sábado, 29 de abril de 2017

SOLUCIONÁTICA



“A questão é que o Brasil não perdeu a Solução; o Brasil perdeu o Problema.”

Esta é uma das frases atribuídas ao luminar ex-Ministro Delfin Neto, autor de outras como “No Brasil tudo acaba em pizza” e “Não há nada que aconteça no Brasil que uma semana não apague”.

Pois é.

O Brasil, com seus quase 14 milhões de desempregados, parou ontem a título de Greve Geral. Nos últimos dezessete dias perdeu quatro dias úteis de trabalho, sendo três por feriados (sexta-feira santa, Inconfidência Mineira ou Tiradentes e Dia do Trabalho) e um, parcialmente, pelo movimento paredista.

O mote para a utilização do direito universal de cruzar os braços foi, em tese, a negação dos “trabalhadores” às Reformas do Estado nas Leis do Trabalho e as mudanças no sistema previdenciário.

Se há algo pouco conhecido pela expressiva massa de brasileiros é o Direito do Trabalho, que tem como uma de suas máximas: “In dubio, pró mísero”. Ou seja, na dúvida, a pendenga resulta a favor do pobre do empregado.

Provavelmente ou quase certamente, foi o que fez embaralhar as barbas da justiça trabalhista, afogando-a em zilhões de demandas de miseráveis, assessorados por adevogados remunerados sucumbentemente ou em parcelas extraídas de vis empresários, que não quiseram ou não souberam fazer acordos prévios.

Milhares de sindicatos, abertos formalmente como igrejas, cobrem ainda os pobres dos desassistidos com o manto da proteção, via contribuição sindical e dízimos. Somados aos descontos previdenciários, vale comida, transporte, creche, uniforme, assistência médica... O salário ó.

Trilhões de reais de renda do sistema produtivo, anualmente, esvaem-se em falcatruas institucionais, ineficiências do Estado, incompetência de gestão pública, e outras mazelas da base econômica nacional.

O problema é o Governo. Este último, então, nem me fale! Eleito em sufrágio universal, deposto constitucionalmente e tendo assumido o Vice, a massa que o elegeu atribui aos adversários o Golpe. Querem que o Vice que elegeram saia. Samba do crioulo doido.

O problema é a Mídia. Analistas de plantão acelerados, pelos meios tecnológicos mais sofisticados e de expedientes de manipulação, de todas as cores e matizes pilham com energia cósmica a esquizofrenia social. Patrocinam e amplificam a ideia de que a massa se polariza entre esquerda e direita. Teses arcaicas, caducas, do milênio passado.

O problema é a Justiça. O crime compensa. No emaranhado dos inúmeros dispositivos legais, chicanas processuais, negociatas, vendilhões do templo da justiça perpetuam a barbárie de criminosos públicos e privados. Mandam prender preventivamente e mandam soltar caltelarmente porque os réus, embora autores de crimes translúcidos, ainda não foram devidamente julgados pela corte específica.

O problema é o povo. Pela sua miséria educacional, intelectual, cívica, moral e pelas suas síndromes as mais diversas.

No mais das vezes a Solução encontra-se no Problema, como o perdemos...

Na semana que vem, depois do feriado, o país volta. Ninguém se lembrará da Greve Geral, Eike será solto abrindo jurisprudência para que os demais também o sejam e, Lula, não será preso (embora seja o que ele mais queira), por razões óbvias.

Mas há sinais de melhora evidentes. Melhorais para cânceres.



Até breve.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

COISAS




Estive, no final da semana passada, em Diamantina.

No início da rua onde Juscelino Kubistchek viveu há uma igreja, a de São Francisco, suponho. Ao lado, um largo onde instalaram uma estátua do ex-presidente e, aos pés dela, uma praça.

Pois bem, ao lado da igreja há uma grande placa informativa de uma obra para restauração da praça. Valor: pouco mais de R$787 mil. Início das obras: junho de 2016. Término das obras: dezembro de 2016.

O atual prefeito da cidade atende pelo nome de Juscelino.

A obra está parada, o dinheiro já foi todo gasto, e o custo estimado seria de uns R$300 mil para fazer muito mais do que projetado. Há transtornos no local para veículos e pedestres. Inclusive turistas desavisados.

À noite, quase não se vê a estátua do amante de Peixe Vivo.

Pois é.

Há, na edição eletrônica de hoje do Estadão, um paralelo emblemático. A notícia da aprovação da reforma trabalhista e um artigo de Guy Perelmuter, no qual ele afirma que a Internet das Coisas irá gerar mudanças comparáveis à invenção da telefonia móvel e da própria Internet.

