domingo, 26 de dezembro de 2021

DEMENCIA

 



O filme é de roteiro, produção, direção e estrelado por atores americanos. O que é ótimo, porque assim será visto por zilhões de pessoas a mais do que se fosse por europeus.

Leonardo de Caprio, no papel de um cientista ancião, e Meryl Streep como uma Hillaryante “Clinton” enrugada, sugerem que o quê o filme propõe não está longe de acontecer.

Não olhem para cima.

Analogias meteóricas podem ser feitas e não serão descabidas com as eleições de 2022, a potencialidade de uma hecatombe nuclear, a irreversibilidade da fome, ou a ausência de líderes capazes de enfrentar os desafios que se apresentam aos terráqueos.

Há ainda o pior, muito pior do que você imagina. Calor letal, fome, inundações, incêndios, piora da qualidade do ar, desertificação, morte dos oceanos, colapso econômico.

Esta é a amostra do que já se abateu sobre a terra. Caos climático, política e cultura, uma devastação que provocamos a nós mesmos e que, não creio, nos colocará em ação redentora.

No filme, talvez o primeiro dos americanos, não há herói capaz. O que se apresenta está, além de senil, como personagem dos anos 70/80 dando tiros no inevitável com um revólver recarregável.

Não há recarga.

O meteoro da negação de fatos científicos demonstrados contundentemente e da imbecilidade patológica na Cultura e a explícita perversidade na Política já nos atingiu em extensão e profundidade irreversíveis.

A questão está entre nós há décadas e apesar de óbvia não mais nos escandaliza.

Estou na casa de minha filha Pretinha em Floripa. Assisti ao filme ontem à noite e estou escrevendo este post agora, na manhã de domingo, no escritório. Sobre a mesa do Cláudio, seu esposo, deparo-me com o primeiro livro de uma pilha: A terra inabitável – Uma história do Futuro, de David Wallace-Wells, best seller do New York Times.

Na capa uma citação de Andrew Solomon: “A terra inabitável atinge o leitor como um meteoro.”

Diferente de Caetano (leia o post anterior), eu não acredito.

 

Até breve. Será?


sábado, 25 de dezembro de 2021

MEDO




Não sei. Se bem que... Há ainda um caetanear?

Pois é, o “ainda” soa dúbio, como para dizer que ele está entre nós, mais (e não “mas”) sem respostas e, pasmo, sem medo.

No Roda Viva, morno ou audaz, no prelúdio da agora sim maturidade plena? Às vésperas dos oitenta, não “causa” ou “causa” pela enunciação de uma falta de “causa”, embora se mostre esperançoso em “um futuro”.

Duas horas de entrevista com respostas ou pela ausência delas, chochas, quase ocas, desradicais, tronchas. Acho que ele está caetaneando, pelo menos a mim, não sei.

Caetano diz que não tem mais medo como quando jovem. Reside aqui um ponto relevante na sua fala. O que vai embora dele junto com o medo? A aproximação do inexorável poupa-lhe do desconforto que nos constitui finitos? Esse trecho da entrevista é de uma profundidade abissal.

“Eu adoro a Sônia Braga, mas essas coisas de reencarnação, vida depois, eu não curto...”

Talvez resida aqui Caetano. No direito a não mais dizer, por já ter dito. Vou vê-lo em abril em BH no show para o qual diz não saber como será.

Assisti-lo agora é como experimentar a similitude em outro da existência em uma época, a nossa época. E Caetano é, ainda, um dos principais ícones de nosso tempo sabendo, como poucos, letrar e embalar o nosso medo.

O medo de não ser, de não ter passado, o medo de ter perdido o tempo, a Vida.

Toda ela.


Até breve.

 

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

OPORTUNIDADES

 



O mundo produziu, no ano de 2021 até outubro, riquezas perto do montante total de U$95 tri, tendo o Brasil contribuído com U$1,7 tri, o que equivale a 1,74%.

No período apresentado pelo FMI (quadro) de 2011 a 2021 o Brasil reduziu a sua geração de riquezas em 58,8%, enquanto o mundo cresceu em 28,9%.

Pois é.

Há no cenário de novos negócios um começando a atrair investidores: o futebol, que de valor cultural do país está migrando para valor financeiro.

Quem inaugurou a jogada foi o Cruzeiro. Fico pensando em Felício Brandi e Carmine Furletti, presidentes ilustres de um passado glorioso, como reagiriam se vivos estivessem. Clube que manteve o nome pensando no céu como limite e não na moeda que já teria sido.

Celeiro de craques como o próprio adquirente, fenômenos da bola, agora afinal rolarão moedas que contribuirão para a geração de riquezas expressivas ao país.

Investidores topam o risco. A conta é a seguinte: investir em real nos times, que mesmo com todos os problemas ainda conseguem revelar diversos craques, para depois vender jogadores em dólar ou euro.

Em Minas Gerais ainda há mais ouro, como nos tempos do Império.


Até breve.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

EXPLÍCITOS

 



Algum tempo atrás a Academia Brasileira de Letras (ABL) censurou a transmissão ao vivo, em seu site, da conferência ministrada pelo professor da Unicamp Jorge Coli, “O sexo não é mais como era”. Ao apresentar o quadro pintado em 1866 pelo artista francês Gustave Coubert “A origem do mundo”, exposto desde 1995 no Museu d’Orsay, em Paris, e usar a palavra “buceta”, a transmissão foi cortada.


