domingo, 1 de abril de 2012

PRALAVRA


Ontem a vida me deu mais um presente.

Conheci um homem que fará, no próximo mês de maio, oitenta e sete anos de idade. Engenheiro, construiu um patrimônio inestimável: oito bisnetos e um dos netos, o mais velho, tem trinta e sete anos.

Dez minutos depois que ele me foi apresentado pedi que me dissesse, em uma única palavra, o que é viver oitenta e sete anos.

- “Uma única palavra?”
- “Sim, uma única palavra.”
- “Ah, eu não sei... Eu não vou conseguir...”

Um dia depois de se formar, aos vinte e três anos, teve assinada sua Carteira de Trabalho, um de seus maiores orgulhos.
- “Fiz desde cedo minha independência.”

Saiu de casa e de sua cidade e foi morar em uma pensão em Tumiritinga para começar a sua estrada vitoriosa. Ganhava uma fortuna, algo como três mil e quinhentos contos de réis. Pé de valsa, trabalhador, excelente partido.

Uma noite estava em um baile quando um casal lhe apresentou a filha: uma menina de quinze anos de idade.
Tumiritinga era abastecida por energia produzida por gerador a diesel em horários pré-estabelecidos. Algo como vinte e uma, vinte e uma horas e trinta minutos, a cidade ficava às escuras. Foi em uma dessas oportunidades que ele partiu prá cima daquele que veio a ser o seu sogro e pediu a menina em casamento.

Foi para o Paraná, levando sua paixão.
- “Aos dezesseis anos ela era a única mulher no acampamento.” Apenas para ir dizendo a única palavra que poderia traduzir a sua vida.

- “Eu construí nossa casinha... de madeira... o banheiro era lá fora... fossa... cal...”

De vez em quando ao longo das três horas que ficamos juntos eu lhe lembrava do meu pedido.
- “Ah, a palavra... Eu sei lá!”

Minha insistência tinha um endereço. Estou determinado a não perder um instante sequer para entender a vida e estar diante de um sujeito como o de ontem amplia em muito a minha compreensão.

- “O meu passado, o trabalho, a mulher com quem eu fui casado... Eu acho que é isso...”
Até que, em dado momento, ele ficou com os olhos marejados e disse aliviado:

- “AMAR!”
- “Amar?” Perguntei, testando-o.
- “Sim, no sentido mais amplo. Amar o que você faz, sua esposa, sua família... Pois então, você tem a sua palavra: amar.”

Ele se diz abandonado pela esposa de quem o coração parou de pulsar quinze dias antes de eles completarem sessenta anos de uma aliança fascinante.

Essa parte eu não entendi.



Até breve.

4 comentários:

  1. E agora José? Esta palavra, tão falada, adentra à sua lavra. Espero ansioso pelo resultado, pois não se trata de um tema fácil.

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    1. Uai, e eu que achei que essa palavra permeia a todos os posts... De qualquer forma leia o post de amanhã.

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  2. Fala mais deste presente . . . Qual a sua palavra aos sessenta ?

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    1. Vamos estar juntos novamente no sábado. Se rolar, lavro, OK?
      Minha palavra para os sessenta? Postei FLOR no dia do meu aniversário, portanto, minha palavra não poderia ser outra: LIZ.

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