quinta-feira, 7 de julho de 2011

BANCO

Considero a FIAT como a minha escola básica, a SMJ como minha graduação, VITÓRIA como estágio, MBR como um mestrado. De quebra consegui concluir a faculdade de Psicologia e fui receber o diploma no dia 14 de maio de 1991. Na hora que recebia o diploma me virei para a platéia e vi a minha mãe de pé batendo palmas, emocionada. Acontecia ali algo que somente eu lhe proporcionara. Nenhum dos outros nove filhos havia conseguido concluir um curso superior.
Depois que deixei a MBR resolvi encarar o sonho acalentado desde Marco Pecore. Dedicar-me a consultoria e tocar a vida com as próprias pernas, riscos e realizações. Aluguei uma sala na Av. Prudente de Morais, levei para lá alguns móveis que sobravam em nossa casa, uma máquina de escrever, uma TV portátil, alguns adornos e saí para rua buscando empresas para vender meu repertório.
Fiz diversos contatos e, de onde eu menos esperava, recebi a primeira proposta de trabalho: dois workshops de dezesseis horas cada para diretores e gerentes da rede municipal de saúde de Belo Horizonte. Realizei o primeiro workshop em 18 de dezembro de 1991 pelo qual recebi o correspondente, na época, a vinte e três dólares e vinte e um centavos americanos. Realizei o segundo workshop em 09 de janeiro de 1992 pelo qual recebi o correspondente, na época, a quarenta e nove dólares e setenta e um centavos americanos. Quem me indicou para a oportunidade foi o prosaico Paulo Roberto Souza Lima.   
Elaborei algumas propostas de trabalho para algumas empresas ao longo do primeiro trimestre de 1992, que não se concretizaram quando em abril do mesmo ano, Paulo Rogério Botelho da então CATHO me telefonou. Tinha uma vaga de Superintendente de Recursos Humanos para o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Em um primeiro momento achei que não deveria me aplicar, mas com a receita de US$72,92 auferida desde que deixei a MBR era melhor que eu tivesse juízo e enfrentasse a onça. Ocorreu também o furto da TV portátil do escritório, portanto além da receita ser de longe satisfatória eu começava a dilapidar o meu patrimônio. O projeto Pecore ficaria para depois.
Fui para a entrevista com o Presidente do Banco, Dr. Salvador. O nome era sugestivo para a minha situação. Me atendeu sua secretária com um formalismo de dar náuseas, mas vamoquevamo porque era de novo um privilégio na carreira: automobilística multinacional, siderúrgica nacional, alimentícia familiar e agora Banco público era demais. Estava ali o meu doutorado.
Dr. Salvador era funcionário de carreira e queria dar uma repaginada no Banco. Além de mim, contratou para duas posições chaves: Julinho Miranda para o Marketing e Paulo Brás para a Controladoria. Pessoas, imagem e garrote era a estratégia. Mudar o perfil da tropa, refazer a imagem de Banco velho, estatal e ultrapassado, além de botar freio no dreno de recursos e negociatas políticas de toda sorte.  Encantei-me pela idéia e caí de cabeça.
Voltei a ter minha carteira de trabalho assinada no cargo Analista Financeiro Contábil IV, para exercer a função de confiança por determinação superior no cargo de Superintendente de Recursos Humanos com a remuneração total de putz, agora ninguém vai entender nada, Cz$4.123.409,44 por mês. Por extenso: quatro milhões, cento e vinte e três mil, quatrocentos e nove cruzeiros, quarenta e quatro centavos. Adorei: analista contábil e função de confiança. A remuneração total significou um acréscimo em relação à última na MBR de 30,28%.
Tomei um susto desde o primeiro dia. Eu achava que iria encontrar um desafio, mas não, era uma cruzada. A diretoria fora empossada pelo governador e os executivos contratados deveriam empreender a tarefa seguindo orientações. Natural, claro. Só que eu achei que era para valer a empreitada e fui em frente, escudado pelo Julinho e o apoio do Paulo Bras. 
Minha primeira ação foi conhecer o Banco e entendi que a urgência era tal que eu não poderia perder um dia sequer. Conduzi de cara oito workshops com toda a linha de comando do Banco. Convidei o Dr. Salvador para abrir o evento e dar seu recado da mudança. Ele me disse: ‘Eu não vou, você toca’. Pensei: num faz isso Salvador, vai que eu acredite? Os workshops foram realizados as sextas, sábados e domingos.
Conheci o Banco todo em oito semanas ininterruptas trabalhando de segunda a domingo. No terceiro mês de trabalho eu tinha a clara noção do que precisávamos fazer. Foi uma carnificina, por mais cruel que isso possa parecer, não tem outro nome. Fizemos uma avaliação relâmpago dos profissionais existentes em todas as áreas através dos gerentes que, nos workshops eu percebi que apoiariam o projeto. Escalonados em categorias: imprescindíveis, necessários, adequados, gordura e desempenho inferior.  Encaminhei a decisão que a partir de junho daquele ano ficariam somente os adequados, necessários e os imprescindíveis. Os avaliados como gordura e desempenho inferior, rua.
Incrível como a cirurgia foi benéfica e determinante para dizer o que o Banco pretendia a partir dali. Ao longo do processo afinávamos os instrumentos e melhorava a nossa gestão de escolha de profissionais. O Banco fez uma campanha exemplar de marketing: tenho profunda admiração e respeito pelo trabalho do Julinho Miranda. Repaginou a imagem do Banco na mídia, reformulou layout de agências, mudou a cara do banco literalmente. Paulo Brás, por sua vez, arrumava a casa nos controles, pegando toda operação velhaca e empreendendo uma sofisticada estrutura de gestão contábil, financeira e tributária.
Os resultados do Banco começavam a aparecer. Ganhávamos credibilidade, interna e externa.
Mas havia outras encrencas.

Até breve.

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