Por sua vez a  iTunes Store, livraria virtual da Apple, censurou o título do livro da escritora americana Naomi Wolf. O título é: “Vagina: Uma nova biografia”. O site da Apple coloca como “V****a”.  Na descrição do livro há uma explicação: “A autora faz uma pesquisa histórica e mostra como a v****a foi considerada sagrada por séculos até ser vista como uma ameaça.

Não há limite à hipocrisia. Tudo bem que a explicitação choque, mas censurar o óbvio é chocante. Choque por choque prefiro o que nela se encerra que é prazeroso às pampas e, para quem não sabe e já passou dos cinco anos de idade é por ali sim que tudo acontece. Adão e Eva são personagens de livros para neandertais.

E mais, trago isso agora porque já é passada a hora de tanta puritanagem encobrindo crimes hediondos. O que deveríamos estar censurando são atos libidinosos explícitos do cotidiano imoral de quem deveria nos trazer exemplos.

A anulação hoje, pelos deputados, do veto ao "Fundão" de R$5,7bi, para financiar as eleições de 2022, por exemplo.


Até breve.

NOTA: Este post foi publicado em 2012 com outras intenções igualmente obscenas. Recebeu como título: PERSEGUIDA.


sábado, 4 de dezembro de 2021

VERGONHA

“Cuida-se de uma rubrica orçamentária envergonhada de si mesma, instituída com o propósito de esconder por detrás da autoridade da figura do relator-geral do orçamento uma coletividade de parlamentares desconhecida, favorecida pelo privilégio pessoal de poder exceder os limites de gastos a que estão sujeitos no tocante às emendas individuais, em manifesto desrespeito aos postulados da execução equitativa, da igualdade entre os parlamentares, da observância de critérios objetivos e imparciais na elaboração orçamentária e, acima de tudo, ao primado do ideal republicano e do postulado da transparência no gasto de recursos públicos”, escreveu o ministro Edson Fachin em voto no julgamento.


Algum tempo atras, quando me acometia um texto sobre Política, eu sentia um mal-estar estomacal. Quando eu paria o texto este mal-estar minorava até que o próximo adviesse.

Estou um pouco preocupado porque meu organismo já não reage mais aos descalabros bárbaros que observo na cena da trágica e famigerada democracia brasileira.

Ocorre que os acontecimentos relacionados ao Orçamento para 2022 são o ápice para que eu contraísse de vez uma úlcera duodenal que me levaria a dores alucinantes.

O STF, fundamentado em preceito constitucional, suspendeu os pagamentos de parcela destinada ao que se evidenciou como SECRETO. Em três semanas o Congresso (Câmara e Senado), com ampla maioria, votou uma mudança na Constituição para acobertar o assalto aos cofres públicos.

A pilhagem agora é constitucional. A trama da camarilha tornou legítima a destinação de verbas indiscriminadas aos asseclas mancomunados.

Enquanto isto se dá à luz mais clara dos dias, e não nas caladas das noites, como faziam os ratos de um passado recente, o Brasil dos miseráveis sobrevive à sua tragédia. Apesar da injeção bilionária de recursos extraordinários, praticamente um em cada quatro brasileiros ainda viveu abaixo da linha de pobreza no ano passado, quase 51 milhões de pessoas, segundo os dados da Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) divulgados pelo IBGE, nesta sexta-feira, 3.

Em 2020, as crianças foram, proporcionalmente, as maiores vítimas da escassez de recursos: mais de 17 milhões de crianças e adolescentes até 14 anos viveram abaixo da linha de pobreza no País, o equivalente a 38,6% da população nessa faixa etária. Nesse contingente, 3,9 milhões estavam em situação de miséria, ou 8,9% dos brasileiros dessa idade,

Não fossem os programas de transferências de renda para enfrentar a pandemia, incluindo também programas estaduais e municipais complementares, os 10% mais pobres da população teriam sobrevivido com apenas R$ 13 por mês, o equivalente a R$ 0,43 por pessoa a cada dia.

Vergonha! Lancinante vergonha!

Há décadas, em períodos de quatro em quatro anos, somos dopados com soníferos e alucinógenos. A cada eleição para o posto de comando mais alto do país, somos vitimados por doses maciças de alucinógenos que nos fazem acreditar que um salvador nos acolherá, e nos salvará desta vergonha.

Agora turbinados nas infovias em sites monetizados recebemos doses cavalares de picos na veia da nossa ignorância e apatia. Vamos para 2022 acelerados em nosso transe maníaco.

Até que o satrapia da vez suba a rampa. E então entramos no período em que somos acometidos de soníferos portentosos que nos aquietam como cães domesticados, até que outro processo sobrevenha.

Há cura para este quadro patológico? Claro que não, pelo simples fato de que a quem interessa?

Ao contrário de dores lancinantes provenientes de uma úlcera duodenal, o que me dói, ah! como dói, são os músculos cardíacos onde penitenciam meus mais intensos sonhos juvenis.

Uma tristeza profunda.


Até breve!