Em um trecho do artigo ele informa:

“Governos, consumidores e indústrias se depararão com um vasto conjunto de novas alternativas que irão permitir mudanças substanciais em uma série de processos, serviços e produtos. A General Electric, em um relatório publicado no final de 2012, estimou que nas próximas duas décadas o PIB global pode aumentar em até US$ 15 trilhões com o aumento de eficiência, produtividade e economia que será viabilizado com a conexão das máquinas industriais à Internet. Para se ter uma ideia do que isso significa, o PIB dos Estados Unidos em 2015 foi de pouco mais de US$ 18 trilhões.”

Sexta-feira, dia 28 de abril, amanhã, está anunciada uma greve geral. Dizem que é porque os trabalhadores temem (sem trocadilho) perder os seus direitos.

O depoimento do homem mais honesto do planeta ao herói nacional foi adiado para o dia dez de maio e o julgamento da chapa Dilma/Temer para a segunda ou terceira semana do mesmo mês.

Bruno voltará (?) para a cadeia, assim como Adriana Ancelmo (?). ?

Dia 01 de maio, uma segunda-feira, é feriado. O terceiro em dias úteis no período de 17 dias.

Há dúvidas profundas.

Se Juscelino embolsou para construir Brasília. Se Juscelino embolsou para recuperar a praça de Juscelino.

Se Bruno mandou esquartejar, queimar o corpo e jogar os restos da menina aos cães. Ou foi Macarrão?

Se Adriana Ancelmo, presa, trará consequências irreversíveis aos filhos menores.

Se Curitiba suportará o evento da década.

Se os mesmos eleitores que elegeram Dilma elegeram Temer e se o golpe foi dado pelo outro candidato e seus comparsas.

Enquanto isto, a Internet dá as Coisas.



Até breve.

domingo, 16 de abril de 2017

UTOPIR



CARTA ABERTA AOS INTEGRANTES DO CONGRESSO NACIONAL

Dirijo-me a todos os deputados federais e senadores de todos os partidos revestidos do mandato pelo sufrágio universal outorgado pelo povo brasileiro.

Assumam, e agora, o protagonismo de uma revolução sem precedentes na história nacional. Mudem o modelo que durante décadas pautou a conduta política de nossos representantes.

Liderem os demais poderes, a sociedade civil, a mídia e todos os mecanismos formadores de opinião para uma tarefa inadiável e redentora da nação.

Votem, em caráter de urgência urgentíssima, a instalação de Assembleia Nacional Constituinte, que, no prazo de 12 (doze) meses deverá promulgar uma nova estrutura político/partidária a ser adotada pelo país.

Unam-se a todas as pessoas de boa vontade e com o maior espírito público competência jurídica e administrativa para construírem, a um só tempo, o arcabouço legal e as condições políticas para o advento de uma nova era para a nação brasileira.

Façam-nos acreditar no país. Façam-nos acreditar em nós mesmos quando os escolhemos para nossos representantes. Não traiam a confiança que milhões de brasileiros sempre depositaram nos senhores.

Vossas Excelências têm o privilégio de poderem fazer o que precisa ser feito.

Esta carta está sendo endereçada no domingo de páscoa e não é apenas por força de um acaso. Etimologicamente, o termo Páscoa se originou a partir do latim Pascha, que por sua vez, deriva do hebraico Pessach Pesach, que significa “a passagem”.

Passem o país a limpo. Vamos todos unirmos em torno desta tarefa. Vamos olhar o passado como berço de nossa aprendizagem a nos endereçar para um futuro distinto do que sempre fomos.

Vamos nos reconstituir. Merecemos.

Nesta segunda-feira, ao se despertarem, olhem-se no espelho e prometam a si próprios: “Eu vou fazer o que somente eu posso fazê-lo!”.

Jamais se arrependerão e entrarão para a história como aqueles que foram capazes, apesar de tantas circunstâncias adversas, sinalizar um novo tempo para a nação brasileira.


Contém com todos os brasileiros.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

CÂNCER



Odebrecht é uma verruga inflamada. Se se fizer uma incisão mais profunda descobrir-se-á quão mais grave e profundo é o estado do paciente. Aliás, feita a incisão e constatada a extensão da metástase, melhor não abrir o corpo. Talvez ele evolua para óbito, pós-cirurgia.

Supor que Odebrecht é o todo do abcesso é avaliação para principiantes ou desinformados ou mal informados. Claro que não é uma verruga qualquer, há dolorosas ínguas derivadas dali que, de quando em vez, produzem um quadro febril no paciente.

Odebrecht, no entanto, não passa de uma ferida que afinal desnudou a verdadeira situação. Odebrecht é, apenas e tão somente, uma pequena ferida exposta.

A metástase envolve tantas outras semelhantes que, há décadas, operam como hospedeiras do Estado, em todas as esferas da administração pública, municipal, estadual e federal.

Não há nenhuma operação que envolva a administração pública que esteja hígida. Serviços gerais de infraestrutura, aquisição de insumos, móveis, equipamentos, medicamentos, cultura, esporte, lazer, serviços de saúde e educação, ciência e tecnologia, relações internacionais, contratação de mão-de-obra, enfim todos os contratos são celebrados dentro de uma modelagem contaminada por políticas e práticas que envolvem inúmeras e repetidas irregularidades.

Provavelmente, menos evidente e profunda, a mesma situação se repete na administração legislativa e judiciária.

É apenas uma questão de boca. De lagartixas à jacarés e crocodilos. Boca grande é uma expressão usada há décadas no setor verrugal.

A composição entre Sociedade Civil via representação popular com o Estado Arrecadador é, por natureza, espúria e vil. Em nenhum momento da história nacional vimos nada de diferente daquilo que a verruga Odebrecht marca. Nem mesmo na época das redentoras, todas elas, território de vilanias inconfessáveis. Os porões não escondiam apenas atrocidades, mas e, sobretudo, negociatas.

O modelo democrático, essa obra de ficção e de covardia social, vendida por gangsteres que se aglutinam em torno de projetos de poder para defenestrar a coisa pública não é de hoje que está aí e, em minha opinião, é o que precisa ser exposto.

A esfera política se estende nas veias do tecido social vitimando-o por condutas nefastas que trazem um imenso prejuízo moral, maior talvez que o econômico e social. Pesquisas de instituições de investidores internacionais apontam que o maior risco de aplicação no país diz respeito à relação de confiança na celebração de contratos.

Nós brasileiros, todos nós, não somos confiáveis. Nada mais atual do que De Gaulle.

Sempre ficamos com o dedo em riste, escolhendo lados para nos encobrir da nossa patológica omissão. Lula é bandido, Aécio é bandido, Jânio é bandido, Lott é bandido, Getúlio é bandido, Lacerda é bandido, Renan é bandido, todos são bandidos.

Todos ungidos por nós. Os que acusam tendo os escolhido.

E o fazemos com tal alienação que beira à alucinação, vestindo cores, jingles, canções, manifestações de toda sorte, esquerda, direita, fascista, homofóbico, racista, mas não nos damos conta que em tudo estamos.

Ou a gente vai prá casa e se olha no espelho ou vamos continuar alimentando mentiras que matam.





Até breve.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

VERDANTIRA



Doravante acreditarei na Verdade. Doravante acreditarei na Verdade que contempla a Mentira. Todas elas.

A mulher do rei é honesta. A mulher do rei é vadia. Se ela for honesta, não será suficiente, o rei fará de um tudo para que ela pareça aos olhos de todos, ser honesta. Se ela for vadia, o rei fará de um tudo para que todos creiam que ela não é vadia.

Essa a Verdade.

Nos primórdios nos contamos a Verdade Original: Deus existe. E foram tantas e quantas as Mentiras que se sucederam para parecerem a todos que Deus existe que, quase, essa seja a Verdade.

“Fazei o homem à minha imagem e semelhança.” Nossa pretensão não tem limites. Construímos Deus ou a ideia dEle, à nossa imagem e semelhança. Como não seria viável concebê-lo Todo, elaboramos a estória e a História de um filho de mãe virgem, que nos salvaria.

Durante milênios nos matamos por isto, durante milênios involuímos por isto.

Como conviver com a Verdade Original impregnada de uma Mentira Essencial?

Acreditando na Verdade. Acreditando na Mentira. Então Verdade e Mentira são o mesmo? Que importância tem, se tudo é. No fundo ninguém nunca saberá, sendo a rainha honesta, de seus sonhos ou pensamentos para lá de libidinosos. Sendo vadia, ninguém saberá de seus inúmeros esforços para um dia largar essa vida.

Deixemos de lado a filosofia de botequim, regada à cerveja barata (com ou sem pombos moídos e tira-gosto de carne fraca?), e vamos ao que interessa: a Verdade.

