terça-feira, 29 de abril de 2014

DRUVS



Para um terapeuta mais ortodoxo no discurso o diagnóstico seria de agravamento de uma PMD(*) latente com sinais de agonia dilacerante. Para um menos ortodoxo, quase avesso, o veredicto é de frescura pura: Libelulites.

Olhado sobre outros prismas poder-se-ia considerar que resulta da crise conjugal que se arrasta e é dessas comuns a todos os casais, mesmo daqueles que já padeceram por trocentas outras.

Ou ainda, um sentimento profundo de compartilhamento e solidariedade ao Dani Alves. Macacos me mordam, nunca eu ficaria tão norosbótico por conta de episódios como estes. Neymariano que sou, banana é bom prá câimbras.

Então porque será que entrei a semana, termino abril com tantas fechadas ânimas?

Outro dia mesmo eu não estava eufórico, libelulante, com viagem marcada para Oslo para buscar daqui a trinta anos um premiozinho qualquer?  Já não me bastam meus netinhos lindos, Noninha cada vez mais falante e bela? Ontem mesmo, no início da noite pós-escolinha me esgotei de leva-la a cavalo (sobre meus ombros) Praça da Liberdade adentro. E Valentin, nem te digo.

Talvez seja ressaca por estar se encerrando a mediação de mais um conflito empresarial.

Ou ainda, quem sabe pelo fato de que na última quinta-feira (24), o ex-presidente da República Fernando Collor de Mello viu ser encerrado no STF o último capítulo do escândalo de corrupção que culminou no seu impeachment, em 1992. De lá para cá, o hoje senador pelo PTB de Alagoas enfrentou 14 inquéritos, 8 petições criminais e 4 ações penais. Collor foi absolvido em todos os casos, incluído o processo decidido na semana passada pelo STF.

Lembrei-me novamente de minha infância nos comícios pro-Jânio. “Collor vem aí, num demora não... Elle vem aí com a única bala na agulha na mão...”

Não, quequequeisso, por isso que num é mesmo de jamais.

Então, sem mais rodeios, se querem mesmo saber, eu digo:

Não é por nada não. É por pura falta de assunto, mesmo.

Se bem que, putz, leiam meu horóscopo para hoje:

“As alianças em andamento não são as ideais, encerram vieses sombrios e perigosos, mas é o que está disponível no momento. O destino entortou tudo ao ponto de fazer com que convivências inimagináveis acontecessem”.

Eu, hein!



Até breve.

(*) > Sigla para Psicose Maníaco-Depressiva

domingo, 27 de abril de 2014

PARTICULAR



Já escrevi sobre ela aqui, especialmente em BRILHANTE.

Num deu outra, uma de suas inspiradoras é Costanza Pascolato que é, em minha opinião, uma ideóloga do glamour.

Sim porque a estética do belo e a finesse são, de fundo, uma das mais revolucionárias ideologias condutoras de História e Cultura civilizatória. Vide em anexo pelo mundo, especialmente o Velho, quanto de mensagens explícitas permeiam o luxo e a criação ao longo de milhares e milhares de anos de busca de sentido pela via da forma, da cor, dos materiais empregados, da disputa pelo maior, melhor, mais atual e essencialmente mais Rico.

O mal não passa pela aí, de primeira. Antes pelo contrário, mecenas, reis, czares, imperadores e até ditadores sempre foram e ainda continuarão sendo os maiores facilitadores para que a Arte venha à Luz, mesmo que nas entranhas de alguns corrompa-lhes o mau.

O luxo e o cuidar-se são, em si, uma procura da dignidade. Costanza diz que é fundamental “estar arrumada até para ir tomar soro em um hospital”.

Para ela o que mais deve se admirar em uma mulher é “a consistência, a fidelidade a si mesma”. “As mulheres que se aceitam são os fenômenos hoje, num momento em que a imagem é tudo, mas é uma imagem virtual, falseada, de tudo”.

Toda contracultura deriva da negação ao luxo, à ostentação, à riqueza, portanto é forte e determinante no desenvolvimento da civilização pela polaridade que daí acarreta. Não falo aqui da inveja, da soberba, do escárnio, da ignorância, de um menos-valer, muito menos da riqueza espúria.

Falo da procura da beleza, do esmero, do cuidado, da finesse.

Acho que passa pela aí um desejo de instruir-se, de procurar-se por esta via, de encontrar-se na diferença, na riqueza de detalhes, na consistência de suas predileções e escolhas.