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

PARALELOS

 

Notícia no ESTADÃO  de hoje:

A delegada Dominique de Castro Oliveira da Polícia Federal recebeu ordem para retornar ao trabalho na superintendência regional. Em mensagem enviada aos colegas nesta quarta-feira, 1º, ela disse que o sentimento é de ‘incredulidade’. “Há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada”, escreveu.

Há 16 meses, Dominique atuava na Interpol. Ela foi a responsável pela ordem de prisão do blogueiro Allan dos Santos, que foi colocado na lista de difusão vermelha da organização – sistema de alerta para captura de foragidos internacionais. Na prática, a delegada apenas recebeu o mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal, reviu a documentação relacionada, produziu a minuta e encaminhou o pedido para publicação.

 

CARTA DA DELEGADA:

“Acabo de ser comunicada de que a direção determinou minha saída da INTERPOL e apresentação na SR/DF. Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu.

Naturalmente, o sentimento que me invade neste momento não é o melhor. Além da incredulidade, há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada, inclusive por não ter nenhuma função de confiança na INTERPOL, nem mesmo a substituição da chefia. Porém, ao comentar minha “expulsão” da INTERPOL com um colega muito admirado, ele me devolveu a seguinte pergunta: “O que você fez de certo?”

Nos 16 meses em que trabalhei na INTERPOL fui a delegada que mais produziu, sendo que em alguns meses produzi mais que todos os demais delegados, juntos.

No recorde de prisões de foragidos internacionais que batemos esse ano, 9 de cada 10 representações foram elaboradas por mim.
Pela minha atuação no Projeto I-CAN (International Cooperation Against ‘Ndrangheta) recebi elogios do Ministério da Justiça italiano e da Secretaria-Geral da INTERPOL, em Lyon.

Mesmo com a trágica morte de meu companheiro Victor Spinelli, em maio passado, não peguei um único dia de licença médica e apenas 15 dias após sua morte trabalhei duro, entre lágrimas, para prender o número 01 dos foragidos internacionais da ‘Ndrangheta no mundo.

Isso sem falar das relações pessoais e institucionais sólidas que criei: com os adidos estrangeiros, com o STF e PGR, com as representações regionais e com os analistas do “salão”. Nunca uma pergunta ficou sem resposta ou uma demanda deixou de ser atendida por mim.

Eu tenho uma história de mais de 18 anos de atuação na Polícia Federal como Delegada de Polícia Federal, a grande maior parte na atividade-fim, como investigadora, chefe de equipe, coordenadora de operações e, principalmente, líder. Coisas que só podem ser valorizadas e respeitadas por quem sabe discernir e já fez o que é certo.”


Em linha com o post anterior, apenas para recomendar aos amigos leitores o filme: BAC Nord – Sobre Pressão, em cartaz na Netflix.

Qualquer semelhança é mera coincidência.


Até breve.





quarta-feira, 24 de novembro de 2021

MISÉRIA

 






Adriana Varejão disse que a arte não tem função. O ofício de artista é como o de outro profissional qualquer. A arte não tem nenhum papel especial e jamais poderá ser entendida como capaz de transformar a realidade.

Para Ney Matogrosso, no entanto, a arte transformou a sua vida. Não fosse a música ele teria ficado louco.

Eduardo Galeano entendia que o mundo não está feito de átomos, o mundo está feito de histórias, porque são as histórias que a gente conta, que a gente escuta, recria, multiplica são o que permitem transformar o passado em presente e que, também, permitem transformar o distante em próximo, possível, visível.

Para Galeano as pessoas que mais dor sentem ao viver, as pessoas mais sensíveis são as mais vulneráveis. Em contrapartida, existem aquelas que se dedicam a atormentar a humanidade, vivem vidas longuíssimas, não morrem nunca, porque não têm uma glândula que na verdade é bem rara e que se chama consciência. É aquela que nos atormenta pelas noites.

Um filme como AMA-ME, cartaz na Netflix, pela universalidade dos problemas que encena, deveria sensibilizar às pessoas de consciência e em posição de responsabilidade para alterar o quadro de vulnerabilidade em que se encontram bilhões de pessoas sensíveis, mundo a fora.

O Estado, através de suas Constituições cidadãs, mantido por sociedades livres e supostamente soberanas, deveria ousar políticas que mitigassem ou eliminassem de vez esta barbárie.

Não há, lamentavelmente, nenhuma evidência objetiva de que isto ocorrerá. Antes, pelo contrário.

Inclusive, ou sobretudo, aqui.


Até breve.


terça-feira, 23 de novembro de 2021

MEADA


 

Quem perde seu tempo me lendo sabe da minha paixão por futebol. Jogá-lo, mais do que debatê-lo, ainda que em mesas de bares (o debate, claro). Até antes de casar estive em todas as peladas possíveis, depois preferi outra pelada.

Sério, fui bom de bola. Hoje no Veredão (campinho da minha morada) divirto-me com os netos jogando o que eles chamam de “toquinho”. Pois é.

Na adolescência e juventude os que me viam jogar me comparavam com Tostão, o que me irritava profundamente. Não por ele, que eu admirava, mas porque diziam que eu era “igual a ele”.

Eu sempre quis ser igual e diferente só de mim. Nunca quis ser outro, até porque ser-me já era tão divertido, que nunca (nunca mesmo) quis estar sob a pele de outro.

