terça-feira, 29 de março de 2016

SAPA



Hoje nada de macro. Só de micro.

Dos sessenta aos sessenta e quatro minha vida deu guinada. Eu tô meio esquisito de mim para demais. Fisiologicamente, profissionalmente, esteticamente, culturalmente, espiritualmente, sociologicamente, psicologicamente, sexológicamente, e todos os sufixos mentes mais do que prováveis. Inclusive, ou especialmente, aquele derivado do verbo mentir.

Primeiro que passou rápido. Depois que em muitas áreas da Vida. Eu venho chutando alguns baldes e percebo que há outros ainda que quero mandar pelos ares. Do tipo: grana.

Vou precisar de pouca, tipo quando eu tinha lá meus dezessete e zincrava o tempo com chinelos de sola de pneu, calça jeans e camiseta. Vou morar em Santa Luzia, menos recluso do que eu gostaria, mas o suficiente para eu esconder meus trens agudos.

Amigo é bago de cachorro que só anda junto. Quem quiser que me procure. Quando muito e numderepente mando um zapzap qualquer hora. Quem de responder de bão. Se não, também.

Pretinha e Claudinho estão fazendo malas e cuias para levar Noninha e Tin para as lages de santas catarinas. Falam-me de saudade, se eu vou senti-la. Eu que não.  Deu doída eu pego de ir lá no prontamente. Se de menos, uns facetimes põe a gente como se vivo.

Antônio não tem nem ideia do que andam fazendo nos seus espaços. Helena por menos de 40 dias floresce. E vai encher aquele apê de Fá e Vlad que Antônio desde já vai entender o que é uma mulher. Cheguei, e sô linda!

Sobram meus afazeres, para além de minha clandestinidade enquanto intelectual de quinta. Tomara que eu ainda tenha chance de contribuir com empresários interessados em estratégia e performance. Vou ainda precisar de uns trocados que me dê garantia e chinelos de sola de pneu.

Sempre achei que o meu caminho era uma marcha para a solidão. Nada de deprê, muito antes pelo contrário. Sozinho faço menos desfaçatezes. E quando surjo sou mais ameno, simpático, palatável, quase sociável.

Não que eu me ache, antes porque me procuro. E outro embola, esgota, ainda que seja indispensável. Egóico, claro, mas quem não é. Tem muito mais solitário do que eu mesmo em companhia de montes.

De vez em quando sai uns textos destes e eu me regozijo. Porque no fundo, precisa de coragem. E essa eu tenho. E vem com uma pretensão meio boçal: se olhar no fundo de cada um, a maioria gostaria de ter semelhante para chutar seus baldes.

A Vida precisa ser mais do que tem sido, gastar o cotidiano.

Aos setenta devo estar mais próximo.


Até breve.


quinta-feira, 24 de março de 2016

COMPULSÃO



“Salomão disse, não há nada de novo sobre a face da Terra. A partir daí, Platão teve uma imaginação, que todo conhecimento não passa de lembrança; e ai então Salomão deu sua sentença, que toda novidade não passa de esquecimento. Muito tempo depois, Freud, a partir destes ombros, observou: Toda pretensão à novidade não passa de onipotência.”. (*)


Alguns personagens do nosso drama dão conta de que, em cinquenta anos, não fizemos a passagem histórica. O passado presente nos assombra nas figuras de José Sarney, Tancredo Neves (representado pelo seu neto), Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva.

Sarney, então da ALIANÇA PELA RENOVAÇÃO NACIONAL, migra para o embrionário MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO para concorrer, enquanto vice na chapa de Tancredo, o Neves, contra Paulo Maluf candidato no Colégio Eleitoral pelos adeptos da Redentora.

Mais adiante a história forja duas lideranças, Collor e Lulla, ambas embandeiradas pela causa de defesa dos fracos, oprimidos, contra as oligarquias e a corrupção dos marajás e/ou da elite capitalista.

