terça-feira, 2 de agosto de 2022

SUBLIMINARES

 



Não se trata de alienar-se da realidade cotidiana buscando consolo em fábulas infantis para encontrar, naqueles tempos, um resto de humanidade. É isto sim, mas é, também, mais do que isto.

No fundo, e alguém em comentário apontou, junto à toda esta alegria há uma angústia. E não é pequena, podem estar certos.

Nos boletins e relatórios de autopsia, os médicos usam verbo que a mim paralisa: evoluir. A expressão “o paciente evoluiu para óbito” dá conta que a evolução contempla a morte.

Nada mais exato. 

Ocorre que “em vida” isto me acomete quando penso Cultura. Desde os Clássicos, passando pelos Modernos e até pós-Modernos, evoluímos. Em tempos mais recentes o acervo do debate na cena de produção artística a mim entristece.

Do debate político, da produção literária, do cinema, do teatro e, especialmente, à música a evolução é um horror. Perdoem-me, há saudosismo aqui sim. Sou apaixonado por Shakespeare, por Platão, por Machado, por Galeano, por Neruda, Chico, Caetano, Roberto e por tantos e tantos outros não laicados no presente aos bilhões na infernet.

Como subproduto desta evolução desaguamos em tiquetoques, breves, idiotizantes, paralisantes. Dizem que o Instagran está evoluindo para a mesma arquitetura e que o Facebook vai mudar. Estará explícito que quem “escolhe” a trupe com quem vamos “amigar” será o tal de (algo)ritimo.

A Humanidade até então nunca esteve tão exposta a si mesma. O Humano até então nunca se mostrou tanto quanto no tempo presente. Vem por aí a Inteligência Artificial para colocar a pá de cal.

Evolução a zilhões de borabites, toneladabites, tiquitoquiando cérebros e corações.

Não incluo o Funk na minha playlist, mas ele me ajuda a entender tamanha evolução da espécie. As letras são contundentemente esclarecedoras na medida em que coloca a fêmea ciante e o macho membrante.

Adoro o florir de abacateiros. É provável que alguém aí me dirá, que a foto que ilustra este post não se trata de um abacateiro, mas de uma mangueira. E eu morrerei e até matarei se for preciso, embora sabendo ser uma mangueira, afirmando e reafirmando tratar-se de um abacateiro.

Sim, evoluímos para a bestialidade.


Até breve.    


NOTA: Todos os textos publicados na data de hoje foram editados em minha página no Facebook ao longos dos últimos dias. Foi o jeito que me permiti comemorar o nascimento há dez anos de minha primeira netinha. Este post quer responder àlguns amigos que me questionaram por estar distante da realidade.



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