E vou confessar algo muito íntimo: ser-me não é para qualquer um, dá um trabalho imenso porque, inacabado, estou sempre caindo em buracos de mim, alguns até abissais.

Quando apanhava de minha mãe, as surras eram embaladas por uma cantilena inesquecível: “Você não se emenda, menino!”. Vou morrer, estou certo, desemendado.

Fiquei pensando nisso depois que assisti ao vídeo do Roberto Crema. (link abaixo)

Nele, Roberto diz de uma neopatologia social: a Normose.

Achei legal dar nome ao que “enquadra” um olhar para a realidade. As realidades que vão se incorporando à paisagem por uma conduta de “normalidade” que, a mim, desemendado (portanto, desnormal) assusta, para não dizer que angustia.

Pretinha, meses atras, mandou-me via WhatsApp uma foto do Tin. Se me lembro ela colocou os dizeres: “Pai, ele teve a quem puxar”.”

Tomara que ele não se emende.





Até breve.

Link CREMA 


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

GÊS I

 

A essência do que quis propor no post anterior está no título.

Eu completarei em fevereiro do ano que vem sete décadas de vida. Tenho três filhos com pouco mais de quarenta anos e quatro netos entre cinco e nove anos de idade.

Sobrevivi, nas últimas três décadas, ao advento de cinco gerações disruptivas de intervenções nos meios (tecnologias) de operar a Vida. É a isto que me refiro no texto, e as suas múltiplas e avassaladoras consequências.

A tecnologia 6G talvez não me alcance, um pouco aos meus filhos, mas será determinante nos primeiros trinta anos de meus netos.

Admirável mundo novo.

Só que não. Por isto, concluo o meu texto, nomeando-o como um “porre”. O tempo não corroeu em mim o juízo moral para olhar para o mundo e interpretá-lo.

Não gosto no que nos transformamos. Se evoluímos extraordinariamente em nossas obras, a tecnologia que vimos criando avança para nos tornar autômatos insensíveis.

E sem memória, já que tudo estará “nas nuvens” a nossa disposição com amplo acesso, às mãos e instantaneamente.

A avalanche efêmera de stories não permite que se retenha significados, que se elabore, que se reflita, que por força da ausência de significados, se sinta.

Nenhum acontecimento acontece. É um tique sem toque.

O post não quis recomendar um filme, nem lembrar dos olhos maravilhosos de Franco Nero.

O texto diz que estamos e agora sob um holocausto contra a natureza, contra a cultura, contra a Arte, contra a memória, contra a moral, contra o belo, o bom e o justo e não só aqui no nosso cercadinho.

E adiante, nada há que sinalize algo distinto e redentor.

Ah, Agulhô, que porre! Conta mais storizinhos de seus netinhos, vai...


Até breve.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

GÊS

 



Talvez o maior dano trazido pela contemporaneidade ao humano seja quão efêmeros tornaram-se os acontecimentos. De toda e qualquer natureza. Desde as tragédias (promovidas ou não pelo homem), as descobertas (da ciência ou da arte), o tempo (todo ele).

Vide a última pandemia, ainda em curso, em declínio. Nos seus primórdios parecia algo apocalíptico, hoje algo que passou e, assim como as guerras, ceifou algumas vidas. Virão outras.

E pronto.

Não implica, mesmo (suponho) para a grande maioria dos afetados diretamente, em oportunidade de rever a dinâmica de sua própria vida. Não aconteceu nada que mereça significado.

A vida segue. Ou melhor, passa.

O contemporâneo tornou o viver, operar o tempo, desde para aqueles que precisam fazer de um tudo para se alimentar, até para aqueles mais abastados, como algo da funcionalidade.

Estar vivo é funcionar.

Viver é desincumbir-se de tarefas, mesmo a sobrevivência básica ou o deleite ostentatório.

Estar vivo é coisar-se em funções que, a cada ciclo abrupto da tecnologia, é suportado por apps, aplicativos, para os não iniciados.

Assisti recentemente, na Plataforma Fronteiras do Pensamento, conferência do Yuval Noah Harari. Para ele há evidências de que a espécie está em acelerado processo de mutação. Ainda que Sapiens, outro hominídeo. Outra espécie.

Cyborgs.

Percebo a objetivação destas evidências quando ligo a TV, este equipamento ainda rudimentar, que deverá ser substituído nos próximos anos. Ou, ainda mais amplo, o aparelho celular e seus zilhões de funcionalidades.

Tique e Toque. Zap. Zaz. Vupt.

A contemporaneidade elimina gradual e amplamente a memória, o tempo passado, a História, o conhecimento, a experiência, o vivido.

As estórias (stories) instam por 24 horas, se tanto. Aos milhões para bilhões.

Este post, ainda que um porre, apenas para dizer do impacto que tive ao assistir ontem na Netflix, ao filme O Caso Collini. 


Até breve.


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

KARMA

 


A entrada na disputa do ex-juiz e ex-ministro, esta semana, permite um olhar, a mim, revelador. A riqueza da cena confere contornos bastante nítidos do momento histórico que atravessamos, enquanto sociedade.

Não quero colocar holofotes sobre os três apontados na pesquisa mais recente, mas na plateia que escolhe e paga pelo enredo que eles, supostamente, uma vez eleitos protagonizarão.

