domingo, 15 de maio de 2011

GESTÃO BRASILEIRA



Fui convidado para fazer uma palestra no Seminário Estratégico de uma instituição de extensão nacional. Grande evento de três dias, num hotel em Brasília, envolvendo toda a direção e gestores num total perto de quatrocentos participantes. O programa do primeiro dia contemplou a participação de um consultor americano, um consultor brasileiro célebre e eu, nessa ordem.

Eu estava sentado numa poltrona da segunda fileira do auditório acompanhado, de um lado, por um amigo, executivo da instituição quem me indicou para a palestra e do outro lado pelo saudoso José Luiz Santana, grande profissional e amigo a quem rendo minha homenagem.

Após a solenidade de abertura, passaram a palavra ao consultor americano para dar o seu recado, em inglês com tradução simultânea. Duas horas, trocentos slides lidos de citações de executivos das mais desconhecidas organizações americanas do planeta depois, concluiu sua palestra com um: Mucho obregado. Uma simpatia, o americano.

Intervalo para o almoço.

No caminho para o restaurante consultei o amigo executivo quem era o consultor americano e quanto eles haviam pago pela sua contribuição ao Seminário Estratégico. Vinte e cinco mil dólares americanos, ele respondeu. Fiquei literalmente puto! Tudo bem que a palestra do americano foi, digamos assim, uma BOSTA, mas pagar por isto vinte e cinco mil dólares. Achei um absurdo. Ele ocupou por duas horas quatrocentos executivos do maior quilate, poxa ele tinha que valer muito mais.

O tema previsto para que eu abordasse foi: Gestão Brasileira.

Retomados os trabalhos apresentou-se o consultor brasileiro célebre. Duas horas de slides e filmetes de alpinismo (o tema é uma novidade: desafios) depois, fez-se um intervalo. Tem horas que eu acho que seria melhor eu procurar outra coisa para fazer, escrever estórias quem sabe? Merda por merda, como querem os dramaturgos na estréia, podem pagar por elas vinte e cinco cents de dólares paraguaios. É o que valem.

No intervalo procurei o amigo executivo quem havia me indicado para a palestra. Olhei bem nos seus olhos e disse: Bicho, eu vou rodar a baiana aqui, você vai ter que procurar outro emprego e eu nunca mais vou ser convidado prá nada por esta instituição, você topa? Ele, com sinal de preocupação, perguntou: Você me arruma outro emprego? 

Mais não conto, só quem estava lá prá saber o que rolou.

Terminada a minha fala, eu deixava o auditório e percebo no final das fileiras de poltronas um sujeito parado com os olhos fitos em mim. Quando me aproximei ele me  perguntou: Você é louco? Ao que eu retruquei: geralmente é quem pergunta...

Legal a vida, porque ela reserva esses encontros. O sujeito disse que ia relatar num poema de cordel o que havia ocorrido naquela tarde em um hotel em Brasília.

Poucos dias depois recebi por email:

O MEDO “AGULHÔ” O CORAÇÃO
JOÃO QUADROS
NUNCA SI PODI CONVIDÁ
GENTI DI FORA DA GENTE
PRÁ PUDÊ FALÁ
SOBRE O QUI SI É I SI SENTE
SI NOSSO ÔLHO NU UMBIGO TÁ
Ô SI NÓIS TEM AR DE MUNCHO CRENTE.

POIS ASSIM SE ASSUCEDEO
CUM UM TAR CONSURTÔ
QUI RAIVOSO APARECEO
MINÊRO, CULTO I PROVOCADÔ.
DISSE I NUM ESCONDEO
TODOS OS AFETO MATADÔ
DUMA EMPRESA QUI NUM APRENDEO.

NUM SI CONTEVE DI FURÔ
SORTÔ O VERBO NA PELEJA.
A TODO MUNDO PROVOCÔ.
NEM QUIZ SABER QUEM SEJA
SI GERENTE Ô DIRETÖ.
AFIRMÔ QUI MEDO, CIÚME I INVEJA
ERAM OS AFETO MATADÔ.

OS MAIS VÉIO SI CONTRADISSE
INTÉ QUIZERU ARGUMENTÄ.
FOI UM TAR DI DISSE-NUM-DISSE
FOI UM TAR DI COISA-I-TAR
QUI SI PERGUNTA RESPOSTA VIRASSE
RESPOSTA ARGUMA HAVIA DI SI DÁ

CUMA A CURTURA TAVA SABIDA
I O ASSUNTO MUNCHO ANIMADO,
POR SEÔ AYALA, NA RECAÍDA,
ZÉ LIMERA FOI RELEMBRADO:
“NUM TENHO MEDO DA MORTE,
TENHO SAUDADE DA VIDA”.
COMO SI TUDO FOSSE SANADO.

“VIVER É PERIGOSO”
SORTÔ DE LÁ O CONSURTÔ,
LEMBRANDO ÔTRO IRÔSO,
TAMBÉM MINÊRO I CONTADÔ.
NUM DUELO TÃO DITÔSO
INTÉ O DEMO VIRA DOTÔ.

NESTI IMPASSE CRIADO
UM JUIZ DI PAZ APARECEO.
CUM FALA BONITA DI LETRADO
SEÔ JULIO INTERROMPEO.
CHAMOU OS GREGO CUMA ALIADO,
DI TUDO SE VALÊO
PRÁ TÊ O ASSUNTO APAZIGUADO.

NO FINAR SI ARRESUMIU
A GRANDE DISCURSÃO:
QUEM UM SONHO NUNCA SENTIU
Ô NUNCA TEVI UMA VISÃO
TEM QUI IR NA ARGENTINA
EM BUSCA DI SOLUÇÃO.

A PAZ SE FÊZ NO CUME
DI TODA A DISCUSSÃO:
Ô UM SONHO SE ASSUME
SEM MUNCHA PROVOCAÇÃO,
Ô ACEITA O MEDO, A INVEJA E O CIÚME
“AGULHÔANDO” O CORAÇÃO.

Reencontrei meu amigo executivo quem me indicou para a palestra, agora fora daquela instituição. O que me surpreende é que continuamos amigos.


Até breve.

3 comentários:

  1. Izabela Tostes Giannini15 de maio de 2011 às 21:33

    Adorei.... Um beijao! Izabela

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  2. Adorei a estória. Como diz meu marido:"La vie est tres competiti". Ainda estamos longe de valorizar o que temos de melhor no nosso país.Beijos Devassa

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  3. Sensacional Agulhô!
    Sem dúvida foi um belo encontro...
    ... pra mim também!
    Parabéns ao João Quadros.
    Grande abraço a você e à família!
    Saudades de Santa Luzia.
    Henrique Cerqueira

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