Hoje é seu niver, acho que é assim que em seu universo particular, nomeia-se aniversário. Fico feliz pela sua coragem, determinação, procura, cuidado, esmero e humildade. Fico feliz por você ser quem é.

E que nenhum macho mal formado me venha dizer que você vem fazendo coisas de “mulherzinha”. Prá mim é sério às pampas, ideologia do mais alto calibre. E que delas derivem sacadas belas.

Mulheres adorarão. Especialmente nos finds.

Feliz aniversário, chérie.


Até breve.

VIDE: www.umuniversoparticular.com.br

sábado, 26 de abril de 2014

DUOSUFRER


Aquilo para o qual fui fazer (inclusive transportado por helicóptero) corroeu neurônios, esgarçou humores, só não transpôs a couraça muscular do caráter. Como de Claudionor, o jabuti que perambula os jardins de nossa casa em Santa Luzia, o casco, se teve alguns arranhões foram de tentativas fortuitas de experimentar outras paragens.

Mas, não. O teste apenas reforçou a tese de que para alguns não há mesmo preço.

Aos sessenta e dois anos e provavelmente por força deste acúmulo de décadas e provas é que compreendo, e cada vez mais, quem eu me proponho a ser e sob que circunstâncias e valor. Nunca foi uma tarefa fácil, ao final sempre fiquei com a sensação da dúvida. Valeu a pena? A sequência da Vida sempre me escandalizou com demonstrações evidentes de que mais do que valeu, justificou-se.

Difícil leitura deste post, para o leitor distante. Minha linguagem cifrada quer blindar-me porque no Lado B de minha vida há risco puro de impensáveis consequências. Só o trago aqui, e hoje, pela necessidade imperiosa de uma catarse descongestionante e para reforço do que ainda está por vir.

Sim, porque não me desvinculei de todo da peleja e por interesse e determinação minha.

Os próximos embates deverão tender para um desfecho estimulante, é o que eu espero. É possível viver fora do Casino, inclusive com visibilidade. Mesmo na hora presente, hora de possibilidade de mudança de capos.

É um momento muito mais violento, perverso e vil do que aquele que ocorre nas bocas do tráfico de drogas e entorpecentes ou nos bastidores das mesas e máquinas sibilantes das casas de jogos de azar, propriamente ditos. A ética dali tem uma lógica e princípios quase juvenis diante daquela que orienta o jogo do poder, este pelo qual tangencio.

Vamos ser menos hermes, ou herméticos, porque ao leitor: respeito.

Não é outra a minha imensa e profunda necessidade de voltar-me ao Lado A de minha vida. Este mesmo que me coloca diante de um porvir de extraordinárias experiências e vivências, por agora de Noninha e de Valentin, de quem tão pouco falo.

Valentin vem chegando para um espaço gigantesco de carinho, acolhimento e aconchego, disputadíssimo por uma irmã quase passional, intensa e desesperada. O amor tem esses nuances, tremendo aprendizado na partilha de afetos incondicionais e estruturantes.

Os pais, os olhares, a balança evidente que desequilibra para o lado do mais necessitado e dependente. “E eu, agora, como fico”? Deve se perguntar a criaturinha de um ano e poucos oito meses de olhar exclusivo dos seus queridos, antes da chegada deste intruso, mas belo.

Na balança das horas, mamãe e papai dão mostras infinitas de que nada mudou, de que há tanto para mim quanto para este irmão, mas será sempre assim? “E eu, depois, como fico”? Tenho tudo, posso tudo, mas se se perdeu um pedacinho deste prisma de olhar, serei menos, quase pouco.

Noninha, minha querida, viver sempre nos colocará em prova de perdas fundamentais, mas será por elas e somente por elas que teremos ganhado e que farão sentido. Você prescindirá, um dia, do olhar da mamãe e do papai, sem nunca perder a certeza de que eles te amam incondicionalmente.

Ser, independente do montante de anos vividos, ainda é uma peleja. Santa peleja.



Até breve.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

DODIA



Há no noticiário uma morte emblemática.

O corpo do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira foi localizado nesta terça-feira, 22, dentro de uma creche no complexo de favelas do Pavão-Pavãozinho-Cantagalo (Copacabana, zona sul do Rio). Ele trabalhava no programa da Globo ESQUENTA, estrelado pela atriz Regina Casé.

Ocorre que o rapaz foi protagonista de um curta-metragem no qual é executado por policiais militares na mesma favela. O filme "Made in Brazil" foi produzido em junho do ano passado e tem 6 minutos e 49 segundos de duração.