O povo é desonesto, logo seus representantes também o são. Os representantes foram seduzidos pelos Poder e se tornaram desonestos e, portanto, um péssimo exemplo aos seus representados.

Daí, deixar 100 contos na CNH quando flagrado pela PRF, pedir NF no valor superior para o Relatório de Viagem, não emitir recibos quando profissional liberal assemelha-se a pagar porcentual sobre contratos (públicos e privados) a título de propina, são Verdades.

Mentira! Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Verdade.

Caixa um, pode. Caixa dois pode, em termos. Vamos fazer uma lei disciplinando a orgia. Fixaremos tetos para as campanhas, e determinaremos um Fundo (bem fundo) de bilhões de reais que os contribuintes contribuirão contribuindo com sua passividade histórica.

Verdade Original com Mentira Essencial.

Vamos pedir mais cinco dias de prazo em mais de dois anos de processo, para complementar os argumentos de defesa; vamos ouvir testemunhas uma de dentro e três, hoje de fora por força de homologação da delação premiada, para consubstanciar (a Mentira produz palavras lindas) as provas cabais. E vamos enrolar, até que...

Em quinze anos a União não terá recursos arrecadatórios para custear senão a folha do serviço público e as aposentadorias. Portanto, toda a arrecadação será destinada aos inativos.

O Estado estará falido.

Vá ao título do post.



Até breve.

sábado, 1 de abril de 2017

DOLORES



Abril será um mês de verdades. Dramáticas.

Do julgamento, a partir da próxima semana, no TSE deverão, forçosamente, aflorarem algumas.

Se um dos juízes pedirem vistas ao processo, ocorrerá postergação sine die e, dependendo da corrente política do magistrado, das intenções. Este me parece ser para os contendores o melhor prognóstico. Serve àqueles que permanecerão no poder, por razões óbvias e aos que almejam o retorno ao poder, também por razões óbvias. Problema adiado, politicamente, é problema resolvido.

Se houver julgamento e...

Dilma for considerada culpada, portanto, tornando-se inelegível e Temer inocentado consolidar-se-á para os vermelhos a tese de Golpe sustentada inclusive pelo Judiciário com protagonismo de Gilmar Mendes aderente aos azuis.

Dilma e Temer forem considerados culpados com a consequente inelegibilidade de ambos e a cassação do mandato de Temer, ampliar-se-á a convicção jurídica que a política é financiada latu sensu através de processos espúrios. Um legislativo predominantemente formado por potenciais réus janotfachinianos elegerá, em até sessenta dias, o novo Presidente. Nada mais ilegítimo.

Dilma e Temer forem inocentados, o povo terá novamente pago a conta de milhões de reais para custear um processo que se arrastou por dois anos. A montanha terá parido um rato com danos significativos para os azuis. O Judiciário, como Pilatos, lavará as mãos e lançará ao povo a decisão de o que fazer com os réus. A tese de corrupção no processo eleitoral fragilizará e será atenuante no julgamento dos Odebrechts da vida.

Dilma inocentada e Temer culpado, aí os vermelhos vão prá galera, e evoluímos historicamente como a Venezuela e o Paraguai.

Seja a decisão que for tomada pelo TSE, o Brasil saíra de abril, outro.

Abril ainda nos jogará na cara os nossos representantes que serão investigados. E nenhum de nós se lembrará de que votou nele, nos isentando de uma verdade original. A cirurgia que se iniciou em junho de 2013 sofre intercorrências contínuas alargando a potencialidade de danos irreparáveis ao paciente.

Extirpar o câncer pode vitimar.

Simultânea e igualmente dramática é a verdade da deterioração do tecido social, estampado cotidianamente nos noticiários e nas redes sociais, via criminalidade, desemprego, queda do PIB, aprofundamento de pelejas na defesa de direitos fundamentais da pessoa e das classes, entre tantas outras mazelas.

Abril, em que pese inúmeras convocações para as ruas servindo aparentemente para sensibilizar a população para questões específicas tais como Reforma da Previdência e Trabalhista, Corrupção e outras, ainda não será tão dramático como maio.

No dia 03 de maio, está previsto evento em Curitiba colocando o Herói Nacional e suas armas probatórias diante do Homem Mais Honesto do Planeta. Independentemente do resultado do TSE, a performance do Herói, somado à lista janotfachiniana se configurará as veias expostas da América Latina.

Trump ficará feliz. Poderá continuar seu teatro de horrores. Os holofotes estarão voltados para o sul.



Até breve, suponho.