Collor assume, pelo PARTIDO DA RENOVAÇÃO NACIONAL. Lulla realiza dois mandatos, torna-se a paixão da maioria dos cidadãos, encanta líderes internacionais e produz uma bolha fugaz de crescimento sustentado em renúncias fiscais, consumismo exacerbado via expansão temerária de crédito e especialmente, a institucionalização de práticas abomináveis entre o Estado e empresários de frágil caráter. 

Collor e Lulla protagonizam uma das maiores frustrações e traições ao povo brasileiro. 
  
Paulo Maluf tenta, tenta, tenta, mas não se torna. Neves, uma réplica empobrecida do avô altivo, não emplaca.

No entrementes Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Dilma são personagens secundários. Coadjuvantes de um drama fecundo.

A cena volta agora em teatro com plateia outra. No palco, os mesmos: Renan (no papel de Sarney), Sarney no papel de Sarney, Paulo Maluf (no papel de Paulo Maluf), Fernando Collor de Melo (no papel de Collor), Lulla (não sei) e Aécio (que deveria ficar na coxia para não fazer vergonha ao desempenho do avô). Alguns coadjuvantes e figurantes sem expressão compõem um texto de horrores.

De um lado, RenanSarney, Maluf, Collor e Lulla, embrulhados em um pacote rodriguiano (Nelson Rodrigues) e de outro, pobre de Tancredo, que treme à sete palmos, disputam o impedimento ou não da ruptura histórica.

E, em todos eles, nós mesmos.

Afinal, o que queremos assistir? Um drama, uma comédia, uma tragédia, uma tragicomédia? Ao fundo, como sonoplastia:

- Varre, varre vassourinha, varre toda a bandalheira que o povo está cansado de sofrer desta maneira.

Não quero morrer com este jingle entranhado em minhas vísceras.


Até breve.


(*) Epígrafe ao texto de Paulo Cesar Sandler: COMPULSÃO À REPETIÇÃO E PATOLOGIAS ATUAIS.

quarta-feira, 23 de março de 2016

CARÁTER



Sexta-feira passada participei de um Seminário com empresários interessados em implementar processos atualizados ou mesmo iniciar a exportação de seus produtos. 

Esteve conosco um grande especialista do Direito Internacional além de ser intermediário na análise, prospecção de oportunidades e negociação com fundos de investimentos sediados na América do Norte, na Europa e na Ásia.

O iminente jurista encantou a todos com sua senioridade no assunto e a divulgação de duas boas novas aos empresários: a primeira, que ele tem o mandado de US$30 bilhões de fundos interessados em investir no Brasil e, segunda, o resultado das análises feitas por especialistas daqueles fundos sobre o país e seus riscos.

O que aponta o relatório que acabou de sair do forno?

  1. A potencialidade do Brasil compensa todo tipo de transtornos.
  2. A hipótese de convulsões sociais com paralisações das atividades econômicas está descartada.
  3. Em que pese sistema tributário caótico, burocracia sufocante e, ainda, com corrupção onipresente, o conjunto de leis é suportável.
  4. A hipótese de o território ser conflagrado por ataques terroristas está descartada.
  5. Recepção de investimentos estrangeiros quase nunca é hostil e quase sempre amistosa.

Surpresos? Pois é, mas há um senão importante que faz com que os investidores se retraiam. O caso Petrobras. Os investidores que compraram ações da ex-maior empresa brasileira se sentiram traídos. Traídos não pela corrupção, mas pelo fato de não terem sido informados da sua existência.

A ex-presidente Graças Foster e o ex-presidente Sérgio Gabrielli estiveram depondo recentemente na Justiça Americana a respeito. Ambos disseram que não sabiam de nada do que estava acontecendo.

