domingo, 29 de abril de 2012

KARMA


Ontem nos despedimos de Pedri. Ele, pelo programa traçado com a agência, deveria ter ficado conosco hoje também. Ele nos propôs e nós aceitamos que, por força de uma corrida de bicicletas que ocorreu no dia hoje, que fechou para o trânsito de veículos várias ruas da cidade, não convinha fazer os passeios programados. Assim visitamos ontem mesmo. Uma maratona.

Ficamos com o dia livre para construirmos o nosso próprio roteiro.

Estávamos no saguão do hotel logo depois de terminarmos nosso café da manhã e encontramos com um casal de Campinas com quem havíamos cruzado, ontem também, no café da manhã.

Hamilton veio com Ana comemorar seus setenta e seis anos de idade. Faz musculação, tênis em quadra de saibro, é presidente da Confraria dos Ariranhas e tem um ego inflado. Ana é simpaticíssima e tolera esse sujeito há mais de quatro décadas. Logo, logo, digo porque.

Eles estavam esperando a guia que os levaria para um tour. Como nós já havíamos trocado mais de dez palavras perguntamos se poderíamos acompanhá-los.

Cláudia é brasileira, casada com um turco dono da agência onde ela trabalha. Veio para a Turquia, definitivamente, em 1982.

Não existe acaso. Existe sorte. Num é que deu jogo. Fizemos juntos, os cinco: Cláudia, a guia; eu, Ela, Ana e o Ariranha um dia inesquecível. Não me perguntem onde fomos, pois não tem a menor importância para este post. Sobre a magnífica Istambul falo depois.

Ao longo do passeio, noventa por cento do tempo a pé, produzimos com refinado gosto e magistralmente conduzidos por Cláudia, um roteiro em que trocamos histórias algumas muito pessoais como se fossemos e de há muito grandes amigos. Quantos filhos, o que fazemos, quantos netos.

Em uma fila, enquanto aguardávamos para visitar um dos inúmeros pontos turísticos, relatamos como cada um conheceu o seu par. Cláudia conheceu Sílvio em 1977 quando veio a Istambul pela primeira vez. No segundo dia da sua estadia fez um tour com um guia que a assediou desde o primeiro momento que bateu os olhos sobre ela. Ela resolveu, então, naquele mesmo passeio mudar de grupo e foi encontrar como guia um cara mal humorado e antipático o que a fez optar pelo assédio do guia do grupo anterior.
Terminado o tour Sílvio, o guia afoito, convidou-a para jantar. Naquela noite ela lhe deu o seu endereço no Brasil e ele disse que iria casar-se com ela. Cinco anos depois eles estavam juntos e vivendo em Istambul.

Hamilton tinha vinte e dois anos e Ana dez. Ele trabalhava em uma cidade do interior paulista e ficou amigo da família de Ana. Um belo dia essa menina fez quinze anos e ele resolveu investir. A vida movimentou caminhos, eles namoraram e desnamoraram por força de mudanças de endereço tanto dele quanto dela até que um dia ele tomou coragem e partiu prá cima: pediu a ela para morarem no mesmo endereço para o resto de suas vidas.

De mim e d’Ela, muitos de vocês sabem como rolou nosso encontro em inúmeras passagens blog afora.

Passava das sete horas da noite quando retornamos para o hotel, tendo nos despedido de Cláudia na estação do metrô. Hamilton e Ana nos convidaram para tomar um café em seu apartamento. Tomamos o café e resolvemos seguir conversando. Fui ao nosso quarto e busquei uma garrafa de vinho (*), brinde de boas vindas do hotel.

Hamilton é um sujeito figurinha carimbada. Em toda história que ele conta ele é o protagonista e dá a maior ênfase nos seus feitos, que não foram poucos: derrubou candidatura de prefeito, incendiou cinema porque o dono não aceitava que os estudantes pagassem meia-entrada, planejou e construiu o clube da AABB de sua cidade, ganhou viagem com acompanhante pelo performance em noite de baile em Punta Del Leste.

Ana disse que quando ele acorda pela manhã ele vai para o espelho e fica se admirando e fazendo elogios. Cada história que ele contava Ana interpelava-o dizendo:
- “Olha o ego... Olha o ego.”
Teve um momento que Ana nos perguntou se nós estávamos confortáveis, pois todo o espaço estava sendo ocupado pelo seu marido.

Aí eu pensei: vou bater de blog para trucá-lo. Li o post DOIS, porque ele havia acabado de falar de Mel sua netinha de seis anos de idade. Logo depois de eu ter terminado de fazer a leitura no ipad de Ana, o ariranha saiu com essa:
- “Eu sou artista e você é escritor e as duas não são nada!”

No fundo sinto que gosto há muito tempo de ambos. Vamos seguramente estreitar relacionamento, até porque um dos dotes do figura é saber fazer churrasco. Na AABB começou a fazer esporadicamente uns espetinhos para a turma do tênis. Hoje já são sessenta sócios de carteirinha da Confraria dos Ariranhas.

