quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

EXPLÍCITOS



O jornal "Guardian" prevê que 2014 será o ano em que o mundo vai bater recordes no número de fotos tiradas: qualquer coisa como três trilhões. A facilidade com que hoje tiramos fotos é diretamente proporcional à facilidade com que nos esquecemos delas. No fim das contas, é como se não tirássemos uma única foto que realmente importe.

Vem por aí. (A intenção é a de que o som diga mais do que as letras)

Outro dia vi uma foto publicada nos jornais. Era a de um pirex contendo um fígado humano - um fígado criado por uma impressora 3D. A foto, apesar do realismo, era uma simulação do que ainda está por vir: a reprodução de um órgão humano a partir do zero – uma "bioimpressão". A notícia é a de que um laboratório americano em breve conseguirá imprimir células reais de um fígado, com os competentes sangue, nutrientes e outras gosmas, camada por camada, até formar um órgão capaz de exercer todas as funções de um fígado real. Que, num primeiro instante, não servirá para transplantes, mas é questão de tempo.

Nas telas maiores chegam cinco filmes: “Azul É a Cor Mais Quente”, “Jovem e Bela”, “Tatuagem”, “Um Estranho no Lago” e “Ninfomaníaca”. Os filmes não estão nos pulguentos cinemas para exibição de filmes pornográficos, e sim em circuito nacional.

A “Arte” também foi deflorada.

A sexualidade não é angústia, felicidade, gozo. Não é nada, a rigor. É um ato desprovido de sentido, embora sempre em busca de sentido. É o que refletem os filmes em cartaz, pelo menos vistos aos olhos de críticos, já que eu não assisti ainda a nenhum deles.

Não deverão chocar vulvas contra vulvas, oitenta e nove vezes dita a palavra cú em uma única película, nem cenas de homos em profusão, muito menos o desejo exposto desde a mais tenra idade.

Foda-se, já que se pode, o mistério.

Mais do que proibido deveria ser a enxurrada de armas e aparatos bélicos em cena. Qual o problema de vulvas, cús, peitos e outras carnes? Que se libere geral, caralhos!

Por outro lado, há a improbabilidade absoluta de uma nova guerra europeia como aquela que completa este ano cem anos. Os recursos técnicos e humanos à disposição de cada país eram tão vastos que qualquer conflito seria suicídio: mesmo a nação vitoriosa emergiria dele totalmente arruinada e destruída.

Num mundo interessado no lucro, quem apostaria em prejuízos de tal monta?

Tudo pela não existência de Deus, a crença das novas religiões dispostas a espalhar a "palavra" (mas qual "palavra"?) em adoração ao "não-deus". O fenômeno é interessante e só confirma o que os clássicos da ciência política sempre escreveram sobre o assunto: a negação da religião estabelecida não liberta os homens da sua condição de "animais religiosos". Que o diga o filósofo Raymond Aron, por exemplo, para quem o nazismo e o comunismo não eram mais do que "religiões seculares", dispostas a oferecer aos seus "fiéis" o Reino da Raça (ou do Proletariado) em substituição ao do Reino dos Céus.

Afinal que nos venha outro feiticeiro, que sabe que não faz nada, exceto quando encontra o impotente sofredor que, com uma fé absurda, o procura em busca de cura.

Ô LÁ... LÁ...


Até breve.


Nota: Este post foi escrito pós-bacanal letral com João Pereira Coutinho, Roberto DaMatta, Ruy Castro, Marcelo Coelho, Contardo Calligaris e Chico Felitti em “leitos” publicados pelos mesmos hoje na Folha de São Paulo.

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