No curta, antes de levar um tiro na cabeça disparado por um tenente da PM, o personagem de DG diz várias vezes "Sou trabalhador!" e implora para não ser morto. "Eu e outro PM executamos um traficante numa viela da favela, e ele (DG) testemunha o crime. Depois ele é morto como queima de arquivo", disse ao jornal O Estado de São Paulo o ator Paulo Henrique dos Santos, conhecido como Hulk, que interpreta o PM que executa DG.

Diretor do filme, Wanderson Chan disse ao jornal O Dia que escolheu Douglas para ser o protagonista. "O filme, de alguma forma, conta o fim dele. Eu fiz questão que fosse o Douglas o protagonista, porque ele era um rapaz do bem, tinha muitos sonhos e sua vida era muito parecida com a proposta do vídeo".

Revoltados, os moradores desceram para Copacabana no final da tarde e montaram barricadas de fogo em avenidas fundamentais do bairro, como a Nossa Senhora de Copacabana. A PM reprimiu o protesto. Houve tiroteio. Edilson da Silva dos Santos, 27 anos, foi baleado na cabeça e morreu.

Made in Brazil, emblemático ou BANAL?



Até breve.  

quarta-feira, 23 de abril de 2014

HERMES



Santa semana, a passada. Exposições a bons questionamentos, bruns e críticas. Ontem viajei em helicóptero por duas horas e meia para me reunir com cliente em cidade do interior paulista.

Não me coloquem nas nuvens que eu viajo.

Recebi de Pretinha uma foto da camiseta da primeira disputa de Noninha e defendendo os EUA. Fazer o quê? A mãe depois me mandou um Whats:

- Pois é, vai querer ir para NY igual a mãe... KKKK...

Ao longo do dia de ontem, em que pese as quatorze horas de reunião pauleira, com direito à sanduíche intermédio, eu viajava no meu cruzeiro.

Explico.

Quem está mais perto de mim sabe. Os que não, que viajem. Aos sessenta e dois, eu ainda entro em gincanas.

No encruzilhamento do  agora tem dois doces que estavam ali também em 1974 (RENASCIMENTO) e em 1994 (ACADEMIA). De vinte em vinte anos tomo um solavanco.

- “O que queres tu? Diáfano”.

Vais tocar a vida de Real ou de poesia? Bonitinho, de acordo com o que manda os conforme ou na mais cruel e profunda marginália? Serás mais um simples mortal consumido pelo banal ou vagarás no limbo buscando a imortalidade pelas Letras?

Bens de consumo ou BEM?

Por Noninha, vou torcer pelos USA.




Até breve.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

CRÍTICA



Foi assim. Na sexta tomei de assalto o texto do primo e o engoli em pouco mais de duas horas, ou até menos. Ali pelas vinte e duas e tantas liguei prá ele em Azurita.

- Marcelão, li o trem e já queria de dar o retorno sobre a coisa. Tô indo amanhã aí, posso?

- Vem e almoce comigo.

De quebra recebi em casa, ontem á noite os dois ilustradores para passar a eles o esboço do Posts à prova e dos diálogos com Noninha. Eu fiquei sabendo só ontem que o casal é jurado em concursos de literatura. Têm seus métodos. Um deles separa os textos em três graduações: céu, purgatório e inferno.

Se soubesse disso antes teria classificado o livro do primo e o lançado ao fogo dos infernos. Marcelão, já tendo passado pelo rigor dos meus considerandos, durante o almoço disse aos presentes (amigos e parentes), que eu tinha lhe dado um soco na cara.

Dito assim parece que não gostei do livro. E é mesmo, não gostei nem um pouco. Marcelão é outra besta da família, deve estar pesando mais de cem quilos, fica todo vermelho quando ri e verte lágrimas em profusão a cada dez minutos de sua vida. Sangue puro borbulhando fora das veias e hortas.

O cara veio com uma conversa que é muito rigoroso, que só escreve com um Plano de Obra que lhe norteie os caminhos, que gosta da precisão dos fatos e dados que dão pano de fundo à história de nossos antepassados e, o pior, se preocupa muito como irão lê-lo.

- À merda!!! Marcelão...

Disse-lhe um zilhão de vezes na manhã de sábado. Se você espera que eu prefacie isto aqui, esqueça!

- Solte à franga, rapaz! Vire uma libélula!

- Nessa idade, Lozinho, quem se interessará por mim?

- Seu bosta, num é nesse sentido, égua...

Depois de derramar sobre ele o meu imenso mal estar, o sacana disse que ia pensar.

- Eu não sou como você, Lozinho... Eu não tenho poesia.

