quarta-feira, 9 de março de 2016

EREMITA



No deserto estão secas as pedras que no mar
se molhavam. A semelhança confunde
o eremita que, solitário demais, passou
o tempo entregando-se à isolada memória.
Aqui a pedra seca, para o eremita,
não perdeu a qualidade úmida
de poder ter estado ao pé do mar.
Poética do Eremita de Fiama Hasse P. Brandão



Duas ou três palavras para o A Garota Dinamarquesa: oportuno, contundente, indispensável.

Do que trata o filme?

“Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda (Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.” Sinopse do CINEMARK

“Em A Garota Dinamarquesa, Eddie Redmayne  interpreta alguém que não se vê no corpo de um homem. Ele é Einar Wegener, um pintor dinamarquês, casado, de relativo sucesso, mas quer assumir sua identidade feminina.” Crítica de Renato Hermesdorff no Adoro Cinema.

“Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi uma das primeiras pessoas a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual. Em foco o seu relacionamento amoroso com a pintora dinamarquesa Gerda (Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher quando sua esposa pede para que ele pose para retratos femininos quando uma modelo falta na década de 20.” Sinopse em Wikipédia.

O que seríamos sem a Arte, especialmente sem a sétima, o cinema?

Fui arrebatado ao longo dos cento e vinte minutos de projeção. E desde as primeiras cenas me coloquei a divagar quão tem sido difícil ser. Quão difícil ser escolha, propósito, desejo, ideal.

Especialmente Humano.

O drama, e quer assim as sinopses acima e a crítica de Renato, trata de algo específico que dá, sem dúvida, a dimensão da complexidade do contemporâneo: a questão do gênero.

Eu quis ver mais do que isto. Eu quis ver a questão do Humano em nós. Retornando do cinema fui ao encontro, inadvertidamente, de Bauman em O Mal estar da pós-modernidade:

“A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto. A civilização impõe grandes sacrifícios à sexualidade e agressividade do homem. O anseio de liberdade, portanto, é dirigido contra formas e exigências particulares da civilização ou contra a civilização como um todo. E não pode ser de outra maneira. Os prazeres da vida civilizada vêm num pacote fechado com os sofrimentos, a satisfação com o mal estar, a submissão com a rebelião. A civilização – a ordem imposta a uma humanidade naturalmente desordenada – é um compromisso, uma troca continuamente reclamada e para sempre instigada a se renegociar. O princípio de prazer está aí reduzido à medida do princípio de realidade e as normas compreendem essa realidade que é a medida do realista. O homem civilizado trocou um quinhão das suas possibilidades de felicidade por um quinhão de segurança. Por mais justificadas e realistas que possam ser as nossas tentativas de superar defeitos específicos das soluções de hoje, talvez possamos também familiarizar-nos com a ideia de que há dificuldades inerentes à natureza da civilização que não se submeterão a qualquer tentativa de reforma.”

Perdoem-me por ter contado o final do filme e, também, por ter produzido um texto nada “fácil e delicioso” como diz uma “amiga feicebucana” serem os meus posts.



Até breve.

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