Hamilton tem um apelido: COBRA. Só conhecendo de perto para entender porque.

Até breve.

(*) O nome do vinho é KARMA.

sábado, 28 de abril de 2012

DOIS



- Vovô...
- O que é, Liz?
- Você é maluco?
- Eu?
- É que eu ouvi as duas conversando...
- As duas?
- Eu estava na sala brincando e a mamãe e a vovó estavam conversando na cozinha...
- Você anda ouvindo as conversas dos outros, Liz?
- E num pode?
- Podê num pode não, mas é legal né?
- Aí a mamãe disse que tá preocupada com as histórias malucas que você conta prá mim.
- Histórias?
- É, e aí ela perguntou prá vovó se isso podia ser ruim prá mim.
- E a vovó falou o que?
- Um monte que eu não entendi nada.
- De qual história a mamãe falou?
- A do balão.
- É que ela não viaja mais comigo...
- Mamãe já viajou com você num balão, vovô?!!!
- Muitas vezes, quando ela era pequena que nem você.
- Você me leva?
- Onde?
- Para passear em um balão, ora.
- Claro.
- Mesmo?!!! Que dia?!!!
- Quinta-feira.
- Falta muito?
- Passa rapidinho.
- Mas onde está o balão?
- Lá em cima na laje da sauna do sítio. Você já viu uma janelinha da casa que fica em frente ao pé de lichia?
- Sei.
- Pois é, ele fica guardado lá.
- Eu posso levar o papai e a mamãe?
- Claro.
- A vovó vai?
- Se você quiser que ela vá...
- Ela é demorona, né?
- Você acha?
- Vai querer passar uns batonzinhos na hora que o balão tiver saindo... KKKKKK...
- A gente fala com ela que nós vamos sair uma hora mais cedo.
- Mamãe falou que a gente num pode mentir.
- Mas não é mentira. É que o relógio da vovó anda sempre atrasado uma hora.
- Então tá. Eu posso levar todo mundo?
- Quem você quiser, eu já disse.
- Zuca... Laka...
- Pode.
- Matilde... Claudionor...
- Pode.
- Eu vou de mochila.
- Tá bom.
- Com meu tênis de luzinhas...
- Ótimo.
- A gente vai ver estrela?
- Só se anoitecer.
- Então eu vou levar casaco.
- Isso a vovó leva prá você.
- E repelente prá mosquito?
- Vovó leva.
- E creminho para o rosto?
- Vovó leva também.
- Deve ser por isso que ela atrasa sempre, né vovô?
- Pode ser.
- Eu vou pegar um monte de estrelas e trazer na minha mochila para eu por no meu quarto.
- E o que mais?
- Lá na lua tem umas pedrinhas que brilham, sabe vovô?
- Num tinha visto.
- Pois é, umas pedrinhas que brilham que eu vou trazer para por lá na minha casinha do sítio.
- E o que mais?
- Um buraco.
- Um buraco?!!!
- É... Pro Claudionor.
- Onde você vai colocar o buraco?
- Lá atrás da casa do sítio onde ele gosta sempre de ficar...
- Liz?
- O que foi, vovô?
- Você é maluca?
- Eu?
- É que eu ouvi as duas conversando...
- Duas?
- Eu estava na sala assistindo futebol na televisão e ouvi a sua mãe e sua avó conversando na cozinha...
- Você anda ouvindo as conversas dos outros, vovô?
- E num pode?
- Podê num pode, mas é legal né?

Até breve.

NOTA: Na vida real vivem no sítio a Zuca e a Laka, duas cadelas e Matilde uma tartaruga e Claudionor, um jabuti.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

BATUTA


Se bem que meu filho é um excelente parceiro, mas nem sempre as alianças solidem.

Essa menina, não, ela veio e tomou um espaço muito próprio e particular. Assim como alguém que chega fazendo movimentos com os braços para fixar-se naquele que considera o seu propósito.

Primeiro o de amá-lo e muito. É nítido pelo cuidado, carinho, respeito e admiração. Depois, pela sua maneira equilibrada, inteligente e, sobretudo, determinada em torná-lo para seu.

Não que a gente quisesse sempre ele sobre a nossa égide, não, porque isso é óbvio. Ela levou-o para caminhos outros que ele não conhecia e alguns, eu suponho, ele nem curtia. Balé, ainda que em Paris, acho que é muito prá ele. E num é que recebemos mensagem:

- “Por incrível que pareça, foi muito legal!”

O fato é que a chegada dela para a família trouxe novos paradigmas e que eu, no meu canto, até gosto. Só não posso dizer que muito.

Outra coisa que eu jurei prá mim que jamais voltaria a falar: eu estou esperando uma segunda notícia, ah isso eu estou. Se “Hecho em espana”, nó! Barcelona, nó! Tudo bem que seja “made in France”, até madeinqualquercanto, num importa.