Depois duma dessa fiquei pensando se teria valido a pena eu, num sábado de aleluia, ter deixado Noninha, Valentin e todos os outros em Santa Luzia para ir me encontrar com a besta.

 Vamos aguardar. Ontem depois da conversa com os juízes fiquei mais aliviado, se bem que temeroso.

- Será como vão me ler?

Merda de sangue.




Até breve.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

TEXTO



Vejam vocês como são os parangolés. Karlinha, minha sobrinha, comentando CEM , me espinafrou de A a Z, revoltada pelo fato de eu ter tratado meu pai e avô paterno dela da forma que está ali postada.

No mesmo dia em que fui graslamelado pela minha querida e bela sobrinha recebi também o rascunho do livro que está sendo gestado pelo meu primo Marcelo que trata da história da nossa família, veio paterno. Ele é filho da tia Paca, Paquita, irmã do véio Agulhô. Aquele mesmo que acabou me levando à BAJO, INTERIORE e VIVERE.

Achei por bem vir a público para dizer o risco que o meu velho corre, na medida em que, Marcelo pede para que eu escreva o capítulo que deverá enaltecer o meu pai. De quebra pede para que eu prefaceie o seu livro.

“No meio de toda essa balbúrdia e tiroteio, também acontecem coisas belas, que elevam a alma ao patamar de onde ela deseja nunca mais ser retirada. Você pode permanecer aí e, simultaneamente, se envolver na luta também”. Enuncia meu horóscopo para hoje.

O risco para quem escreve é imenso quando lido. Se se escrevesse e se mantivesse nas gavetas em papéis frágeis que o tempo e traças consomem, somente o vazio que as ocupa saberia o que está ali posto.

O problema é quando se quer trazer ao lume. Neste momento estou trabalhando na organização do Posts à Prova e, naturalmente, tenho que reler os posts que vão fazer parte do livro comemorativo aos 600 posts editados em três anos do dasletra completos no próximo oito de maio.

A tal da interpretação é um fenômeno surpreendente e cruel da cognição. A leitura jamais esgota o que está escrito, ou será o contrário? Nunca se escreve o que se propõe a se escrever ou nunca se lê o que se propôs a ser escrito?

Daí a riqueza e que se torna arte. Estou feliz prá caramba de viajar nos meus posts. A cada leitura vejo ideias surpreendentes e no afã de buscar uma lógica para a costura me reinterpreto.

Karlinha, neste momento, é de uma importância enorme no fabrico da ética do texto. Não se pode desconsiderar o que será lido. Mas como considerá-lo, se ao se escrever se escreve e ponto? Agora já não lhe pertence. Deixou as gavetas, criou asas e sujeitar-se-á a inúmeras e infinitas interpretações.

É exatamente aí que a alma quer ser descoberta. Neste limiar da interpretação quando se propõe a debruçar-se aberta, deslavada, nua. No caso específico de meu pai, especialmente, na medida em que eu não sou sujeito do meu próprio nome e sim ele.

Mas diabos o que tem o leitor que chegou até aqui neste post a ver com meus íntimos probremas. Tudo. Esta não é uma questão minha, particular, doméstica, familiar. Só por isto proponho-me a vir a lume.

Não ultrapassamos a ser uma mera interpretação de um projeto de texto a ser escrito. Um verbo que se tornará carne e habitará conosco em um lugar qualquer para viver uma história qualquer.

Tudo o mais é rascunho.

Gabo nos deixou hoje depois de oitenta e seis anos e é dele: "Tudo é questão de despertar sua alma”.



Até breve.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

OSLOUP



"Depois de tantos anos, já não me sinto mais ligado a esse texto. O tempo passou e descobri diferentes maneiras de conhecer e de me aprofundar na realidade. Considero uma etapa superada. Se eu relesse a obra hoje, cairia desmaiado, não iria aguentar". 

Eduardo Galeano, escritor uruguaio tornou-se notório por uma obra publicada em 1971, As Veias Abertas da América Latina, clássico entre os esquerdistas por analisar a história daquela região desde o período colonial até a contemporaneidade, argumentando contra o que considera exploração econômica e política do povo latino-americano - primeiro pela Europa, depois pelos Estados Unidos.

“Como todo latino, apresento diversos vícios e o mais grave é a tendência à inflação - não dos preços, mas de palavras. Essa inflação é a mais grave e mais difícil de evitar. Nos dias de hoje, tento dizer o máximo possível com menos palavras, pois descobri que o silêncio também é uma eficiente forma de comunicação."

Pois é.

