quarta-feira, 11 de maio de 2011

AUTISTA



Ontem à noite fui receber o Troféu Gestão 2011 conferido a mim pela PUC MINAS, unidade Contagem. Uma comissão avaliadora composta por alunos, professores e dirigentes da universidade distingue por mérito, em dez modalidades, aquelas pessoas que mais contribuiram ao longo do ano anterior para o desenvolvimento da missão e os objetivos da instituição. 

Fui agraciado na modalidade PARCERIA EXTERNA. Contribuí em diferentes oportunidades em eventos com alunos, professores e/ou dirigentes na reflexão de temas diversos. Coube a mim a fala de agradecimentos, representando os laureados. Reproduzo aqui uma síntese de minha fala.

Convidei aos participantes que refletissem sobre o privilégio que cada um de nós gozamos de estarmos vivendo em uma época extraordinária, marcada por três mega-explosões. A DEMOGRÁFICA, a TECNOLÓGICA e a FINANCEIRA.

Cinquenta anos da história humana foram necessários para atingir o primeiro bilhão de pessoas vivas sobre o planeta o que se deu em 1830 d.C., em 1930, contávamos com dois bilhões e por volta de 1999 com seis bilhões de pessoas. A espécie se multiplicou em setenta anos quatro vezes o que havia alcançado em mais de cinquenta mil anos de história. Temos mais DEMOnios no GRAFICO. O inferno são os outros, como queria Sartre.

Pesquisas do Instituto Tofler dão conta de que sete por cento dos produtores de conhecimento humano estão mortos o que significa dizer que noventa e três por cento estão vivos e produzindo agora em diferentes áreas com franco acesso e tempestividade a milhões de outras pessoas. Setecentas das melhores bibliotecas do mundo estão com todos seus acervos disponíveis na infernet. Hitler numa de suas máximas disse: todo homem bem informado é um homem perigoso.

Pela ciranda financeira internacional, POR DIA, circulam duas vezes e meia o PIB anual do Brasil. Dinheiro sobre dinheiro, muitas das vezes sem lastro. Capital  com deslocamento dos interesses, do público para o privado. Numa ponta da riqueza perto de mil e poucas pessoas que têm em seu patrimônio pessoal um ou mais bilhões de dólares, algumas delas estão no Brasil nas ante-salas dos gabinetes, nos salões e nas mídias de diferentes matizes. Na outra ponta, um bilhão e meio de pessoas que vivem abaixo da linha da miséria absoluta, algumas delas ali mesmo em Ribeirão das Neves, disputando com abutres, catando a vida em aterros sanitários.

Refletimos ainda sobre uma pesquisa patrocinada por um consórcio de universidades americanas e européias sobre o que mais aterroriza as pessoas no momento. A pesquisa (da qual fico devendo a fonte) consultou milhares de pessoas em cento e sessenta e cinco países do mundo. Do que mais as pessoas têm medo? Aproveite, faça a você e agora essa pergunta: o que mais teme hoje?

Tenho proposto essa questão a executivos e, no geral três questões têm sido apontadas: o medo do desemprego, da morte e o da violência urbana, não necessariamente nessa ordem. Penso que o medo do desemprego e o medo da morte, para alguns desses executivos são muito próximos, vitimados pelo ambiente corporativo marcado por três afetos: o medo, o ciúme e a inveja.

Voltando à pesquisa do consórcio de universidades o relatório final deu conta de três grandes temores da espécie na atualidade: a potencialidade de uma hecatombe nuclear, o conjunto de disputas étnicas, energéticas, ambientais, religiosas poderá levar a movimentos destrutivos globais; a irreversibilidade da fome, não seremos capazes de produzir alimento para todos e a ausência de líderes.

Paulinha Laudares, por e.mail, me disse que havia pensado que meu blog iria tratar de assuntos profissionais e me consulta se as estórias (interessantes) são recentes e se são ficção ou reais. Vai aqui uma estória "profissional".

Há algum tempo atrás recebi um telefonema do presidente de uma empresa. Ele me disse que havia concluído o planejamento estratégico com o apoio de uma consultoria americana, mas que encontrava sérias dificuldades para implementá-lo. Marcamos uma conversa. No dia e hora combinados, tendo já feitas as apresentações de praxe o consultei: então, me fale sobre a sua estratégia...  Ele, em silêncio, começou a procurar por algo num conjunto de pastas empilhadas colocadas umas sobre as outras nas laterais da sua mesa e outras tantas que se espalhavam por uma estante da sala. Chamou a secretária e: você viu minha estratégia? Ao que a tensionada senhora respondeu: está aí, na sua mesa... Não está, procure, por favor., determinou o presidente. Vi quando a secretária saía da sala encontrar-se com um executivo da empresa, que depois fui apresentado como um dos vice-presidentes, e ouvi o diálogo entre eles: você viu a estratégia do fulano (o presidente)? Não, respondeu o executivo. Você sabe onde ela está?, insistiu a secretária. Não, da dele eu não sei, eu estou com a minha..., disse o executivo, encerrando o diálogo e entrando para a sala ao lado a do presidente. A secretária voltou e com sinal de preocupação dirigindo-se ao presidente disse: fulano, não achei, mas tenho quase certeza que está na sua mesa.  O presidente foi ao toalete e quando voltou, sentou-se novamente a frente de sua mesa e vasculhou as gavetas. Encontrou na última gaveta a estratégia e, aliviado, a colocou sobre a mesa. Puxa, afinal encontrei minha estratégia. Perguntei a ele se poderia dar uma olhada rápida sobre o volumoso e muito bem editado documento. Senti no presidente uma certa dúvida, poderia ele passar a sua estratégia? Tomei a iniciativa e com jeito peguei o documento e o foliei rapidamente. Detive-me em uma das páginas: FOCOS ESTRATÉGICOS. Estavam apontados 136 focos estratégicos. Presidente, me diga o octogésimo quarto dos seus focos estratégicos, consultei. Ele, quase envergonhado, disse: o problema é esse. Então o quinto, insisti.

