sábado, 26 de abril de 2014

DUOSUFRER


Aquilo para o qual fui fazer (inclusive transportado por helicóptero) corroeu neurônios, esgarçou humores, só não transpôs a couraça muscular do caráter. Como de Claudionor, o jabuti que perambula os jardins de nossa casa em Santa Luzia, o casco, se teve alguns arranhões foram de tentativas fortuitas de experimentar outras paragens.

Mas, não. O teste apenas reforçou a tese de que para alguns não há mesmo preço.

Aos sessenta e dois anos e provavelmente por força deste acúmulo de décadas e provas é que compreendo, e cada vez mais, quem eu me proponho a ser e sob que circunstâncias e valor. Nunca foi uma tarefa fácil, ao final sempre fiquei com a sensação da dúvida. Valeu a pena? A sequência da Vida sempre me escandalizou com demonstrações evidentes de que mais do que valeu, justificou-se.

Difícil leitura deste post, para o leitor distante. Minha linguagem cifrada quer blindar-me porque no Lado B de minha vida há risco puro de impensáveis consequências. Só o trago aqui, e hoje, pela necessidade imperiosa de uma catarse descongestionante e para reforço do que ainda está por vir.

Sim, porque não me desvinculei de todo da peleja e por interesse e determinação minha.

Os próximos embates deverão tender para um desfecho estimulante, é o que eu espero. É possível viver fora do Casino, inclusive com visibilidade. Mesmo na hora presente, hora de possibilidade de mudança de capos.

É um momento muito mais violento, perverso e vil do que aquele que ocorre nas bocas do tráfico de drogas e entorpecentes ou nos bastidores das mesas e máquinas sibilantes das casas de jogos de azar, propriamente ditos. A ética dali tem uma lógica e princípios quase juvenis diante daquela que orienta o jogo do poder, este pelo qual tangencio.

Vamos ser menos hermes, ou herméticos, porque ao leitor: respeito.

Não é outra a minha imensa e profunda necessidade de voltar-me ao Lado A de minha vida. Este mesmo que me coloca diante de um porvir de extraordinárias experiências e vivências, por agora de Noninha e de Valentin, de quem tão pouco falo.

Valentin vem chegando para um espaço gigantesco de carinho, acolhimento e aconchego, disputadíssimo por uma irmã quase passional, intensa e desesperada. O amor tem esses nuances, tremendo aprendizado na partilha de afetos incondicionais e estruturantes.

Os pais, os olhares, a balança evidente que desequilibra para o lado do mais necessitado e dependente. “E eu, agora, como fico”? Deve se perguntar a criaturinha de um ano e poucos oito meses de olhar exclusivo dos seus queridos, antes da chegada deste intruso, mas belo.

Na balança das horas, mamãe e papai dão mostras infinitas de que nada mudou, de que há tanto para mim quanto para este irmão, mas será sempre assim? “E eu, depois, como fico”? Tenho tudo, posso tudo, mas se se perdeu um pedacinho deste prisma de olhar, serei menos, quase pouco.

Noninha, minha querida, viver sempre nos colocará em prova de perdas fundamentais, mas será por elas e somente por elas que teremos ganhado e que farão sentido. Você prescindirá, um dia, do olhar da mamãe e do papai, sem nunca perder a certeza de que eles te amam incondicionalmente.

Ser, independente do montante de anos vividos, ainda é uma peleja. Santa peleja.



Até breve.

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