terça-feira, 6 de maio de 2014

APOCALIPSE



“O cenário repentinamente ficou semelhante ao que você sempre buscou, e tudo aconteceu com naturalidade, você encontrou a bem-aventurança quando menos a esperava. Assim são as coisas, misteriosas e instigantes”.


CENÁRIO 1

Lembra-se das fitas cassete, aquelas que serviam para gravar a sua seleção favorita de músicas e emprestar para os amigos, e que hoje pegam poeira no quartinho da sua casa? Então: engana-se quem pensa que elas estão ultrapassadas. A Sony acaba de lançar uma fita capaz de guardar 185 terabytes de data (1 terabyte é igual a 1024 gigabytes, caro leitor).

Ok, mas o que pode ser guardado nesse espaço? Aproximadamente 60 milhões de canções (algo como mais de três vezes o número de músicas que alguém poderia ouvir a vida toda, durante 100 anos). Ou 18,5 vezes a capacidade da Biblioteca do Congresso Americano, a maior do mundo. Todos os tweets já postados, por exemplo, cabem em 85 terabytes.

É o Nirvana, não?

Acesso, portabilidade, instantaneidade de 60 milhões de músicas, 100 anos de viagem somneral. Tudo a respeito de tudo em todos os idiomas disponível a ponto de você ter propriedade de todo o saber disponível.

E aí?


CENÁRIO 2

No litoral de São Paulo uma senhora foi linchada por populares por ter sido divulgado em rede social um retrato falado de uma provável ladra de crianças no Rio de Janeiro. Confundida com a suposta ladra a pobre mulher foi espancada até a morte. Deixa órfãs duas meninas, uma de um ano e outra de treze anos de idade.


Como eu gostaria que a previsão do horóscopo acima não fosse apenas para os nascidos no meu signo, mas para toda a Humanidade. Não há a menor perspectiva de bem-aventurança, muito menos conquistada com naturalidade.

A todo o momento se tem a dimensão do desastre. A capacidade de produção de extraordinárias descobertas em todas as áreas do conhecimento multi e transdisciplinar em escala avassaladora contrasta com o absurdo da vida quotidiana.

Fomos capazes de criar tudo e não soubemos nos humanizar. O mundo nunca, nem durante as duas grandes guerras, foi espaço de perigo permanente para a espécie quanto vivemos no presente. Em todas as partes da terra e a todo o momento ocorre um fato de vulto que nos faz temer a cada dia mais pelo futuro.

As coisas não estão nem misteriosas e nem instigantes, antes pelo contrário, nossa falência é notória, acachapante e demove todo estímulo, toda crença, toda a esperança.



Até breve.

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