quarta-feira, 2 de março de 2016

MÁSCARAS




Delicado o avanço de Donald Trump.

Delicado o episódio da prisão do diretor do Facebook.

Delicado o vídeo, que circula na rede, do discurso do Deputado Bolsonaro na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Sinais da complexidade do contemporâneo.

Se optar pela virtualidade ou pelos meios diversos de me comunicar perco deliberadamente minha privacidade. Sejam os organismos que possibilitam os acessos ou os órgãos de segurança do Estado, uns e outros sabem e tudo ou muito mais de mim.

Como de todos.

Não incluirei os criminosos, por motivos óbvios. E nem, naturalmente, os excluídos (violenta redundância).

Nossa vida, nossas opiniões, nossos sonhos, nossos textos, nossa poesia, nossas relações, nossos fazeres e dizeres não são nossos.

Estamos todos enclausurados pela liberdade. Todos podemos nos manifestar dada a prerrogativa do direito à expressão conjugada à acessibilidade, portabilidade e instantaneidade facultadas pela tecnologia, e o processo é uma enxurrada de verbos e sintaxes cuja resultante é nula.

Não há saberes, posto que não há debate, reflexão, choque de opiniões, fundamentos.

Não há mistérios, segredos, e, por conseguinte, não há verdades.

Tudo de tudo em tudo por tudo para tudo e de todos são versões, delações, afetamentos.

Parece que a História perdeu senso, equilíbrio, arquitetura e forma. A sociedade despirocou-se geral, mesmo que seja um termo chulo e desacadêmico.

Há uma patologia pairando nos ares. Aqui como acolá as réguas usadas para entender os fenômenos não servem mais. Sempre soube que envelhecer é perder compreensão. É, para mim, falha a tese de que quanto mais maduro mais sábio.

Ocorre que novo é de um tanto que nem o novo o alcança. Daí a patologia.

Nunca e para sempre entendemos e entenderemos. Só que agora, face às vertigens e à desordem, estamos expostos.

Esta provocação não se restringe a alguma área especial da lida. Indiscriminadamente, estamos nus. As vestes nos colocam os outros, para que cada um possa compor o seu próprio texto.

Estamos personagens de uma obra maldita e mau dita, escrita por um autor que não existe, à moda de Pirandello e dirigida por um Stanislavski.

E não me perguntem por quê.




Até breve.

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