Durante todo o final de semana estive trabalhando na seleção dos 100 textos que deverão compor o “Posts à prova” livro que pretendo publicar comemorativo aos três anos do dasletra e a marca de 600 posts editados.

Não está sendo uma atividade gozoza confesso, embora não me leve à desmaios, pelo menos ainda. Transei uma idéia de que o livro não pode ser uma mera coletânea de posts pinçados aleatória e indiscriminadamente.

Na medida em que fui construindo um pensar sobre o livro, simultaneamente à releitura dos posts, fui vendo que é possível sim dar um nexo ao todo do texto, especialmente das razões que me levaram a me encantar com a idéia do Vlad para vir a editar um blog.

Não deverei incluir nenhum post daqueles que, no blog, classifiquei como RUMINESCÊNCIAS e ORGANIZACIONAL, portanto tirando do livro boa parte de minhas lembranças tanto da pessoa física quanto da jurídica. FAMÍLIA, quero preservar e VIAGENS, embora tenham posts interessantes prefiro não.

De LIZ e VALENTIN também não colocarei nenhum post. Minha idéia, corroborando com a proposta de uma amiga é a de construir um projeto em paralelo, uma edição para crianças ou mesmo infanto-juvenil com ilustrações inclusive. Para isso já comecei a conversar com dois ilustradores premiados no circuito do livro infantil.

Assim, Posts à Prova, terá mais textos de ARTE, FICÇÃO e OLHAR. Já tenho inclusive o PRÉÂNGULO com o qual prefaciarei o livro.

Oportuna a leitura da entrevista de Galeano. Ela me reforça na tese da procura da síntese e do simbolismo e da infinita riqueza das palavras, especialmente aquelas inventadas. Não é por outra razão que todos os meus posts tem como título uma única palavra. Inclusive aquelas que não existem, ainda.

Oportuna a leitura da entrevista do escritor, que iluminou minha juventude na FAFICH, por outra razão: é mesmo provável que em 2042, quando perguntado sobre o meu primeiro livro publicado e sobre outro que trata dos diálogos com os meus primeiros netos, não irei aguentar o gozo e desmaiarei.

A vida continuará me pregando surpresas.


Até breve.





domingo, 13 de abril de 2014

BALANÇA



- Vovô...

- Oi, Valentin...

- Cê num acha que tá devendo não?

- Eu, devendo?

- Cê escreveu mais de cem posts prá Liz, antes, durante e depois que ela nasceu...

- Valentin...

- Eu completei um mês, cê num cantou parabéns prá mim, num escreveu nada, seus pessoal prá quem cê escreve nem sabe que eu cresci...

- Valentin...

- Cê leva a Liz quase todo dia de manhã na pracinha, busca ela de tarde na escolinha, eu só ouço Pupuquinha prá cá, Pupuquinha prá lá, não é de Noninha que você apelidou ela?

- Valentin...

- Eu não... Aqui do berço, quando raramente você se aproxima, eu escuto: “Com quem esse cara parece”? Por mim, se continuar desse jeito eu num vou parecer nada com cê...

- Valentin...

- Cê levou Liz, junto com a vovó, prá praia, ficou lá um tempão e nem pediu prá me ver no telefone com a mamãe...

- Puxa, Valentin...

- Cê entra aqui dentro de casa, eu ouço você chegando e nem tchum prá mim, eu nem ouço você perguntando: “E esse cara, tá bem, não?”

- Espera, Valentin...

- Mamãe manda um montão de foto minha procê e você num responde nada...

- Aí não, Valentin.

- Ontem, papai e mamãe foram prum aniversário e levaram a Liz... Mamãe pediu prá vovó e você ficarem comigo...

- Valentin...

- Vovó me colocou prá dormir de bruços e foi se deitar no sofá lá da sala e pediu a você que de vez em quando viesse me ver, se tudo estava bem comigo, que eu podia sufocar, sei lá...

- Valentin...

- Cê apareceu na porta, nem entrou no quarto, uma única vez e eu ouvi você sair ruminando: “Tá tudo bem”...

- Você me deixa explicar, Valentin?

- Vovô, esquenta não sô...

- É quê...





Até breve.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

BRUNS



Dia danado este, ou será, esse? Começa daí, tudo é dúvida. Eu tô aqui assossegado no meu canto e, por mal dos meus pecados, leio a porcaria do meu horóscopo. Perdoe-me leitor, eternamente ou pelo menos enquanto houver este blog, por convidá-lo a ler estas tolices.

Como se não bastasse li quatro previsões astrológicas para eu ter várias opiniões de como por os pés na vida no dia de hoje. Descarto duas delas e mergulho raso nas duas restantes. Eu tenho sérias dificuldades em lidar com muita informação. Meu cérebro tem um espaço de manobra muito curto e lento.

