sábado, 24 de outubro de 2015

GRILOS




A Poesia não serve para nada.

É absolutamente inútil.

Especialmente aquela produzida na via do hermetismo pascoal. E somem-se todos de ferro que lastreiam pedras no meio do caminho. Tem sempre pedras no meio do caminho.

No meio que caminho, pedras.

“Açaí guardiã, som de besouro imã, branca é a tez da manhã...”

Desesperado o poeta, entrevistado pelo Gavin dos Titãs, tenta se defender da crítica, que o considera um “nonsense".

Ora, faz sentido sim, ele argumenta. Todo mundo que vive no norte/nordeste sabe quanto a fruta é importante, guardiã da saúde. Qualquer som nos convida a procura-lo, nos imanta. Quem, ao acordar em manhãs, que não se maravilhou com densa névoa?

Amanheci cinza. Deveria ter gravado os sons de cigarras alucinadas e roucas clamando pelas torrentes. Pássaros que vem junto com o astro rei insistindo na alegria. Amanhã, se se repetir, juro que faço.

A natureza não serve para nada. Sapos, grilos, pássaros, torrentes, verdes e matizes outros são inúteis. A solidão, então, nem me fale. Especialmente aquela que versa. No contrário dos entendimentos claros, sobretudo.

O que edifica são as pedras, umas sobre as outras.

O mundo vai ficando assim, explícito demais, desmisterioso, desnuante.

Ninguém quer sofrer de procuras, pede de imediato, nada que leve enfrentamentos com vazios de ocos.

Inclusive aqui, quê que esse cara tá aprontando?

Vá ao post anterior...

Aposto que não foi. É assim, temos tanto para fazer, tanto para ler, tanto para - que não sobra tempo para.

Pára.

Eu parei no poema de Liria Porto, que tem livro finalista no Jabuti de 2015.

GARIMPO

esta procura tem um nome insanidade
passei da idade de tentar fazer sonetos
eu só consigo descrever cinzas e pretos
acho que o verso não alcança claridade
pelas gavetas prateleiras escondidos
ainda agarro pelo rabo alguns cometas
quero as estrelas não encontro suas tetas
sinto as fissuras dos pequenos desvalidos
a minha escrita sempre foi penosa esgrima
desde menina que não tenho paradeiro
eu caço sapo com bodoque o dia inteiro
nesta esperança de catar melhores rimas
vasculho as glebas
os grotões e quem diria
bateio o sol chego a pensar
que a noite é dia



Até breve.

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