sexta-feira, 17 de outubro de 2014

DUPLACARTA



Presidenta e Candidato,

Devíamos todos agradecê-los pela extraordinária performance de ambos no debate de ontem no SBT no quesito Educação.

Vocês nos lembraram de nosso grande dramaturgo maldito Nelson Rodrigues nos seus escritos: “A vida como ela é”.

Sem medidas, vocês explicitaram nossas entranhas, nossa verdadeira formação (ou será deformação?), nossa conduta.

O senhor, candidato, ao interpelar sua adversária pegando de uma fala dela no debate anterior na BAND foi primoroso: “Todos podem cometer corrupção”, a senhora teria dito.

A senhora, Presidenta, não foi menos brilhante ao dizer ao candidato que nem ele e nem ninguém está acima de qualquer suspeita.

Eu mesmo, me vi. Em criança me divertia, lançando a muros, galinhas e gatos para saber o resultado sobre os indefesos depois do golpe. Mais recentemente fiquei fascinado por aqueles pauzinhos talheres de madrepérola em restaurante onde almoçamos aos pés das Muralhas da China e os afanei, como recuerdos.

Somos todos passiveis de suspeita. Definitiva lição. Que ninguém aí espere que possamos encontrar um santo que nos governe. Talvez o que nos reste seja uma questão de grau.

Petrobras ou Aeroporto de Cláudio? Pasta Rosa ou Lava Jato?

Maquiavelicamente abordado pela senhora, Presidenta, o senhor, Candidato, saiu-se muito bem nos ensinando como nos escapar de cascas de banana lançadas em nossos caminhos por adversários: foi direto ao ponto na questão de ter sido parado em blitz do bafômetro. O senhor explicou que estava com a carteira vencida e que, inadvertidamente, não quis fazer o teste do teor de álcool.

Pobres das galinhas e dos gatos.

Aconteceu sim, Presidenta, mas eu já pedi minhas desculpas”, o senhor teria dito. Perdoem-me, embora minha comparação não soará mais chula que o fato, mas é como se o senhor, candidato, em outra situação tivesse dito: “Mas eu só pus a cabecinha”. Mera questão de intensidade da falta.

A senhora, Presidenta, no quesito dissimulação é uma mestra a ser seguida. A senhora passa o tempo todo com a santa oportunidade de dizer ao seu povo afinal a que se propõe e se esquiva permanentemente do óbvio. A senhora não é senhora da Polícia Federal e nem do Mistério Público, Presidenta. Há um fato inconteste: a lama grassa e a senhora é sim, o Presidente do Conselho de Administração da Organização Brasil e, como tal, a última instância de responsabilidade em qualquer cartório, mesmo que estes só existam em nosso país.

É verdade, também candidato que o senhor não é dono de Minas Gerais e nem deveria estar falando em nosso nome, como se nós já não soubéssemos que não temos voz. Deixe-nos em nosso silêncio, em nossa desesperança, em nossa vidinha tal como ela é.

Os senhores fizeram-me lembrar da visita recente que fiz à Macau. Lá fiquei sabendo de que em dado momento um sujeito pela proximidade com o governador da colônia consegue a liberação para exploração de casinos e permanece com exclusividade até que, décadas depois de trilhionário, o governo da China, ao restabelecer domínio, acaba com a festa portuguesa.

Sim, Presidenta e candidato, será secular nossa esperteza, nosso levar vantagem em tudo, nosso sangue de colonizados querendo sempre tirar o ouro que nos roubou a matriz?

Não reside aí, quem sabe, uma dica aos senhores para abordarem no próximo debate? Quando ambos forem atacados um pelo outro, apenas digam: “Mas eu não tenho culpa, a culpa é dos portugueses”.

Aula de História.

Para o último debate na Globo, proponho um tema: o Futuro. Lição que nós já aprendemos de ouvido.



Até breve. 

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