terça-feira, 21 de outubro de 2014

BORRÕES



Disseram-me que eu não me ocupasse de política nos meus posts, já que o processo está dando náuseas. Que eu me ocupasse com Arte, quem sabe, que seria melhor.

Fiquei pensando a respeito, embora considere nossos conterrâneos candidatos bastante arteiros, já que cada um, a sua maneira, pratica a arte do embuste. Um com alguma sofisticação outra com menos quilate. Mas ambos, fazedores de arte por demais conhecida por todos nós.

Perguntarão: mas a Política é uma arte? Lembro-me dos nossos melhores, o maribondo de fogo membro da Academia que de picada em picada arrasou um Maranhão inteiro e de um Cruzado foi mestre nas tintas. Tem também aquele outro varapau, que desde a redentora passeou pelos meandros de todos os poderes fazendo contornos. Para não dizer de outros tantos artistas que deixaram um legado inestimável às nossas paisagens mais cinzas.

Quero então respeitar amigos e comentaristas do blog, que quase sempre me dão dicas para vir à post.

O Caderno Dois do jornal Estado de São Paulo publica matéria com a ensaísta e professora norte-americana Camile Paglia de 67 anos, na qual ela critica os criadores contemporâneos, elege o cineasta George Lucas o maior artista vivo e, à moda dos breviários católicos de imagens devocionais, elege vinte e nove artistas num cânone ainda mais polêmico, que ignora nomes fundamentais da história da arte.

São declarações dela, na entrevista:

“Eu, particularmente, estou interessada em atingir aqueles que consideram os artistas sonhadores, pouco pragmáticos ou parasitas preguiçosos”...

Consultada por que escolheu o cineasta Georges Lucas como o artista vivo mais importante e se considera que ele terá, no futuro, a importância que Leonardo da Vinci teve para o Renascimento italiano, Paglia respondeu:

Não há artista vivo em qualquer campo, incluindo o literário, que tenha tido tão profundo impacto na imaginação de milhões. Em Guerra nas Estrelas, Lucas criou um universo mitológico que obcecou gerações de jovens e inspirou uma vasta indústria de produtos e jogos. Foi justamente o êxito comercial de Lucas que prejudicou seu status artístico. Pioneiro da tecnologia digital, Lucas tem enorme influência na vida contemporânea. A sofisticada área de animação computadorizada deve tudo a ele. Seria difícil comparar qualquer artista a Da Vinci, que viveu num explosivo momento da história, quando a arte e a ciência estavam em expansão. Contudo, Da Vinci e Lucas dividem essa ambição de explorar a fronteira entre arte e tecnologia”.

Sobre as consequências negativas da revolução digital, Paglia diz que estamos perdendo a habilidade de pensar de forma analítica justamente por causa dela.

“Eu adoro a web e fui uma das primeiras a publicar nela. Também adoro meu iPhone. Não consigo imaginar minha vida sem ele. Contudo, os cérebros e circuitos neurológicos dos jovens, assim como os dos profissionais de classe média que usam computadores o dia todo, estão sendo invadidos e transformados sem que eles entendam como. O olho sofre com anúncios piscando na rede. Para se defender, o cérebro fecha avenidas inteiras de observação e intuição. A experiência digital é chamada interativa, mas o que eu vejo como professora é uma crescente passividade dos jovens, bombardeados com os estímulos caóticos de seus aparelhos digitais. Pior: eles se tornam tão dependentes da comunicação textual e correio eletrônico que estão perdendo a linguagem do corpo”.

Eu vou comprar o livro de Camile Paglia, recentemente editado: Imagens Cintilantes.

Falando nisso, em cintilante propriamente, lembrei-me de Cingapura. É que o administrador público de lá, anos atrás, foi para a TV informar aos cidadãos os valores gastos com a limpeza das ruas, especialmente com a retirada de chicletes. E comunicou que estaria instituindo uma multa de S$500,00 (quinhentos dólares de Cingapura) – um dólar americano equivale a um dólar e vinte e cinco centavos de Cingapura. Lei em Cingapura é Lei, inclusive aquela que instituiu a Pena de Morte por tráfico, porte ou consumo de drogas.

Vi uma cidade limpa, rigorosamente limpa. Voltando à Belo Horizonte passei a reparar as nossas ruas impregnadas de chicletes, deixando manchas escuras principalmente nas proximidades de escolas.

Reparem.




Até breve.

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