quinta-feira, 27 de junho de 2013

RESENHA

PEC 37 arquivada. Corrupção como crime hediondo. 75% para a educação e 25% para a saúde dos royalties do Pré-sal. Primeiro deputado com mandato de prisão do período pós-ditadura. Inúmeros feridos e duas vítimas fatais (um jovem de Belo Horizonte que caiu de um viaduto nas proximidades do Mineirão e outro atropelado durante as manifestações em Ribeirão Preto). Algumas centenas de presos e já liberados, alguns denunciados pelo crime de depredação de patrimônio público e/ou privado. Milhões de reais de prejuízos econômicos e financeiros ocasionados por diferentes razões.

Balanço superficial das três semanas de manifestações Brasil a fora. 

Somados aos dados e fatos um debate intenso sobre a reforma política.

O produto gerado não me parece relevante. Ministério Público e Polícia Federal declaram que convivem bem com os processos investigativos, não há problemas entre as instituições.

Difícil será colocar na cadeira, ainda que por crime hediondo, corruptos face ao aparato jurídico atual que contempla os famigerados embargos protelatórios. O crime do deputado, agora com mandato de prisão, ocorreu entre 1995 e 1998, quando surrupiou de cofres públicos R$8,4 milhões em valores da época.

Os royalties do Pré-sal começarão a serem recolhidos só daqui, Deus nos ouça, há cinco anos. 

Vamos precisar ter muita paciência para avançarmos com solidez. As instituições estão muito sólidas em seus normativos internos e amparadas pela Constituição. Não se farão mudanças estruturais via decreto. A classe política se articula com muita habilidade em momentos de crise, mesmo esta e com estas proporções.

Penso, no entanto, que ocorrem ganhos substanciais e eles estão exatamente naqueles que foram e irão ainda para as ruas. Claro que os motivos que os levam às manifestações são os mais diversos, de paquera à quebradeira passando pelo que é mais importante e significativo que é a descoberta do dever cívico.

Reside aqui, em minha opinião, o ponto mais sensível do processo. A convicção dos manifestantes de que seja esse o melhor caminho para fazer valer os seus mais caros direitos.

Parece-me que este será o grande legado dos movimentos atuais. É possível, há cumplicidade, interesse e forte adesão de milhões para exercerem uma conduta proativa, pacífica, mas determinada a obter aquilo a que se propõe.

Vejo ainda o surgimento de terreno fértil para o surgimento de lideranças engajadas com outras propostas e outras convicções. O que já assisti de entrevistas de alguns manifestantes encheu-me de esperança nessa moçada nova.

Assim entendo que não faremos bravatas de curto prazo, o desafio de mudar o que precisa mudar é gigantesco e as forças conservadoras estão muito bem instaladas.

Mas ninguém poderá fundar sua conduta nas bases existentes antes do início dos movimentos que se deu em Porto Alegre reivindicando transparência com os recursos aplicados na Copa.



Até breve.

terça-feira, 25 de junho de 2013

SE



E se o povo, no plebiscito, responder NÃO?

Um NÃO brado e retumbante!

E se o povo não souber o quê, o como, o com quem? E se não souber também por quê?

E se o povo quiser apenas a catarse, a manifestação, o vômito?

E se, enquanto isto, tantos outros eventos estiverem se sucedendo, trazendo impactos incontornáveis a médio e longo prazos?

E se o que se passa no Brasil se expandir e alcançar outras bandeiras?

E se estivermos construindo, sem saber, como de tantas outras vezes na História, uma revolução e não uma reforma?

E se estivermos realizando a mudança de época? Para além de tarifas zero, mobilidade urbana, hospitais e médicos, reforma política, segurança e erradicação da endêmica corrupção, esse crime hediondo.

E se estivermos renovando as relações sociais?

E se estivermos refazendo o Homem e o Humano?

Penso que seja pouco provável que nada disso possa ocorrer. Advirá dos próximos tempos algo digno da virada de milênio.

Embora não seja o desejo da maioria o que advir deverá nos trazer perdas importantes. Não se farão omeletes sem quebrarem os ovos.

Não será possível, dado ao gigantismo da massa e de seus quereres, o caminhar sem violência em toda a sua extensão.

A ordem desejará aplacar o caos gerando mais desordem. Perdas.

O caos desejará mais caos gerando mais caos. Perdas.

