quinta-feira, 10 de maio de 2012

QUESTÃO


Ontem acompanhei, junto com Pretinha, reformas no quarto que está sendo preparado para a chegada de Liz. Aproveitei para fazer uma pergunta que fez minha filha ficar silenciosa por alguns minutos antes de tentar uma resposta.
- Com que você se ocupa além daquilo que te envolve o cotidiano?

Eu estou lendo “Trem noturno para Lisboa”, romance de Pascal Mercier (*), que Claudinho me emprestou essa semana. Há uma proposição interessante do autor:
“Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com todo o resto?”

O que é mais improvável: um diálogo com alguém que estará entre nós (os vivos) somente em meados de agosto ou uma viagem em um balão para a lua?

Passei sessenta anos de minha vida fazendo. Agora, dou tratos à bola. Lé, meu filho mais velho, propôs que eu metaforizasse o desfecho e levasse Liz para o meu “mundo da lua”.

No fundo, o que me encanta agora é a possibilidade de criar o imponderável. Não me sobram fatos históricos sobre os quais julgue pertinente debruçar ou mesmo que eu próprio tenha interesse.

O que não quer dizer que meu fazer será meramente ficcional. Eu voei sim recentemente em um balão na Capadócia e, é claro, não fui até a lua, Liz não foi comigo, muito menos Zuca, Laka, Claudionor e Matilde.

Ou não?

Para quem não é próximo de mim e acessa essa porta de pronto, sem ter lido posts anteriores, poderá ter presente que são relatos de fatos. Liz deve ser uma criança na faixa de dois a quatro anos e o avô está em palpos de aranha para se safar do imbróglio de ter convidado a neta para um passeio a lua.

Ou ainda de outra ordem.

Para quem é próximo pode estar avaliando quão importante tem sido para eu experimentar futuros prováveis diálogos com a minha tão desejada e esperada netinha.

Enfim, há sim uma outra vida além daquela com a qual se ocupa, cotidianamente. E é dessa vida que eu quero cuidar. Até porque estou ocupado SIM e agora com a leitura do livro de Pascal Mercier, que foi SIM emprestado pelo Claudinho, onde o autor coloca como sendo de um personagem (fictício) a seguinte reflexão:
“Como seria sermos nós próprios na eternidade, sem o consolo de podermos, um dia, vir a ser redimidos da obrigação de sermos nós? Não o sabemos, e o fato de nunca virmos a saber representa uma benção. Pois de uma coisa podemos estar certos: seria um inferno esse paraíso da imortalidade.”

Quanto à Pretinha ela ainda não me respondeu. Viajou ontem mesmo para Nova Iorque e só volta dia 18.

De verdade.


Até breve.
(*) Trem noturno para Lisboa / Pascal Mercier; tradução de Kristina Michalelles. – 8ª. Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2011.

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