Em que pese graves desafios à administração de qualquer organização que disponha ao risco de investir, mesmo em um contexto de aguda turbulência, como a que estamos experimentando agora, o que afugenta as oportunidades de desenvolvimento do país através de investimentos internacionais foi colocado de forma singela pelo brilhante conferencista do seminário.

“Os desacertos em qualquer campo da relação humana são minimizados quando informados de pronto”.



Até breve. 

sexta-feira, 18 de março de 2016

DEVER



A Política se serve da Lei, já que antes de ser legítimo, justo, adequado, conforme, o ato de todo e qualquer cidadão é um ato político. Mesmo contrário à Lei o ato é ainda Político. Assim o que governa a Pólis não é a Lei, mas a Política. A Lei decorre de atos políticos.

Política não é patrimônio de partidos dentro de um enquadre jurídico eleitoral e nem de representantes eleitos pelos cidadãos. A Política é a particularidade de cada cidadão no exercício pleno de sua liberdade.

Coloco isto porque há um intenso debate a propósito das decisões do iminente juiz Sérgio Moro. Antes de Juiz, o Dr. Sérgio Moro é um cidadão que age segundo suas convicções e consciência e, portanto, politicamente.

Assim como o Dr. Sérgio Moro todos nós, cidadãos, agimos segundo nossas convicções e consciência e, portanto, politicamente.

O ideal buscado pela Pólis é que a Lei dê conta da Política. Sonho acalentado pelo Homem. Fosse assim não teríamos experimentado a Política de Exceção, onde todo o poder é concentrado pela força em um indivíduo ou grupo e extraído o direito de todos os demais cidadãos.

A Ditadura antes de ser o império da supressão dos direitos de todos é uma alternativa, ainda que a mais abominável, Política.

A Democracia, por sua vez, é o exercício da liberdade de cada um e de todos. Estamos, em minha opinião, tomando contato e apreendendo Política.

Lidamos com a mídia, com a elite branca e suas babás, com coxinhas e petralhas, com alienados, omissos, com Bolsonaros e Renans, com Moros, Lulas, Dilmas, com nosso vizinho, com nosso amor mais próximo, com nossos filhos e até mesmo com nossos netos. Politicamente.

Resta-nos escolher fundados em que Ética, coração da Política.

Quando ajo o faço a partir de três questões éticas. Quero? Posso? Devo? A última é o cerne da minha ética. Querer e poder diz respeito à minha liberdade. O dever envolve o outro. Eu sei que quero e posso matar. Mas eu devo?

O dever resulta de duas possibilidades: por dever e conforme o dever. Conforme o dever está fundado em uma Lei Coletiva que determina que eu não devo; por dever diz respeito à minha convicção e consciência. Eu não mato porque existe uma Lei que me colocará na cadeia ou não mato porque isto fere essencialmente a minha consciência?

O momento nos ajuda a pensar sobre nossos atos. Nossa Política demanda mais Leis que nos determinem ou convida à revisão de nossos valores que constituem a nossa consciência?

A segunda alternativa, me parece, melhorará seguramente a nossa Política e, por extensão as nossas Leis, ampliando o nosso espaço de liberdade.

Ressalva: este blog é Político, portanto, gozando do privilégio de manifestação das convicções e consciência do autor.

Ressalva da Ressalva: mais dúvidas do que convicções.



Até breve.

quinta-feira, 17 de março de 2016

POSSE



Concordo com a tese de que quem tem certeza é porque está mal informado. Prefiro à dúvida ativa, isto é, aquela que está permanentemente à busca da melhor verdade, entendida como aquela que nos conforta e que fica mais próxima de nossa própria índole.

Tenho acompanhado em diferentes fontes os últimos acontecimentos. Conversado com algumas pessoas de diferentes tendências. Trocado mensagens e posts na rede social.

Ouvido gravações.

No mar de dúvidas, pinço algumas poucas, talvez de agora quando escrevo este post. Ao concluí-lo é de todo provável que inúmeras outras contribuam para aumentar ainda mais a minha turbulência.