Talvez ocorra assim mesmo, dado o mal feito de tantos e tantos anos.  Nossa alegria e apatia tornaram-se indignação e vontade de mudar.

Talvez a História tenha nos reservado a oportunidade de, agora, construirmos um futuro. Quê futuro? O próximo tempo nos dirá.

E será breve porque o povo está com pressa.




aTÉ BREVE.

domingo, 23 de junho de 2013

sábado, 22 de junho de 2013

PRÁXIS


À margem os marginais. Não é deles a cena principal do que se passa. Fazem parte da sociedade brasileira e saíram às ruas para ganhar manchetes pela sua desgraça. Talvez se façam necessários mesmo para dar a dimensão do mal estar.

Gostei do discurso da Presidente. Temia muito por ele. Depois de ouvi-la achei que ela deixou pouca margem para críticas que não sejam positivas. E mais: trouxe para o centro das instituições a demanda das ruas.

Ultrapassou seus poderes constituídos especialmente quando decide transferir 100% dos recursos do petróleo para a educação. Em situações normais de temperatura e pressão uma decisão destas demoraria anos para tramitar por todos os caminhos da burrocracia democrática, além de implicar em um sem número de perdas via pedágio e corrupção presentes.

Gosto da intervenção sobre a mobilidade urbana. Posts atrás comentei sobre São Paulo. Um horror. As cidades se transformam no pior lugar para se viver.

Na Saúde, achei acanhada a ação. Nosso drama na área é muito mais amplo do que o nosso efetivo de médicos para a prestação dos serviços. De qualquer forma, ainda que modesta, é uma ação objetiva que pode mitigar perdas.

No plano político assumiu a liderança da nação conclamando os governadores para construírem juntos uma “ampla e profunda” reforma, com vistas a “oxigenar o nosso velho sistema político”.
Avançamos. Agora temos o problema (demanda das ruas) e os responsáveis pelo equacionamento do mesmo (governo) e o encaminhamento das soluções.

Simples assim? O tempo dirá.

Nossa bandeira estadual professa: LIBERDADE AINDA QUE TARDIA. Alguma coisa me diz que seja tarde, que as soluções não venham em um tempo que pacifique os ânimos, que haja resistências de diversas naturezas no plano político e até internacional.

Creio, no entanto, que se mantidas as manifestações de rua, estas medidas propostas pela Presidente serão monitoradas passo a passo. Não acredito que o discurso apenas deva demover as massas. Serão necessários fatos objetivos e contundentes que sinalizem a efetividade das ações.

Contratar médicos em outros países talvez seja a tarefa mais rápida. Alocar recursos do petróleo para a educação e por força desta medida sentir os seus efeitos; construir um pacto político que produza uma reengenharia partidária com intensa participação popular, além de projetar ações que levem efetivamente a uma melhor mobilidade urbana são tarefas complexas na execução e de resultados a médio e longo prazo.

A urbe ruge.

Certa vez uma grande amiga me disse que nós, eu incluso, precisávamos deixar de fazer discurso político e ir para prática.

Eu irei para as ruas.



Até breve.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

TRAÇO


Gostaria de pinçar dos jornais televisivos da noite de ontem duas matérias que me fizeram refletir.

A primeira diz respeito a uma breve entrevista com um dos meninos DASPUC integrante do MPL logo após a notícia de que o Estado havia decidido reduzir de R$3,20 para R$3,00 a tarifa de ônibus da cidade de São Paulo.

Jovem iluminado e de um discurso breve e contundente, o rapaz interpelado pela repórter como um dos líderes do MPL foi logo dizendo: “Olha, deixe-me esclarecer um ponto. Eu não sou líder do MPL mesmo porque o MPL não tem lideranças. É um movimento horizontal”.

Observando as análises dos noticiários em diferentes emissoras e especialmente da TV Cultura de São Paulo fiquei estarrecido com a visão de alguns analistas. Será mesmo muito difícil, para alguns, olhar para a nova era sem ser pela perspectiva de que a sociedade só funciona dentro de uma organização hierarquizada, portanto, verticalizada.

O que a boa maioria entende é que o que se passa nas ruas está sob o controle e gestão de uma estrutura organizada nos moldes convencionais e que, uma vez deliberadas ações em seu âmbito, deveriam encaminhá-las aos meios institucionais disponíveis.