Os astros conclamam que eu seja diferente, que eu seja ousado e que eu tenha sabedoria. Três demandas que me colocam em estado de frustração antes de qualquer proposta que eu possa me fazer seriamente. Ademais se eu for diferente eu acabarei ficando muito parecido com a maioria, e isto me assusta muito.

“Inove, renove, ouse, tente fazer diferente. Mas faça com sabedoria. Evite ações impulsivas e individualistas. Perceba o que lhe trará progresso, pisciano. Coloque suas ideias e sonhos em prática. Ouse fazer o que nunca fez”.

Fazer o quê que nunca fiz e que ainda me traga progresso. Pois é, o dilema está no demoníaco quê. Horóscopo deveria servir apenas para anjos, magos, deuses e adivinhos de plantão, não a um simples mortal ávido por adormecimentos.

Ademais sem impulsividade e sem ser individualista eu serei quem? Outro, não, não me convém. Se for assim prefiro ficar no ponto onde estou.

A outra previsão horoscópica adverte:

“O desejo sempre chega antes da oportunidade, essa é uma regra geral a se ter muito em conta para nunca enfiar os pés pelas mãos. A urgência do desejo poderá, assim, ser administrada com mais sabedoria e eficiência”.

Entenderam, não?

Como não enfiar os pés pelas mãos se eu sou impulsivista inveterado, lilás como fazer com sabedoria e eficiência administrada o desejo? Bicho, o desejo, tô falando DESEJO, é trem de outro mundo que péla nos nervo da ponta dos cabelos rarefeitos até às unhas encravadas dos pés.

Entenderam, não?

Acho melhor eu resumir para ficar mais confuso. Primeiro você cria uma oportunidade, depois com paz e ciência você deseja aquela oportunidade que você acabou de criar (por favor, não crie muitas para não embrulhar o meio de campo e você se perder em desejosmil sem nem umas oportunidades). Aí e de leve (entrando pé ante-pé na piscina de sua vida, sem impulsividade) você mergulha e faz, de um todo, o diferente.

Tá bom, você agora se pergunta: “Eu mando esse cara à ou prá?”

Eu avisei, dia danado esse. Ou será este?




Até breve.

terça-feira, 8 de abril de 2014

BANQUETE




Jamais vou esquecer uma do Juca Chaves. Ele teria sido abordado por uma pessoa na rua: 

- Juca Chaves?!!!

- Sim... Eu mesmo.

- Comprei seu livro...

- Ah, foste tu?!!

João Pereira Coutinho, em sua coluna de hoje na Folha escreveu: "O negócio dos e-books brochou em 2013 e é provável que não recupere mais. A Barnes & Noble não está contente com o seu Nook e há rumores de que tenciona desistir do negócio. A Sony não tem dúvidas: desistiu mesmo. E até o Kindle já conheceu melhores dias. Como explicar o naufrágio?

Sociólogos diversos falam na saturação do mundo digital: a novidade de ontem virou rotina hoje e está morta amanhã. Outros, mais românticos, lembram que o livro tradicional não tem concorrência no ´plano dos afetos´ (grotesca expressão): quando o objeto é em papel, podemos tocá-lo, cheirá-lo. Eventualmente comê-lo

É possível que tudo isso tenha dado seu contributo. Mas a razão mais funda para o desinteresse nos e-books está na vaidade humana: os livros, para a maioria, são objetos decorativos de afirmação pessoal e social".

A sensação de ser comido em Posts a Prova (livro que pretendo editar com a coletânea de 100 posts), no plano gastronômico/intelectualóide me dá nos nervos. Fico pensando em alguém de posse do meu único, até aqui, editado livro fazendo caras e bocas para o objeto do seu desejo.

Foi bom ter lido a crônica do Coutinho. Vou pedir à editora que coloque um perfume sabórico nas folhas de papel do meu livro. Se bem que fico sempre pensando que o diálogo de Juca tendo eu como protagonista poderia:

- Fui eu sim que comprei o seu livro...

- E, então?

- Tive náuseas.

Melhor seguir normalzinho. Vai ser de páginas. Meu livro não servirá à bacantes.   

Ninguém vai à Oslo cheirando à framboesas.


Até breve.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

PERCENTO




26% e não 65% concordam total ou parcialmente de que "as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". "Foi uma fatalidade", disse o presidente do instituto responsável pela pesquisa referindo-se ao erro cometido quando da publicação da pesquisa e que causou o maior frisson na galera.