É comovente ouvir alguns trechos das gravações ou ler alguns momentos do depoimento do último dia 04 à Polícia Federal. Lula, sim, estaria sendo vítima de uma perseguição implacável, título do filme exibido pela Globo na noite da segunda-feira passada. Ele só não sabia de nada do que se passava ao seu redor quando presidente, assim como depois no Instituto Lula e em sua empresa de palestras. Nem do que acontece em casa, já que Dona Marisa e seus filhos que cuidam de tudo que envolva dinheiro, propriedades e “tranqueiras”. O depoimento do dia 04 comove por isto. Lula estaria tão focado nos seus compromissos com o povo e com a sua causa que jamais se ocupou com estas pequenas demandas do senso comum. Lula não sabe quanto ganhou em palestras, quanto o Instituto arrecadou de contribuições e muito menos de quem. Não sabe nada de recursos de campanha, nem quanto empreiteiras ganharam com suas inúmeras visitas para abrir portas no mercado internacional. Lula não sabe quando e nem quantas palestras fez pelo mundo afora. Só sabe que fez muitas para despertar a vontade de crescer de seus ouvintes. Não sabe exatamente quem são os sócios de seus filhos, o que fazem suas empresas. Lula não se importa com nada do mundano. O que importa a ele é dar uma vida melhor para os mais necessitados. Agora, diante da violência a que está submetido ele se desperta da utopia e se vê acuado sem entender por que.

Lula é Lula por isto.

Ouvir nas gravações como Dilma, Jacques Wagner e o seu amigo advogado o trata nos dá conta de que estão conversando com um mito. Ele trata a todos de querido e Dilma o trata de senhor.

Lula seria mesmo um líder acima das ambições mundanas que, por isto teria cativado a tantos e também por isto teria sido usado e abusado por pessoas que sordidamente o apunhalaram em diferentes e inconfessáveis tramas?

A História e a ficção estão repletas de dramas como este.

Em linha com a dúvida anterior grande parte da mídia, de algumas correntes da elite, da intelectualidade e de segmentos menos preparados da sociedade estariam por diferentes meios e modos buscando derrubar esta liderança na medida em que a eles não interessa a distribuição de riqueza para os menos favorecidos, para os excluídos, causa-mor pela qual luta aquela liderança.

Existem sim inúmeras razões, fatos e dados que possam corroborar com essa possibilidade. Tendo lido e ouvido boa parte do material a disposição que envolve o tema, quando leio reportagens nos principais jornais virtuais do país ou assisto à TV as matérias contemplam cortes de edição os quais, fora do contexto em que afirmações foram feitas, podem sim dar a versão orientada à intenção de criar uma realidade que não condiz com a verdade dos fatos. Ontem, por exemplo, o repórter da Globo News pergunta ao ex-presidente do STF, Carlos Veloso, como ele interpretava a gravação de Dilma com Lula a respeito do Termo de Posse, quando o jurista começa a responder diz que não pode falar como jurista, mas como cidadão há um corte de áudio. O repórter pede desculpa ao telespectador e segue. Tudo bem que às vezes acontecem problemas técnicos no padrão globo de qualidade, mas não seria educado pedir desculpa ao iminente e ilustríssimo juiz? Fiquei com a sensação, dúvida, se como o entrevistado estava indo numa linha que não interessava a intenção, corte.

Outro exemplo: falando como cidadão e não perito em escutas telefônicas, a mim me parece que há, na gravação da conversa de Dilma com Lula a respeito do Termo de Posse, vozes de pessoas anteriores à ligação da presidente para o ministro. Teria então o grampo sido implantado no palácio e não no aparelho celular de lula (que na verdade é de um “laranja”)? O grampo então é de ambiente e não de aparelho celular?

