terça-feira, 24 de abril de 2012

FUGA


Desembarcamos as 10:30 em Istambul tendo deixado Barcelona as 06:00. Agora, somente Ela e eu já que Fá e Lé foram para Paris.

Na porta de saída do acesso de passageiros que deixavam o avião para dirigirem-se ao terminal de desembarque encontramos uma jovem do receptivo nos esperando com uma tabuleta onde estava escrito o meu nome. Ela estava acompanhada por um colega de agência que nos levou em um carro elétrico aeroporto adentro até a esteira de bagagens. De lá para o terminal de embarque doméstico com destino a Kisaraki, na Capadócia.

Já na pista, quando nos preparávamos para subir as escadas do avião vi um rapaz com uma tabuleta com o meu nome. Era Predi, o nosso guia que ficará conosco ao longo de toda a nossa estada em Turquia. Predi é turco e fala fluentemente o português.

Chegando em Kisaraki, uma van Mercedes-Benz nos aguardava. Do aeroporto mesmo iniciamos nossa breve, porém intensa, experiência pelo mundo oriental.

Durante dez milhões de anos a região da Capadócia viveu inúmeros vulcões ativos o que configurou a região com características geológicas muito especiais. Praticamente toda a extensão tem duzentos metros de altura de massas vulcânicas. Por esta razão o solo é esponjoso e com o passar dos milhares e milhares de anos de precipitações de chuvas foram se formando crateras e diversos rios subterrâneos.

Antes do século VII, a sociedade não contemplava a estrutura familiar. O mundo era pagão. Os homens podiam casar com tantas mulheres quisessem e as mulheres com tantos homens que quisessem. As riquezas eram depositadas nos templos de época e os seus integrantes emprestavam esse dinheiro a juros. As mulheres se prostituiam para atender à deusa da fertilidade. Maomé entrou na história para acender a luz do bordel e trazer a moralidade.

Determinou-se que cada homem poderia, a partir dalí, casar-se com uma única mulher. Ele mesmo não seguiu a idéia já que, aos sessenta anos, tinha no seu harém quatorze.

Eram necessários escravos e os árabes elegeram os cristãos para perseguir e escravizar. Estes, por sua vez, trataram de se evadir e foram encontrar esconderijos exatamente na região da Capadócia. Construiram inúmeras cidades subterrâneas com moradias e seus templos. Foram construídas mais de seiscentas igrejas abaixo da terra. Alí permaneceram do século VII até 1082, portanto, durante quase quatro séculos. Em 1982 foi instaurado o primeiro império bizantino e junto com ele o renascimento do cristianismo.

Pedri nos perguntou se sofríamos de claustrofobia. Respondi que não, sem muita convicção. Pois é, o tour de hoje foi sobre essas edificações. Coisa de doido. A temperatura a sessenta/setenta metros de profundidade varia o ano todo entre 14 e 16 graus centígrados, seja no inverno ou no verão, o que permitiu aos fugitivos que ali formaram gerações a sua reserva agrícola, água e outros víveres. Também é interessante o fato de que dentro dessas cidades cavernas não entravam nem insetos e nem serpentes. E não me perguntem por que.

Então, o que diabos tem a ver esse danado deste post? Acho que é porque durante os últimos dias eu estava vasculhando perto dos anos 1880 a história do meu avô paterno e deparei-me hoje com o século VII.

O que vale nesse tour é a constatação, assim como no Peru, da imensa capacidade do homem em buscar meios para manter sua sobrevivência e suas convicções.





Eu volto.

2 comentários:

  1. Para mim, o que vale nesse post é a diversidade de culturas, costumes e pessoas que tem nesse mundão de gente.. e que como cada qual com sua peculiaridade descobriu a forma de viver e de se realizar.Adoro os seus post de viagens!!! Me faz ir além! bjos saudades..

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  2. Boa história, que nos mostra a enorme capacidade de adaptação do ser humano.

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