Explicando-me melhor: para alguns analistas dos fatos, os meninos da DASPUC, líderes, portanto Chefes do MPL deveriam encaminhar assembleias nas praças com centenas de milhares de pessoas, tirar uma pauta de reivindicações e ir, em comitiva, aos palácios para abrir negociações.

Eu posso estar enganado com o que o menino da reportagem quis nos trazer. O movimento que está nas ruas é horizontal, linear, aberto e por si próprio será capaz de encaminhar demandas que, se não atendidas, só o tempo dirá o que poderá advir.

A outra matéria que destaco diz respeito à prisão do jovem que teria “liderado” a tentativa de invasão da Prefeitura de São Paulo. Estudante de Arquitetura, filho de empresário do setor de transporte, sem nenhum vínculo com o MPL foi um dos que mais depredaram a fachada do edifício sede do município.

Permito uma análise superficial do fato, prefiro acreditar assim. Esse menino não quis atingir o patrimônio, a edificação, o prédio. Como futuro arquiteto ele sabe da importância da história carregada pelos prédios antigos. Esse menino não quis depredar “a coisa”, mas o que ela representa. Ele me parece, não se debatia com o concreto, mas visava o simbólico: a Instituição Política que a casa acoberta.

Sei que grosseiro, mas tiro destes dois dados, um paralelo. Se bem entendo o que está nas ruas, e é preciso que se desenvolva, é um novo modelo de relações sociais de poder de governança. Deliberar não deverá permanecer como um ato solitário de um governante respaldado por estruturas institucionais, mas algo que deverá ser trazido aos principais afetados para que se estabeleça a melhor decisão.

Como? Nós nunca fomos capazes de criar um problema que não fossemos capazes de resolver. Especialmente agora que podemos nos comunicar instantaneamente através das extraordinárias redes sociais. No futuro, quem sabe, o verdadeiro veio de debate e exercício democrático de gestão da coisa pública.

Os edifícios hoje apinhados pela burocracia anacrônica, dispendiosa, incompetente dariam seus espaços a museus, teatros, espaços de convivência...

Apinhados de arte e arquitetura.

Acho que foi isto que os meninos cranearam. Morrerei de inveja deles se eu tiver razão.



Até breve.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

FAÍSCA


Tenho prá mim que, quando os meninos DASPUC engendraram o MPL eles não tinham a exata medida em que poderiam estar fuçando. Gosto muito de uma frase de Bernard Shaw, o dramaturgo inglês: “O sensato acomoda-se. O insensato avança. Logo, todo progresso deve-se ao insensato”.

Eles provavelmente acreditavam colher alguns poucos interessados em dar uma volta com eles por parte da cidade gritando palavras de ordem e contra, especificamente, o reajuste das passagens de ônibus. Sucesso seria se desse alguma foto na Folha.

Da mesma forma os governantes que decidiram pela medida, nem imaginavam a extensão de mais uma de seus cotidianos equívocos e foram para Paris em viagem.

Ocorre que os meninos DASPUC, insensatos, acenderam a centelha mágica e imprevisível da História. Ao MPL infiltraram-se inúmeras bocas caladas e agora roucas empunhando seus cartazes, explicitando suas demandas.

Não é possível saber exatamente o que está acontecendo, porque ainda está por acontecer e ninguém pode precisar o que virá. Não acredito, porque prefiro não acreditar, que este algo adormeça. E também sofro com a possibilidade de, com a extensão que isto possa vir a ter, o Estado regulador voltar à cena com poderes discricionários para vigiar e punir.

Não, de novo não.

Ontem a presidente, em discurso em evento sobre os marcos regulatórios da mineração, disse que devemos escutar os apelos das ruas contra os descasos,  a corrupção e a destinação dos investimentos públicos. Agora?

Os políticos profissionais estão assustados com seus representados, provavelmente inconformados pelo fato de seus eleitores estarem atrapalhando a sua prática representativa.

Tragicômica a saída, fortemente escoltada, ontem à noite, de senador vitalício e ex-presidente casual pelas portas dos fundos do Congresso Nacional. Eles têm horror de povo.

Analistas de plantão sugerem aos meninos DASPUC que eles retomem a liderança do movimento e enderecem adequada e equilibradamente as suas reivindicações dentro dos escaninhos da ordem estabelecida.