O Termo de Posse foi assinado somente por Lula e foi assim porque a presidente assinaria quando no Ato de Posse do Ministro. Na impossibilidade de comparecimento de Lula no Ato previsto para hoje (Dona Marisa estaria doente demando cuidados do marido em SBC) Dilma teria pedido para que ele assinasse o documento. É aceitável?

Por toda a liderança que tem e a extraordinária capacidade de reunir contrários desde os tempos de portas de fábricas, pela sua projeção internacional, pela sua ímpar astúcia como estadista e, sobretudo, pela sua simpatia que o torna divino aos apaixonados e ferrenhos seguidores, Lula é sim uma temeridade aos “poderosos da elite branca” e, portanto, deve ser combatida?

Os governos do PT destruíram moral, cívica, econômica e politicamente o país. Esfacelaram a economia, saquearam estatais, aparelharam o Estado com uma teia cancerígena em sórdidas negociatas. Cooptaram o empresariado, a classe política, promotores, magistrados, advogados em uma estrutura com fins exclusivos de manter-se no poder a partir de uma engenhosa e intricada malha criminosa.

Renúncia fiscal de bilhões de reais, ilusão consumista pela expansão do crédito popular de acesso fácil e de longa duração, pedaladas para fechar contas contrariando disposições legais óbvias até aos leigos, propaganda enganosa de largo espectro, falsas promessas, compromissos essenciais para a perspectiva econômica do país fraldados e/ou não assumidos.

Concluo este post após assistir a posse do presidente Lula diante de seus correligionários. Dilma expôs o documento Termo de Posse, última peça-bomba do momento, com apenas a assinatura de Lula. É o mesmo que foi levado pelo “Bessias” ontem, ou será outro construído depois de todo o imbróglio?

Eu acho que não tenho dúvida: O PT reassumiu o poder. Por quanto tempo? Eu tenho dúvidas.


Até breve. 

terça-feira, 15 de março de 2016

AGULHO




Estou recompensado.

Depois de mais de novecentos posts publicados aqui no dasletra recebi um incentivo a prosseguir. Mais do que contundente. São manifestações como o comentário postado por sei lá quem no feicebuc que me dão estímulo a prosseguir.

A infernet tem essa prerrogativa: a liberdade, pelo menos a presunção de liberdade, de opinião. E a modelagem escolhida, na verdade sugerida pelo meu filho mais velho, de “por que você num faz um blog, pai?”, tem sido o meu veio. 

Meu único compromisso com a escrita é comigo e meus demônios, especialmente os intelectuais, sem a menor pretensão de fazer causa ao outro, inclusive, ou sobretudo, aos mais próximos.

Noninha, Valentin ou Antônio que trago aqui, não são as pessoas reais que emergem do meu núcleo familiar. Eles são, aqui, figuras simbólicas que, quando os convoco, representam uma esperança utópica que mobiliza os desesperados.

Meus netos são minha metáfora.

Assim e da mesma forma com os filmes, as peças de teatro, a música, a literatura, a poesia, o ensaio, a pesquisa, que surgem como veios por onde percorro a minha inquietação. Longe de eu fazer juízo qualitativo de qualquer arte.

Meu tesão se rompe em outro lugar.

Longe de mim a tensão intelectual, ainda que possa ser entendido que desta lavra que surge o texto. Talvez eu tenha mesmo um dia sonhado ser um escritor, porque eu estava mais focado no ato do que no propósito.

Hoje, compreendo que não.

Quando me imiscuo no olhar da Política trazendo os personagens da história real, estou pouco me lixando para quanto de exatidão tem minhas supostas análises de cenários.

O que significa dizer que estou sozinho, irremediavelmente sozinho com o meu texto, daí a razão pela qual, muitas vezes, demoro a compreender o que exatamente me ocorreu para compô-lo.

Vale dizer, então, que você aí que se dispõe a ocupar-se com “estas mal traçadas linhas” deve procurar nele algo que lhe faça sentido. E jamais será aquele que a mim remeteu.

