segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PRAZER


Assisti ontem ao filme ELAS, da diretora polaca Malgoska Szumowska, protagonizado pela sempre surpreendente Juliette Binoche.

Anne (Juliette Binoche), jornalista da revista ELLE, prepara um artigo de fundo sobre prostituição de jovens universitárias em Paris. É dessa forma que conhece Charlotte e Alicja e que vai tentar perceber aspectos como as suas escolhas, as suas experiências, a relação com os clientes e com os namorados. Surpreendentemente, estes encontros vão ter consequências na sua própria vida familiar.

- “A mentira”.

Responde Charlotte, que se apresenta aos clientes como Lola, quando perguntada por Anne o que mais a incomoda na vida clandestina que leva como garota de programa. Ter que viver mentindo aos parentes e ao namorado.

- “O que nos adianta ler Flaubert ou Proust, se nossa vida não mudará nada com isto”.

Diz a universitária Alicja, que cobre férias como garçonete em uma lanchonete, para simular aos parentes de onde vem o dinheiro para se manter.

- “Não vês a sorte que tens? Há tanta gente a lutar”. Pondera Anne ao filho adolescente que começa a faltar à escola.

- “Do que você me fala? Por que você lutou, mãe”? Responde o jovem a uma mãe que se cala.

Não é possível passar por este filme sem refletir sobre a condição humana. Transcende e em muito a questão de superfície do enredo no que tange à condição feminina, especialmente aquela, que por questões sociais, justificaria a escolha pela prostituição.

É, em minha opinião, muito mais do que isto.

O drama da existência contemporânea, os fins justificando os meios, a dor de cada um segundo suas fragilidades e a imensa frustração coletiva envolta em papel celofane. As aparências enganando os propósitos, a profunda e cruel necessidade de homens e mulheres buscarem um simulacro de poder.

- “É como os cigarros, eu não consigo parar... De repente eu tenho dinheiro”. É uma das falas de Lola, ou melhor, Charlotte.

-“Você está muito esquisita depois que começou a escrever este artigo sobre putas”. Diz o marido a Anne.

-“Não sei se são putas”. Rebate Anne.

- “Uma puta é sempre uma puta”. Continua o marido.

- “Parece que você sabe sobre o que fala.” Conclui Anne.

Este diálogo se passa dentro do quarto do casal enquanto na sala estão os chefes do marido de Anne para participarem de um jantar de conveniência da política corporativa.

Anne serve Coq aun vin regado com Riesling. O mesmo cardápio que Alicja serviu ao seu primeiro cliente.

- “É como os cigarros, eu não consigo parar... De repente eu tenho dinheiro”.

A arte, às vezes, é cruel. Como em Flaubert e Proust.



Até breve.


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