Revelador não são aqueles que se propagam como o de alma mais santa e nobre defensor dos fracos e oprimidos; nem aquele que coloca Deus sobre todas as coisas ou ainda, e por último (ou em terceiro), aquele herói paladino da justiça.

Revelador somos nós que os escolhemos e, sobretudo, como e porque o fazemos.

Quais paixões nos nutrem e nos cegam a ponto de nos tornar massa de manobras historicamente assustadoras, agora anabolizadas por uma rede de inverdades intencionalmente fabricadas que circulam na quinta geração de uma tecnologia com acessibilidade, portabilidade e instantaneidade?

Ouso dizer, como analista selvagem (desprovido de fundamentos científicos) que reside aqui nossa patologia social. Por que insistimos no gozo da manutenção de uma sociedade sem perspectiva, paralisada em seus dramas intermináveis?

Por que e há décadas, em que pese todo nosso potencial e privilégios que a natureza prodiga nos faculta, escolhemos governança que amplifica os efeitos danosos desta patologia, reproduzindo-a e tornando-a, a cada processo eleitoral, mais perigosa?

Destruímos valores econômicos aprofundando o fosso social, explicitamos nossa imensa dificuldade com aqueles que de nós diferem, esgarçamos nossas relações mais íntimas, construímos muros para diálogos orientadores, solapamos a cultura, a arte, a nossa brasilidade.

Perdemos todos com nossas escolhas.

Há aqui sim um juízo moral do qual não me farei isento. Estou envolvido como qualquer outro pela teia do tecido social. Estou com Sartre quando ele escreve que não escolhemos exclusivamente por nós, mas também por aqueles que conosco constroem o espaço de convivência.

Passa da hora de ouvirmos zilhões de vezes, já disse isto aqui, Sol de Primavera, do Beto Guedes: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.


Até breve.


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

SINAL

 




Recebi em casa, hoje, a meu pedido, visita de uma Corretora de Imóveis.

Estamos inclinados a transferir nossa morada para outrem que possa usufruir, enquanto viver aqui, a mesma ou maior satisfação que experimentamos ao longo de três décadas.  

A jovem, de posse de uma prancheta e de seu aparelho celular, percorreu lentamente por todos os espaços, fazendo anotações e tirando fotos.

Durante o percurso conversamos sobre o mercado de imóveis no momento, correlacionando com as características da propriedade, poço artesiano próprio, aquecimento solar, área de lazer com sauna, piscina e campinho de futebol, casinha de bonecas, gangorras, cozinha mineira com fogão à lenha, diversidade de árvores frutíferas, jardins e o belo galinheiro/coelheiro que conferem ao todo um caráter peculiar e original.

Concluída a visita técnica, na saída perguntei à corretora qual era a expectativa de realização da venda.

Notei que ela aparentava uma certa tristeza, enquanto me respondia:

- Agulhô, você conhece a história do amigo do Olavo Bilac que queria vender um sítio e pede ao poeta, que conhecia a propriedade, fizesse um relato para que ele, o amigo, pudesse anunciá-la?

- Não. Se conheço, não me lembro agora...

- Bilac, alguns dias depois, teria escrito e passado ao amigo o bilhete: "Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo. Cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

- Ô, loco!

- Pois é, meses depois o poeta reencontrou o amigo e perguntou-lhe se havia conseguido vender a propriedade.

- E aí?

- Nem penso mais nisso Sr. Bilac! Quando li o anúncio que o senhor escreveu é que percebi a maravilha que tinha nas mãos.

 

Estou quase certo de ter me equivocado na escolha da Corretora.

Ou não.


Até breve.



sexta-feira, 29 de outubro de 2021

VIASNEWS

 





“Cresceu quatro pontos porcentuais a fatia dos eleitores que, segundo a mais recente pesquisa Quaest, não querem nem Lula, nem Bolsonaro: de 25% para 29% em um mês”.

 

Outra notícia em gestação: não há (somente) terceira via, mas pelo menos onze vias. Claro, umas mais do que outras em termos de chance. 

De qualquer forma, 2022 vai ser inesquecível se todos subirem ao palco para os debates. 

Basta imaginar Lula, Bolsonaro, Moro, Ciro e Alessandro Vieira. Vai virar Rádio Polícia, comandada por Datena. Os moderados Pacheco, Mandetta e Tebit coadjuvados pelo que sobrar do PSDB ficarão para compor a festa. 

Falta um? Eu. Em casa, somos sete, já consegui dois votos. Não deixa de ser uma via.

Ainda que torta.

De maçã, salpicada com coco ralado.



quarta-feira, 27 de outubro de 2021

APELIDOS

 

Às vezes acho que é por um não sei por que, talvez por um interesse não sabido, quem sabe? O fato é que acompanho. Quase tudo, na origem, mesmo sabendo que, na própria origem, há trama.

Falo da governança pública, mais conhecida como Política. Esta, das instituições democráticas. Minhas décadas perdidas em acompanhamentos e reflexões várias, foram o que possibilitaram agora e adiante, suponho, uma certa compreensão do que mais ou menos deva ser.

A realidade.