E basta.

Inscrever-me no vazio da virtualidade é meu gesto revolucionário. Desnudar-me por inteiro, através de minhas letras, é para morrer um dia vestido de significados. A existência não pode ser reduzida apenas às questiúnculas da vida cotidiana.

E se quiserem saber, isto é difícil prá c..., melhor, é extremamente difícil.

Daí a importância que dou ao comentário postado no feicebuc: “Acessei o seu blog... É ruim demais!”.


Até breve.


segunda-feira, 14 de março de 2016

TRAGÉDIA



Não consigo deixar de pensar em pesquisa sobre a qual já fiz registro aqui. Perguntados cidadãos de 165 países o que mais os aterroriza a resposta recaiu sobre três “medos”:
  1.     A potencialidade de uma hecatombe nuclear;
  2.     A irreversibilidade da fome e
  3.      A ausência de líderes.
Dilma cai ou Dilma fica. Temer cai ou Temer fica. Cunha cai ou Cunha fica. Renan cai ou Renan fica. Lula preso ou Lula solto. Lula volta ou Lula fica.

Passada a festa do domingo – e que festa – surgem os balanços qualiquantitativos. “Eram mais de um milhão de pessoas!”, afirmam uns com base em tecnologia de celulares. “Não passaram de 800 mil.”, contradizem outros fundados em disposição de corpos por m².

“Mas quem foi, foi só classe média, alta... Teve até champagne (sim, porque francesa)... O povo não estava lá”...

Há os que acreditam que só foram tantas pessoas às manifestações porque o governo “pediu” para que os opositores não comparecessem. E o que é mais surpreendente: eles não foram mesmo. Como podemos crer que não há autoridade neste país?

Os opositores ao “cai” farão sua festa, regada à tubaína e sanduíche de mortadela, no dia 20 (parece) para defender que “fica”. E o governo “pedirá” para que, os de ontem, não compareçam.

Solução salomônica futebolística.

Na segunda, 21, as manchetes darão conta de que a festa de verdes e amarelos reuniu mais/menos do que os avermelhados. “Mas eram a soldo das prefeituras...” “Num vale.”, questionarão os do “cai”. “E daí, como eles pagariam o ônibus para ir às praças?”, retrucam os do “fica”.

Feitas as contas, analisadas as roupas, as grifes, se foram de Mercedes ou de Fusca, de trem, metrô ou a pé, se são mais povo, na quinta-feira é provável que o tema seja os primeiros capítulos da novela das nove ou um grande crime hediondo, tempestade ou desabamentos. Já será a final do BBB?

Ou: Dilma cai ou Dilma fica. Temer cai ou Temer fica. Cunha cai ou Cunha fica. Renan cai ou Renan fica. Lula preso ou Lula solto. Lula volta ou Lula fica.

Ontem postei no feicebuc: DIRETAS JÁ!!!. Poderia ter colocado também os jingles de campanha do Jânio, ou quem sabe cartazes quando do retorno de Getúlio. Ah, as festas populares democráticas do Brasil!

Como somos ingênuos, meus deuses!

Ontem fui assistir o Juca fazendo Rei Lear do Willian. Não podia ser melhor. Ator e personagem e, pelo menos um na plateia, refletindo sobre a tragédia da velhice. A progressiva dificuldade de discernir as atitudes e os discursos daqueles que o cercam, o embotamento da percepção da sinceridade e da falsidade humana.

E um tremendo receio de que a pesquisa esteja certa e que, de fato, nada poderá ser feito.



Até breve.

quarta-feira, 9 de março de 2016

EREMITA



No deserto estão secas as pedras que no mar
se molhavam. A semelhança confunde
o eremita que, solitário demais, passou
o tempo entregando-se à isolada memória.
Aqui a pedra seca, para o eremita,
não perdeu a qualidade úmida
de poder ter estado ao pé do mar.
Poética do Eremita de Fiama Hasse P. Brandão



Duas ou três palavras para o A Garota Dinamarquesa: oportuno, contundente, indispensável.