Colegas, os meninos DASPUC, só fizeram a arte de empurrar a primeira pecinha de um dominó. Pedir que eles barrem a quinta pecinha é não entender nada de física. A força com que a pedrinha vem é descomunal.

Para hoje estão dizendo que no Castelão... Adoro a vida por isto, toda hora vem algo de simbólico a nos acometer. Castelão é ótimo! E ainda mais em Fortaleza! Enfim, dizem que há uma expectativa de que na hora da execução do Hino Nacional Brasileiro todos os torcedores, nenhum dos meninos DASPUC e em uma cidade que já ocorreu a redução das tarifas de ônibus, fique de costas.

Seguramente o protesto não será uma afronta a nós mesmos.

De lá ouviremos todos, muitos com profunda emoção:

“Ah, eu sou brasileiro,
Com muito orgulho
E muito amor...”



Até breve.

terça-feira, 18 de junho de 2013

TAÇA


Algo inquieta e se expande. Tanto no algo quanto na inquietação. Expande-se. Não se sabe muito bem as razões que levam tantas pessoas às ruas. Lideranças envoltas pela sigla MPL restringem e, estrategicamente, os propósitos e a uma ou outra das principais cidades revoltas.

Só que já não é apenas pelo passe livre ou pela tarifa reduzida dos transportes urbanos. Nem são somente, os manifestantes, partidários desta única reivindicação. Basta ler os inúmeros cartazes em cartolinas rotas. Coisas de povo.

Seriam eles movidos pela propaganda de massa de uma determinada montadora de automóveis que conclama para irmos para as ruas? Então é preciso que aja uma peça complementar para explicar melhor que a ideia é para entrar no ritmo da Copa, da alegria desenfreada. Nunca para protestar a respeito dos fundos aplicados na construção de seus aparatos.

Mídia de massa é assim mesmo. Às vezes o tiro sai pela culatra.

Ontem o Estado saiu de cena. Deixou que a anarquia se estabelecesse sem contornos. Tinha gente à beça, pacificamente às dezenas e centenas de milhares ocupando os largos urbanos. Bonito de se ver.

Há algo que me encanta ainda. Os partidos políticos foram colocados, todos, em seu devido lugar. Manifestantes protestaram quanto à intervenção de bandeiras partidárias flanando entre eles. Gritavam: Pedágio!!! Pedágio!!! Essa parte é antológica.

Posso estar enganado ou declaro aqui o meu mais caro desejo. Isso vai crescer. Porque é preciso que cresça. Ninguém sabe muito bem o que deve, como, com quem e sob que instituições fazer. Mas há o vírus da demanda descontrolado e ocupando as mentes e corações de muitos.

São inúmeras as demandas reprimidas, incontáveis frustrações, perversas traições às expectativas, achaques, zombarias, vergonhas legislativas, executivas, judiciárias. Seguramente o povo, a sociedade sempre foi superior a tudo isto. Só que agora vai às ruas e aos estádios para dizer: “Basta”!

Plagiando, estamos no ESQUENTA. Vamos colocar aquilo que sempre nos fez de idiotas a serviço de uma proposta sadia de transformação. Vamos usar as ideias extraordinárias do mercado publicitário para atingir o inconsciente coletivo com vistas à expansão de consumo e endereçá-las à expansão da consciência cívica. 

Se reduzirem as tarifas, que nos entreguem serviços de transporte na exata medida do que pagamos, que não é pouco. Se nos entregarem segurança, que boa parte dos recursos destinados seja orientada às causas e não aos seus efeitos. Se nos entregarem Saúde, que seja com instalações projetadas e equipamentos especificados em contrato verdadeiramente entregues.

Torço para que esta ação ultrapasse a atual Copa e alcance a maior no ano que vem. Vamos dar uma extraordinária demonstração de nossa capacidade impar de lidar com o que nos é adverso. Vamos vencer a Copa do nosso desenvolvimento, erradicando nossas mais vergonhosas mazelas, contrastes, misérias.

Mesmo que a gente perca no futebol. Uma de minhas mais caras paixões.


Até breve.

domingo, 16 de junho de 2013

ALVO


A quem foram endereçadas as vaias de ontem no majestoso estádio de Brasília, quando da abertura da Copa, repreendidas laconicamente pelo presidente da FIFA como falta de fair play?

