segunda-feira, 29 de abril de 2013

CANTADA



Juro que o meu coração bate agora mais forte quando começo este post. Tenho levado tão a sério esta atividade que próximo de completar o segundo ano do blog e seus quase quatrocentos textos confesso: não há prazer maior do que inscrever-se.

Embora não tenha de todo abandonado a minha atividade consultiva, o que me melhora o tempo vivido é isto que estou fazendo aqui e agora. Diariamente, quando saio para minha caminhada matinal vou me dando os tratos às bolas.

Penso.

As preliminares são deliciosas, porque me remetem ao mistério do que será o todo do ato e por que trilhas percorrerei o corpo do texto objeto de meu desejo. Avanço quase sempre sobre o conhecido, mas sempre inacabado e inexplicável gozo. Quando afinal me debruço e assumo a ação e supostamente dou à ela um até breve, em itálicos negritos, sinto-me integralmente bem.

Assim me coloco no inscrever-me. É pura sexualidade. Meu tesão se aflora e de tal sorte que meus dedos percorrem teclas do computador como entidades fálicas que procuram letras que juntadas levem, quando lidas, a estímulos para extasiarem no prazer do ato.

A escrita é, em si, uma amante inesgotável, exigente e, ao mesmo tempo, hipersedutora. Padeço de uma incorrigível paixão.

Fico sempre com uma questão que me acomete: jamais gostaria que fosse um autoprazer, para ser mais explícito, uma masturbação, embora não tenha nada contra de vez em quando ficar comigo mesmo e me bastar. Há textos tão intensos que somente eu saberei tirar deles todo o prazer. Eles se mostram em entrelinhas que somente eu, com os meus mistérios, sei percorrer.

No entanto, queria mesmo e muito é trocar com você que me acessa e leva de mim meus dizeres para fazer com eles a sua bastança. Queria muito é descobrir os meandros daquilo que você espera que eu faça neste troca-a-troca de músculos que governam nossos cérebros e nossos corações.

Verifico todos os dias as estatísticas de acesso ao blog. Mesmo que me deem uma dimensão reduzida à quantidade, ainda assim gosto de saber que fui procurado. Pretinha me disse que de vez em quando eu volto com esta questão, de querer ser sabido e como. Lé me indica caminhos outros para ser mais acessado. Uma cunhada diz que estou nostálgico.

Ontem revi no Canal Brasil ao documentário sobre o III Festival de Música Popular Brasileira que aconteceu em 1967, quando Edu Lobo, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Nara Leão e todos os outros estavam com seus verdes 22 ou 24 anos de idade. O que me impressiona neste filme não são só os artistas que nasciam, mas o público.

Quanto engajamento havia naquela época. Vaiar era, inclusive, um ato político.

Até breve.

6 comentários:

  1. Êta meu camarada! 2 anos do Blog já??? Ô! Vixi! E nada de parar de escrever, viu? Concordo em gênero, número IGUAL (hehehe) com sua amiga que te disse que não leu nenhum dos textos que vc postou mas que adora todos simplesmente porque vc quis escrevê-los e escreveu!! Viva ela! E lendo esse de hoje, especialmente o seu comentário sobre o III Festival de Música - que eu vi na época (é mole??), revi no cinema e depois pela TV Brasil, lembrei de uma coisa: lembra do seu texto sobre NOVO e NOVIDADE? Pois é, meu querido... Aquela postura, aquele artista, aquela música, aquela platéia e aquela vaia, tudo NOVO! Hoje, no máximo e de vez em quando, temos NOVIDADE... Ô tristeza! bjs Lydia

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    1. Digo logo o que tenho prá contar.Parado no meio do mundo, senti chegar meu momento. Olhei pro mundo e nem via. Nem sombra, nem sol, nem vento.Meu canto não posso parar. Capinan na veia. Brigado, Lydinha.

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  2. Ontem vi o filme de um autista que tinha grande dificuldade de comunicação verbal e de expressão de seus sentimentos da forma convencional. Mas através da escrita tudo fluía com profundidade e clareza. Acho que você é um pouco autista, ou melhor, tem a coragem e sabedoria de colocar para fora suas impressões, sentimentos, besteirol, críticas, etc.

    Você também me surpreende, assim como surpreendeu a aluna da pós graduação que não te reconheceu como a mesma pessoa do blog.

    O filme é o indiano "Meu nome é Khan".

    abraço e parabéns pelos quase 2 anos desta viagem.

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    1. Você é suspeito prá comentar. Me considerar só meio altista é camaradagem. Brigado, Julinho.

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  3. Caro Agulho,

    Acredito que você tenha um publico que nem sempre se manifesta, porem isso não quer dizer que não seja cativo. Seu blog faz parte de minhas leituras diárias, que acontece após as mesmices, guerras, mortes, futebol, corrupção, briga de poderes e por poderes, então eu penso: deixa eu ler algo interessante agora!

    Nao estou puxando seu saco, ate porque você pode gozar e eu estar embaixo, mas seus textos são ins-piradores.

    Entendo que por mais que em alguns momentos a masturbação satisfaça, o ideal nesse caso é uma suruba mesmo, com todo mundo dentro, o que enriqueceria a todos. Portanto acho que você deveria seguir os conselhos do seu filho e cair de "cabeça", e Veras pessoas extraindo prazeres extremamente diferentes do imaginado pelo autor e até entrelinhas não existentes nas entrelinhas.

    Mas prepare-se porque podem querer chupar-lhe todo e isso se tornara um vicio.

    Infelizmente, a imensa rede possui poucas fontes de trocas inteligentes, mesmo havendo muitas pessoas inteligentes atras da rede. Ha um vazio ávido por ser preenchido. Volta e mexe vemos frases seculares tentando suprir esse vazio, mas e as pessoas reais?

    Sei que experiências só são verdadeiras para quem as vivencia, mas muitas vezes servem de ins-piração para que criemos nossas próprias. Afinal, somos ou não somos feitos dos outros?

    Grande abraço

    Lindinho

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    1. Seria uma suruba viciante. Me faria lembrar da FAFICH. Nós todos acreditávamos na alvorada de um tempo novo.Ocorre que a resultante não foi a liberdade, mas a libertinagem e com ela a barbárie que nos sufoca a todos. Fico feliz de você perceber que há avidez nas pessoas reais. Mateo se orgulhará eternamente de você.
      E não só ele, com toda a certeza. Brigado, Lindinho.

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