E num vem com essa que é prá não ofuscar Liz. Cada flor, cada flor, cada flor. O jardim é bem amplo.

Desculpa. Eu só queria mesmo é dizer que eu estou muito feliz por você estar conosco e desejo por hoje e sempre toda a alegria que lhe for possível.

Um forte abraço e um grande beijo.

FUNDO



Jesus Cristo antes de ser crucificado pediu a João Evangelista que cuidasse de sua mãe. Anos após a morte de Jesus João foi para Efeso levando Maria.

Efeso foi fundada pelo general Lucímaco, sucessor de Alexandre Magno, no ano de 287 antes de Cristo. Em 133 a.C. a cidade foi legada aos romanos. De 129 a.C. até 324 d.C. ela foi a capital da Ásia Menor. Em 324 Constantino fundou Constantinopla (hoje Istambul) e Efeso deixou de ser capital.

Constantinopla/Istambul foi capital da Ásia Menor/Turquia até 1923 quando, após a queda do Império Otomano, institui-se a República. A capital foi então transferida de Istambul para Ancara. A mudança se deu para que os turcos libertassem-se das lembranças do império e da ocupação dos ingleses de 1919 até 1922 frutos de conflitos da primeira grande guerra. Ancara carregou o sonho de ali construir as bases para um novo futuro.

Voltando à Efeso.  Nessa cidade no século III d.C. foi construída a primeira igreja dedicada à Maria. E foi nessa igreja, no ano de 431 d.C., aonde aconteceu o primeiro encontro ecumênico que reconheceu Jesus Cristo com dupla natureza: homem e filho de Deus.

Em Efeso viveram até cerca de quinhentos mil cristãos. A cidade foi parcialmente demolida pelos próprios para se evadirem quando no século VII foram atacados pelos árabes. Levaram pedras e tudo o mais para próximo dali numa colina onde construíram uma nova cidade: Fortaleza.

Pois então: nós estivemos em Efeso no dia de hoje e confesso que a achei mais surpreendente do que Roma e Pompéia. A cidade vem sendo restaurada por um consórcio de empresas multinacionais.

Há ruínas de um bairro inteiro onde viviam os ricos da época, a fachada quase inteira da Biblioteca em que se guardavam mais de vinte mil rolos de pergaminho (livros), o mercado com suas colunas praticamente preservadas dando idéia onde ficavam as “lonjinhas”.

O grande teatro com capacidade de 25.000 assentos, onde não ocorreram somente concertos e peças, mas abrigaram o debate de temas políticos, filosóficos e religiosos, além de lutas de gladiadores e animais.

Com muito esforço lembrei-me das aulas de História Geral, quando em criança. Sempre achei aquilo obra de ficção. Minha mãe tomava os pontos que eu decorava apenas para não tomar bomba em história.

Tá vendo? Hoje eu poderia ter aproveitado melhor a vinda a Efeso. Que nada, os fatos históricos continuam me importando muito pouco, o que contou para mim mesmo foi meu coração ter disparado quando passei pelas roletas de controle da cidade milenar, palco de um sem número de experiências humanas inenarráveis.

Agora, enquanto concluo este post, em um quarto do hotel onde estamos instalados em Kusadasi dois sons: o do marolar do Mar Egeu e o do alto-falantes de uma mesquita ao longe convidando seus fiéis.

Meu Deus, seja Quem for, meu imenso e eterno obrigado.

Até breve.


PUF


Algumas peças publicitárias apelam para a idéia de que a satisfação nos leva às alturas. Hall’s, Kolynos, Red Bull. Então, voar em um balão é isso: uma fantasia. Não há nada emocionante, zero de adrenalina.

Afora pelas baforadas de fogo para enchê-lo de calor, o silêncio é total, especialmente com turistas nada brasileiros a bordo. Coisa para aposentados ou mote para histórias infantis. Taí: eu vou contar para Liz que um dia o vovô viajou em um balão.

“Teve um dia que o vovô tava viajando de balão aí anoiteceu e ele teve que ficar estacionado na lua, só voltando para casa no dia seguinte. Aí quando ele chegou, a vovó ralhou brava com ele porque ele num tinha avisado onde ia. Aí o vovô falou prá vovó que tinha dormido na lua e a vovó disse que ele era doido, como ele pode ter dormido na lua sem ter levado nenhum agasalho.
- E faz frio na lua, vovô?
- Fazer frio faz, mas o vovô achou um pedacinho de sol e ficou dormindo debaixo dele até demanhãnzinha.”

A coisa é tão manera que eu tirei uns cochilos a bordo. Estava exausto da correria da viagem. Só não dormi de verdade porque eu me esforcei para ficar acordado. A gente fica de pé dentro da cabine (cesto), então é mais difícil dormir e sonhar que está voando em um balão. Acho que para o João Gallo seria perigoso.

A chegada dá até um frisson leve porque os caras estacionam a coisa sobre um reboque. É até bacaninha o pouso, bem calculado.

