terça-feira, 26 de junho de 2012

CONTROLE




- Oi vovô, onde você estava?

- Arrumando uns negócios...

- Você sumiu. Tem muito tempo que você não vem me ver...

- Desculpe, querida.

- Sabe que foi até bom.

- Bom? Por que, Liz?

- Porque aí eu fiquei com mais saudade...

- De quê?

- De conversar com você, vovô.

- Você gosta de conversar comigo?

- Às vezes.

- Por que às vezes?

- Porque às vezes você não me entende...

- Eu não te entendo, Liz?

- É.

- Que dia que você falou alguma coisa e eu não entendi?

- Outro dia.

- Que dia Liz?

- Ah, vovô, você sabe.

- Qual? Juro que não sei.

- Deixa prá lá.

- Não. Agora eu quero saber.

- Sabe aquele dia que eu tava lá na sua casa brincando no parquinho e você não deixou eu descer sozinha no escorregador?

- Lembro.

- Que eu falei que eu já sabia, aí você mesmo assim não deixou eu descer?

- É muito perigoso.

- Eu já sou grande, vovô!

- O escorregador de lá é muito alto... É muito difícil...

- Mas eu sei descer.

- Vamos combinar uma coisa, Liz. Amanhã quando você for lá em casa eu deixo você descer então.

- Por quê?

- Por que sim... Eu vou estar lá.

- Tá vendo como você não me entende, vovô?

- Ora, você não quer descer no escorregador?

- Mas você acabou de dizer que é perigoso, não disse?

- Não tem problema, eu fico perto.

- Melhor não.

- Por quê?

- Vai que eu caio...

- Não cai não. Eu te seguro.

- Uma hora você diz que pode, outra diz que não...

- Eu pensei melhor, aí eu fico perto e você pode descer.

- Vovô?

- O que, Liz?

- Você não acha que eu devia descer sozinha e cair lá de cima?

- De jeito nenhum, Liz!

- Para eu aprender que não pode... Que eu não consigo...

- Não Liz. Não precisa aprender caindo...

- E o dia que você não tiver perto?

- Você não desce, ora.

- E se eu quiser muito, muito, muito...

- Você não desce.

- Mas se eu quiser muito, muito, muito, muito, muito...

- Você me liga no celular... Aí você me espera chegar e aí eu vejo você descer.

- E se você estiver longe. Não puder vim...

- Você vê se a vovó pode te acompanhar ou outra pessoa adulta...

- Vovô, sabe de uma coisa? Por isso que eu falei que você não me entende...

- Agora não entendi mesmo.

- Eu acho você muito bobo, que nem a mamãe fala.

- Por quê?

- Porque você fica todo esquisito quando eu falo que vou fazer uma coisa que não pode.

- Esquisito?

- É, com uma cara assim...

- Eu fico mesmo preocupado.

- E você não vê que eu fico te fazendo de bobo, vovô?

- Me fazendo de bobo?

- É vovô. Eu fico é rindo de você, com medo que eu machuque.

- Eu não quero mesmo que você se machuque, Liz.

- Eu vou descer sozinha no escorregador.

- Num vai não.

- Vou... E de noite, quando todo mundo tiver dormindo...

- Num vai não, você é doida?

- Eu vou e vou descer de cabeça primeiro...

- NUM VAI NÃO!

- E com...

- Liz, num faz assim comigo não...

- Vovô, eu adoro você... Você é muito bobo.


Até breve. 

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  2. Tá bom. Pode ser tudo isso. Só que me disseram que esse post foi inspirado pelo filme CONFIAR que eu comentei em DOMINGO.

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  3. Vou assistir ao filme para entender melhor o post.

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