Dia desses, em conferência, ouvi um sujeito dizer, prefiro não declinar o nome para não restringir o seu raciocínio incauto leitor, de que pós ditadura o país foi “governado” somente por inclinações social-democratas e que, agora, era necessário dar um choque liberal.

Minha aversão ao apelido das coisas, dificulta muito o meu entendimento do que exatamente elas querem significar, então acabo fazendo eu próprio minhas sapiências. Quase sempre viajo nas maioneses.

No caso, fui dar (bem entendido) na Escandinávia que visitei há alguns anos. Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia (terra do Papai Noel). Na rota fui dar na Rússia, mas aqui não interessa, senão embrulha.

O apelido que dão ao que se passa em terras escandinavas é a tal de social-democracia. E o sobrevoo rasante que fiz por lá me deu foi vontade danada de ficar em definitivo.

Pesquisem e verão quanto é boa a tal da social-democracia de lá nas escandinavas. Só não fiquei por dois motivos fortíssimos: euros e o oposto de verão. Euros, por razões óbvias e o oposto de verão porque não suporto invernos, mesmo que maravilhosamente boreais.

Se o céu for com temperatura abaixo de 15ºC, quando for para lá, fico no Purgatório.

Antes de ir para um ou outro já que não escolho a hora (mesmo com minhas inclinações suicidas ocasionais), melhor voltar ao assunto do post. Qual mesmo? Ah, sim, os debates (ou serão embates?) políticos do ano que vem.

No macro, efeitos pandêmicos ainda sensíveis na economia global com o petróleo em espiral de alta, apenas para dar protagonismo à variável mais combustiva. Ela é suficiente para entender os decorrentes.

No Brasil, estagflação, previsão de crescimento para 22 igual à menos de um por cento, só para ficar nos indicadores mais contundentes.

Eu acho que sim está na hora de propor mudar tudo para continuar do mesmo jeito mudando o apelido do discurso para liberal, tipo, liberar geral, ou seja: foda-se o país.

O importante é o furo no teto.

Outro apelido.

 

Até breve.


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

METAVERSO

 







Não bastasse a metalinguagem, para além da linguagem, agora viveremos para além do Universo, que já não é único.

Metaverso significa “além do universo” e designa um espaço coletivo e compartilhado no ambiente virtual, onde experiências físicas serão recriadas por meio da internet, da realidade aumentada, da realidade virtual, da inteligência artificial e de outras tecnologias exponenciais.

Conceito fascinante, é um futuro possível para a internet  móvel 6G. Refere-se à  capacidade de equipamentos e banda processarem e trafegarem informação o suficiente para permitir ambientes 3D em que conviveremos uns com os outros mesmo que remotamente.

Realidades virtual e aumentada se juntarão para que tenhamos a sensação de compartilhar, com outras pessoas, o mesmo espaço ainda que estejamos em continentes distintos. Poderemos assistir a shows e fazer reuniões. De repente, até namorar.

Eu prefiro árvores reais (flamboyants...), em suas estações fluídas, e corpos perfumados e ardentes.



Tirei foto deste poema, anteontem, quando voltava pra casa.
Fosse poeta eu o escreveria.
Para que florescesse.


Até breve.



sábado, 9 de outubro de 2021

REMÉDIOS II

 




 

Além da infinita ignorância e do humor, citados em post anterior, a Vida contemplou-me com outros privilégios.

Espiritualidade em lugar de religiosidade. Aqui, como em quase tudo, não me tornei (até este momento) um homem partido. Tivesse nascido em outro país, levado por força de circunstâncias, eu poderia restringir-me ao contrário do catolicismo (aqui predominante?), ao judaísmo, ao budismo, ao islamismo, ao hinduísmo, a outros ísmos, sabe-se lá quantos e quão dogmáticos.

Preferi crer, se é que creio, na transcendência, face à minha óbvia insignificância. Restringir-me a crenças de quintais de significantes é supor dar conta, como os loucos. Que acreditam.

A minha infinita ignorância e senso de humor, somada à espiritualidade, aqueceram meu coração e cérebro quando, em minhas andanças mundo a fora, deparei-me com a inscrição na porta de entrada da Capela dos Ossos, em Évora-Portugal: "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos.".

É bom demais saber que eu não estou com esta bola toda. Um dia esta bisnaga de carne transformar-se-á em carniça. E todos os meus quintais perderão significados temporais.

Minha paixão é o futebol e não bandeiras. Na infância e juventude fui Cruzeiro, em deferência a meu pai, outra paixão. Depois que ele se foi, fiquei com o futebol. Todo ele, de uma pelada da várzea a Champions League, Real, Barça, Liverpool, eu quero é ver Cristiano, Messi, esses sujeitos transcendentes. Independentemente das cores de suas vestes.

As décadas de Vida que se acumularam em torno de mim, colocaram-me ainda mais à margem. Não fosse meu senso de humor eu não suportaria minha infinita ignorância e embarcaria num desses caixotinhos dogmantes.

Seria Lacaniano, ou quem sabe, Freudiano. Ou Petista. Bolsonarista? Comunista. Existencialista. Epicurista. Capitalista. Frentista. Dentista. Xintoísta. Ametista. Contista. Romancista. Poetista. Artista. Crista. Escrachadista.

Rir desta porra toda é do caralho, falô?

