domingo, 29 de abril de 2012

KARMA


Ontem nos despedimos de Pedri. Ele, pelo programa traçado com a agência, deveria ter ficado conosco hoje também. Ele nos propôs e nós aceitamos que, por força de uma corrida de bicicletas que ocorreu no dia hoje, que fechou para o trânsito de veículos várias ruas da cidade, não convinha fazer os passeios programados. Assim visitamos ontem mesmo. Uma maratona.

Ficamos com o dia livre para construirmos o nosso próprio roteiro.

Estávamos no saguão do hotel logo depois de terminarmos nosso café da manhã e encontramos com um casal de Campinas com quem havíamos cruzado, ontem também, no café da manhã.

Hamilton veio com Ana comemorar seus setenta e seis anos de idade. Faz musculação, tênis em quadra de saibro, é presidente da Confraria dos Ariranhas e tem um ego inflado. Ana é simpaticíssima e tolera esse sujeito há mais de quatro décadas. Logo, logo, digo porque.

Eles estavam esperando a guia que os levaria para um tour. Como nós já havíamos trocado mais de dez palavras perguntamos se poderíamos acompanhá-los.

Cláudia é brasileira, casada com um turco dono da agência onde ela trabalha. Veio para a Turquia, definitivamente, em 1982.

Não existe acaso. Existe sorte. Num é que deu jogo. Fizemos juntos, os cinco: Cláudia, a guia; eu, Ela, Ana e o Ariranha um dia inesquecível. Não me perguntem onde fomos, pois não tem a menor importância para este post. Sobre a magnífica Istambul falo depois.

Ao longo do passeio, noventa por cento do tempo a pé, produzimos com refinado gosto e magistralmente conduzidos por Cláudia, um roteiro em que trocamos histórias algumas muito pessoais como se fossemos e de há muito grandes amigos. Quantos filhos, o que fazemos, quantos netos.

Em uma fila, enquanto aguardávamos para visitar um dos inúmeros pontos turísticos, relatamos como cada um conheceu o seu par. Cláudia conheceu Sílvio em 1977 quando veio a Istambul pela primeira vez. No segundo dia da sua estadia fez um tour com um guia que a assediou desde o primeiro momento que bateu os olhos sobre ela. Ela resolveu, então, naquele mesmo passeio mudar de grupo e foi encontrar como guia um cara mal humorado e antipático o que a fez optar pelo assédio do guia do grupo anterior.
Terminado o tour Sílvio, o guia afoito, convidou-a para jantar. Naquela noite ela lhe deu o seu endereço no Brasil e ele disse que iria casar-se com ela. Cinco anos depois eles estavam juntos e vivendo em Istambul.

Hamilton tinha vinte e dois anos e Ana dez. Ele trabalhava em uma cidade do interior paulista e ficou amigo da família de Ana. Um belo dia essa menina fez quinze anos e ele resolveu investir. A vida movimentou caminhos, eles namoraram e desnamoraram por força de mudanças de endereço tanto dele quanto dela até que um dia ele tomou coragem e partiu prá cima: pediu a ela para morarem no mesmo endereço para o resto de suas vidas.

De mim e d’Ela, muitos de vocês sabem como rolou nosso encontro em inúmeras passagens blog afora.

Passava das sete horas da noite quando retornamos para o hotel, tendo nos despedido de Cláudia na estação do metrô. Hamilton e Ana nos convidaram para tomar um café em seu apartamento. Tomamos o café e resolvemos seguir conversando. Fui ao nosso quarto e busquei uma garrafa de vinho (*), brinde de boas vindas do hotel.

Hamilton é um sujeito figurinha carimbada. Em toda história que ele conta ele é o protagonista e dá a maior ênfase nos seus feitos, que não foram poucos: derrubou candidatura de prefeito, incendiou cinema porque o dono não aceitava que os estudantes pagassem meia-entrada, planejou e construiu o clube da AABB de sua cidade, ganhou viagem com acompanhante pelo performance em noite de baile em Punta Del Leste.

Ana disse que quando ele acorda pela manhã ele vai para o espelho e fica se admirando e fazendo elogios. Cada história que ele contava Ana interpelava-o dizendo:
- “Olha o ego... Olha o ego.”
Teve um momento que Ana nos perguntou se nós estávamos confortáveis, pois todo o espaço estava sendo ocupado pelo seu marido.

Aí eu pensei: vou bater de blog para trucá-lo. Li o post DOIS, porque ele havia acabado de falar de Mel sua netinha de seis anos de idade. Logo depois de eu ter terminado de fazer a leitura no ipad de Ana, o ariranha saiu com essa:
- “Eu sou artista e você é escritor e as duas não são nada!”

No fundo sinto que gosto há muito tempo de ambos. Vamos seguramente estreitar relacionamento, até porque um dos dotes do figura é saber fazer churrasco. Na AABB começou a fazer esporadicamente uns espetinhos para a turma do tênis. Hoje já são sessenta sócios de carteirinha da Confraria dos Ariranhas.

Hamilton tem um apelido: COBRA. Só conhecendo de perto para entender porque.

Até breve.

(*) O nome do vinho é KARMA.

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