terça-feira, 31 de maio de 2011

CONTRATO

Contabilizo até aqui mais de 10.000 pessoas que participaram de meus seminários/workshops/MBAs com duração variando entre 16 e 40 horas cada. Um dos momentos mais ricos do encontro é o de uma dinâmica de grupo. Realizada num salão sem nenhum mobiliário, nem mesas, nem cadeiras, as pessoas se colocam de pé. Fixo quatro cartazes, um em cada uma das quatro paredes: CONCORDO TOTALMENTE, CONCORDO EM PARTE, DISCORDO TOTALMENTE e DISCORDO EM PARTE. Projeto sete frases, uma a uma, e peço aos participantes que se coloquem próximo ao cartaz que mais se aproxima da sua posição. Apresentarei aqui, em cada post, o desenvolvimento da dinâmica em cada frase.
Fossemos seres simples eu poderia dizer, por essa experiência acumulada em anos de aplicação dessa dinâmica, que não tenho muita esperança na espécie. Felizmente seres complexos que somos e pela superficialidade de minha análise, creio que ainda há chances. 
Enunciada a dinâmica os grupos, sem tomarem conhecimento das frases que serão projetadas, já iniciavam um pequeno embate: mas qual a diferença entre concordo em parte e discordo em parte? Ouvi os argumentos mais sofisticados a respeito.
Colocada cada frase no projetor de slides e uma vez tendo os participantes assumidos a sua opção abro o debate consultando a todos por que escolheram a posição. Deixo que os argumentos fluam livres e quanto mais intensos e acalorados, mais ricos.  A vida me permitiu aplicar essa dinâmica e experimentar momentos preciosos do confronto humano.
A primeira frase: “TODO PRODUTO NÃO PERFEITO QUE É ENTREGUE AO CLIENTE É, NO FUNDO, UMA QUEBRA SÉRIA DE CONTRATO.” A dinâmica transcorre em duas etapas. Na primeira, o grupo está distribuído pelas opções dos cartazes e os participantes livremente expõem os seus argumentos. Aliás, você que não participou ainda de um dos seminários, opte agora. Você concorda totalmente, concorda em parte, discorda totalmente ou discorda em parte?
Faço aqui uma breve síntese de argumentos ouvidos por força da opção assumida, muitas das vezes com elevação da voz, aos gritos, com fortes apelos inclusive hierárquicos, sedutores, enfim, humanos. Em concordo porque: considero uma quebra séria entregar algo que não esteja adequado ou Se eu contratei devo cumprir. Eu discordo totalmente: se fosse assim não existiria recall, assistência técnica, pós-venda, liquidação, brechó... Eu discordo porque não sei os termos do contrato... Quantas vezes compramos algo que tem um pequeno defeito... Aliás, o que é perfeito? Pergunto aos participantes se em função dos argumentos alguém se dispõe a mudar de posição. Foram raras as vezes que ocorreu uma transferência de alguém para outro lado. E em todas as vezes que isto ocorreu o lado que recebia o participante entrou em euforia e o do qual ele saiu ocorreu certa preocupação. Interessante observar que mesmo pessoas colocadas próximo a DISCORDO EM PARTE não caminhavam em direção a CONCORDO EM PARTE ou o contrário. Afinal, não é a mesma coisa? Na prática, não.
Quando o debate está aquecido e sinto que os argumentos começam a se repetir intervenho e paro o processo, enunciando duas novas regrinhas: não vale o uso de exemplos e os argumentos não podem ser colocados senão na primeira pessoa do singular. Retiro os cartazes de CONCORDO EM PARTE e de DISCORDO EM PARTE e peço que eles se posicionem dentro das novas regras.
É imensa a dificuldade de alguns em argumentar seus pontos de vista sem usarem exemplos da vida cotidiana além de ser para tantos extremamente difícil colocarem seus argumentos na primeira pessoa do singular. Ouvi, por exemplo: uma empresa que está com um lote de produtos avariados, a Fiat, por exemplo, com o problema do granizo, comunica ao mercado... Coloco que não vale exemplo e o argumento deve ser feito na primeira pessoa do singular. Mas há a prévia comunicação ao cliente...
Tomo a palavra e convido o grupo à reflexão.  A pergunta que proponho para essa primeira frase é: eu sou uma pessoa séria?
Para o post de amanhã a frase será: “EM NOSSA BUSCA DE EXCELÊNCIA DEVEMOS SEMPRE RESPEITAR OS CONCORRENTES COMO ‘ATLETAS’ QUE PARTICIPAM DA MESMA OLIMPÍADA.”
Apreciaria muito receber comentários ao longo da exposição das sete frases. Minha expectativa é que, concluídas as sete frases, eu possa construir uma síntese reflexiva.
Obrigado.
Até amanhã.

4 comentários:

  1. Concordo plenamente com a frase. Acredito, entretanto, que, assim como nos jogos olímpicos, existem competidores que não vão respeitar as regras. Resta ao bom competidor acreditar no "sistema" e nas punições advindas dele. Se ao entrar em um mercado, ou esporte, comportamentos para você anti-éticos já são tolerados, ou você está no lugar errado ou deve se adaptar. Cabe a cada um escolher onde quer competir...

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  2. Concordo Totalmente, pois isso sugere uma visão/reflexão interna e outra externa. Sugere o respeito, a análise dos riscos, a compreensão das limitações e dos pontos fortes e a assim a possibilidade de desenvolvimento. No fim; descobre-se quase sempre, que a maior concorrência para ser excelente é consigo mesmo.

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  3. Concordo totalmente. Todavia, acho que a grande dificuldade é se manter em um mercado conduzidos por milhares de pessoas que não pensam assim. Ou, ainda, que embora pensem assim, são compelidos a agir de forma diversa para se manter no emprego.

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  4. Concordo plenamente com a frase, pois é preciso sempre acreditar que o CERTO deve prevalecer ao resto. Nas organizações cada vez mais é imposto as "vendas a qualquer custo" para melhoria da sua performace porem a Etica é esquecida.

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