quinta-feira, 31 de maio de 2012

FEMINICE I



- Ei, pai.

- Oi, Pretinha. Tudo beleza?

- Jóia... Vim aqui prá pegar uma saia da mamãe emprestada...

- Tudo bem...

- Você vai mesmo na festinha?

- Liz pediu, eu tenho que ir, né?

- Ela está empolgadíssima que você vai.

- Eu também. Tô até pensando com que roupa que eu vou...

- KKKK... Eu ia mesmo te pedir prá me ajudar escolher a saia...

- Ah não, minha filha... Eu gosto de todas as roupas de sua mãe... Fique à vontade.

- Pode deixar. Mamãe tá chegando aí ela me ajuda...

- Melhor.

- Pai, você tem que comprar umas coisinhas...

- Que coisinhas?

- Prá levar prá festinha.

- Eu?

- É pai. Umas lembrancinhas...

- Lembrancinhas?

- Para os aniversariantes da semana, ora...

- E sou eu que tenho que comprar?

- Você me faz esse favor?

- Eu compro o quê?

- Ah... vê lá, umas bobagenzinhas, pai.

- O quê?

- Pros meninos brinquedos, bolas de futebol, essas coisas...

- E para as meninas?... Espere um pouco minha filha... Eu acho que sua mãe é quem está abrindo a porta... Oi, mô... Pretinha taí.

- Ah, que bom... Oi, minha filha.

- Oi, mãe, eu já estou aqui vendo se escolho uma roupa...

- Você experimentou aquela saia verde?

- Uma godê?

- Não, filha, aquela que eu gosto, que eu usei no aniversário da...

- Pras meninas eu compro o quê, Pretinha?

- Mãe, fala pro papai o que ele deve comprar...

- Para quais meninas?... Experimenta essa aqui, minha filha, eu acho que vai ficar bem em você...

- Essa eu acho muito séria, mãe. O encontro é à tarde...

- Mô, eu compro o quê para as meninas?

- Que meninas, mozinho?

- Mãe, o papai vai na festinha da escolinha da Liz...

- Mozinho, se você vai tem que comprar umas coisinhas...

- Pois é mãe, eu já falei prá ele...

- Filha, por que você não vai de vestido?

- Você acha mesmo? É que eu queria usar uma blusa nova...

- Qual?

- Eu comprei sábado. Você não viu ainda...

- Como que ela é?

- O que eu compro prá festinha?

- Mozinho, você está com sessenta anos e até hoje não sabe o que comprar para uma criança?

- Ô mãe, num fala com ele assim não. Sabe que você tem razão... Eu acho melhor eu ir de vestido mesmo, né mãe?

- Você vai ficar mais a vontade...

- Já sei até qual... Posso levar aquele cinto?

- Pros meninos eu vou comprar Ben10?

- Mozinho, não compra essas bobagens, compra lembrancinha...

- Mãe, será que esse cinto fica bem com o vestido que eu fui lá na...

- Lembrancinha ou brinquedinho, Pretinha?

- Pai, vê lá... Nem precisa ser nada de especial não...

- Mô, você pode ir comigo?

- Onde?

- Comprar as lembrancinhas...

- Filha, esse cinto ficou lindo em você, deixe ele assim folgadinho na cintura...

- Eu acho que não vou mais à festinha com a Liz.

- Não pai, você tem que ir!

- Mozinho, nem pensar! Você já combinou com ela, agora tem que ir...

- Então, vocês querem, por favor, me dizer o que eu devo comprar para levar?

- Quantas crianças estão fazendo aniversário, pai?

- Você pergunta prá mim, minha filha?

- Liz não te falou?

- Não.

- Eu vou perguntar prá ela e te falo, então, pai.

- Sei.

- Ai você compra no número certo de meninas e meninos...

- O quê?

- Você vê lá.

- Filha, o Cláudio vai contigo?

- Não Mô, só eu que vou com a Liz.

- Não, mãe, o encontro é de trabalho. O Cláudio eu acho que vai ficar assistindo futebol...

- Ah, tá.

- Meu Deus eu tenho que ir, tchau!

- Pretina, você não vai me dar nem umas dicas do que comprar pros meninos?

- Ah, pai, vê com a mamãe que eu tô super com pressa... Beijão!

- Mô, o que eu compro prá festinha?

- Que festinha, mozinho?

- A dos meninos da escola da Liz, pombas!

- Mozinho, liga a televisão. Vê se tá passando um filme bom. Tô doida prá assistir um filme...



Até breve.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

FEMINICE



- Vovô?

- O que é, Liz?

- Sexta-feira, lá na escola, tem uma festinha para as crianças que fizeram aniversário durante a semana...

- Sei. Que Bacana!

- Pois é... Você vai comigo?

- Mas você não faz aniversário essa semana, Liz...

- Lógico! Né, vovô?

- Então?

- Mas eles deixam cada menino convidar uma pessoa prá festinha...

- Convida sua mãe... Ou seu pai...

- Eles não podem. Eles trabalham...

- E eu?

- Ah, você fala lá que tem que ir comigo na escola... Que é muito importante.

- Sei.

- Você vai comigo, então?

- Vou.

- Você me ajuda a escolher a roupa?

- Que roupa?

- A roupa que eu vou na festinha, ora!

- Eu não sou bom prá essas coisas e...

- Não vovô, vamos lá no meu quarto escolher...

- Agora?!!!

- É. Agora.

- Mas hoje é quarta-feira...

- Então?

- A festinha não é sexta?

- Mas eu gosto de escolher agora de uma vez...

- Liz, sexta-feira eu venho na hora do almoço e nós escolhemos...

- Não, vovô. É melhor agora... Vamos logo lá no meu quarto, vem...

- Tá bom.

- Eu acho que vou de vestido, o que você acha?

- Bom.

- Mas de vestido? Num sei se é bom...

- É?

- Olha aqui, vovô, eu vou experimentando e você fala se gosta... Senta aí na poltrona.

- Vai demorar?

- Não, vovô... É rapidinho.

- Estou sentado, então...

- Esse conjuntinho você gosta?

- Gosto?

- Vou experimentar, então...

- Liz, não precisa experimentar.

- Vovô, é rapidinho.

- Tá bom.

- Ficou bonito?

- Você fica linda em qualquer roupa, Liz.

- Pois eu acho que vou de bermuda e camiseta... Tenho umas camisetas muito legais...

- É mesmo, Liz... Põe aquela que a vovó te deu...

- Qual?

- Aquela que tem uns trocinhos assim...

- Trocinhos?

- É uns trequinhos... Uns babilaques... Ah, sei lá Liz! Você sabe de qual eu estou falando...

- Num sei não vovô... Deixa eu procurar aqui... É essa?

- Não.

- É essa?

- Não.

- Quê cor que ela é?

- Branca.

- E os trocinhos?

- Eu acho que é azul... verde...

- Ah, vovô... Já sei qual é... É essa aqui ó.

- É, é essa! Puxa, até que enfim.

- Com qual bermuda?

- Ah, meu Deus!

- Que foi vovô?... Acho que vai ficar legal com essa bermuda jeans aqui ó...

- Vai.

- Ficou legal, vovô?

- Ótimo!

- Tudo prá você é ótimo, vovô?

- Suas roupas são todas muito bacanas, Liz.

- Qual meia que eu calço?

- Acho que uma da cor dos trocinhos...

- Prá combinar?

- Num é?

- Essa aqui?

- Fica bom.

- E essa aqui?

- Também.

- Eu acho melhor essa aqui.

- Mas você acabou de dizer que essa não...

- Mudei de opinião.

- Então você vai com essa?

- Vovô, sabe o que eu estou pensando?

- Que vai ser muito legal você ir na festinha com a roupa que nós escolhemos.

- Na festinha? Não.

- Hein?!!!

- Vou com ela pro sítio no sábado...

- E na festinha, com qual roupa que você vai?

- Vamos escolher, vovô?

- Ah!!! Não Liz, eu tenho que ir embora agora.

- Vovô, você nem me ajuda, né?

- Peça à sua mãe hoje à noite. Ela sabe melhor do que eu...

- Mamãe resolve a roupa que eu tenho quer ir...

- Então?

- Mas eu quero escolher...

- E você acha que se eu te ajudar ela vai aceitar?

- Claro!

- Por quê?

- Porque ela te ama. Falo que você quem escolheu... Aí ela deixa...

- Liz vamos combinar o seguinte: vovô vem na sexta-feira na hora do almoço e nós escolhemos a roupa, tá bom?

- Assim é bom que eu vou pensando, né vovô?

- É, Liz.

- Vou deixar minhas roupas encima da cama para nós escolhermos qual, tá bom vovô?

- Tá bom.

- Nós nem vimos se eu vou de sandalinha, ou de sapato ou de tênis...