Tá bom, tem a paisagem vista de cima, a alternância de altura sim, mas é só. Muito organizado, o piloto era inglês, mil cuidados. Nada de aventura, gente aflita, mulheres desmaiando, dando gritinhos de horror, homens falando que no último vôo cruzaram da Ilha de Galápagos ao Havaí.

E se lá em cima fossemos obrigados a lançar fora sacos cheios de areia para reduzir o peso, trocar o cilindro de gás, pois a válvula sofreu uma avaria? Quem sabe um pássaro furasse a lona (?) e a coisa se rasgasse e tivéssemos que pular de pára-quedas.

Epa! Eu não vi pára-quedas a bordo.

Putz, agora eu fiquei com medo. Essa será a primeira e única vez que vou virar personagem em histórias envolvendo vôo em balão.

Enfim, voar em um balão é como esse post: uma folia.

Até breve.


terça-feira, 24 de abril de 2012

HÁBITOS



Na verdade a coisa não aconteceu bem assim. A história relatada por Pedri dá conta de que quem primeiro teve a idéia foram aqueles que procuravam esconderijo dos coletores de impostos e isso nos idos do século II. Isso mesmo século dois. Pode ser uma boa idéia, mas eu não recomendo a alguém fazê-lo nos dias que correm.

Visitamos hoje uma cidade subterrânea que em 1965 foi transformada em Museu e, em 1985,Patrimônio da Humanidade.

A Capadócia é uma região que se distribui em duzentos quilômetros de perímetro com densidades mais expressivas dessas cidades subterrâneas mais ao centro. Foram catalogadas trinta e seis cidades e mais de cem túneis de intercomunicação entre as mesmas. Estes túneis serviam também para desorientar os inimigos. Construídos com altura baixa, largura estreita e diferentes pontos de estrangulamento para evitar a invasão em massa dos inimigos.

Acima das cidades, na parte externa, eram construídos os cemitérios. Ninguém poderia imaginar que pessoas vivessem abaixo de seus mortos.

Cozinhar somente à noite para que o inimigo não fosse capaz de perceber a fumaça que saía dos fornos e exalava por diferentes pontos.

Pedri nos disse que os cristãos da época eram extremamente conservadores. Faziam duas refeições diárias e tomavam banho uma única vez por ano.  Lembrei-me das queixas de minha mãe e hoje eu não entendo porque ela reclamava tanto de meu pai se ele tomava banho todos os sábados, portanto uma vez por semana. Meu pai nunca foi mesmo um bom cristão.

Visitamos também igrejas, algumas construídas no século X, restauradas recentemente. Pareceu-me o ponto mais alto do passeio até aqui. É mesmo inestimável a contribuição da igreja, inclusive a ortodoxa, para as artes. Nos templos subterrâneos encontramos afrescos interessantíssimos e com muito rigor estético, simetria e cor.

Pudemos ter uma visão bem ampla da vastidão da área já que fizemos um vôo de balão pelas redondezas e o equipamento nos aproximava bastante das edificações. Gostei do documento que me pediram para assinar onde declarei: que gozo bem de saúde física e mental, que não faço uso de álcool, que estava de acordo em seguir as instruções do piloto e que eu não estava interessado em suicidar-me, entre outros.

No final do dia Pedri nos levou a olarias, tapeçarias e joalherias artesanatos e indústrias típicas da região. Nada diferente dos patrícios da Santos Dumont, da Caetés, da Paraná, da Rio de Janeiro e adjacências. Cá como aí os bichos são muito espertos a ponto de terem aprendido o português rapidamente face ao incremento do turismo brasileiro.

O preço começa com 100, mas como eu sou o melhor cliente que já passou pela Capadócia ele vai fazer por 83, o governo turco subvenciona e cai para 75, ele está disposto a pagar os 6,5% que está sabendo que o Brasil está cobrando por compras no exterior, cai para 69, faz em cinco vezes no Visa e no Mastercard, põe o produto dentro de minha casa sem ônus de frete, taxas de importação. Eu ofereço 50 para não levar. Ele diz que vai chamar o dono do loja que chega dizendo em inglês que não fala português. Eu digo que topo levar por quarenta, mas que o rapaz que está me atendendo não quer fazer a venda. Salseiro geral.

É que eu vim aqui para levar outras coisas.


Eu volto.


FUGA


Desembarcamos as 10:30 em Istambul tendo deixado Barcelona as 06:00. Agora, somente Ela e eu já que Fá e Lé foram para Paris.

Na porta de saída do acesso de passageiros que deixavam o avião para dirigirem-se ao terminal de desembarque encontramos uma jovem do receptivo nos esperando com uma tabuleta onde estava escrito o meu nome. Ela estava acompanhada por um colega de agência que nos levou em um carro elétrico aeroporto adentro até a esteira de bagagens. De lá para o terminal de embarque doméstico com destino a Kisaraki, na Capadócia.

