quarta-feira, 30 de novembro de 2011

FUTURO

(7.009.895.470) Sete bilhões, nove milhões, oitocentos e noventa e cinco mil, quatrocentos e setenta pessoas estavam vivas quando iniciei agora este post. (83.237.549.007) Oitenta e três bilhões, duzentos e trinta e sete milhões, quinhentos e quarenta e nove mil e sete pessoas já viveram sobre o planeta desde o início da história humana até o momento que escrevo estas últimas linhas.
Quando nasci estavam vivas no momento 2.609.610.041 pessoas  sobre o planeta e já haviam feito sua história outras 75.848.575.698 pessoas.
Estes dados foram coletados no site da BBC e dá margem a várias matemáticas para se saber a velocidade de vivos e mortos. Vá lá para saber também, quando você nasceu, quantas pessoas estavam vivas e quantas já haviam passado pelo planeta. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/10/111027_guia_populacao.shtml
Não há nada que não se possa saber. Não há nenhuma informação que não possa ser coletada, adulterada, vazada, escaneada, sacaneada, aumentada, comentada, roubada, trocada, copiada, plagiada, atestada, fixada, mixada, simplificada, ampliada, colada, paginada, powerpointiada, filmada, refilmada, remixada, refugada, refutada, escrachada, ada... ada...
Não há nada que não se possa saber. De A a Z de um tudo. De Zá a Zú, tudo. De mim e de você, assim, vulnerável, refém, asujeitado, raqueado, espionado, catalogado, senhado, procurado, acessado, vitimado, presenteado, lembrado, listado, brifado, copiado, anexado, ado... ado...
Não há nada que não se possa saber. Agora, real time, em diferentes formatos, fontes, idiomas, mídias, modos, meios. Quantos, quais, quês, quandos, por quanto, de quanto, prá quanto, por que, de quê, de quem. Volumes, cifras, gráficos, regiões, livros, filmes, dados. Cores, jogos, peitos, bocas, bundas, sexo, religião, história, matemática, dicionários, palavras, corpos, faces, perfis. Fotos. Fatos. Ensaios, bibliografias, denúncias.
Não há nada que não se possa reter. Em pendrives, ifones, ipod, ipuds, ituds.
Na segunda-feira, assisti à sessão das 22:00 horas do Canal Brasil, ao filme Malu de bicicleta. Filme para adolescentes adultos. O protagonista sofre por não saber lidar com a possibilidade da perda do ser amado.
Acho que continuaremos não sabendo.
Até breve.


PS> TULIM, brigado pela palavra.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

SEXO

Não se assustem e nem rejubilizem-se.  A palavra escolhida para o post de hoje não dará chance a relações especulares explícitas. Também não deverá levar nenhum jovenzinho com suas revistas repletas de cores, bicos, curvas, triângulos e fechos bem ornados para os banheiros. Nem tão pouco as jovenzinhas aos seus leitos sombrios.
Não servirá aos já adultos desestimulados ou libidinosos para aparelharem-se de novas posições contorcionistas que superem Sade na sua Filosofia da Alcova. Nem àqueles que voltam para seus lares nos finais de semana e colocam a escrita em dia ou balançam seus trailers a prova de calor, suor e solavancos. O fato de este post estar sendo escrito numa sexta-feira é mera coincidência, não tem nenhuma, eu diria, safadeza aqui.
O assunto requer preparo, experiência, relaxamento, aditivos e adereços, mas na hora H, sobra só loucura e no final, para os ricos, gozo e para os pobres, alívio. (Até aqui há discriminação, distância, preconceito).
O fato é que independentemente de lugar, hora, atmosfera que propicie, inúmeras publicações exploram: o lugar mais exótico quê.
Desde sempre o único traço de cultura universal do humano. Pensa: nem religião, nem língua (idioma), nem mesmo a arte são comuns. No universo humano só nos igualamos aqui. Todo o mundo pratica, ainda que solitário, fantasmático, inconsciente. É mesmo muito boa, a coisa.
Uns mais raramente, outros mais freqüentemente, em regiões, climas e até sob restrições de toda sorte, algumas inclusive cruéis. Na Itália parece que o pau come, acho que na Groelândia a menos de 40 (graus, não anos e de idade) nem sobe. Aqui, num sei, mas acho que no Rio e na Bahia, no nordeste praiano, a coisa ferve. Tem gente que vai prá lá só para atiçar faltâncias e querências.
Há de preliminares a jogos de fundo. E corpos de diferentes entonces. Antes eram mais guardadas as preferências, hoje com a liberdade (libertinagem para os pudicos de plantão) até passeatas ao Arco Íris.
Tem aqueles que pulam de galho em galho e aqueles que experimentaram bastâncias em um único, digamos, bastão ou buraco. Chulo? Não, tem pior.
Serve para rir e para chorar, para a saúde e para a doença, para o bem e para o mal, para o bom e para o mau, para o terno e o violento, para o sóbrio e o ébrio, serve para mim e serve para você. Serve universalmente a todos nós.
No fundo a idéia para o post de hoje ocorreu-me por uma única razão: carência. Dizem que o assunto tratado aqui hoje é o mais procurado na rede e como eu amanheci querendo que o blog bombasse...