A quem? À pobre mulher de trejeitos palacianos que representa a figura tosca de um poder que agoniza, estéril e frágil, aqui como em qualquer outro limite territorial que ainda insistimos em nomear como país ou, se preferirem, nação?

As vaias foram para Dilma, aquela pessoa, refém de suas circunstâncias históricas, que vive solitária em Alvorada trocando confidências e segredos com suas anciãs (mãe e tia) de confiança?

Ou as vaias foram para os um bilhão e trezentos milhões de reais aplicados na construção de um estádio em uma cidade que não tem campeonatos de futebol e nenhum time nas categorias principais? Ou quem sabe para os excedentes lavados na corrupção da licitação e execução de mais uma obra produto de nossa esquizofrenia?

Fora do estádio, cena que lembrou 1970 por ocasião da Copa do Mundo de Futebol no México: Brasil de 90 milhões em ação, Médici e o período de maior repressão da ditadura militar. Triste cena de policiais montados em cavalos cercando sumariamente manifestantes movidos por uma invejável e desesperada ilusão.

As vaias, as manifestações públicas recentes, o alarido vindo das ruas, inclusive agora também do belo horizonte são de alcance maior.

Há um esgotamento. E eu o vejo em Istambul, em Paris, em Londres, em São Paulo e em tantas outras cidades trazido muito para além dos vinte centavos de reajuste no preço da passagem de ônibus.

O esgotamento é de Modelo. Se nos prendermos à essência e ao conjunto dos fatos, aqui e fora daqui, o que observamos é a falência de algo muito maior e que nos sufoca. Nós construímos um tempo de trevas envolto em celofane de cores púrpuras.

Nós construímos um beco.

As vaias devem ir em direção de espelho para encontrar algum eco que nos mova. Nossa alienação, nosso descaso, nossa negligência, nossa omissão, nosso egoísmo, nossa empáfia, nossa miséria relacional é que merecem vaias.

O que está aí é exclusivamente produto de nossa mais abominável conduta. Que ninguém de consciência se isente.

Se é que tem saída.



Até breve.

NOTA: Veja matéria em ADESÃO

sexta-feira, 14 de junho de 2013

RESPÚBLICA


Eu deveria mesmo era trazer Noninha à post. Ela continua lindando a vida. Um de seus últimos aprendizados é estender os bracinhos, virar a palma das mãos para cima quando indagada: Onde está a vovó? Onde está o auau? Onde está o menino? Uma gracinha.

Perdoem-me. Eu deveria era mesmo trazer Noninha à post.

Ocorre que há no ambiente algo que me convida: as manifestações públicas, especialmente em São Paulo, pelo reajuste dos preços das passagens de ônibus.

Movimento orquestrado por jovens alucinados, estudantes secundaristas e universitários, professores, pedagogos, jornalistas (um inclusive do portal APRENDIZ), integrantes de um grupo de ajuda social a milhares de desassistidos e que abraçaram agora a causa pelo debate sobre o aumento das tarifas.

Baderneiros profissionais que solapam o direito de ir e vir da imensa população catatônica que zingra os espaços do cotidiano. Desajustados, desocupados que insiste em fazer algo que lembre o que restou de povo, elemento essencial de um regime democrático.

O governador nomeia o movimento de político e organizado por uma minoria. O povo sempre foi minoria e é nele que reside a essência de haver Política. Jamais foram as massas que mudaram o status quo. Meia dúzia de demoníacos cérebros e corações apaixonados por um ideal que conscientizaram, iluminaram e incendiaram causas libertárias é que fizeram História e arrastaram multidões.

No momento presente parece que não há mesmo espaço. Qualquer manifestação que possa vir a lembrar direitos é barbaramente rechaçada. Com uma agravante: ao movimento legítimo agregam-se oportunistas de toda sorte, inclusive aqueles ligados à esfera da política de estado, além dos infelizes tantos que perambulam pelas cidades e que aproveitam a chance de serem a partir de uma desgraça qualquer.

Meninos, ao deixarem a cadeia, voltem para as suas casas. Procurem algo para com que se ocuparem. Esqueçam o social, busquem um emprego sadio, por exemplo. Deixem que os administradores do Estado cuidem de nossos mais justos interesses. Eles já nos deram mostras, mais do que satisfatórias, para atestar da sua lisura, responsabilidade e capacidade em cuidar da coisa pública.