Já na pista, quando nos preparávamos para subir as escadas do avião vi um rapaz com uma tabuleta com o meu nome. Era Predi, o nosso guia que ficará conosco ao longo de toda a nossa estada em Turquia. Predi é turco e fala fluentemente o português.

Chegando em Kisaraki, uma van Mercedes-Benz nos aguardava. Do aeroporto mesmo iniciamos nossa breve, porém intensa, experiência pelo mundo oriental.

Durante dez milhões de anos a região da Capadócia viveu inúmeros vulcões ativos o que configurou a região com características geológicas muito especiais. Praticamente toda a extensão tem duzentos metros de altura de massas vulcânicas. Por esta razão o solo é esponjoso e com o passar dos milhares e milhares de anos de precipitações de chuvas foram se formando crateras e diversos rios subterrâneos.

Antes do século VII, a sociedade não contemplava a estrutura familiar. O mundo era pagão. Os homens podiam casar com tantas mulheres quisessem e as mulheres com tantos homens que quisessem. As riquezas eram depositadas nos templos de época e os seus integrantes emprestavam esse dinheiro a juros. As mulheres se prostituiam para atender à deusa da fertilidade. Maomé entrou na história para acender a luz do bordel e trazer a moralidade.

Determinou-se que cada homem poderia, a partir dalí, casar-se com uma única mulher. Ele mesmo não seguiu a idéia já que, aos sessenta anos, tinha no seu harém quatorze.

Eram necessários escravos e os árabes elegeram os cristãos para perseguir e escravizar. Estes, por sua vez, trataram de se evadir e foram encontrar esconderijos exatamente na região da Capadócia. Construiram inúmeras cidades subterrâneas com moradias e seus templos. Foram construídas mais de seiscentas igrejas abaixo da terra. Alí permaneceram do século VII até 1082, portanto, durante quase quatro séculos. Em 1982 foi instaurado o primeiro império bizantino e junto com ele o renascimento do cristianismo.

Pedri nos perguntou se sofríamos de claustrofobia. Respondi que não, sem muita convicção. Pois é, o tour de hoje foi sobre essas edificações. Coisa de doido. A temperatura a sessenta/setenta metros de profundidade varia o ano todo entre 14 e 16 graus centígrados, seja no inverno ou no verão, o que permitiu aos fugitivos que ali formaram gerações a sua reserva agrícola, água e outros víveres. Também é interessante o fato de que dentro dessas cidades cavernas não entravam nem insetos e nem serpentes. E não me perguntem por que.

Então, o que diabos tem a ver esse danado deste post? Acho que é porque durante os últimos dias eu estava vasculhando perto dos anos 1880 a história do meu avô paterno e deparei-me hoje com o século VII.

O que vale nesse tour é a constatação, assim como no Peru, da imensa capacidade do homem em buscar meios para manter sua sobrevivência e suas convicções.





Eu volto.

domingo, 22 de abril de 2012

SANGUE III



Raül, amigo do Lé, é catalão. Ruben, seu irmão foi quem o ajudou a comprar os ingressos para que eu e meu filho pudéssemos estar ontem no Camp Nou para assistir Barcelona e Real Madri.

No estádio, um vizinho de assento interpelou-me querendo saber como eu havia conseguido o ingresso para estar naquele lugar. Ruben tem um amigo que trabalha na instituição. Sim, porque mais do que uma paixão ao futebol ou a um clube, é uma arena em que se procura explicitar a identidade secular de um povo que clama, e pacificamente, por sua liberdade.


Somente os “abonados” (associados) podem ter acesso ao estádio e são hoje cento e cinqüenta mil pessoas. Camp Nou tem noventa e oito mil lugares o que vale dizer: há mais credenciados do que espaço na arena.


Senti um fio de dor ali. As bandeiras sobre as costas de alguns, com a estampa de uma estrela e listras em amarelo e vermelho, flamulando o desejo de liberdade. Em 1714 a Catalunha perdeu a guerra para Felipe V, Rei de Espanha e desde lá passou a pertencê-la.


Raül nos disse que está esgotada a capacidade da Catalunha carregar a Espanha. Toda a produção de riqueza está nas cercanias cujo centro é Barcelona. Madri, por outro lado, consome.


Já não há mais condições de bancar o princípio do “bem-estar social”, incluso aí o de seus imigrantes. Há incentivos do estado para aqueles que, sem ocupação ou desempregados, deixem o país. Ainda assim eles permanecem.


Para mim seria necessário muito mais tempo para poder entender o que se passa em Espanha.


Em 1978 na final da Recopa (disputa entre os melhores times de futebol europeus) que ocorreu na Basiléia, Suíça, não havia no estádio nenhuma bandeira do time do Barcelona, apenas da Catalunha.


Experienciar, ontem, junto as mais de noventa mil pessoas, da formação do mosaico de cores, levantando um dos cartazetes ao som do hino do Barça, fez parte da emoção de me sentir integrado à proposta catalã: SOM I SEREM, cuja tradução livre para o português seria: SOMOS E SEREMOS.