Até breve.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

VIDA

U  M        C Á L I C E
D E N T R O    O   Q U E    C O U B E R
N E C T A R    O U     V E N E N O
D O C E   O U   A M A R G A
F R I A  O U   M O R N A
C   A   L   I  E  N  T  E
CURTA
MÉDIA
LONGA
S U A V E   M O D E R A D A   I N T E N S A


Até breve.

domingo, 20 de novembro de 2011

RESPOSTAS

Algumas você jamais saberá, por outras não se interessará, outras você suporá saber, outras terá convicção que corresponde, outras se auto-enganará, talvez a única que você não tenha dúvida, assim como a maioria de nós (eu suponho): no futuro todos nós morreremos.
E é com essa absoluta com que nos ocupamos, para permanentemente negá-la, até porque se essa fosse orientadora a vida resultaria vazia. Entristeço-me, às vezes, quando alguém diante de alguma conclusiva arremata: Matei essa!
Somos movidos por procuras e cada vez por aquelas que mais devem nos instigar, mobilizar, nos colocar em estado de trabalho.
Têm as óbvias, desestimulantes, convencionais, infrutíferas, paralisantes, adormecidas na certeza, como as da infernet diante da lacuna: PROCURA.
As das ciências exatas (?) que nos endereçam ao concreto. Da Física, da Química, da Matemática e congêneres, do cálculo, da estatística. Dada uma equação, um caminho crítico, uma elaboração, uma conclusão: C. Q. D.
Das ciências humanas, fundas, inconclusas, interpretativas, filosofia, sociologia, antropologia e outras logias, freudianas, lacanianas, anas e anos...
Das artes, hamletianas, proustianas, caminianas, nerudanas, borgianas, bergminianas, buñelianas, picassanas, manoeldebarrosanas, almodovaranas, anas e anos...
Tem aquelas para religar com o que nos transcende, as kardequianas, as mulçumanas, as cristianas, as judaicanas, as ortodoxianas, tem as umbadanas, logosofianas, presbiterianas, batistanas, anas e anos...
As do senso comum, dos anciãos, dos matutos da terra, dos nativos, dos que já passaram pela “mesma” experiência.
Tem as dos pais, dos avós, dos tios, dos irmãos, dos primos.
Tem as dos amigos e dos colegas.
Enfim (como essa palavra encaixa bem agora), uma certeza absoluta em infinitas escolhas.
Qualéasua? E, por favor, não mate essa!

