terça-feira, 28 de outubro de 2014

COM SEQUÊNCIA



Precisamos continuarmo-nos em terceiro turno.

Não entre os contendores, porque entre eles já nos decidimos. E da maneira mais exemplar que o mundo possa ter assistido. Sem nenhum fato que nos desabone e com o aparato jurídico e institucional ímpar, não perdendo de vista a exatidão e confiabilidade dos meios tecnológicos para a apuração dos votos.

Apesar de espalhados em uma extensão de oito milhões de quilômetros quadrados tivemos o resultado em poucos minutos após os últimos eleitores digitarem o seu voto. Talvez aqui também nos sinalize enquanto paradoxo. Nossos índios amazônicos digitaram a sua escolha.

Eleição não é campeonato que acaba quando termina, eleição é um evento de um processo ininterrupto que vai deixando marcas de evolução ou involução na história de uma nação.

A história recente nos marca por eventos inesquecíveis acontecidos em junho do ano passado, quando foram plantadas em nossas cidades as sementes transformadoras da indignação e do clamor da mudança.

À margem os marginais depredadores, a rua nos recebeu aos milhões com nossas demandas enlouquecidas, várias, todas vindas de uma imensa vontade de ver algo diferente do que está ai acontecer.

A Copa das Confederações contribuiu para tirar nosso foco, a mídia e nossos analistas não nos entenderam e chegou o nosso fim de ano. Carnaval, Copa do Mundo e ressurgimos novamente às vésperas da eleição.

O Brasil está vivo porque se manifesta.

Precisamos continuarmo-nos em terceiro turno.

Não consigo ler a palavra democracia sem supor que esse demo que a principia diz de demônio. Demônio na perspectiva de Jean Paul Sartre, o filósofo existencialista francês: “O inferno são os outros”.

É com isso que estamos lidando e é, para mim, extremamente salutar ver o debate ferrenho gerando conflitos de toda sorte e em todos os calibres. Novamente há de se compreender a intensidade das paixões, nutridoras da ação. Em que pese o calor dos conflitos não se registrou nenhum acontecimento mais grave de violência decorrente da opção de voto.

Ouvi de Mário Sérgio Cortella, filósofo, que se é amizade não acaba. Estremecimentos serão imprescindíveis para que o outro nos perceba em discordância e para que nós também reflitamos sobre nossas convicções.

Em casa, todos divergiram de meu voto e, nem por isto, os amarei menos. Fosse eu candidato correria o risco de não obter unanimidade. Sempre olhei para a palavra divergente com ela partida: DE  VER  GENTE. Guimarães Rosa escreveu: “Eu sou porque me diverjo”.

Precisamos continuarmo-nos em terceiro turno.

A própria Presidenta, espero, se permita reconhecer menos senhora, no sentido de seu absolutismo e rigor desmedidos. Diálogo, Presidenta, é uma palavra grega (berço da democracia) que quer dizer: “através de significados”.

Quando resolvi começar este blog há mais de três anos atrás, estou perto de completar setecentos posts, o fiz com uma intenção que permanece até hoje e o nome que dei ao blog dasletra ousa, em mim, querer isto.

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”

Acho que é disso que estamos tratando, quando proponho continuarmo-nos em terceiro turno.

Salve Cecília Meireles!!! Dia 09, próximo, faz cinquenta anos que a perdemos.




Até breve.

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