Meninos, voltem para seus lares. Deixem estas ideias revolucionárias no esquecimento. Amadureçam. Tornem-se cidadãos de um mundo desinteressante e sem sentido, onde tudo deve mudar para ficar do mesmo jeito.

Aproveitem as Copas nos imensos telões instalados em praças públicas ou em bares. Embriaguem-se. Torçam pelo que é determinado torcer. Nós seremos hexa.

E tudo continuará como dantes.

A ordem imperará.


Até breve.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

EMMORAR


Já tem muito tempo que eu soube. Foi Ela que, como em inúmeras vezes, me proporcionou saber. Aliás, boa parte do que eu sei de profundo, foi trazido por Ela. Avesso que eu sou a procuras do erudito e/ou acadêmico Ela sempre me expõe a fragmentos em páginas:

- “Leia isto, pode te ser útil”.

Deve de ter sido em um desses livros de Psicanálise (que devora e entende) que Ela sacou um dos fragmentos. Ali a autora dava conta do que vem a ser a fruta da paixão. Para minha surpresa e encanto soube que é o maracujá. Se você abrir um e extrair as sementes verá que elas lembram cravos. O simbólico leva a cravos que crucificaram o Cristo.

Pois é.

Ela sempre cuidou. De meu lado sobra a penitência eterna. Teve quando eu com dezenove Ela aos quinze de, em dia como o de hoje, convidá-la para comemorar em um restaurante. Levei uma sombrinha de presente. Foi na Cantina do Ângelo, na Avenida Afonso Pena, próximo à Prefeitura. Lugar hiper-romântico.

Talvez tenha sido uma das poucas vezes que permiti que ela fizesse o pedido primeiro. Eu estava com o dinheiro à conta para não mais que um prato e meio depois que vi o cardápio. E Ela, como sempre: “Pede você primeiro”...

Se perguntarem para Ela sobre o episódio, dirá que não foi bem assim. Ela deverá saber até a cor da meia que eu estava naquele dia. Eu, sempre me ocupei para além dos fatos, corrompendo exatidões, trazendo deles o que me basta. Como agora.

Inúmeras vezes eu quis ir embora. Ela se quis, nunca deixou que eu soubesse. Eu, com os meus supitos, achava que ali não residia mais razão para morada. Aconteceu muito recentemente, no final do último ano.

Só que é assim, desse jeito.


TRANSFERE DE TI PARA MIM ESSA DOR DE CABEÇA,
ESSE DESEJO, ESSA VIOLÊNCIA.
QUE CAREÇA EM TI O MEU EXCESSO
E QUE ME FALTE O QUE TU TENS DE SOBRA.

QUE EM MIM PERDURE O QUE TE MORRE CEDO
E QUE TE PERMANEÇA O QUE TENHO PERDIDO.
QUE CRESÇA, SE DESENVOLVA UM TEU SENTIDO,
QUE EM MIM DESAPAREÇA.

DÁ-ME O QUE DE POSSUIR TU NÃO TE IMPORTAS
E EU MULTIPLICO O QUE TE FALTA E EM MIM EXISTE
PARA QUE NOSSO ENCAIXE FORME UMA UNIDADE -  INDIVISÍVEL -
QUE NÃO POSSA SUBTRAIR UMA METADE.


Morro de inveja de Bruna Lombardi que escreveu em meu lugar esse poema: Prá que sejamos necessários.



Até breve.

domingo, 9 de junho de 2013

PENUMBRA


Hibernei coração e neurônios endereçados à posts. Centrei anima na conclusão do projeto de reflexão estratégica e modelos de liderança em empresa de distribuição de energia. Sem trocadilhos.

Esta semana foram dois seminários (dois dias cada) e um workshop (um dia inteiro). Dentro dos seminários conduzo uma dinâmica que remete à ética e a competência em comunicação.

Havia algum tempo que não conduzia seminários desta natureza e, assim, não aplicava essa dinâmica. Saí de cada uma delas bastante angustiado na medida em que, por privilégio da isenção daquele que facilita o processo, assisti a explicitação da nossa miséria.

Por força de circunstâncias de diferentes matizes moldamos nossa estrutura em função dos personagens que representamos na vida. Construímos um discurso que se adapta a conveniência, que se ajusta às cenas, palcos, coadjuvantes. Adaptamo-nos.