Até breve.
PS>: ANÔNIMO, por favor, não se apresente, prefiro a dúvida.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

COMPAIXÃO

Atingimos sete bilhões de pessoas vivas sobre a Terra. Vivas, em termos, pois grande parte não goza de padrões mínimos de dignidade. Um bilhão e meio de pessoas sobrevivem abaixo da linha da miséria absoluta.
Em 2010 um terremoto atingiu o Haiti e matou cerca de 222 mil pessoas, feriu mais de 300 mil e deixou 1,5 milhão de desabrigados. Parte do Chade, da Nigéria e da Somália vivenciaram enchentes devastadoras e os seus efeitos como cólera, meningite, sarampo e desnutrição.
Nos últimos anos mais e mais imigrantes têm enfrentado longas viagens para fugir da violência, da perseguição ou da pobreza, em busca de uma vida mais segura, mas acabam detidos. Condições de vida terríveis, assédio da polícia, ameaças de ataques xenofóbicos e falta de acesso à saúde ainda definem a vida dessas pessoas vulneráveis.
Em 2010, mais de 47 mil imigrantes sem documentação e requerentes de asilo foram presos na fronteira da Grécia com a Turquia. Centros de detenção ficaram lotados, com condições desumanas. Muitos requerentes de asilo na França não recebem visto de residência ou têm seus pedidos de asilo negados. Estima-se que de um a dois milhões de afegãos sem documentação estejam vivendo no Irã.
Cerca de 5,7 milhões de pessoas vivem com o vírus HIV na África do Sul, equivalente a 17% da população mundial de portadores do vírus.
Estas informações foram colhidas do Relatório Anual 2010 da ONG Médicos sem Fronteiras. Elas não concluem o quadro de horror com o qual todos nós deveríamos estar preocupados. Há, no entanto, muitas outras misérias e desastres que nos deixam perplexos.
Há tragédias humanas de menor extensão e volumosas muito próximas de cada um de nós. Nos nossos hospitais públicos, nas filas de transporte urbano, nos sertões, jequitinhonhas, aglomerados.
Não são essas imensas ou pequenas desgraças e suas vítimas que nos ocupam. De qualquer forma é bom saber delas para que a nossa satisfação seja comedida e renove nossa demanda por humanidades.
É bom saber delas para enfrentarmos nossas diminutas mazelas, dando-lhes a exata medida. É bom saber delas para que em nossos momentos de felicidade não deixemos de considerá-las, mesmo que isso possa vir a perturbar o nosso espírito.
Pois é imperiosa a tarefa de humanizarmo-nos.

Até breve.
PS.> Rosilene, obrigado pela palavra.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DESAPEGO

“Cada dia que passa eu gosto mais das mesmas pessoas.”
Essa tem sido uma de suas máximas. “Não consigo e nem me interesso por criar novos vínculos”. Outra, por decorrência. “Mais alguns poucos anos eu deixo de trabalhar para empresas. Quero cuidar de minhas coisas. Vou concluir meu outro lugar, prá lá levar o que eu gosto, meus afazeres do feminino, minhas amigas e meus trens.”
Vou viajar sozinha ou, no máximo, com uma grande amiga, para bater as pernas por onde me levarem. Quero ares, paisagens, chãos que farão pulsar esse coração em outro ritmo.
Estou pronta para fechar o arcaico e deixar vir o novo. Estou mais leve. Sinto que adiante tem algo pelo qual valeu passar todos esses anos. Fiz sozinha um caminho, doei-me sempre a muitos, inclusive e, sobretudo, aos mais próximos. Alguns por demais, até. E não medirei esforços para continuar fazendo-o, sempre que julgar oportuno, adequado e necessário.
Há ainda dois encaminhamentos que me obrigam e eu estou certa que os farei com responsabilidade e, principalmente, afeto.
Permaneço atenta ao que me interessa e pago o que tiver que pagar para obtê-lo. Sei das minhas possibilidades, sobretudo porque hoje quero menos e cada vez menos daquilo que não diz de mim.
Devo cuidar dos meios para a manutenção de condições materiais que continuem permitindo o luxo de poder escolher pequenos mimos, coisas quaisquer que elevem e alegrem o meu espírito.
Estou pronta para deixar o que não me acrescenta e ficar somente com o que me basta.
Sinto um legado se configurando, preparo-me para os melhores anos de minha vida. Pretendo deixar no futuro algo que tenha sido mesmo de um especial valor e que tenha servido em igual ou maior extensão a tantos outros.
Estou deixando um tempo de mim.
Sigo.


