quarta-feira, 6 de julho de 2011

MBR I

Inúmeros fatos do período que trabalhei na MBR poderiam ser relatados aqui, relacionados aos desafios de implantação do modelo de gestão construído pelo Dr. Seara. Da compreensão do modelo, bastante complexo, a sua implementação. Poderiam ser também lembrados episódios envolvendo diversas negociações sindicais, ou mesmo projetos de ajustes de estrutura que foram empreendidos, programas de desenvolvimento de executivos, talvez, ou até traquinagens ou episódios envolvendo personagens pitorescos.
Ressalto aqui, porém, apenas dois aspectos que foram os mais importantes: o primeiro, o Grember, clube de recreação onde meus filhos se esbaldavam com um sem número de atividades de lazer, cultura e entretenimento. Nós também, os adultos, nos bailes, festas comemorativas, finais de tarde onde nos encontrávamos eu, minha esposa e amigos. E eu estou falando disso acontecendo em Belo Horizonte. Não conheci ao longo de toda a minha trajetória uma iniciativa tão exitosa como o Grêmio dos Empregados da MBR.
O outro aspecto a ressaltar é a importância de Seara na minha formação futura. Compreendi isso um pouco mais hoje, quando me encontrei com ele e pudemos conversar durante mais de três horas.  Ele implantava o modelo à revelia da diretoria, assumindo integral responsabilidade e procurou uma pessoa que pudesse transduzir, isto mesmo, transduzir para a estrutura toda a lógica do modelo. Disse-me hoje como recrutou essa pessoa. Contratou um caçador de cabeças que fez um amplo recrutamento pelo país a fora. Feitos testes e entrevistas, ficaram alguns candidatos que ele procurou entrevistar mais de uma vez. Até que restaram do processo três candidatos finais. Ele me disse que entrevistou o primeiro e gostou muito, o segundo muito também e o terceiro ele contratou. Eu lhe perguntei por que. Ele usou um ditado em latim para me explicar e concluiu: ‘Eu precisava de alguém que acreditasse muito em si mesmo’.
Disse-me que quando o setor de mineração entrou em uma profunda crise foi chamado ao Rio de Janeiro para reunião de cúpula para análise de alternativas para superação. Lá ele teria proposto a adoção do modelo. Foi a única vez que tratou do assunto com a direção, que na época não entendeu nada.
- ‘Eu acreditava, você sabe quanto, não sabe Agulhô, então tinha que fazê-lo. ’
Um dia numa reunião de exposição do modelo um Superintendente o interpelou:
- ‘Dr. Seara, o que nos garante que a gente implante o modelo e depois a diretoria vem e coloque tudo por terra?’
- ‘Nada e nem ninguém, mas você tem alguma alternativa além de seguir o modelo?’
Assim, curto e grosso.
Poucos meses antes de eu deixar a companhia, a cúpula do Rio de Janeiro visitou a MBR. Dentro do carro em que fazia o giro pelas unidades operacionais Dr. Seara ouviu uma pergunta do presidente da empresa:
- ‘ Seara o que você fez para melhorar tanto isto aqui?’
- ‘Melhor eu não dizer... ’ Respondeu com um sorriso maroto.
Conversamos sobre a minha saída que ele compreendeu claramente até porque foi por motivos muito semelhantes aos meus que lhe fizeram tomar também a decisão de se aposentar, o que aconteceu poucos meses depois que eu havia pedido demissão.
A MBR foi vitimada por um executivo que assumiu a Presidência da empresa e que de forma intempestiva tomou decisões inadequadas, inoportunas e arriscadas. Levou inclusive os empregados da empresa a uma greve de ocupação do terminal marítimo de conseqüências extremamente danosas, interna e externamente.  
Esse executivo colidiu frontalmente com o modelo e fez diversas modificações na estrutura gerencial além de afastar o Dr. Seara de suas funções de Diretor.  Colidiu especialmente comigo até que em 04 de novembro de 1991 eu procurei o Diretor recém empossado no lugar do Dr. Seara e entreguei o meu pedido de demissão. O pobre do diretor disse-me que eu deveria aguardar o presidente, que estava viajando para fora do país, pois a ele caberia autorizar ou não a minha saída.
- ‘Chefe, você não entendeu. Eu estou indo embora agora. ’
- ‘Mas você está indo para outra empresa, já tem outro emprego?’
- ‘Muito obrigado pela sua preocupação, mas isso diz respeito somente a mim. ’
Dr. Seara disse hoje ainda três coisas: que esse presidente foi sumariamente demitido pelo fundador, líder nacional histórico, poucos anos depois que nós dois já havíamos saído da empresa. Que depois de aposentado o fundador convidou-o para homenageá-lo pelos imensos serviços prestados à organização. No dia da homenagem, o fundador levou-o para um canto da sala e perguntou por que ele, Dr. Seara, resolvera sair da empresa se  poderia ter ficado pelo menos por mais uns cinco anos.
- Sabe que eu disse, Agulhô, que aos sessenta e dois anos um homem tem mais o que fazer na vida do que ser Diretor de Operações...’
Esse é o caráter do pequeno gigante.
A última coisa que ele me disse hoje foi que somente há dois anos, portanto mais de vinte anos depois compreendeu um conceito com o qual ele operava. Dr. Seara é de uma humildade intelectual ímpar.
Serei injusto se terminar MBR sem apontar um legado dessa época de ouro: Andrade, Wellerson e Rijane, que de tão importantes merecerão de mim tributos à frente.
Até breve.

Um comentário:

  1. Lembro me bem das atividades do Grember... foram momentos singulares!!!!bjão

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