Do que trata o filme?

“Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda (Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.” Sinopse do CINEMARK

“Em A Garota Dinamarquesa, Eddie Redmayne  interpreta alguém que não se vê no corpo de um homem. Ele é Einar Wegener, um pintor dinamarquês, casado, de relativo sucesso, mas quer assumir sua identidade feminina.” Crítica de Renato Hermesdorff no Adoro Cinema.

“Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi uma das primeiras pessoas a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual. Em foco o seu relacionamento amoroso com a pintora dinamarquesa Gerda (Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher quando sua esposa pede para que ele pose para retratos femininos quando uma modelo falta na década de 20.” Sinopse em Wikipédia.

O que seríamos sem a Arte, especialmente sem a sétima, o cinema?

Fui arrebatado ao longo dos cento e vinte minutos de projeção. E desde as primeiras cenas me coloquei a divagar quão tem sido difícil ser. Quão difícil ser escolha, propósito, desejo, ideal.

Especialmente Humano.

O drama, e quer assim as sinopses acima e a crítica de Renato, trata de algo específico que dá, sem dúvida, a dimensão da complexidade do contemporâneo: a questão do gênero.

Eu quis ver mais do que isto. Eu quis ver a questão do Humano em nós. Retornando do cinema fui ao encontro, inadvertidamente, de Bauman em O Mal estar da pós-modernidade:

“A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto. A civilização impõe grandes sacrifícios à sexualidade e agressividade do homem. O anseio de liberdade, portanto, é dirigido contra formas e exigências particulares da civilização ou contra a civilização como um todo. E não pode ser de outra maneira. Os prazeres da vida civilizada vêm num pacote fechado com os sofrimentos, a satisfação com o mal estar, a submissão com a rebelião. A civilização – a ordem imposta a uma humanidade naturalmente desordenada – é um compromisso, uma troca continuamente reclamada e para sempre instigada a se renegociar. O princípio de prazer está aí reduzido à medida do princípio de realidade e as normas compreendem essa realidade que é a medida do realista. O homem civilizado trocou um quinhão das suas possibilidades de felicidade por um quinhão de segurança. Por mais justificadas e realistas que possam ser as nossas tentativas de superar defeitos específicos das soluções de hoje, talvez possamos também familiarizar-nos com a ideia de que há dificuldades inerentes à natureza da civilização que não se submeterão a qualquer tentativa de reforma.”

Perdoem-me por ter contado o final do filme e, também, por ter produzido um texto nada “fácil e delicioso” como diz uma “amiga feicebucana” serem os meus posts.



Até breve.

terça-feira, 8 de março de 2016

aPOSTS



Domingo, pela manhã, fizemos a festinha pelos dois anos de Valentin. Uma jovem artista de teatro mambembe contou estórias para as crianças que se aboletavam em uma colcha lançada sobre o piso do playground do nosso prédio.

Hoje se comemora o Dia internacional das Mulheres. Dica: assista A Garota Dinamarquesa. Humano demasiado Humano. 

Ontem vivi uma indisposição intestinal. Parece que hoje estou melhor.

Domingo vou ao teatro assistir o Juca em Rei Lear.

Não sei se na próxima semana vou ver o Tarcísio em O Camareiro.

Quinta, agora, vou conversar na PUC com um grupo interessado em saber para onde vamos.

Começaram a obra de mais um prédio de apartamentos ao lado do meu.

Ontem, quando fui buscar Noninha para levá-la para a escolinha, ela estava triste.

Comecei a usar chinelos que ganhei de presente (não me lembro mais de quem) que me feriram na parte superior dos dois pés.

Tenho assistido aos noticiários na TV, vi o ex-presidente do STF Carlos Veloso ontem no Roda Viva, acompanho amigos ilustres no feice.