- A gente vê sexta.

- Brigada, vovô.

- De nada, querida.


EM TEMPO: Assisti ontem no Canal Brasil ao excelente filme de Domingos de Oliveira cujo título é o mesmo deste post, ainda que no plural. É o meu 200º post publicado.
Faço assim uma homenagem à belíssima obra do diretor que sabe, como ninguém, interpretar almas lis.


Até breve.

terça-feira, 29 de maio de 2012

TOLICES




Me deu na telha de ocupar-me com algo desinteressante. Abandono o que verdadeiramente importa para fazer registro de algo absolutamente irrelevante.

Recentemente assisti na TV a três matérias jornalísticas. A primeira, no último sábado, uma entrevista na Globo News com o ex-presidente Collor; a segunda, flashes sobre o 5º Congresso Brasileiro de Comunicação cujo tema de abertura foi o da liberdade de expressão e a terceira matéria jornalística a cobertura do Jornal Nacional da Globo a respeito da publicação em VEJA sobre a conduta do ex-presidente Lula em relação ao julgamento do Mensalão.

Collor diz, na entrevista, que está com seu livro semi-pronto e que, por força de conselho de seu amigo Thalles Ramalho, não o publicará. Motivo: são tão bombásticas as revelações contidas no livro que estas abalariam os alicerces da democracia brasileira em proporções jamais vistas.
Fosse vivo, meu pai daria de ombros e diria que esse sujeito, no plano mental, assemelha-se a outro (de sua época), Jânio da Silva Quadros. De Collor ficará para a História: “Não filo porque não quilo.”
A parte boa deste post foi esta, porque me fez lembrar do meu pai e de seus comentários ignorantes.

Na abertura do congresso, citado acima, que está ocorrendo em São Paulo o presidente do STF, Ministro Carlos Ayres Britto, fez uma colocação de que Democracia e Imprensa são irmãs siamesas. Ambas coexistem com absoluta dependência uma da outra. Se se cortar o “cordão umbilical” que as une, ambas fenecerão.

A revista VEJA dessa semana, que cego que sou não li, publicou uma matéria em que informa as ações duvidosas do ex-presidente Lula junto a alguns ministros do STF para que os mesmos trabalhem pelo adiamento do julgamento do Mensalão. Para Lula é melhor que isto, se acontecer, seja feito após as eleições.

Haja ameaça à democracia e à liberdade de expressão. Agora precisamos combinar a que democracia estamos nos referindo e a que liberdade e de que expressão. Se for a democracia palaciana que ocorre nos porões, gabinetes, plenários, sótãos e outros ambientes impublicáveis, a quem interessa apenas uma parte da sociedade, talvez seja mesmo algo vulcânico.

Ao povo, supostamente o soberano do regime, isso é de uma relevância que beira a do resultado da 4ª pelada da manhã de domingo acontecida no campinho sem traves que existe em terreno baldio próximo à minha casa em Santa Luzia.

Se for à democracia de meia dúzia de milhares de apaniguados que se locupletam e se hospedam nas benesses do estado, aí sim tem alguma relevância. E é mesmo de suma importância que a imprensa publique até para que todos tenhamos a sensação que está tudo bem. Que as instituições políticas estão sólidas e funcionando como ditam as melhores práticas democráticas.

Ao povo, essa entidade real que constrói a riqueza nacional de inúmeras expressões, tanto econômicas quanto sócio-culturais, resta o desconforto de a cada quatro anos ser compelido compulsoriamente ao exercício democrático de escolher seus representantes sob pena de ter salários suspensos entre outras sanções rigorosamente previstas em legislação.

De todo é ainda melhor do que em Sírias outras. Ainda que embrulhe o estômago dos menos aparelhados como eu, é melhor que essa redoma restrita à canalhada espúria mantenha os satrápias envoltos em suas maquinações perversas. E que a imprensa livre publique.

Nós aqui embaixo, simples cidadãos, cuidemos de nossa vidinha carregada de sentido e de esperança, até porque o que importa de fato ao meu exacerbado egoísmo vai acontecer em agosto e será largamente anunciado a quem interessar possa.



Até breve.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

PALAVRAS



- Oi, vovô!!!

- Hei, querida!!!

- Deixa eu te dar um beijão, vovô!

- Um só?

- Mas grandão!

- Um de cada lado?

- É.

- Então dá, Liz.

 HUHUHUHUHUHUMMMMMMMM...

- Agora posso te fazer um pedido, vovô?