Até breve.
PS. Um grande beijo, querida.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

SACRIFÍCIO

Pedi que me remetessem palavras para que eu pudesse memorar meu centésimo post. A repercussão atingiu visceralmente meu perfil com o qual me apresento no dasletra. Mudei ali, então, minha pró fissão, aquilo que me rompe de um todo. Se observarem, doravante apresento-me como um lavrador de palavras. Doravante meu trabalho é de sapa, vou ao encontro de um novo fazer: quero ser palavrador.
Quero, em respeito àqueles que me provocaram com sua palavra, estar com cada uma delas a cada post. Permitam-me escolhê-las fora da ordem de entrada, já que a porta estava aberta e circunstâncias diversas levaram cada um de vocês a se aplicarem em momentos distintos. Tem um pouco de novela na coisa. Ficarão esperando que o post do dia contemple a sua palavra.
Aviso àqueles que estão chegando agora, que entraram por essa porta avançada, que retornem ao nonagésimo nono post para entenderem melhor essa conversa.  E se quiserem fazer parte dela peço que me remetam palavras. Isso me obrigará à lavoura. Aqueles que já me legaram sua palavra entrem e tragam novas. Tenham apenas um pouco de paz ciência, já que lavrar palavra é dor trabalhosa.
É possível, de quando em vez, que eu seja acometido das minhas próprias e eu os deixe por um ou outro post. Prometo voltar em seguida para que nós possamos com versar.
A palavra escolhida para o centésimo post, remetida por um anônimo querido, deve ser tratada com zelo, muito zelo e eu a reduzi a uma criança pura, limpa, selvagem e descivilizada.
Entrou, e por duas vezes, por esta porta uma demanda que nomeia este post. Vou, então agora, ao seu encontro.
Ela faz parte dos inúmeros equívocos pelos quais peço compaixão à criança que em mim habita e ronda-me. Ela está no rol das pessoas do mesmo sangue de quem me afastei. Ela, seguramente, sabe mais de mim do que eu sei dela. Ela me considera muito mais do que eu deveria considerá-la.
Lembro pouco, mas sei que ela era uma jovem bonita. Um corpo de ginasta, alta, com olhos assim sei lá. Ela é coadjuvante de partes importantes do filme. Foi ela que zilhões de vezes foi me buscar na escola e eu dizia a frase suja. Foi ela quem nos levou, a mim e a meu irmão, a uma ópera e que passou pelo constrangimento de ter que sair do teatro no meio do espetáculo por força do acesso de gargalhadas histéricas dos seus dois irmãos. Foi para o casamento dela que nossa mãe arrumou a casa e eu, com um pincel de esmaltes para unhas, pintei os rejuntes dos azulejos do banheiro. Foi ela que, quando eu vivia aos trapos, me deu uma camisa listrada azul em um fundo branco, uma calça azul para que eu me apresentasse a uma namoradinha qualquer. Foi também ela quem sinalizou a pessoa com que eu deveria ficar por toda a minha vida. Foi ela quem me acolheu em sua casa, em um quarto dos fundos, quando por circunstâncias já trazidas aqui  eu tive que evadir-me.(http://www.blogdoagulho.com.br/2011/06/carreira.html)
Mas sei que ela era uma jovem bonita com olhos assim sei lá. Apaixonou-se por um galã que só se via semelhante em revistas tipo Capricho. Putas olhos verdes, alto, cheiroso, engenheiro da Rede Ferroviária, partidaço. Tinha lá defeitos de fabricação, o nariz por exemplo. Eu era menino e tinha receios de ficar muito perto do gajo. Pareciam aqueles sorvedores de ar de submarinos. Depois me acostumei. Uma dama o sujeito.
Eu já disse, não sei a história toda. Tenho presente, no entanto, que não foi nada fácil. Ela não se importou com meios e buscou os fins, literalmente. A questão para ela, sobre que circunstâncias fossem era de criar seus filhos, quatro putas machos. Fez de um tudo para que seu intento solitário, transloucado e inconseqüente às vezes, viabilizasse.
Não quero mais falar sobre isso, décadas se passaram. Para mim o que é mesmo importante é que ela era bonita, tinha uns olhos assim sei lá e que, por força de seu extraordinário intento, os netos terão uma vida mais leve e limpa do que seus irmãos.
Até breve.