Contei prá ele a estória da minha avó materna a quem eu sempre recorria para informar dos meus planos; quero ser jogador de futebol. Na semana seguinte, quero ser padre. Na outra, presidente do Brasil. Numa outra ainda, quero ser médico. Até que um dia ela me colocou no colo e ternamente me disse algo que hoje eu recordo assim: Agulhozinho, muito bom que você tenha planos, mas é muito importante que você saiba que para atingí-los você precisa ter no máximo cinco poucos vitais.  Lembro-me de ter perguntado: por que? Ao que suponho, ela teria me respondido: porque são cinco os dedos de sua mão de força.

Ontem, também e por ACASO, recebi da Mônica Campos um e.mail e anexo à ele um vídeo.
O filme Amargo Pesadelo (1972) estava sendo rodado no interior dos Estados Unidos. O diretor fez a locação de um posto de gasolina nos confins do mundo, onde aconteceria uma cena entre vários atores contracenando com o proprietário do posto, onde ele também morava com sua mulher e filho. Este último, autista, nunca saía do terreno da casa.
A equipe parou no posto de gasolina para abastecer e aconteceu a cena mais marcante que o diretor teve a felicidade de encaixar no filme.
Num dos cortes para refazer a cena do abastecimento, um dos atores que, sendo músico, sempre andava acompanhado do seu instrumento de cordas. Aproveitando o intervalo da gravação e já tendo percebido a presença de um garoto que dedilhava um banjo na varanda da casa, aproximou-se e começou a repetir a sequência musical do garoto.
Como houve uma 'resposta musical" por parte do garoto, o diretor captou a importância da cena e mandou filmar. O restante vocês verão no vídeo.

Atentem para alguns detalhes:
·         O garoto é verdadeiramente um autista, e
·         Ele não estava nos planos do filme.






Fiquei pensando sobre o real. E me identifiquei com o menino autista. Nos duelos da vida me deparei com situações que tive de virar mesmo o rosto, outras agradeci com orgulho  e alegria como a de ontem na PUC MINAS, Contagem.

Quero aos oitenta, quem sabe aos noventa, como o menino estar nas minhas varandas de nossa casa em Santa Luzia, tocando meu banjo que já tenho e que está sobre o armário onde guardo minhas lembranças.

Antes disso, permitam continuar contando minhas estórias de um real, qualquer seja o entendimento que façam desse Real.

Até breve.

5 comentários:

  1. E pensar que você acha estar "abusando" da nossa paz-ciência.. Sorte a nossa poder ter acesso a tanta informação mesclada com estórias e fatos... Ainda bem que você nos deu o privilégio de ter acesso a estas experiências de vida!!! Adorei e já faz parte da minha leitura diária!!! Não deixe de nos iluminar com suas postagens!! Beijos

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  2. Izabela Tostes Giannini11 de maio de 2011 às 14:35

    Olá Agulho!!!
    Seja benvindo a rede.....
    Já divulguei o blog para que todos meus contatos possam aproveitar também de seus ensinamentos.
    Em tempo, aproveito para plagiar Hitler e te falar que todo homem bem conectado a rede Eh um homem poderoso.
    Obrigada por compartilhar conosco seus saberes.
    Um grande beijo,
    Izabela Tostes

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  3. Agulhô, meu querido!
    Agora resolvi, um pouco, a questão da saudade... estamos juntos novamente. Parabéns pelo blog e obrigado por me convidar as suas viagens. A Cris aproveita e manda lembranças. Saudações nordestinas!!!

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  4. Em tempo.....
    Me pego a refletir que, como sabemos 10% é mentira e 90% é invenção. Mal possa acreditar que ha alguns poucos anos você não era muito a favor de computador (medo de invasão de hakers)e agora você com um blog para plubicar seus "contos".
    Fico muito orgulhoso de ter a possibilidade de ler pensamentos e contos, sentir mais proximo de um pai querido independente de onde estiver, graças a Internet.
    Parabens pelos "posters" publicados li e alguns reli para tentar aproveitar ao máximo de todos estes ensinamentos.
    Beijos de seu filho mais novo.

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  5. Agulhô, que ótimo poder ler a sua brilhante palestra! É muita informação que ouvi atentamente, mas sempre perdemos alguma coisa na escuta.Você fechou o nosso evento maravilhosamente, também não esperávamos que fosse diferente.Já é tarde e não li todas as crônicas, mas vou adorar lê-las, acho que será como ouvir uma palestra sua todo dia. Que privilégio!!!!!!!!!Obrigada mais uma vez. Vou divulgar o blog no grupo de RH. Abraços Glaucia

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