sexta-feira, 16 de maio de 2014

ANAMNESE



Nada é mais como costumava ser.

Acho que não é mais possível pensar e medir o que se passa usando réguas do passado. Da época em que todas as coisas podiam ser explicadas e entendidas a partir de uma meia dúzia de ângulos ou pontos de vista.

As interpretações e análises estavam enquadradas dentro de algumas convenções estruturantes e era possível transitar a partir delas e retornar a elas satisfazendo-se por conclusões quase sempre plausíveis.

Os inimigos estavam embandeirados e com suas fronteiras territoriais claras, as convicções que moviam os cenários, as lideranças de cada flanco, enfim o desenho dos mapas dos conflitos era simples, evidente, conhecido e reconhecido.

Hoje, o mundo plano, nivelado pela abissal e contundente web, agora potencializada pela web semântica imporá, aos interessados em compreendê-lo, outros paradigmas. A web semântica é uma extensão da web atual, que permitirá aos computadores e humanos trabalharem em cooperação. Interliga significados de palavras e, neste âmbito, tem como finalidade conseguir atribuir um significado (sentido) aos conteúdos publicados na internet de modo que seja perceptível tanto pelo humano como pelo computador.

As hierarquias de poder, os conceitos, a Filosofia, as Artes, os Valores, a Ética e a Estética  sofrem transformações no âmago de seus fundamentos. As estruturas institucionais remanescentes soçobram em todos os cantos do Planeta, incapacitadas em fazer face às complexas exigências do contemporâneo.

No passado recente, as mortes esquecidas na Boate Kiss, aqui no Rio Grande do Sul. No presente, as centenas de mortes em mina de carvão na cidade turca de Soma que causou protestos em dezenas de localidades do país para denunciar as condições de trabalho nas minas privatizadas.

Foi convocada Greve Geral no país e os organizadores pediram que os cidadãos vestissem roupas pretas ou utilizassem um laço dessa cor em sinal de solidariedade às vítimas. Em alguns meses estas roupas ou esse laços estarão servindo de peças de uma inócua experiência.

Ontem mais de vinte pessoas foram mortas e um enorme projeto siderúrgico estrangeiro foi incendiado no Vietnã, onde os protestos se espalharam para o centro do país um dia depois de ataques e saques no sul. Temendo violência, chineses fugiram para o Camboja.

Ontem, também, pelo menos 17 pessoas morreram após a explosão de um carro-bomba perto do posto de fronteira de Bab Salama, entre a província síria de Alepo e a Turquia, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Mais de 150 mil pessoas morreram desde o início do conflito na Síria, em meados de março de 2011, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Observatório.

Voltando ao Brasil, reportagens na TV de ontem deram conta dos protestos pela má utilização do dinheiro público destinado aos estádios para Copa e não para prioridades na saúde, educação, segurança e outras.

A cada dia o mundo plano torna-se um lugar mais assustador. Não há nenhum prenúncio de equacionamento no micro e no macro. O que nos resta é edificar monumentos a episódios da tragédia humana, como fez, ontem também, o Presidente Obama ao inaugurar o alusivo ao 11 de setembro de 2001.

Enfim, os fatos são superiores aos homens que, hoje, estão à mercê da História. E não há semântica cibernética que neles encontre sentido.


Até breve.

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