domingo, 13 de novembro de 2011

DEUS

Uma CRIANÇA habita-me. Ronda-me. Em todos os dias e em todas as horas. Ela busca de mim RESPOSTAS. Desde sempre e cotidianamente ela convida a questões de conduta e caráter. Eu posso, eu devo, eu quero? Farei sessenta anos e ela continuará ali ainda, me cobrando no FUTURO.
Essa criança jamais se tornará adulta, porque ela não se fará pelas respostas que lhe são dadas. Ela não as compreenderá. Optará pela inocência, pela ingenuidade, pelo DESAPEGO.  E continuará pura, limpa, selvagem, descivilizada.
Tenho coragem de fitá-la com freqüência em minhas reflexões. Busco preservá-la em mim e nem sempre é fácil. A VIDA que corre é avassaladora e, em vários momentos, vacilo. Desde pequenos crimes hediondos como desdém a outro, egoísmo, volúpia, preguiça e ira a grandes crimes como afastamento de pessoas antes queridas, até do mesmo sangue.
Opto pelo complexo e trilho o simples, tarefa nada fácil. Meu DESEJO é de com prender-me. De encontrar significados para além do corriqueiro, do sabido, do explicado. Quero mais todo dia de mim. Essa criança me assola e me cobra.
Menino freqüentei igrejas, catecismo, comunhão, crisma. “O senhor é meu pastor e nada me faltará”. Belo dia não retornei mais, exceto quando me casei a pedido do meu santo sogro. Aquela criança já estava em mim, impregnada como tatuagem.
De quando em vez a agradeço, assim, desse jeito como faço agora. Obrigado, lançado num vazio, de fora para dentro, fundo, e eu sinto que me vale à pena. Três vezes, as mais gratas, quando me tornei PAI que me permitiu RENASCER.
Na solidão que é se fazer, estar com ela, sabendo que ela me cobra tanta PERSEVERANÇA, às vezes me assusta. Especialmente agora, quando remexo minhas memórias fósseis. Tantas oportunidades perdidas, tantos gestos indevidos, tantas atitudes, tantas perdas, tantos dizeres mal e mau ditos.
No fundo, suponho que sei. Os fins jamais justificarão os MEIOS. Faltei e falto ainda para com essa criança que me habita e ronda-me. Mesmo que eu faça cem vezes sessenta anos, mesmo que eu faça um SESSENTENÁRIO, ainda deverá ser assim. Essa criança estará ali.
Que ela tenha COMPAIXÃO de mim, pelos meus inúmeros equívocos.
Obrigado aos queridos que me legaram sua palavra.

Até breve.

