segunda-feira, 20 de setembro de 2021

AGUAR

 




Outro dia escrevi aqui que havia amanhecido vivo e que isto vinha acontecendo há vários anos.

E continua.

Hoje tomei uma decisão: vou suicidar, vou me suicidar, vou suicidar-me, vou-me suicidar. Seja a construção sintática que for, se sintática, o fato é que a decisão está tomada.

Não amanhecerei vivo.

Espera, amigo, embora a decisão esteja tomada, falta escolher o motivo e o quando, e aqui reside o grande obstáculo para que eu não realize o feito, amanhã, pelo menos. Assim, não há razão para que você se alarme, ligue pra mim, mande alguém ligar, enfim tente dissuadir-me, pelo que, de pronto, agradeço.

O quando depende do motivo, portanto, a grande dificuldade está na escolha, porque não são poucos para que eu dê cabo de minha vidinha.

Estou convalescendo, com imensa angústia, de uma perda afetiva. Por si só seria uma razão mais do que justificável.

Há outras, ainda que secundárias.

A dor pela constatação do que ambientalistas vem nos sinalizando há décadas: a mudança climática, fruto de nossas mais do que criminosas e aberrantes ganâncias. Toda vez que chego na sacada do meu quarto deparo-me com a agonia das árvores da mata defronte.

A dificuldade absurda recentemente adquirida de me relacionar socialmente, especialmente quando em grupo cujo tema é o quadro político. Quando estou com “nós”, não me sinto parte e não compreendo o que “nós” quer dizer de “eles”. Quando estou com aqueles que suponho ser “eles” daquele “nós”, o mesmo ocorre. Não há lugar para “Eu”. Ou Eu tenho quer ser de um nós ou tenho que ser de um eles.

Meu pai padeceu anos do Mal de Alzheimer. Não é essa terrível doença que temo contrair, mas do Mal do Ódio. Por absoluta ingenuidade, ou incompetência adquirida, não consigo atualizar-me para esta prática. Estou analfabeto social.

Todos os meus acolhimentos de comentários no FB são com: AMEI.

Outras questões, menos relevantes, me afligem, como a devastação da cultura, a mediocrização dos diálogos, o oco do vazio.

Talvez porque seja segunda-feira.

Lembrei-me de meu caseiro já falecido: seu Divino. Eu vinha para o sítio somente nos finais de semana e reclamava com ele que as plantas estavam muito sofridas.

Ele, honrando seu nome, sempre dizia:

- Ô, Gulhô, cê vai vê nas água... Elas renasce tudo travez, sô!


Até breve.


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