O final da partida em que Madri saiu vitoriosa (Cristiano Ronaldo, um português, marcou o tento que calou o estádio e foi para próximo às arquibancadas fazendo gestos sinalizando para que a torcida se aquietasse) me pareceu simbólico. O estádio em peso e com maior intensidade levantou-se e cantou novamente o hino do Barça.


Hoje, pela manhã, Raül e Ruben acompanhados por Alberto (outro amigo) nos pegou para visitarmos o Mosteiro de Montserrat, quarenta e poucos quilômetros de Barcelona. Depois nos levou à Alcarraz, cidade onde vive com esposa (super simpática) e sua filhinha maravilhosa. Fomos almoçar com a família dele que é proprietária de um restaurante na cidade. Lá estavam ainda a irmã mais nova de Raül, Joel (outro amigo do Lé) sua  super simpática esposa e sua filhinha maravilhosa, além naturalmente dos pais de Raül.


São oportunidades ímpares que a vida nos reserva. Fomos recebidos com imenso carinho e atenção por todos. Eu pude conversar um pouco com José Solis, pai  de Raül, que há vinte e três anos atrás deixou uma grande empresa espanhola que o obrigava a inúmeras viagens, mantendo-o distante de casa. Ele, na época, optou pela família e montou o restaurante em Alcarraz.


Na conversa com José Solis surgiu o assunto de descendências e ele me garantiu que Agulló é catalão e pertenceu, nos primórdios, a uma linhagem de artistas e arquitetos.


Esta é uma das inúmeras razões que me farão retornar, com mais tempo, a Barcelona, Alcarraz e, sobretudo, a Torrellano Bajo.



Até breve.

















sábado, 21 de abril de 2012

SANGUE II


Vastas emoções e sentimentos imperfeitos. Fuso horário, viagens em avião, trem, automóvel e inúmeras andanças a pé devem ter obnubilado registros relevantes do dia de ontem.

Por exemplo: as mãos de Carlos, que para o Lé, fizeram-no lembrar das mãos de seu avô, meu pai. Eu mesmo que, a partir de determinado momento da visita não conseguia olhar para Paquita sem lembrar-me de minha irmã caçula.

Sangue.

A casa que meu tio Carlos construiu em Torrellano Bajo guarda, basicamente, as mesmas características daquelas que ele ajudou seu pai, meu avô, a construir em Belo Horizonte, na Rua Monte Carmelo no bairro da Floresta, anos antes de retornar para a Espanha. Ocorreram momentos da nossa visita em que me lembrei de passagens de minha infância, vividas naquela casa de meu avô.

Sangue.

Nada muito organizado, planejado, determinado para se compreender uma árvore de gens e lógicas. Assim, apenas, um verter-se pelas entranhas da história. E, quem sabe, em algum vasto sítio, encontrar-me.

Escrevo este post embarcado em um trem que nos levará de Valência à Barcelona. Nos ouvidos o fone do serviço de áudio da companhia ferroviária através do qual escuto em um poema de Braz Munhoz Pizzarro, Estação Terminal, um de seus versos:

“Um homem precisa acreditar para onde quer ir.” 


Até breve.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

SANGUE


Viemos de Barcelona ontem à noite de trem. Valência é uma belíssima cidade e a terceira, em importância, da Espanha. Em 1957 ocorreu uma enchente que fez transbordar o rio que cruzava a cidade. A água subiu até o quinto piso dos edifícios próximos vitimando mais de duas mil pessoas. O governo desviou o curso do rio e, em toda a sua extensão (quase dez quilômetros), construiu parques e locais para o lazer e ócio das pessoas. Uma beleza.

Hoje alugamos um carro e por volta do meio-dia chegamos à Elche. Orientamos-nos pelo GPS colocando como direção uma rua com o sobrenome Agulló. Chegamos a rua cadastrada e próximo a ela me deparei com uma loja de eletrodomésticos. Na placa: AGULLÓ GUILLÓ. Entrei na loja e perguntei sobre o proprietário. Fui informado que aquela era uma de várias outras lojas pertencentes a uma cadeia e que El Chefe aparecia muito raramente. Hoje ele não estava.

Resolvemos então seguir a orientação trazida por mim do Brasil: Torrellano Bajo, polígono um, número sete. Torrellano é um distrito próximo a Elche e encontramos alguma dificuldade em localizar alguém que pudesse nos informar sobre o nosso destino. Uma simpática e gentilíssima senhora, dona de uma floricultura em Elche, fez com que nós a seguíssemos em seu próprio carro até a zona rural onde meu tio Carlos (irmão do meu pai) construiu uma modesta casa e lá viveu até morrer deixando o filho Ramon Lopez Sempere (o mesmo nome do meu avô) que veio a se casar com Tonica.

É uma propriedade de dez mil metros quadrados, praticamente toda plantada com diferentes árvores frutíferas. A casa fica a uns cinqüenta metros da cerca onde há um pequeno portão de entrada e, em uma das laterais, outro para entrada de automóveis.