Não sou, por isto. Portanto, vago pela terceira margem do rio. Mesmo que seja pecado.

Para quem entendeu, sobre transcendência, os ossos bastam.

No próximo post falarei de outro privilégio: o gôsto, assim mesmo, com chapeuzinho.


Até breve!


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

PAZ

 



"Na batalha dos fatos, isso mostra que o comitê do Prêmio Nobel da Paz percebe que um mundo sem fatos é um mundo sem verdade e confiança. Se você não tem nenhuma dessas coisas, certamente não pode vencer o coronavírus, a mudança climática.”

“Desde 2016 eu digo que estamos lutando pelos fatos. Quando vivemos em um mundo onde os fatos são discutíveis, onde o maior distribuidor de notícias do mundo prioriza a disseminação de mentiras misturadas com raiva e ódio, e os espalha mais rápido e mais longe do que os fatos, então o jornalismo se torna ativismo.”

"Como fazemos o que fazemos? Como os jornalistas podem continuar a missão do jornalismo? Por que é tão difícil continuar contando à comunidade, ao mundo, quais são os fatos?"

"O mundo deve se unir como fez após a 2ª Guerra para resolver esse problema. O que eles fizeram? Eles criaram as Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este é o tipo de momento que requer isso, e não sei como nós, nas Filipinas, teremos integridade nas eleições se não forem colocadas grades de proteção em torno das plataformas de mídia social."

"Nada é possível sem fatos. Mesmo que os fatos sejam realmente enfadonhos, tudo começa com uma realidade compartilhada que é definida pelos fatos. O que vimos é que, à medida que os jornalistas perdiam seus poderes para as plataformas de tecnologia, tudo isso foi embora quando a tecnologia assumiu a função de guardiã das informações. Essa é uma crise existencial não apenas para jornalistas ou a democracia filipina, mas globalmente.”

"O que aconteceu em nosso ecossistema de informação, esse vírus da mentira que foi introduzido por algoritmos de plataformas de mídia social, infecta pessoas reais e as muda, é como a explosão de uma bomba atômica.”

Maria Ressa, filipina, Prêmio Nobel da Paz de 2021, é a 18ª mulher a ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 126 anos. Em conjunto com o também jornalista Dmitri Muratov, pela contribuição essencial de ambos para a liberdade de expressão e o jornalismo em seus países.


Até breve.

FONTE: O Estado de São Paulo, de hoje, 08 de outubro de 2021.

FOTO: Rappler/Handout via REUTERS


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

REMÉDIOS

 

(Foto tirada por mim em Sambaqui, Floripa)


“A literatura concorre para uma sociedade mais harmoniosa, porque pelo texto literário você percebe que o mundo vai além de você. Você aprende com o texto literário a democratizar a razão.” (Bartolomeu Campos de Queiroz)

 

Sou grato à Vida por ter me distinguido por inúmeros privilégios.

Entre tantos, o da infinita ignorância é aquele que mais agradeço. Reconhecê-lo ao longo de todo o meu percurso obriga-me a ampliá-lo a cada dia.

Li muito e pretendo continuar lendo. A cada livro alargo o meu privilégio. Incrível como ao término de cada leitura, sinto-me mais raso o que me estimula a buscar mais e mais saber para não saber tudo. E ainda, assim, buscar saber.

Outro privilégio, tão relevante como o citado, ser vitimado por acasos, no que tange à minha infinita ignorância. Livros me chegam, como que se soubessem da minha necessidade em lê-los. Poderia citar inúmeros episódios sem que nem porque fui instado por parentes, amigos, outras leituras e não necessariamente correlatas.

A infinita ignorância é como sexo. O orgasmo é um desmancha prazer. Logo, você o quererá de novo, e de novo e de novo, e por mais que você procure, o sabor e o prazer advindo da infinita ignorância são inenarráveis, não decifráveis, não sabidos.

Só que uma delícia vertiginosa, a infinita ignorância.

Talvez derive daí outro privilégio: o humor. Até meus netos não fiam em mim, quase sempre produzo pilhérias de um tudo. Fosse a um analista, colocaria no divã a minha avó materna como culpada. Diante de conflitos domésticos acalorados ela sempre saía com: “Não sei porque brigam tanto se pra lá nós vamos.”.

Desde sempre, portanto, o humor serviu-me como um bálsamo. Sobretudo na infância, dada à penúria familiar e a dura vida de minha mãe. Eu gostava de imitar os humoristas da TV e do cinema. Ronald Golias, Ivon Curi, Cantinflas, Mazzaropi. Ela ria, ria, ria tanto que por diversas vezes saiu correndo urinando pelas pernas abaixo, de tanto rir. Fazê-la rir foi sempre, em casa, o melhor remédio.

De quem rio mais é de mim mesmo, inclusive agora, por este texto. A minha tolice em acreditar que se aceitássemos todos a nossa infinita ignorância e ampliássemos o nosso senso de humor, talvez faríamos um sexo coletivo transbordante.

E a Vida teria mais sabor. 


Até breve.


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

AGUAR

 




Outro dia escrevi aqui que havia amanhecido vivo e que isto vinha acontecendo há vários anos.

E continua.

Hoje tomei uma decisão: vou suicidar, vou me suicidar, vou suicidar-me, vou-me suicidar. Seja a construção sintática que for, se sintática, o fato é que a decisão está tomada.