De primeira acho que a formulação da pergunta está equivocada: as roupas foram boladas para tamparem os corpos não para mostrá-los. Ou alguém, macho, olha para roupa que atrapalha o desnudar do corpo feminino.

Só se o homem mudou radicalmente o seu senso de estética e nos campinhos de pelada eles andam debatendo:

- Você viu aquele shortinho? Ããnnn que vontade de morder...
- Prefiro aquela camisetinha regata! Uma graça com aquela customização divina...
- Eu não, prefiro a sandalinha rasteirinha... Uarrá!!!!

Vê lá se são 65%? Um absurdo! São somente 26%. O que significa que em 100, 26 homens partem para cima com tudo.

Então tem algumas pesquisas que não ajudam em nada. É como se divulgassem a mesma pesquisa sobre outra tara. 26% dos congressistas são corruptos e não 65% como se publicou inicialmente.

Qual diferença que faria? Os que partem para cima do que está debaixo dos shortinhos ou das camisetas regatas, deixariam de meter a mão e outros membros mais explícitos? 

Hoje é vice-presidente da casa, amanhã é ministro, depois membro da bancada, e tome meteção de mão. 

Grave mesmo é que 95,98% já não se horrorizam mais com estes escândalos. Orgia incorporou-se à paisagem. Pena que não seja só aqui.

Foi publicado no FUNDERS (financiadores) FOUNDERS (fundadores), pesquisa de que Thomas Edson usou 10.000 protótipos antes de chegar à lâmpada elétrica e que Sylvester Stallone tentou 1500 vezes para conseguir vender o roteiro de "Rocky".

26% e não 65% dos leitores do dasletra acham que eu devo continuar tentando Oslo. Com isto me sinto menos pressionado.



ATREVE

sexta-feira, 4 de abril de 2014

QUATROCINCO



Estou sozinho na varanda da pousada de onde avisto ao longo do pátio interno as espreguiçadeiras sob quiosques cobertos por palha e iluminados por luz indireta. Logo ali a uns oitenta cem metros debruçam-se as ondas de um mar de água morna e azul.

A frente da pousada, na cheia, a maré encobre a formação de blocos de corais e na baixa formam-se inúmeras piscinas naturais habitadas por peixes pequenos de variadas cores. A água sem contato com rios próximos é clara, transparente o que permitiu Noninha gritar a todo o momento: “Peixe!!! Vovô... Peixe!!!”

Ela e Noninha já adormeceram. O dia foi de inúmeros mergulhos além da visita ao Projeto Tamar, com mãozinha sobre tubarões e carinhos em filhotes de tartarugas recém saídos de seus ovos.

Dois ou três telefonemas de clientes com seus assuntos inadiáveis, dois ou três e-mails improrrogáveis. No mais ócio intenso com aplicação em tempo integral as duas das três mulheres mais importantes de minha vida.

Em situações semelhantes volto de costas para o mundo e sequer vejo os noticiários da TV, vicio que tenho quando urbano.

Aqui, no entanto e agora, entrei na web tardiamente para ler meu horóscopo. Todos sabem que não saio de casa sem lê-lo todos os dias, antes mesmo de escovar os dentes.

“A gratidão é essencial, pois essa atitude abre os olhos para as pequenas coisas que acontecem todos os dias e que têm o poder de elevar seu ânimo e sustentá-lo para que você cumpra a parte que lhe toca no tabuleiro da vida”.

Tudo começou em 04 de abril de 1969. Se lerem posts anteriores publicados no mesmo dia e mês, compreenderão.

Né?



Até breve.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

CONEXÃO


Originalmente este post foi publicado com o título Escala. Ocorre que é política deste blog não repetir títulos. Assim passou a ser CONEXÃO por ser também a idéia que havia me ocorrido para o título, mas eu não conseguia lembrar a danada da palavra. 

A promessa que está posta é a de ir, em uma quinta-feira, para a lua. E de balão. Num deu, ainda. É que ultimamente as coisas andam muito agitadas para o meu lado e eu não pude me organizar para uma viagem deste porte. Ademais o clima não está favorável céus afora até a Lua. Mesmo de balão.

Considero recomendável também aguardar algum tempo mais para que Valentin possa ir junto, claro com todas as medidas de segurança para que alguém desgostosa não o arremesse céu abaixo.

De qualquer forma embarcamos hoje (uma quinta-feira), de avião, Ela, eu e Noninha para Salvador e de lá de automóvel para a Praia do Forte. Por acaso, sim juro, por acaso, Pousada Porto da Lua.