sábado, 12 de novembro de 2011

PORTA

Alguém bate à porta. Outro mais, outra ainda, e tantos outros, até simultaneamente, batem à porta. Vindos infovia de diferentes lugares, até dos USA, da Itália, do Reino Unido, da Austrália, da Letônia, da China, da Rússia, do Canadá, da Alemanha. Vários batem à porta e todos os dias, mesmo eu não estando aqui. Sei por que a tecnologia permite vigilância ininterrupta e permanente. Nunca sei exatamente quem, mas sei que vêem, são mais do que eu poderia supor e batem à porta.
Você bate à porta.
Todos em busca de palavras. Das minhas palavras. E eu nem sempre as tenho. Mesmo assim, todos os dias, ainda que eu não estivesse, batem a porta e entram e acessam meus escaninhos onde estão palavras. Alguns deixam bilhetes e comentam...
Eu deveria poder saber como organizar melhor palavras e entregá-las com maior servidão. Palavras é produto para poucos, embora fiquem pululando à procura de quem as use e até abuse fazendo corruptelas, como o Manuel de Barros, o poeta.  Pior é que palavra não está pronta e acabada, porque cada um faz uso segundo suas conveniências e sabiências (olha aí uma da hora). Põe procevê no PRONTA um MENTE. Prontamente resulta. Muda o sentido de pronta=acabada, para prontamente com o sentido de tempo. E olha que esse MENTE aí num é do verbo mentir: Ele mente. Elementar, não é. Vai procevê mexer com palavras, é a luta mais vã.
Batem à porta procurando palavras. Assistam “Minhas tardes com Margueritte”, um filme corajoso onde um desletrado é convidado a se interessar por palavras e ganha um dicionário. Maravilhoso! Mais não digo, assistam.
Lembro-me de uma letra (interessante não é da parte da palavra) de uma canção composta pelo Dennis (um dos amigos da FAFICH):
No princípio era o verbo
Na verdade fez em verso
A oração.
E o poema virou verbo
E habitou entre nós.
Então Poeta?
Batem à porta procurando palavras. Estivemos no Café com Letras, quinta à noite, tomando um vinho, degustando um salmão. Palavreando. Fico sempre irritado quando estou em lugares para palavrar e colocam no ambiente um som inadequado para o lugar ou numa altura maior do que o razoável. Gosto mesmo é do alarido das palavras vindo das mesas próximas, em uníssono, um som forte de troca, de interesse, de trama, de sedução, de inteligência, de afeto ou de desafeto. Gosto do som da palavra.
A próxima vez que baterem à porta será a centésima. E eu resolvi hoje abri-la, antes, a todos. Isto quer dizer que eu voltarei aqui pela centésima vez para trabalhar as suas palavras. Quero ter a pretensão de construir algo a partir de suas palavras. Gostaria muito que no espaço reservado aos comentários, mesmo que anônimo (talvez seja melhor mesmo), você colocasse uma palavra, uma única palavra. Quando eu tiver recebido até dez palavras, voltarei e fecharei a porta novamente. Por enquanto, vôo.
Até breve.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ÁCIDO

Domingo fomos ao teatro: Deus da Carnificina. Peraí, é o título da peça. Bacana. Interpretação porreta dos atores. Espaço teatral inadequado, mas tudo bem. Num teve jeito de sair de lá meio ferrado, o texto tira risadas trincando os dentes. Puta drama humano. O personagem de Paulo Betti, executivo de laboratório, melhor, executivo que trabalha para um laboratório, lá pelas tantas afirma: “Casamento é caixão. Filhos são os pregos.”
Tem algo de disconforme aí.
Antes de viajar hoje de Confins para São Paulo, li o jornal TUDO o que você precisa saber distribuído na sala de embarque. Vamos lá:
ü  Os candidatos à Presidência da República pelo PSDB não podem aparecer no programa eleitoral. Há falta de unidade.
ü  A vida política brasileira tem apresentado algumas surpresas, coisas nunca dantes vistas. Existe algo a ser encoberto em nossa política. Qualquer que seja a razão, fica claro que é preciso reformar nossa política. São acertos em função de interesses individuais que, muito raramente, são coincidentes com os interesses nacionais.
ü  Dirigir bêbado é crime. É como porte de armas. O simples porte constitui crime de perigo abstrato.
ü  O envelhecimento de clientes afeta resultados de planos de saúde.
ü  Novo filme de Justin Timberlake Na Terra do futuro, o tempo virou moeda de troca. Os ricos podem viver eternamente, os pobres correm contra o relógio que trazem tatuados no corpo. Quando o tempo se esgota, o colapso é imediato. Não é 100% crível, mas pode ser divertido.
ü  A razão para desaparecidos está mudando. Antes as pessoas se escafediam por vontade própria, agora aumentam os casos de violência.
Durante o almoço li a Folha de São Paulo de hoje.
ü  Berlusconi renuncia. É o quarto Primeiro na Europa. Fala-se de Zapatero e Sarkozy serem os próximos.
ü  Aqui, um pesado, diz que só à bala.
ü  Estudantes que ocupavam universidade são retirados na marra.
ü  Irã busca arma atômica.
ü  Para fechar acordo em votação, governo libera verbas e cargo.
ü  Ministério Público pede cassação de líder do governo.
ü  Chacal, o ex-terrorista mais procurado do mundo está em julgamento na França. Em 1997 ele já foi condenado à prisão perpétua.
ü  Viúva, porém honesta (referência a Courtney Love, de Kurt Cobain}.
ü  “Ninguém faz dinheiro com download” (da viúva de cima).
Não sei se concordam. Não se deve aproveitar intervalos, enquanto não se está fazendo senão o dia-a-dia comezinho, para procurar saber de tudo. Tá bom. Escolhi mal minha leitura.
Sei que alguém daí do outro lado vai voltar a dizer que estou ácido. Estou mesmo, com aftas a me arderem por toda a boca. O problema é que sou da turma daqueles que quando o tempo esgotar, o colapso será imediato. Não sou da turma de Justin Timberlake.
Isso tem a ver com o real e não acho nada divertido.
Até breve. 