Desci do carro sem saber como seríamos recebidos. De dentro da casa saiu um senhor que rapidamente voltou para dentro da casa. De repente surgiu uma senhora com os cabelos desalinhados trajando, sobre a camisa de mangas e calça compridas, um surrado avental.

- “Tonica?” Perguntei à senhora.

- “Eu te mato!” Gritou a mulher, surgindo entre árvores do pomar, gesticulando as mãos nervosamente.
Ela veio ao nosso encontro, abraçou-me, forte e efusivamente, e repetiu:

- “Eu te mato! Se você não viesse... já tinha telefonado hoje duas vezes para o Brasil... E nada!”

O senhor que aparecera no primeiro momento veio também ao nosso encontro. Carlos, o filho mais velho de Tonica. Pouco depois chegaram a filha de Tonica Paquita, acompanhada pelas suas filhas adolescentes, Núria e Sandra.

Nunca havia estado com todas essas pessoas. Não sabia nada sobre elas, apenas a relação de parentesco. Eu havia falado, por telefone, com Tonica uma única vez há vinte ou vinte e poucos dias atrás. Na conversa disse a ela que estaríamos em Elche no dia de hoje. E nada mais.

Meia-hora depois que havíamos chegado a Torrellano Bajo parece que éramos todos próximos.

A mesa foi posta com uma pata de jamon, castanhas de caju, amêndoas, cerveja, refrigerantes e outros. Almoçamos juntos. Conversamos acaloradamente, brindamos o momento mais de uma vez.

No final da tarde chegaram Evaristo e Maria Virginia. Evaristo Agulhó Agulhó ( assim mesmo: duas vezes o mesmo sobrenome), casado com Maria Virginia, tem sessenta anos e é neto de um irmão da minha avó Manoela. Da mesma forma, parece que havia alguns dias apenas que não nos víamos. Desses nós não tínhamos a menor referência.

Por volta das cinco horas, quando nos despedimos, reparei os olhos marejados de Tonica, Carlos e Paquita. Evaristo fez questão que nós o acompanhássemos até o centro da cidade onde ele tem uma loja de pneus. De lá fomos a uma cafeteria. Conversamos ali por mais uma meia-hora. Levantei-me sozinho e fui até o caixa pagar a conta. Havia ali três moças, garçonetes da cafeteria. Uma delas me perguntou:

- “Ah, então você que é o primo de Evaristo que mora no Brasil?”

Já na estrada, voltando para Valência, comentamos (Lé, Fabiana, Ela e eu) que tudo o que aconteceu hoje em Torrellano Bajo foi de uma importância sem precedentes para aquelas pessoas com as quais passamos algumas horas do dia. Todas, e com igual intensidade, nos aguardaram mesmo para lançar sobre nós um imenso carinho e hospitalidade.

Até breve.






NUVENS


Tem algo que merece ser manifesto. Um hiato. Entre um tempo em que se construiu e outro a construir. O primeiro veio de vácuo. O segundo tem, ainda que não sabido quando, um término.

De momento, duas forças: uma de impulsão outra de moderação, quase temor.
Impulsão de um desejo já trazido aqui como quase clandestino: o universo da linguagem, do mergulho sobre letras.

Moderação, quase temor, para se colocar o juízo a favor do lado prosaico e material da existência: a subsistência.

Escrevo cruzando aéreo de Lisboa a Barcelona.

Sinto minha vida, no momento, como um vôo. Um hiato. De um lugar a outro.

Embora não se possa ou talvez não se deva precisar o outro lugar (“Pelejar por exato dá erro contra a gente. Não se queira, viver é muito perigoso.” Para Guimarães Rosa) ou (Navegar é preciso, viver não é preciso.” Para Fernando Pessoa) procuro uma carta náutica.
A questão é: para que porto?

Hoje estamos no dia 19 de abril de 2022. Liz estará completando, daqui a quatro meses, dez anos de idade. Tem irmãos e primos, desejados e amados tanto quanto. Meus livros são relativamente bem aceitos pela crítica, gozam de boa distribuição o que resulta em uma boa gama de leitores.

Sou demandado para palestras para temas relacionados à minha obra. Preparo outro livro que será publicado em 2025. Mas, puxa, sinto-me em um hiato. Como será recebido esse meu próximo livro?

Ah, a tarefa de ser! 
                
A vida está adiante como o ato de andar, às vezes, nas nuvens.

Santa angústia!             


Até breve.  


terça-feira, 17 de abril de 2012

BAJO



Amanhã embarcamos (Lé, Fá, Ela e eu) para mais uma viagem. À noite, vôo Beagá/Barcelona, com escala em Lisboa. De Barcelona pegaremos um trem (composição ferroviária sobre trilhos) até Valência. Dormiremos em Valência.

