domingo, 15 de abril de 2012

DUO



Hoje falaremos sobre dois temas correlatos: vida e morte. Quem falaremos? Eu, propriamente, e esse Outro com quem compartilho minhas descobertas e um projeto, advir.

Ando pelas ruas, às vezes, trajando uma camiseta preta (hoje já bem surrada) que eu trouxe de Atenas. Nela há uma inscrição em grego em letras maiores do que as da tradução em inglês.

Adoro quando estou em restaurantes, comércio ou mesmo nas paradas de sinais para pedestres e percebo pessoas querendo ler o que está escrito. Certa vez, numa loja, uma senhora parou frente a mim e tentou ler apontando para cada palavra. “Não entendi nada.” Ela me disse, curiosa. E eu a deixei continuar não sabendo.

Ontem, conversando com um executivo de uma empresa de energia, ele comentou que nós devemos carregar pela vida uma mochila aonde vamos colocando nossas lembranças e nossos sonhos, em quantidades bem próximas. E é muito importante que não percamos a equidade de volume de um em relação ao outro. É provável que o número de sonhos se reduza na medida em que o tempo passe e que se adensem as lembranças, o que não é nada bom.

Mais adiante na conversa, já havíamos mudado de assunto algumas vezes, ele me disse que havia perdido a sua mãe recentemente. Há alguns meses atrás, ele havia perguntado a ela o que era importante. A mãe, aos noventa e quatro anos de idade, respondeu:

- “NADA!”

Assisti esta semana uma entrevista com um teólogo/filósofo sobre a fé. Ele elaborou o tema não só a partir da perspectiva religiosa, mas em um sentido mais amplo. Fé é aposta. Algo que precisamos ter presente enquanto possibilidade, desejo, apoio, esperança, refúgio, escape, compreensão.

O Outro, com quem compartilho minhas descobertas, não padece. Sempre esteve presente para ele que é tolice a procura, pois está posto. Ninguém dará conta da questão essencial: de onde e para onde?

Na camiseta a tradução para o inglês da inscrição em grego está:
“THE ONLY THING THAT I KNOW IS THAT I DON’T KNOW ANYTHING” (SÓCRATES)


Até breve.

4 comentários:

  1. As vezes penso que é bom não saber tanto ou o tanto que tanto desejamos.. assim podemos ter "apostas", seja ela parte do imaginário ou de um projeto, ou quem sabe os dois nos fazem necessário nessa caminhada que denominamos vida.

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  2. Será que é melhor viver na ignorância?
    Por exemplo, um doente terminal que desconhece sua doença teria dias mais felizes que aquele que luta por conhecimento e ações contra a moléstia?

    Os ignorantes são fracos ou sábios?
    Entendo que Sócrates nos diz que quanto mais conhecemos acabamos percebendo o quanto somos pequenos, limitados. "Só sei que nada sei", representa o limiar da sabedoria, quando você percebe que há muito mais coisas por saber.

    É isso mesmo?

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