Chegamos à tarde e fizemos nossos primeiros averiguamentos. Água do mar quentinha, pousada vazia com dois ou três casais de hermanos prá lá dos cinquentão e um casal brasiliense com duas filhinhas, uma de nove e outra de três. Listo e perfecto.

É que está em questão se os avós têm mesmo que usufruir de netos ou, de outra banda, se se cabe à eles o desconforto de suportarem em idade avançada esses pirralhos chorosos. Eu, por mim, dou de ombros às duas conjecturas.

Tô curtindo cada instante da minha avôzisse até porque Noninha veio de encomenda; minha netinha retribui na exata medida de minha carência. Doidice, seremeleques senis, caduquice? Eu num tô nem aí.

Já à tardinha Noninha repetia, quando perguntada como faz o mar: “Vem e volta... Vem e volta... Vem e volta...” balançando o bracinho como querendo reproduzir o movimento das ondas.

Noninha está saindo de uma gripe enjoada e, para amplificar o desconforto, está nascendo mais um dentinho o que a faz ficar extremamente incomodada. Para nós sobra redobrar a paciência.

Episódios como este não deveriam merecer post.

Vá á outros então mais interessantes. Noninha sempre representará para mim muito mais do que uma netinha, ela sempre colocará em questão o que de fato faz diferença ao longo de toda uma vida.

Hoje no porto para a Lua, aqui na varanda sofrendo da brisa e do barulho vem-e-volta das ondas do mar, sinto um gosto de quero mais. Viver tem uma imensa razão de ser.

Fiz Noninha adormecer na rede, exausta pelo dia de inúmeras novidades. Amanhã vamos visitar jubartes e tartarugas. 

Não é uma Lua, mas quase.



Até breve.

terça-feira, 1 de abril de 2014

REDENÇÃO



Livrarão-nos das garras dos horrores e das brutalidades modelados pelos teóricos soviéticos e já implementados em Cuba. No lugar do caos de uma república operária nos darão às benesses de um capitalismo verdejante onde tudo serão flores.

Para regular e defender os novos procedimentos e colocar a nação nos rumos vão suspender por um tempo a democracia representativa e vão gerir o país a partir de verdes olivas empossados que comandarão com rigor e com respaldo em Atos Institucionais, quantos forem necessários.

Determinarão aos cidadãos que amem ou deixem o país. Aqueles que permanecerem deverão amá-lo inclusive na Copa do Mundo. O general de plantão poderá escalar um dos atacantes.

Os mortos e desaparecidos por não concordarem ou por discordarem dos encaminhamentos serão considerados vitimas do combate pelo que se entenderá como o melhor para o país e segundo as leis de segurança nacional.

A arte será regulada por censores que farão juízo a seu juízo do que as mentes e os corações deverão se dar ao luxo de consumirem. Brasília sediará censores que usarão tesouras e aparelhos de fragmentação de letras de música, peças de teatro, filmes, romances, novelas e programas de TV.

Qualquer um que se parecer com qualquer que se parecer com subversivo será sumariamente recolhido a porões e confessará ou não com quem se parece, mesmo não se parecendo.

Sendo assim para o bem e felicidade da nação ficará estabelecido:

1.      A cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

2.      Suspensão do direito de votar e ser votado nas eleições sindicais;

3.      Proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;

4.     Aplicação, pelo Ministério da Justiça, independentemente de apreciação pelo Poder Judiciário, das seguintes medidas:
a) liberdade vigiada;
b) proibição de frequentar determinados lugares;
c) domicílio determinado.

O Presidente da República decretará o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, que só voltarão a funcionar quando o Presidente os convocar. Durante o recesso, o Poder Executivo federal, estadual ou municipal, cumprirá as funções do Legislativo correspondente.

Ademais, o Poder Judiciário também se subordinará ao Executivo, pois os atos praticados de acordo com os Atos Institucionais excluirão-se de qualquer apreciação judicial.

O Presidente da República poderá decretar a intervenção nos estados e municípios, "sem as limitações previstas na Constituição". Poderá ainda suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos por dez anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.

Há cinquenta anos o país amanheceu achando que tudo era mentira. Durou vinte e um anos.

Um ou outro de nós resistiu. Inclusive um que se afastou da arte e afirma que seu afastamento da música popular não foi causado pela perseguição sofrida pela ditadura militar, mas sim pela falta de motivação para compor ao público brasileiro, vítima do processo de massificação cultural. É dele aquela que é considerada o Hino da resistência:

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.


Hoje amanhecemos acreditando em quê?



Até breve.