sábado, 5 de novembro de 2011

ZUEIRA

Concluímos a reforma do apartamento. Estamos na fase do só falta. Tapar duas falhas no rodapé da sala, fixar a porta do banheiro da suíte, colocar a bancada do tanque na área de serviços. Falta ainda colocar cortinas em dois quartos. Adornos e peças de decoração ainda faltam. Talvez mais uma prateleira na estante do escritório (idéia à posteriori do Lé). Ah, falta ainda também o vidro da bancada do escritório. Tapetes. Uma campainha, talvez.
Foram três meses de pó e zueira, mas passado o estresse, tá ficando legal, estética e funcionalmente. Alguns milhares de reais depois eu me pergunto: cacildabecker, prá quê tirar tudo do lugar, derrubar parede, se estava razoável, limpo, adequado? Vivo do mesmo jeito depois da reforma, talvez um pouco mais cansado nesses dias imediatos à conclusão. Mas ficou legal, oras pombas! Sim, mas que diabos de idéia é essa de fazer o que está legal ficar legal. Tudo bem, mais legal.
Vou encontrar uma razão. O legal não está no resultado aparente do que se via antes e se vê agora pós-reforma. A curtição está no processo de passar pelo que fica e pelo o que sai. Ficou muito pouca coisa do passado, inclusive recente. Peças de vestuário, praticamente todos os móveis, aparelhos de som, coisas e tal dançaram. Foram dadas aos outros ou jogadas na camionete dentro de sacolas e levadas para Santa Luzia, lá são mais apropriadas. Algumas foram passadas às pessoas que nos ajudam no sítio, outras avaliadas melhor foram mesmo é parar no lixo. E estavam todas organizadas e alocadas em nosso apartamento. Há anos.
Tive que rever documentos, papéis, contratos, boletos, propostas de trabalho, relatórios, apostilas, textos. O que rasguei de papel não é mensurável, toneladas. Carambolas, porque os guardava, afinal? Achei brindes extraordinariamente úteis como um alicate suíço, troço de louco.
Cada objeto, documento, papel, cada seleção de destino, uma viagem. Pude lembrar-me das minhas primeiras transparências, alguém se lembra desse recurso pedagógico? Diagnósticos de organizações, informações sigilosas que fariam tremer altas cúpulas, assinaturas de poderosos falecidos, organogramas exalando intrigas, maledicências; cartas e correspondências internas de pessoas que mudaram radicalmente sua trajetória. Pô, cara, ele fez mesmo isso?
Retratos, folhetos, rodinhas de malas. Roteiros turísticos, mapa de Roma da época de Nero, pedras da vesícula, farpa do corrimão de madeira da varanda dentro de um vidrinho com álcool. Exames de fezes e urina. Raio X da clavícula. Espermograma após vasectomia, isso faz 32 anos. Manuais de aparelhos domésticos: enceradeira, batedeira de bolo, secadora de roupa, toca fitas e gravador cassete, todos rigorosamente guardados em sacos plásticos. Declarações de Imposto de Renda desde 1980 com os seus devidos comprovantes em anexo além dos disquetes correspondentes. Vai que descobrem...
O legal é por quê?
A vida impregna de velho, de passado, de obsoleto, de inútil, de desnecessário, de feio. A vida convida e instiga ao novo, ao diferente, ao atuar(l), ao agora belo, aceito, atrativo, desejável. A vida é cruel com o desejo de paralisia e morte. A vida cobra vida. A vida deixa a morte.
É apenas uma questão de escolha.
Ela está falando agora que no ano que vem, vamos reformar o sítio de Santa Luzia.
É foda. No duplo sentido.
Até breve.