Ocorre que o que somos grita mais do que aquilo que falamos. Não nos apercebemos quanto somos traídos no discurso pela nossa conduta incoerente. Uma coisa é o que eu digo, outra coisa é o que sou e por consequência, faço.

A dinâmica expõe cada participante a si mesmo e, com tal intensidade, que a mim induz a constatação contundente de nossa miséria. Primeiro não nos sabemos, acreditamos saber do personagem que representamos e, por força, acabamos nos perdendo naquilo que efetivamente nos propomos a ser.

Daí nossa miséria. E, como decorrência, não vemos o outro com o qual convivemos. Literalmente. Nossa comunicação é autocentrada a ponto de não ouvirmos, na melhor acepção do verbo, aquilo que vem dos outros. O outro não existe.

Mesmo que reduzindo à minha mediocridade não admito espaço aos outros. Mesmo que ele traga inúmeras outras configurações, permanecerei soberano em meu ponto de vista. Miséria.

Como se o acaso soubesse assisti ontem ao filme MISERICÓRDIA. No Wikipédia você encontrará: “Misericórdia é virtude que leva-nos a compadecermos da miséria alheia. É a junção de miséris (miséria) e córdia (coração)”.

Cada um dos personagens encobre uma falta, um segredo, um acidente do qual foi o causador, com consequências sobre outros. O filme se passa durante o inverno no ártico, em Kiel, onde o sol não aparece todos os dias ao longo de meses, me levando aqui ao simbólico.

Serei eternamente grato às pessoas que viveram comigo a experiência nos seminários, que se permitiram servir a mim para que eu pudesse servir a elas. No final do Workshop, ao me despedir dos participantes (quase duzentos presentes) lembrei-me de Vladimir Maiakovski. “Minha mãe me pergunta como posso ser revolucionário se não sou capaz de matar uma mosca. Eu a respondo: sou revolucionário porque luto por um tempo em que não me coloque na situação de ter que matar uma mosca”.

Há um poema dele em que diz: “Em algum lugar do mundo, acho que no Brasil, há um homem feliz”. Ao longo da realização dos seminários achei-me como se fosse esse homem. Feliz por ter me sentido verdadeiramente útil a outrem.

Como se não bastasse o acaso, no dia 07 de julho próximo embarcamos para a Escandinávia para uma viagem de 24 dias. Uma das cidades a serem visitadas é Kiel e estaremos também em Moscou. Lá visitarei o túmulo de Maiakovski.



Até breve.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

VAZIOS


Era de se esperar que feriadão levasse à post. Tranquilidade, ócio, Noninha presente, tudo contribuía para produzir.

Mas não.

É que a alma não funciona pelo externo. O texto burila é de dentro, ou de fora quando não tem muito de explicamentos.

Poderia até falar que no primeiro do mês, sábado, todos os presentes cantaram parabéns pelos dez meses de Noninha. Ela olhava séria, a cada um, como que querendo descobrir o que se passava.

Ou poderia, também, comentar sobre os três filmes que assistimos: DJANGO LIVRE, de um Tarantino sarcástico e direto; ARGO, que levou Oscar e FLORES DO ORIENTE, que trata da invasão japonesa à China no início do século passado.

Para dizer que o primeiro e o terceiro são de uma explicitação contundente da crueldade humana e o segundo de uma explicitação de versão unilateral americana sem precedentes.

Melhor não.

Sobra o que para dizer?

Que embarquei ontem em Pampulha para Campinas, de lá em outro voo para Araçatuba e, dali, de taxi para Andradina que fica quase fronteira de São Paulo com o Mato Grosso do Sul.

Motivo: mais um seminário.


Nota: Eu escrevi este texto, hoje pela manhã, enquanto aguardava a chegada do grupo para o início do seminário. Agora, já à noite, antes de editar este post, li meu horóscopo, o que faço sempre logo cedo.

“Permita que hoje flua mais fácil suas ideias, que seus palpites sejam ouvidos por quem pode transforma-los em projetos bacanas, de uso coletivo e aplicação social. Você será um elemento importantíssimo para fazer a roda da criatividade girar de verdade agora”.

Horóscopo é como placebo. Você deve consumir sempre de manhã bem cedo. E, de preferência, com alma leve.

Para frente deve vir preenchimentos.



Até breve.