Não amanhecerei vivo.

Espera, amigo, embora a decisão esteja tomada, falta escolher o motivo e o quando, e aqui reside o grande obstáculo para que eu não realize o feito, amanhã, pelo menos. Assim, não há razão para que você se alarme, ligue pra mim, mande alguém ligar, enfim tente dissuadir-me, pelo que, de pronto, agradeço.

O quando depende do motivo, portanto, a grande dificuldade está na escolha, porque não são poucos para que eu dê cabo de minha vidinha.

Estou convalescendo, com imensa angústia, de uma perda afetiva. Por si só seria uma razão mais do que justificável.

Há outras, ainda que secundárias.

A dor pela constatação do que ambientalistas vem nos sinalizando há décadas: a mudança climática, fruto de nossas mais do que criminosas e aberrantes ganâncias. Toda vez que chego na sacada do meu quarto deparo-me com a agonia das árvores da mata defronte.

A dificuldade absurda recentemente adquirida de me relacionar socialmente, especialmente quando em grupo cujo tema é o quadro político. Quando estou com “nós”, não me sinto parte e não compreendo o que “nós” quer dizer de “eles”. Quando estou com aqueles que suponho ser “eles” daquele “nós”, o mesmo ocorre. Não há lugar para “Eu”. Ou Eu tenho quer ser de um nós ou tenho que ser de um eles.

Meu pai padeceu anos do Mal de Alzheimer. Não é essa terrível doença que temo contrair, mas do Mal do Ódio. Por absoluta ingenuidade, ou incompetência adquirida, não consigo atualizar-me para esta prática. Estou analfabeto social.

Todos os meus acolhimentos de comentários no FB são com: AMEI.

Outras questões, menos relevantes, me afligem, como a devastação da cultura, a mediocrização dos diálogos, o oco do vazio.

Talvez porque seja segunda-feira.

Lembrei-me de meu caseiro já falecido: seu Divino. Eu vinha para o sítio somente nos finais de semana e reclamava com ele que as plantas estavam muito sofridas.

Ele, honrando seu nome, sempre dizia:

- Ô, Gulhô, cê vai vê nas água... Elas renasce tudo travez, sô!


Até breve.


sábado, 18 de setembro de 2021

FUTURAR

 


Liz, Tin, Totô e Lelê, brincando outro dia juntos, dialogavam.

Aí, de repente, tiveram uma ideia:

- Vamos montar duplas?

- Como assim?

- É, vamos caçar nomes que possam brincar conosco?

- Ainda não entendi...

- Puxa, é muito fácil, é assim: a gente tem que escolher, dois nomes...

- Dupla é de dois nomes, né ô!

- Pois é, dois nomes. O primeiro para Presidente e o segundo para Vice.

- Mas isso é brincadeira de adulto, não quero, é muito chata. Num tem graça! Num quero brincar disso.

- Que que a gente ganha no final da brincadeira?

- Um futuro.

- Vamos brincar de outra coisa...

- Vem cá sô, é rapidinho. Prometo que vai ser divertido.

- No futuro eu vou ser jogador de futebol...

- Quem não sabe, você só tem bola na cabeça.

- Eu vou ser bailarina, contadora de histórias... Ah, eu não sei ainda.

- Eu, pilota de avião, já falei.

- Todo mundo riu porque eu falei que vou ser pensador...

- A gente podia chamar o vovô pra ajudar, né?

- Neim!!! Ele vai atrapalhar...

- Ele é muito doidinho, vai querer uns nomes que ninguém nem nunca ouviu falar...

- É capaz até dele inventar uns nomes para avacalhar a brincadeira.

- Num fala assim dele, não.

- E num é?

- Pior que é...

- Mas a gente podia chamar os amigos dele do blog...

- A gente nem sabe quem são...

- Vovô também num sabe de muitos também não...

- Vamo logo começar com isso que eu quero ir jogar bola...

- Então tá, quem começa?

- Fernando Haddad e Luiza Trajano.

- Rogério Pacheco e Simone Tebet.

- Fernando Bezerra e Marco Rogério.

- Ciro Gomes e Eduardo Leite.

- Romeu Zema e Tarcisio Gomes de Freitas

- Alexandre Vieira e Fabiano Contarato.

- Jorge Doria e Luciano Hulk.

- Jorge Amoedo e Horácio Piva.

- Henrique Mandetta e Eduardo Leite.

- Tasso Jereissati e Geraldo Alckmim.

- Tá difícil...

- Tenta.

- Cês num esqueceram de dois nomes não, hein?

- Esses dois aí que você pensou eu num quero nem lembrar...

- Se os amigos do vovô quiser, que que a gente pode fazer né?

- Ah, chama logo os amigos do vovô, vai...

- Eles que são responsáveis pelo futuro, né?

- Pior que é...

- Mas eles têm um ano para entrar na brincadeira, né?

- É, mas tem que avisar o vovô pra ele falar com os amigos dele que não é pra escolher já agora os nomes que querem que ganhe não. É só o que eles gostariam que estivessem no debate para poder ajudar na escolha, né?


Até breve.

OBS.: Para entrar na brincadeira é só apontar as duplas nos campo: COMENTÁRIO