia contemporânea. Ontem quase que fiz uma autoflagelação para ver se fico liberto. Num teve jeito. Olha eu aqui de novo.

Confesso que assisti aos noticiários de ontem e vi cenas que se repetem orientadas por um roteiro fundado na repetição, signo da perversidade.

Os protagonistas, agora conduzidos pelo mesmo arquiteto e seus asseclas, produziu uma tomada de cena da reestruturação do bacanal.

A barganha resulta na mudança de estratégica de cooptação da maioria para o abraço de afogados de uma minoria de peso, supostamente mais “confiável” – se é que seja possível no antro fazer fios com integrantes do bordel.

Mercadante na Educação é cena similar à Garganta Profunda.

Noutro veio de manobra, o acinte de contenção exemplar dos gastos é de dar dores anais que nos custará anos para recuperar, isto se não causar uma inflamação venezuelânica crônica.

Duzentos milhões de reais, incluindo a redução no holerite dos atores principais, é de uma compulsão digna das taras mais abomináveis, somadas à fusão de ministérios redução do aparelhamento criminoso de três mil cargos de bajuladores, chupadores, sanguessugas do erário.

Ontem, enquanto as cenas da fuderola geral rolavam, uma matéria paralela flagrou o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo quando o medidor registrava a cifra extraordinária de R$1,5 trilhões amealhados dos expectadores que bancam a orgia.

Ora, se são R$30 bi de buraco, significam 2% que seriam necessários de corte para dar uma ajustada, isto sem considerar ainda três meses de bilheteria compulsória.

Dois por cento de ajuste no gigantismo do monstro pornográfico dá para tirar de letra, só que aí a sacanagem acaba.

Estou preocupadíssimo com o meu estado de saúde. Nem doses na veia de levar Noninha à escola, jogar inúmeras partidas de futebol com Tin, mostrar passarinhos para o Antônio têm minorado o meu desgaste profundo.

A continuar assim vou acabar compartilhando com meus amigos do Face book cenas do flagrante do nu do ator global e de sua esposa.

Não, por todos os deuses do mal, livrem-me da cura.

Morro vil.

Só que mudei de canal e assisti a um clássico de Hitchcock, Festim Diabólico, e renovei minhas esperanças. Quem quiser saber pode assisti-lo.




Até breve.


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

MANCHETES



Em continuidade à campanha de moralização proponho que sejam retiradas de circulação e veiculação em mídias eletrônicas as manchetes e respectivas matérias abaixo, publicadas nos noticiários de hoje, face ao seu elevado cunho pornográfico:


 · “VERDADES SECRETAS” ULTRAPASSA A TODOS OS LIMITES

· DOCUMENTOS APONTAM QUE MP EDITADA NO GOVERNO LULA FOI COMPRADA POR LOBBY

·   PF INDICA DINHEIRO DA PETROBRÁS COMO DOAÇÃO ELEITORAL PARA DILMA

· BANCO DE CUNHA NA SUÍCA O DENUNCIOU POR LAVAGEM

·   PF DEFLAGRA NOVA FASE DA OPERAÇÃO ACRÔNIMO

· RELATOR DO TCU INDICA REJEIÇÃO DE CONTAS PRESIDENCIAIS

·  COM ALTA DA GASOLINA INFLAÇÃO PODE CHEGAR A 10%

·   EXECUÇÃO AINDA É REALIDADE, DIZEM ESPECIALISTAS

·   SANTA CASA INCLUI 184 MÉDICOS EM DEMISSÕES

· DILMA CONFIRMA DEMISSÃO DO MINISTRO DA EDUCAÇÃO

·  PM PEDE PARA TER RELAÇÃO SEXUAL COM FILHAS DA AMANTE COMO PROVA DE AMOR

 Até breve.