quinta-feira, 11 de novembro de 2021

KARMA

 


A entrada na disputa do ex-juiz e ex-ministro, esta semana, permite um olhar, a mim, revelador. A riqueza da cena confere contornos bastante nítidos do momento histórico que atravessamos, enquanto sociedade.

Não quero colocar holofotes sobre os três apontados na pesquisa mais recente, mas na plateia que escolhe e paga pelo enredo que eles, supostamente, uma vez eleitos protagonizarão.

Revelador não são aqueles que se propagam como o de alma mais santa e nobre defensor dos fracos e oprimidos; nem aquele que coloca Deus sobre todas as coisas ou ainda, e por último (ou em terceiro), aquele herói paladino da justiça.

Revelador somos nós que os escolhemos e, sobretudo, como e porque o fazemos.

Quais paixões nos nutrem e nos cegam a ponto de nos tornar massa de manobras historicamente assustadoras, agora anabolizadas por uma rede de inverdades intencionalmente fabricadas que circulam na quinta geração de uma tecnologia com acessibilidade, portabilidade e instantaneidade?

Ouso dizer, como analista selvagem (desprovido de fundamentos científicos) que reside aqui nossa patologia social. Por que insistimos no gozo da manutenção de uma sociedade sem perspectiva, paralisada em seus dramas intermináveis?

Por que e há décadas, em que pese todo nosso potencial e privilégios que a natureza prodiga nos faculta, escolhemos governança que amplifica os efeitos danosos desta patologia, reproduzindo-a e tornando-a, a cada processo eleitoral, mais perigosa?

Destruímos valores econômicos aprofundando o fosso social, explicitamos nossa imensa dificuldade com aqueles que de nós diferem, esgarçamos nossas relações mais íntimas, construímos muros para diálogos orientadores, solapamos a cultura, a arte, a nossa brasilidade.

Perdemos todos com nossas escolhas.

Há aqui sim um juízo moral do qual não me farei isento. Estou envolvido como qualquer outro pela teia do tecido social. Estou com Sartre quando ele escreve que não escolhemos exclusivamente por nós, mas também por aqueles que conosco constroem o espaço de convivência.

Passa da hora de ouvirmos zilhões de vezes, já disse isto aqui, Sol de Primavera, do Beto Guedes: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.


Até breve.


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