Estou com seis livros, ao meu lado, me convidando para serem lidos: Pablo Neruda, Teus pés toco na sombra; Slavoj Zizek, O amor impiedoso (ou:Sobre a crença); Bauman sobre Bauman; Jessé Souza, A tolice da inteligência brasileira; Ruy Castro, A noite do meu bem e, também de Bauman, O mal estar da pós-modernidade.

Há, no ar, uma possibilidade de Noninha e Tin mudarem com seus pais para longe. Envolve avião e automóvel.

O síndico do meu prédio acabou de interfonar pedindo que alguém recolha as cadeiras que levamos no domingo para o playground. Fere o regulamento do condomínio. O local a serem guardadas é dentro do salão de festas.

Dia treze, domingo, o povo vai para a praça.

Dia quatorze é segunda-feira.

Sábado, Branco, dono do sacolão em Santa Luzia onde compro frutas e queijo frescal, disse que nunca, em vinte anos que ele está lá, vendeu tão caro abacaxi.

Ontem, Sharapova perdeu patrocinadores.

Marquei consulta com o meu proctologista para o dia 21. Tem três anos que eu não compareço.

Ela entrou com o pedido de análise da contagem de tempo para a sua aposentadoria. Qualquer coisa que vier, ajuda.

Se todos caírem nos próximos seis meses, além de badernas vamos nos deparar com a ausência de líderes.

Até o final do ano caímos 4% do PIB, somando com 2015 é quase uma tragédia. Nunca antes neste país.




Até breve. 

quarta-feira, 2 de março de 2016

MÁSCARAS




Delicado o avanço de Donald Trump.

Delicado o episódio da prisão do diretor do Facebook.

Delicado o vídeo, que circula na rede, do discurso do Deputado Bolsonaro na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Sinais da complexidade do contemporâneo.

Se optar pela virtualidade ou pelos meios diversos de me comunicar perco deliberadamente minha privacidade. Sejam os organismos que possibilitam os acessos ou os órgãos de segurança do Estado, uns e outros sabem e tudo ou muito mais de mim.

Como de todos.

Não incluirei os criminosos, por motivos óbvios. E nem, naturalmente, os excluídos (violenta redundância).

Nossa vida, nossas opiniões, nossos sonhos, nossos textos, nossa poesia, nossas relações, nossos fazeres e dizeres não são nossos.

Estamos todos enclausurados pela liberdade. Todos podemos nos manifestar dada a prerrogativa do direito à expressão conjugada à acessibilidade, portabilidade e instantaneidade facultadas pela tecnologia, e o processo é uma enxurrada de verbos e sintaxes cuja resultante é nula.

Não há saberes, posto que não há debate, reflexão, choque de opiniões, fundamentos.

Não há mistérios, segredos, e, por conseguinte, não há verdades.

Tudo de tudo em tudo por tudo para tudo e de todos são versões, delações, afetamentos.

Parece que a História perdeu senso, equilíbrio, arquitetura e forma. A sociedade despirocou-se geral, mesmo que seja um termo chulo e desacadêmico.

Há uma patologia pairando nos ares. Aqui como acolá as réguas usadas para entender os fenômenos não servem mais. Sempre soube que envelhecer é perder compreensão. É, para mim, falha a tese de que quanto mais maduro mais sábio.

Ocorre que novo é de um tanto que nem o novo o alcança. Daí a patologia.

Nunca e para sempre entendemos e entenderemos. Só que agora, face às vertigens e à desordem, estamos expostos.

Esta provocação não se restringe a alguma área especial da lida. Indiscriminadamente, estamos nus. As vestes nos colocam os outros, para que cada um possa compor o seu próprio texto.

Estamos personagens de uma obra maldita e mau dita, escrita por um autor que não existe, à moda de Pirandello e dirigida por um Stanislavski.

E não me perguntem por quê.




Até breve.