terça-feira, 2 de abril de 2013

LEROLERO



Ontem foi o dia da mentira.

Significa, portanto, que a partir de hoje até o próximo dia 31 de março, vamos ter que dizer somente verdades, já que ninguém duvidará de nós caso venhamos pregar uma mentira.

Não será tarefa fácil, eu suponho, para a maioria das pessoas. Imagine, dizer exclusivamente verdades.

Não há registro de uma época em que predominou clareza na narração de fatos. Não me recordo do nome do político que teria saído com essa: "A mim não interessam os fatos, mas sim as versões que dão a eles".

Construímos para nós mesmos, inclusive, boas inverdades para ir dando conta do caminho. Depararmos com a única certeza que é a morte já, por se só, é dado da crueldade da consciência.

Enfim, uma mentirinha não faz mal a ninguém e, no fundo, em uma mentirona ninguém acredita mesmo, não é?

Há uma versão da história contemporânea, e é a predominante, de que o melhor ou “menos ruim” sistema de governo seja a democracia. Representação direta de cada cidadão construída pelo voto livre, consciente e espontâneo. É uma mentirinha.

Mentirona é aquela que nós contamos para nós mesmos que o país está organizado de forma adequada no que tange a formulação de leis e aos sistemas para a aplicação das mesmas.

Mentirona é aquela que contamos para nós mesmos que somos cidadãos corretos porque pagamos nossos impostos (se não fosse por imposição, pagaríamos?), reduzimos a velocidade próximo aos radares, e outras inúmeras e sabidas obrigações inerentes ao bom convívio social.

Mentirona é aquela que formulamos, com requinte e sofisticação, para sermos felizes. Quando adquirimos uma coisa qualquer, especialmente rara que, supostamente, somente nós podemos amealhar.

Mentirona é quando a gente sabe que todo dia podia ser diferente e a gente não faz nada para que advenha uma nova perspectiva.

Ainda bem que daqui a um ano poderemos inventar uma mentira que ninguém acreditará. A de que a falsidade é da natureza dos homens e sem ela não seria possível a ilusão ou a utopia do Bem.

Não vejo a hora de chegar o próximo dia 01 de abril.


Até breve.

2 comentários:

  1. Talvez tudo que seja digno de homenagem tenha o seu dia!

    O dia das mães ou dos pais é todo dia, porem foi eleito um dia para homenagea-los, assim como o dia da mentira. Afinal temos dia para quase tudo, quer dizer, menos da verdade.

    Verdade pra que também? Já que cada um tem sua não é mesmo. E a minha é sempre melhor que a do outro.

    Você pode não lembrar mas algumas verdades foram ditas muitos anos atrás, dividindo a história em antes e depois dele, mas muitos também acham que foi uma mentirona.

    Verdade pra que então?

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