Sexta-feira vamos para Torrellano Bajo, P1, número 7, que fica nos arredores de Elche. Visita à Tonica, oitenta e poucos anos de idade, filha de meu tio paterno Carlos. Dizem louca de jogar pedra em aviões. Vamos nos dar muito bem, com toda certeza.

Sábado voltamos para Barcelona. Às vinte horas estaremos Lé e eu no Camp Nou para assisitir Barcelona e Real Madri pelo Campeonato Espanhol. Fá e Ela triturando cartões ou eurrores.

Domingo permaneceremos em Barcelona.  Almoço com Raul (amigo do Lé) e familia.

Segunda-feira Lé e Fá seguem para Paris. Ela e eu vamos para Istambul, Turquia. Embarcamos, imediatamente, no próprio aeroporto para Capadócia.

Terça-feira passeio de balão.

Quarta-feira voltamos para Istambul e, do aeroporto mesmo, vamos para Esmirna.

Quinta-feira vamos para Kusadasi.

Sexta-feira até terça-feira em Istambul.

Sinto que esse momento sugere um novo ciclo. Ficam para trás lembranças de momentos importantes, expressivos, de elevado significado.

O que está por vir?

Exposto que estou na rede, suponho que boa parte de todas as pessoas com as quais eu convivi até aqui na esfera profissional deve estar se perguntando: “Esse cara chutou o balde? Parou de trabalhar? Vive de brisa? Ganhou na loteria? Cuméquipode?”

É o seguinte.

Tenho uma herança de projetos realizados com sólidos resultados e de impacto em ambientes organizacionais. Trocentas pessoas que viveram comigo aprendizados. Aproveito para registrar que estou a serviço e pretendo manter-me, sem neuras.

Tenho uns trocados guardados que dão para a bóia. Alguma riqueza econômica com liquidez financeira de médio prazo para eventualidades e para custear até a decrepitude.

Mas não é isso que conta para mim agora.

Ao longo de todos os meus amados sessenta anos vivi embalando um desejo, quase clandestino: de fazer o que estou fazendo agora. O quê? Elaborar a vida a partir da linguagem. Tirar das letras, se necessário, minhas vísceras e compreender-me. Tenho agradecido todos os dias atuais por este privilégio, o de poder parar e perguntar: e daí?

Ao longo do último final de semana estive olhando para o tempo. Estava em Santa Luzia. E senti quanto eu gosto de abril. E descobri o outono. O céu anil, a vegetação verde de um verde diferentes dos outros verdes de outras estações. Um verde vivo, mas que se amarela, gradual e lentamente até chegar à época da queda em folhas.

Lembrei-me de Nietzsche: “Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza.”

Simples, assim. Há muita gente, há muitos anos, que não olha para o céu.

E, de quebra, lembrei-me de Camus: “Outono é outra primavera, cada folha uma flor.”

Virá em agosto. E de lis.


Até breve.

domingo, 15 de abril de 2012

DUO



Hoje falaremos sobre dois temas correlatos: vida e morte. Quem falaremos? Eu, propriamente, e esse Outro com quem compartilho minhas descobertas e um projeto, advir.

Ando pelas ruas, às vezes, trajando uma camiseta preta (hoje já bem surrada) que eu trouxe de Atenas. Nela há uma inscrição em grego em letras maiores do que as da tradução em inglês.

Adoro quando estou em restaurantes, comércio ou mesmo nas paradas de sinais para pedestres e percebo pessoas querendo ler o que está escrito. Certa vez, numa loja, uma senhora parou frente a mim e tentou ler apontando para cada palavra. “Não entendi nada.” Ela me disse, curiosa. E eu a deixei continuar não sabendo.

Ontem, conversando com um executivo de uma empresa de energia, ele comentou que nós devemos carregar pela vida uma mochila aonde vamos colocando nossas lembranças e nossos sonhos, em quantidades bem próximas. E é muito importante que não percamos a equidade de volume de um em relação ao outro. É provável que o número de sonhos se reduza na medida em que o tempo passe e que se adensem as lembranças, o que não é nada bom.

Mais adiante na conversa, já havíamos mudado de assunto algumas vezes, ele me disse que havia perdido a sua mãe recentemente. Há alguns meses atrás, ele havia perguntado a ela o que era importante. A mãe, aos noventa e quatro anos de idade, respondeu:

- “NADA!”

Assisti esta semana uma entrevista com um teólogo/filósofo sobre a fé. Ele elaborou o tema não só a partir da perspectiva religiosa, mas em um sentido mais amplo. Fé é aposta. Algo que precisamos ter presente enquanto possibilidade, desejo, apoio, esperança, refúgio, escape, compreensão.

O Outro, com quem compartilho minhas descobertas, não padece. Sempre esteve presente para ele que é tolice a procura, pois está posto. Ninguém dará conta da questão essencial: de onde e para onde?

Na camiseta a tradução para o inglês da inscrição em grego está:
“THE ONLY THING THAT I KNOW IS THAT I DON’T KNOW ANYTHING” (SÓCRATES)


Até breve.