domingo, 24 de novembro de 2013

MATIZ



Sexta-feira ouvi pelo rádio uma entrevista com o cantor e compositor paulista José Miguel Wisnik. Nela, consultado pelo entrevistador sobre a canção hoje, ele respondeu:

- "A canção hoje é, como tudo, consumo breve. Ninguém retém por muito tempo o que ouve. Ouve alí e bola prá frente, fast food. O que temos são canções do passado recente que ainda arrebatam inclusive os mais jovens".

Na mesma sexta fui ao Cine Theatro Brasil ver a exposição do mural de 14x10m Guerra e Paz de Cândido Portinari  que o produziu entre 1952 e 1956 para o governo brasileiro presentear a ONU.

Nas salas reservadas ao Projeto Portinari para o esclarecimento das circunstâncias, acervo de fotos e matérias jornalísticas, comentários sobre a obra, obras de arte outras derivadas de Guerra e Paz como as esculturas de Sérgio Ramos e os bordados artesanais com fragmentos da obra do pintor, há entre os tantos dizeres fixados nas paredes dos salões um de Carlos Drummond de Andrade:

"Se tais pinturas não se gravarem por toda a vida na tela interior, é que não merecíamos tê-las visto. Usando a linguagem da obra de arte, que é uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe o pranto e solidão mortuária, Portinari nos diz: Olha, vê bem, penetra o fundo destas imagens, e escolhe".

Hoje, agora à noite, fui assistir a peça "À beira do abismo me cresceram asas" da atriz e, agora dramaturga, Maitê Proença. Maitê partiu de depoimentos colhidos em asilos para construir a trama sobre duas octogenárias (vividas por Maitê e Clarisse Derzié Luz) que moram em uma casa para idosos.

Fecho a semana com um gosto de feliz intensidade sobre os nervos do coração e do cérebro. Vivo meus sessenta e um quase dois anos procurando extrair cada segundo desta melhor idade, e os últimos três dias provocados pelos episódios acima foram de um prazer inenarrável.

Este post não dará conta de Wisnik, Portinari e muito menos de Maitê e de suas asas e nem de seus abismos. Este post quer roubar Drummond e reescrevê-lo nas minhas paredes:

“Se tais momentos não se gravarem em minha vida interior, é que eu não merecia tê-los vivido. Usando a obra de arte, que é uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe a finitude, a vida ainda nos diz: Olha, vê bem, penetra o fundo destes momentos, e escolhe”.

Agora, quando concluía este post recebi de Pretinha a foto de Noninha e me lembrei novamente de Portinari:


"Só o coração nos poderá tornar melhores e essa é a grande função da Arte".




Até breve.

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