- Tem que valer os dois beijos que você me deu?

- É.

- Entendi.

- Posso?

- Pode.

- Eu queria que você me ensinasse a escrever.

- Você é muito novinha ainda, Liz.

- Mas eu quero escrever.

- Vai chegar a hora de você aprender a ler e a escrever...

- Mas eu quero agora!

- Você está querendo escrever o quê?

- Um bilhete.

- Para quem é esse bilhete?

- Hi, vovô, você é muito curioso!

- Ô, Liz, eu só perguntei...

- Não posso falar.

- E por que não?

- Porque é segredo, ora...

- Tá bom.

- Você me ensina?

- O que você quer escrever no bilhete?

- Cinco palavras...

- Quais?

- Vovô, é segredo!

- Mas, Liz, como vou te ensinar se eu não sei o que você quer escrever no bilhete?

- Eu tenho uma idéia...

- Qual?

- Você tem um monte de livros na sua casa, né vovô?

- Tenho.

- Você lê prá mim um livro mostrando com o dedo a palavra que você está lendo...

- Qualquer livro?

- É qualquer um...

- Será que nele vai ter as palavras que você vai precisar para escrever o bilhete?

- Claro vovô. Todo livro tem todas as palavras, ora...

- Será?

- Tem.

- Então a gente pode pegar aqui um dos livros da sua mãe ou de seu pai...

- Não, vovô, eu quero que você pegue um de seus livros...

- Mas você disse que todo livro tem todas as palavras, então um de sua mãe ou de seu pai serve... Não, Liz?

- Não as que você tem nos seus livros.

- Então tá.

- Você vai trazer o livro que dia?

- Amanhã... Pode ser?

- Pode.

- Qualquer livro?

- Sim.

- Grande ou pequeno?

- Você escolhe, vovô.

- Então tá. Amanhã?

- É, amanhã.



Até breve.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

NOTÍCIA



- Bom dia.

- Bom dia, vovô? Quê isso?

- Tô te cumprimentando...

- Você está chateado com alguma coisa?

- Eu? Não, por quê?

- Você está esquisito...

- Num tô não.

- Tá sim.

- Num tô não.

- Então olha prá mim.

- Eu tô olhando.

- Num tá não... Olha nos meus olhos, vovô.

- Eu tô olhando...

- Você tá chateado comigo, num está, vovô?

- Já disse que não.

- Tá sim.

- Num tô não.

- Ah, é por causa do foguete?

- Que foguete?

- Que eu te falei que eu vou com um menino lá da escola prá lua...

- Num quero mais falar sobre isso.

- Vovô, deixa de bobagem. Eu tava brincando com você.

- Brincando, como assim?

- É que eu tava vendo repórter com a mamãe, aí eu vi um negócio de foguete e aí eu pensei em brincar com você...

- Você inventou essa estória?

- O menino é de verdade...

- Mas ele não vai te levar prá lua não, né?

- Vovô isso tudo era de brincadeira...

- Eu já tinha até falado prá Zuca que nós não iríamos... Que só você que ia...

- E ela?

- Nem ligou.

- A Zuca é jóia, né vovô?

- Pois é.

- Vovô?

- O que é, Liz?

- Você me desculpa?

- Tudo bem, Liz, não tem problema.

- Vovô, eu tenho uma coisa prá te falar...

- De brincadeira?

- Não, vovô. De verdade.

- Então fala logo, uai.

- Eu não posso.

- E por que não?

- Porque mamãe falou que você é fofoqueiro e vai contar prá todo mundo...

- E qual o problema?

- É que só pode contar depois...

- Depois?

- É, depois do dia 18.

- Por quê?

- Porque todo mundo vai ficar sabendo só depois do dia 18.

- E eu?

- Você promete que não vai contar prá ninguém?

- Vovó já sabe?

- Sabe.

- Sua mãe e seu pai já sabem?

- Sim e mais outras pessoas...

- Então fala prá mim, ora.

- Você promete que não conta prá todo mundo?

- Prá todo mundo não.

- Vovô, num pode contar... Então eu não vou te falar...

- Tá bom. Eu prometo.

- Promete mesmo?

- Prometo.

- Então deixa eu falar baixinho no seu ouvido...

...

- Vovô, você está chorando?

- De alegria, Liz... De alegria.

- Mas você num vai ser bobo de contar não né, vovô?

- Não.

- Só pode depois do dia 18.

- Tá bom, Liz. Só depois do dia 18.



Até breve.