quinta-feira, 24 de março de 2016

COMPULSÃO



“Salomão disse, não há nada de novo sobre a face da Terra. A partir daí, Platão teve uma imaginação, que todo conhecimento não passa de lembrança; e ai então Salomão deu sua sentença, que toda novidade não passa de esquecimento. Muito tempo depois, Freud, a partir destes ombros, observou: Toda pretensão à novidade não passa de onipotência.”. (*)


Alguns personagens do nosso drama dão conta de que, em cinquenta anos, não fizemos a passagem histórica. O passado presente nos assombra nas figuras de José Sarney, Tancredo Neves (representado pelo seu neto), Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva.

Sarney, então da ALIANÇA PELA RENOVAÇÃO NACIONAL, migra para o embrionário MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO para concorrer, enquanto vice na chapa de Tancredo, o Neves, contra Paulo Maluf candidato no Colégio Eleitoral pelos adeptos da Redentora.

Mais adiante a história forja duas lideranças, Collor e Lulla, ambas embandeiradas pela causa de defesa dos fracos, oprimidos, contra as oligarquias e a corrupção dos marajás e/ou da elite capitalista.

Collor assume, pelo PARTIDO DA RENOVAÇÃO NACIONAL. Lulla realiza dois mandatos, torna-se a paixão da maioria dos cidadãos, encanta líderes internacionais e produz uma bolha fugaz de crescimento sustentado em renúncias fiscais, consumismo exacerbado via expansão temerária de crédito e especialmente, a institucionalização de práticas abomináveis entre o Estado e empresários de frágil caráter. 

Collor e Lulla protagonizam uma das maiores frustrações e traições ao povo brasileiro. 
  
Paulo Maluf tenta, tenta, tenta, mas não se torna. Neves, uma réplica empobrecida do avô altivo, não emplaca.

No entrementes Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Dilma são personagens secundários. Coadjuvantes de um drama fecundo.

A cena volta agora em teatro com plateia outra. No palco, os mesmos: Renan (no papel de Sarney), Sarney no papel de Sarney, Paulo Maluf (no papel de Paulo Maluf), Fernando Collor de Melo (no papel de Collor), Lulla (não sei) e Aécio (que deveria ficar na coxia para não fazer vergonha ao desempenho do avô). Alguns coadjuvantes e figurantes sem expressão compõem um texto de horrores.

De um lado, RenanSarney, Maluf, Collor e Lulla, embrulhados em um pacote rodriguiano (Nelson Rodrigues) e de outro, pobre de Tancredo, que treme à sete palmos, disputam o impedimento ou não da ruptura histórica.

E, em todos eles, nós mesmos.

Afinal, o que queremos assistir? Um drama, uma comédia, uma tragédia, uma tragicomédia? Ao fundo, como sonoplastia:

- Varre, varre vassourinha, varre toda a bandalheira que o povo está cansado de sofrer desta maneira.

Não quero morrer com este jingle entranhado em minhas vísceras.


Até breve.


(*) Epígrafe ao texto de Paulo Cesar Sandler: COMPULSÃO À REPETIÇÃO E PATOLOGIAS ATUAIS.

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