quarta-feira, 1 de outubro de 2014

PERTENCES


Sidharta, o Buda, nasceu em algum lugar da Índia em 624 a. C.. Viveu oitenta anos, quando entrou na posição deitada, atingindo o Nirvana. A palavra em Sânscrito quer dizer: aquele que tudo sabe.

Fosse vivo, ainda que iluminado, ele também se escandalizaria com a cidade para a qual um de seus seguidores trouxe da Birmânia uma estátua do mestre talhada em jade bruta que pesa 3 toneladas e mede 1,90 m de altura por 0,90 m de largura. Ela, a estátua, está em um dos inúmeros templos espalhados pela cidade.

Antes de vir para esta viagem eu achava que estávamos a quilômetros de distância do estágio de desenvolvimento chinês. Encontrar Shanghai, pronuncia-se CHANRRAI, me fez ver, com esses meu olhos exauridos de tanta grandeza, que não. Estamos são anos luz distantes do que acontece aqui.

Há dez anos Shanghai ocupava 120 km² de área, hoje espalha seus espigões, viadutos de quatro andares, vias rápidas, metrôs subway e de superfície, por uma área total de 730 km².

A cidade conta hoje, daqui meses a conta será outra, com 6.000 prédios de apartamentos com mais de 20 andares na faixa de 80 a 145 m². Um horror impactante. Ao trafegar pelas vias rápidas observa-se quilômetros ocupados dos dois lados das pistas por prédios de 8 a 15 andares.

A cidade tem hoje 24 milhões de habitantes e recebe anualmente por turismo interno cem milhões e outros oito milhões de turistas estrangeiros.

Os arquitetos, que têm elaborado projetos de edifícios para a cidade, devem estar vivendo orgasmos múltiplos. É orgiástica a criação. Tem prédio para todo tipo de piração e, na maior delas, a torre mais alta da China a segunda do mundo, que mede 632 metros de altura. 121 andares destinados a escritórios e ao Grand Hyatt. Um desbunde.

Tomamos um barco na baía do rio Huang Pu (110 km de extensão, 400 de largura, 8 metros de profundidade) e assisti a partir das sete e trinta da noite a explosão de luzes acendendo a cidade que debruça seus arranha-céus sobre a baía.



New York perto é quinem a Rua Direita de Santa Luzia.

No passado os imperadores chineses construíam palácios, jardins, muralhas, decoravam seus castelos com animais que os protegiam. Tudo muito, exageradamente muito, com a intenção determinada de mostrar o seu poder.

Freud passando por aqui diria que ninguém tira da cabeça dele que aquela torre lembra um falo. Ah, isso lembra! – Diria o mestre, roendo seu cachimbo.

As luzes da noite de Shanghai mostram quem está já mandando nesse mundinho de Deus. O capitalismo de Estado (90% dos bancos na China são estatais) já é um rolo compressor que vai, em pouco tempo, devastar o outro império.

Viajamos no trem bala cuja linha começa em uma estação que interliga duas outras estações do metrô. A linha tem 30 km de extensão e o bólido percorre esta distância em exatos sete minutos, a uma velocidade máxima de 430 km horários sem colocar as patas sobre os trilhos.

A coisa, engenheirada por alemães e executada em parceria com os próprios chineses, custou aos cofres públicos a soma de 1 bi de Euros. É o único trem bala implantado no mundo com a tecnologia empregada aqui. A China descartou a possibilidade de usá-la no trem bala que ligará Shanghai à capital Pequim.

Quando Mao tocou a revolução cultural ele acabou com tudo que se parecesse com religião, inclusive budista a predominante na época. Mandou os monges para o campo sob a alegação de que religião não ganha pão, mas somente o trabalho. Hoje o estado não se importa, controla apenas o que os templos arrecadam em moedas lançadas pelos visitantes e retiradas por uma funcionária munida de uma lança com um imã na ponta.

Os chineses não estão nem aí para quem pariu Mateus, eles querem é produzir e vender. Tudo cheira a negócios, negociatas, barganhas, a cidade é um mercado ambulante. Até o falo é dourado, não poderia na época dos imperadores já que a cor só “pertencia” a eles.

Quem se importa?

Numa lojinha descobri que no horóscopo chinês eu sou Dragão. O animal preferido pelos imperadores. Daí concluí: alguém aí está como minhas outras 199 mulheres ou, então, a minha vale por duzentas.

A primeira hipótese não é a mais provável.



Até breve.

Um comentário: