quinta-feira, 27 de março de 2014

BIQUINHO


Mediava ontem, via celular, um conflito societário com seis protagonistas em que cada lado fazia juízo de que eu estava sendo partidário a favor do outro lado do imbróglio. Quem é negociador sabe como isto funciona.

Para completar eu estava viajando de automóvel de uma cidade para outra do interior capixaba em estrada que nem sempre o aparelho recebia sinal e em condições extremamente precárias, com inúmeros pare-e-siga. Completo esta semana aquele ciclo de treze palestras que venho fazendo no santo espírito.

Cada um dos protagonistas encontrava-se em uma cidade diferente linkados por teleconferência que alternava entradas e saídas na conversa de forma abrupta. Bruta salseiro, que comendo vírgulas e mas e poréns embolava cada vez mais a peleja.

Trago isto aqui prá quem acha que minha vida é só divertimento. Nunca, é muito mais do que isto, é entretenimento na veia. Cansado dos entra-e-sai do sinal do celular pedi ao motorista do Corolla no qual viajávamos que parasse o carro em um arremedo de acostamento com um matagal próximo. Ali a marca da antena do aparelho dava recepção completa.

O transporte de carga de blocos de pedras de mármore, granito e quetais por estas estradas é intenso.  Eu estava com minha paciência no limite do “vai-tomar-no-cú” para mandar um dos adevogados chamados à lide quando um coice de ar expelido de uma mega carreta que transportava um bloco de granito ao som de uma buzina estridente deslocou o Corolla arremessando-nos as uns metro e meio dois metros para dentro do matagal.

Na hora do bequestreu ouvi de um dos litigantes que eu deveria entender a parte dele.

Fiz que a ligação caísse e pedi ao motorista que nos colocasse novamente no rumo da viagem e completasse o nosso trajeto que durou, ao todo, sete horas.

Inúmeras vezes ao longo de toda a viagem falei com um ou, simultaneamente, com dois ou três envolvidos escorados por seus adevogados. Com o maior carinho, afeto, discrição e ouvidos a toda prova para acatar as suas demandas e fazer a outra parte entender que eles que tinham razão na disputa. Nunca senti tanta vontade de mandar alguém tomar no cú, daqueles assim que você enche os pulmões e pausada e gozozamente grita: “VAI TOMAR NO CÚ!!!”.

Entenderam porque não trago nada do Lado B da minha vidinha. Num me vale a pena. É que ontem depois do coice tive que me destremulhar um pouco. E o faço aqui, nessa catarse.

“Mas você não teme que o cliente leia este post?” Me perguntaria um aflito leitor. Que isto, estes caras, tem muito com que se amargar na vida. E se lessem e viessem me consultar se fui eu que expus eu diria, aí sim: “VAI TOMAR NO CÚ!!!.” Pausada e gozozomente.

Chegando ao destino eu pude, sem a tensão da estrada, concluir as conversas e, pasmem, com êxito. Agendamos para a terça que vem a assinatura dos documentos que encerram o vosmelérico e vamos dar sequência aos negócios.

Um dos sócios pediu que eu falasse com seu filhinho que ficou chateadinho comiguinho porque eu fui muito bruto para com ele em um dos momentos da conversa. Fiquei pensando se eu tivesse gravado a cena do coice eu mandaria para o filhinho para que ele visse quanto chateadinho eu também poderia estar.

No início da noite viajei mais setenta quilômetros debaixo de um chuvaréu (prá ninguém esquecer de Nossa Virgem Maria) para fazer a penúltima palestra a um público de em torno de seiscentas pessoas.

Depois da palestra uma senhora de oitenta e cinco anos veio ao meu encontro e me agradeceu eufórica pelas minhas palavras.

Voltei para o hotel, onde me instalei, viajando os setenta quilômetros e quando adormecia pensei: não fosse o Lado A, minha Vida não teria compensações.



Até breve.

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